Com magia, Brawn. Com justiça, Button.


Desde 2005, com o primeiro título de Alonso, o Brasil e o Autódromo de Interlagos tem sido palco de decisões da Fórmula 1. E um dos fatores que em muito contribuía para isto era o fato de Interlagos ter sido determinada como a última etapa do campeonato nestes anos. Este ano, em particular, por ser a penúltima etapa do calendário, Interlagos vivia a expectativa de ver mais um campeão, Button, favoritíssimo pela excelente vantagem contra seus oponentes Barrichello e Vettel, ou a sobrevida destes até a última etapa nos Emirados Árabes. Para Vettel só a vitória interessava, enquanto para Barrichello até um quarto lugar serviria dependendo da posição de Button.

E o final de semana começa com Vettel e a Red Bull mostrando que queriam adiar a festa de Button, assim como seu companheiro Weber também confirmava que o carro do projetista Adrian Newey vai terminar a temporada de 2009 com o melhor carro da F1.

O sábado chuvoso em São Paulo impediu o treino livre da manhã, que durou poucos minutos apenas. Mais tarde, na hora do treino oficial, a chuva continuava forte e o treino, que é programado em uma hora para Q1, Q2 e Q3, durou duas horas e quarenta minutos. E o que este treino confuso trazia ao final daquela tarde de sábado parecia definitivamente adiar a decisão para Abu Dhabi. Primeiro porque Vettel não passou do Q1, ficando apenas com a décima sexta posição do grid por ter pego um momento de chuva mais forte que a maioria dos pilotos. Largaria em décimo quinto pela troca de câmbio e conseqüente perda de cinco posições de Liuzzi, que havia batido forte. Ainda no Q1 ficaram as duas McLaren.

Button não conseguia acertar sua Brawn e seu melhor desempenho o deixou na sétima fila, em décimo quarto lugar. Para Barrichello, que se qualificou para o Q3 em décimo lugar, era a oportunidade de ouro para conseguir um bom resultado. E nos segundos finais, com pista ainda um pouco molhada, Barrichello cravou a pole, deixando Weber em segundo. A estratégia de Barrichello, com o carro mais leve do grid, era ter pista livre para poder abrir e fazer mais uma parada apenas desde que chovesse, e nesta altura, era praticamente certo prever a chuva para o domingo e o adiamento da decisão para Abu Dhabi. Porém, os acontecimentos foram diferentes.

O domingo de sol secou a pista depois de uma madrugada toda chuvosa e isso já era um indício de que a Red Bull voltava ao páreo, e forte. E para Barrichello, a boa largada foi ofuscada pela primeira volta confusa que tirou Trulli, Sutil e Alonso da prova, além de Raikkonen que tocou o bico em Weber e teve que parar nos boxes. Safety-car na pista. Button já era nono. Rosberg abandonou com problemas mecânicos, favorecendo o inglês em mais uma posição. Barrichello manteve a ponta até o primeiro pit-stop. Quando todos pararam, já era terceiro, atrás de Weber e de um surpreendente Kubica, e logo à frente de Hamilton que fazia uma corrida de recuperação muito agressiva. O mesmo podia se dizer de Button, que não se acomodou, foi pra cima dos adversários e já era sexto quando Barrichello, já em quarto, perdia rendimento por causa de um pneu furado. A terceira parada nos boxes o fez cair para oitavo e promoveu Button ao quinto lugar. Vettel foi ainda o quarto. Raikkonen, que havia caído para as últimas posições na entrada do safety-car conseguiu um bom sexto lugar. Destaque também para Kobayashi, estreante na Toyota, que travou ótima briga com Button pela sexta posição e terminou em nono.

E Interlagos assim viu a quinta decisão de título seguida, e coincidentemente a segunda consecutiva em favor de um inglês que conduzia o carro 22.

O título deste britânico de 29 anos, em sua décima temporada, o faz ressurgir depois de quase ser esquecido pelas más temporadas na Honda e pelo surgimento avassalador de Hamilton no mesmo período. Button chegou à F1 como uma promessa, teve altos e baixos e, como ele mesmo disse, fez parte de uma estória que daria um filme, onde uma equipe estreante faz a dobradinha em sua corrida de estréia, ganha o campeonato de construtores e faz o campeão do mundo. E ainda pode terminar o campeonato de pilotos também com uma dobradinha, desde que Barrichello supere Vettel na última etapa. A Red Bull, aliás, também já garantiu o vice campeonato de construtores.

Vai chegando ao fim a temporada de 2009, e agora com o título decidido, a corrida em Abu Dhabi pode ser bastante intensa e, quem sabe, com surpresas.

Parabéns à Button, campeão mundial de Fórmula 1 2009 e à Brawn, campeã estreante de construtores.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

8 Responses

  1. Márcio says:

    Sensacional, comentário sóbrio com conteúdo e fundamentos. Esse comentarista vai longe. Parabéns.

  2. Beatriz says:

    Vou te colocar no lugar do Galvão Bueno, o que achas? Ótimo comentário e mais uma vez o Rubinho nadou e morreu na praia, infelizmente. Mas quem sabe ele ainda consiga um segundo lugar, hein?

  3. Emerson says:

    Excelente comentarista esportivo adquirido neste forum. Meus parabens e continue passando todo o conhecimento a nós, que gostamos de F1.

  4. Silvio says:

    Comentário excelente. Acho que a mente criadora do mesmo, deveria ter lugar cativo em sites relacionados a F1.

    Vou ler sempre.

  5. Rafael says:

    Parabéns, mais uma vez você dá um show em suas colocações, sem perder o bom humor. Valeu Regilauro Leme.

  6. Luciana says:

    Sensacional o resumo sobre o GP Brasil. Comentário consistente e claro, percebe-se que você sabe o que está falando, por isso continue escrevendo pra gente.

  7. Willian Oliveira says:

    Comentário excelente e acima de tudo de quem conhece e é apaixonado por esse esporte.

    Parabens]]

  8. Finalmente li a primeira matéria do Lauro! Como na época estava sem acesso à internet, só fui me deparar com esse texto agora…

    Parabéns Lauro, vc mereceu vencer o concurso da Telefonica e também esse “cargo” que lhe foi oferecido. Longa vida ao companheiro aqui no blog do No Trânsito!

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