Fórmula 1 – Lusco-fusco


A pista era a grande novidade do final de semana em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, onde a Fórmula 1 chegava pela primeira vez. Ela, aliás, era apenas parte da novidade de um lugar em que se investiu aproximadamente 50 bilhões de reais nos últimos anos e onde até pouco tempo atrás nada existia. O complexo de hotéis, a marina, o conjunto de entretenimento montado e a própria pista, tudo suntuoso, com elementos futuristas por toda a parte, já trazia o ar de festa de uma última etapa, ainda mais com o campeonato de pilotos e construtores decidido.

A briga na pista era pela decisão do vice-campeonato de pilotos, entre Vettel e Barrichello. Mas o domínio nos dias de treino foi dos McLaren, e Hamilton fez a pole no sábado com sobras. Seu companheiro Kovalainen teve problemas mecânicos na classificação e ficou nas últimas filas. Da turma que brigava por algo mais, Vettel fez o segundo tempo, seguido de seu companheiro Webber. Logo atrás, a dupla da Brawn, com Barrichello mais uma vez à frente de Button. Na corrida das despedidas, a BMW se classificou bem, em sétimo com Kubica e oitavo com Heidfeld. Já em sua última corrida pela Ferrari, Raikkonen foi apenas décimo primeiro no grid. Pior foi Alonso, décimo quinto em sua despedida da Renault. E a última fila com Renault e Ferrari, ou seja, Grosjean e Fisichella.

A corrida, a primeira na história que começaria com luz natural e terminaria com iluminação artificial, passando pelo popularmente conhecido “lusco-fusco”, tem na largada a manutenção das primeiras posições, mas Barrichello e Webber se tocam e o brasileiro perde parte do bico do carro, fazendo com que Button lhe ultrapasse logo na segunda volta. A nova pista, projetada por Hermann Tilke, o mesmo projetista das pistas do Bahrein e Turquia, não desafiava tanto os pilotos e a corrida parecia caminhar para uma vitória fácil de Hamilton, mas um problema de freio após o primeiro pit-stop colocou fim à temporada do inglês. Nesta altura, Vettel, que já estava muito próximo de Hamilton, herdou a ponta para não largar mais. Webber, que vinha em segundo, não tinha o mesmo rendimento e ficou na alça de mira de Button que vinha em terceiro. Mas vamos deixar essa parte mais para o final.

Melancólica despedida de Alonso da Renault, apenas o décimo quarto. Dos dois carros da BMW, Heidfeld fez as honras com o quinto lugar. Kubica foi apenas décimo. Mas quem fez bonito de novo apenas em sua segunda corrida na F1 foi Kobayashi, aquele mesmo que deu um “xis” no campeão Button enquanto brigava pelo sexto lugar em Interlagos. Marcou seus primeiros três pontos na carreira e chegou uma posição à frente do companheiro Trulli, além de ter dado mais um “xis” no campeão do mundo. Deve trazer alegrias para os japoneses, que convivem até hoje com a fama de pouco habilidosos deixada por Nakajima-pai, Suzuki e Katayama, entre outros, e que tiveram esperança em Sato quando este corria com Button na BAR. Grosjean da Renault fez mais uma apresentação pequena, chegou em último e não deve mais estar no grid no ano que vem. O fato mais curioso da prova foi o jovem Alguerssuari que no seu segundo pit-stop ia parando nos boxes da Red Bull, que estava esperando por Vettel. Imaginou a cena, perder uma corrida por um retardatário parado no seu box?

Mas quem ficou até o final foi presenteado com a briga proporcionada pelo campeão do mundo Button e Webber pelo segundo lugar nas duas últimas voltas. Button não passou, mas mostrou como deve ser o espírito de um piloto de Fórmula 1, que mesmo com o título garantido por antecipação, não se acomodou e deu ao público um último ato digno de campeão.

A Red Bull conseguiu assim sua única dobradinha na temporada e Vettel chegou à quarta vitória e ao vice campeonato mundial. Webber venceu outras duas. Assim, a Brawn ficou com oito vitórias, a Red Bull seis, a McLaren duas e a Ferrari uma. Por isso, mas principalmente pela ausência de Massa desde a Hungria, a McLaren venceu a disputa com a Ferrari no mundial de construtores por um ponto ficando em terceiro lugar na disputa por equipes. O detalhe é que nem uma das duas equipes marcou pontos em Abu Dhabi e a soma dos pontos destas não alcançou a Red Bull, vice-campeã.

Finalmente, depois de 1013 voltas ao longo de 2009, a Fórmula 1 fez uma despedida na terra das 1001 noites já deixando saudades. Afinal, uma temporada que teve o surgimento da Brawn, o crescimento da Red Bull, a estréia do mais jovem piloto da história (Alguerssuari), a fatalidade de Massa, a polêmica de Piquet, o banimento de Briatore, o fim da BMW, o fim do reabastecimento, o uso do KERS, a volta dos pneus slicks…
Em 2010, poderemos ter quatro campeões na pista e outros três vice-campeões, além de 26 ou 28 carros no grid. E o fim do reabastecimento será decisivo no projeto dos novos carros para o a próxima temporada. Não que se espere uma nova Brawn, mas poderemos ter surpresas, de novo.

E a primeira análise de 2010 é ver se Brawn e Red Bull se mantém competitivas. Se McLaren, Ferrari e Renault voltam ao destaque. Se a Toyota enfim vai justificar os milhões investidos ao longo dos anos. Se Williams vai voltar à vencer. Se Toro Rosso, Force India vão ser melhores que as estreantes Campos, USF1 e Lotus (que em nada tem com a Lotus que conhecemos no passado) e se a BMW vai ser vendida para a Sauber ou outro grupo.

Por enquanto, tudo especulação. Mas manteremos vocês informados das novidades. Um abraço e até lá.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Eduardo Fonseca says:

    Fotos????????

  2. Lauro says:

    Olá Eduardo.
    Infelizmente ainda estou enviando as colunas para o Guilherme publicar sem fotos. Como dica, entre no site http://www.formula1.com, que é o oficial da categoria e tem fotos inacreditáveis.
    Espero que esteja gostando das nossas colunas. Um abraço.

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