Fórmula 1 – Voltas para mais algumas voltas.


A notícia vinha amadurecendo, mas assim como em Papai Noel, poucos acreditavam. E às vésperas do Natal, o anúncio oficial: Michael Schumacher volta à Fórmula 1 em 2010.

Depois de três anos de uma aposentadoria que para alguns foi precoce, o alemão sete vezes campeão mundial volta à categoria pelas mãos da empresa que o lançou para a Fórmula 1 e que agora vem como equipe própria, a Mercedes.

A volta de Schumacher ao cockpit de um Fórmula 1 vinha sendo cogitada e ensaiada desde agosto, após o GP da Hungria, para substituir Felipe Massa na Ferrari quando o brasileiro sofreu o acidente mais sério da carreira e ficaria afastado por tempo indeterminado. Mas na ocasião, com a proibição dos testes impostas pelo regulamento, Schumacher só pode andar numa Ferrari de 2007 e sentiu os efeitos do tempo em que ficou parado. Há de se dizer também que as aventuras do alemão nas corridas de moto desde que deixou a Fórmula 1 no final de 2006 lhe renderam alguns acidentes, o mais sério no começo de 2009, cujas dores foram determinantes para a recusa do retorno ao volante da Ferrari de Massa. Na época se especulou que Schumacher foi prudente em não aceitar a volta num carro que deixava muito a desejar em competitividade, o que poderia manchar sua reputação.

Muitos esportistas que deixaram suas atividades não suportaram a aposentadoria por tempo muito longo. Bjorn Borg no tênis, Michael Jordan no basquete, Mark Spitz na natação são alguns exemplos. Na Fórmula 1, Schumacher não é o primeiro que resolve voltar e nem deve ser o último, lembrando que Kimi Raikkonen vai se aventurar no mundial de rali em 2010 e sua volta em 2011 é aguardada. Mas a história mostra casos de retornos consagradores e de verdadeiros fiascos.

Campeão da temporada de 1961, o americano Phil Hill (nenhum parentesco com Graham Hill e seu filho Damon Hill, ambos ingleses) deixou as pistas ao final de 1964, resolveu voltar em 1966 e sequer passou dos treinos para alguns GPs. Caso parecido foi o de outro americano, Alan Jones, campeão de 1980 pela Williams e que ao final da temporada seguinte se despediu da Fórmula 1 com uma vitória no GP de Las Vegas, mesma corrida que deu o primeiro dos três títulos ao brasileiro Nelson Piquet. Voltou em 1983 mas na única prova que correu teve problemas físicos. Voltou mais uma vez em 85 para disputar quatro GPs e fez sua última temporada em 86, marcando alguns pontos, mas sem resultados expressivos. Nigel Mansell, campeão de 92, foi dispensado pela Williams ao final da temporada e foi para a Fórmula Indy onde foi campeão no ano seguinte. Chamado pela própria Williams ao final de 94 para correr com o carro de ninguém menos que Ayrton Senna. Mansell venceu a última etapa, na Austrália, corrida que deu o primeiro título a Michael Schumacher no polêmico acidente com Damon Hill. Em 95, pilotando pela McLaren, Mansell fez apenas duas corridas e se retirou definitivamente do circo. Jacques Villeneuve foi outro campeão que após amargar cinco temporadas pouco expressivas na equipe BAR (que era Tyrrell, que um dia virou Honda, para tornar-se Brawn e agora virar Mercedes – vejam as coincidências), foi chamado pela Renault em 2004 para o lugar de Jarno Trulli por três corridas. Arrumou vaga na Sauber por quase dois anos até ser substituído por Robert Kubica.

Sucesso ao voltar teve Juan Manuel Fangio, embora não tenha sido bem um caso de aposentadoria. O argentino ficou fora da temporada de 1952 por ter sofrido um sério acidente, mas voltou para mais quatro títulos nas temporadas seguintes. Que sirva de inspiração para Massa. O austríaco Niki Lauda, que em 76 foi vítima de um dos mais terríveis acidentes da Fórmula 1, havia sido campeão no ano anterior e voltou em 77 para mais um título. Ao final da temporada de 79 se retirou das pistas, voltando em 82 e sendo campeão de novo em 84 sobre o francês Alain Prost por apenas meio ponto. Prost, aliás, é detentor até o momento, da última história de retorno bem sucedido às pistas. Fora da temporada de 92 que deu o título à Mansell, Prost voltou em 93 para pilotar um Williams imbatível e sagrar-se tetracampeão, despedindo-se na prova da Austrália, prova essa que foi também a última vitória de Senna na categoria.

E Schumacher? Voltar na equipe campeã – que da Mercedes já tinha o motor quando era Brawn – e sob a competência estratégica de Ross Brawn, com quem conquistou todos os títulos na F1, certamente facilita as coisas. De peso, talvez, tenha em seus 41 anos mais um adversário além dos próprios pilotos. Mas a paixão, a vontade, e o sentimento de gratidão pela estrela de três pontas lhe permitiu um contrato pouco provável de três anos. Se será cumprido em sua totalidade ou não, pouco importa agora. Eu estive em Interlagos 2006 para ver sua então última corrida na F1, suas últimas voltas como piloto. O anúncio da aposentadoria feito poucas semanas antes, em Monza, mostrava claramente ainda havia “lenha para queimar”, mas faltava motivação. Seu reinado já era ameaçado desde o ano anterior pelo jovem Fernando Alonso, que seria bicampeão naquele ano exatamente em Interlagos. Achava Schumacher que era melhor assim, se aposentar no auge como dizem ser um ato sábio dos grandes campeões. Quando ocorrer, talvez eu não tenha oportunidade de presenciar sua segunda despedida, a definitiva, mas é bem possível que ele se aposente no auge, de novo.

P.S.: na coluna anterior disse que só voltaria na segunda quinzena de janeiro, mas também tive que antecipar minha volta, afinal, a relevância do assunto pedia. Um excelente 2010 à todos.


Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Bruno vinicius says:

    Parabens pelo texto e que venha o Schumacher!!!

  2. RTP says:

    Grande Lauro…fico feliz com seu retorno antecipado.rs Qnt ao retorno de Schumacher, não tenho fé nesses 3 anos de contrato. Mesmo com essa gratidão a Mercedes acho que o coração dele se tornou italiano.
    Abraços galera…bom fim de ano a tds.

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