Fórmula 1 – Teste de Valência


Carros novos, caras novas, velhos conhecidos e até equipe fantasma. Assim começou a pré-temporada da Fórmula 1 em Valência, na Espanha.

Oficialmente, poucas equipes fizeram a apresentação de seus carros com aqueles espetáculos hi-tech em que fotógrafos misturados a gente que não conhece nada do esporte se acotovelam para buscar o detalhe de cada novidade, de cada equipe.

No final de janeiro a Mercedes mostrou o lay-out do carro de 2010 sobre um carro da Brawn de 2009, com a presença de seus pilotos Michael Schumacher e Nico Rosberg. Ferrari e McLaren fizeram o evento tradicional de lançamento, com seus pilotos também, sendo que a Ferrari ainda levou os três pilotos de teste. Mas a realidade é de vacas magras, e teve equipe que fez o lançamento do carro no próprio circuito espanhol ou até mesmo pela internet apenas. A Williams, de Rubens Barrichello e Nico Hülkenberg, por exemplo, simplesmente subiu a porta dos boxes e mandou o carro para a pista, sem nem uma pose para os fotógrafos.

Mas, como já era até previsto para os primeiros testes, algumas equipes nem apresentaram seus carros para 2010. Red Bull, Force India, e as estreantes Lotus, USF1 e Campos ainda são incógnitas, sendo que a situação mais dramática é da Campos, que deve decidir nos próximos dias se vai ou não disputar o mundial por causa da precária situação financeira proveniente da dívida com a fornecedora de chassis Dallara.

E o fantasma que assombra a Campos tem nome: Stefan GP. A equipe sérvia que comprou o espólio da Toyota não só disse que vai lançar o carro no final do mês como também vai estar no Bahrein em 14 de março. O “detalhe” é que a Stefan não está inscrita no mundial deste ano, ou seja, para a Formula 1 ela ainda não existe. Se para inscrever uma equipe é necessário atingir uma série de exigências junto a FIA, além de envolver milhões em dinheiro, pessoas, logística, testes, ou a Stefan blefa com FIA e com o público ou realmente tem uma carta forte na manga. Mas e se a Campos confirmar presença? A Stefan vai fazer o que com uma equipe pronta? Nunca vi isso antes.

Bem, mas o que vale mesmo é carro na pista. E é da Ferrari o favoritismo inicial para o campeonato. Felipe Massa dominou os dois primeiros dias de testes e Fernando Alonso, em sua estréia pela equipe de Maranello, veio para baixar ainda mais o tempo do brasileiro no terceiro dia fechando como o melhor da semana. No discurso, cautela de quem fez um campeonato muito aquém da expectativa no ano passado, mas é nítido que o carro está bem equilibrado. A BMW Sauber (que, diga-se de passagem, corre com motores e câmbio Ferrari – dá pra entender?), apresentou um carro de bico alto e sem patrocínio nem nos macacões dos pilotos, mas sobre o asfalto foi constantemente segunda colocada com o veterano Pedro De La Rosa e o japonês revelação de 2009 Kamui Kobayashi.

McLaren e Mercedes fizeram a briga pelo terceiro lugar em todos os dias. E o resumo é que Schumacher bateu Rosberg e Hamilton bateu Button nas brigas caseiras. Ambos, os carros de Mercedes e McLaren precisam de ajustes, mas parecem ser competitivos. Toro Rosso, Williams e Renault alternaram os últimos lugares.

A Renault, aliás, formará a primeira dupla de pilotos do leste europeu, com o polonês Robert Kubica e o russo Vitaly Petrov. E sem patrocínio principal, já que foi vendida para o Grupo Genii, a Renault não só manteve o nome como trouxe de volta suas cores oficiais de competição, o preto e o amarelo.

De novidade mesmo, até o momento, apenas a inovação da McLaren unindo a tampa do motor, a chamada bigorna, à asa traseira. Se funcionar bem, pode virar tendência já que muitos carros já testaram esta solução no passado e alguns irão assim este ano.

E ninguém mostra com detalhes o difusor traseiro. O polêmico recurso utilizado pela Brawn, Williams e Toyota no ano passado e que foi liberado para este ano, deve causar algum barulho se houver domínio de alguma equipe logo nas primeiras etapas. O receio da FIA é, de novo, que algumas equipes levem ao extremo a interpretação do regulamento.

E a Red Bull? O carro que melhor terminou a temporada passada e a principal referência dos carros que foram para a pista na semana passada, com seu bico característico mais alto. Só a Mercedes tem um bico mais baixo. A Ferrari chegou a ser chamada de “Red Bull vermelha” quando apresentou o carro e parece que os testes comprovaram a eficiência de novo.

Minha opinião? A Virgin tem o carro mais bonito e a McLaren o mais audacioso. Mas isso de nada vale se na pista os tempos não forem competitivos. Não dá pra prever nada até o momento, mas como já disse aqui, parece que a Ferrari vem como se espera dela, o que as outras equipes não vão aceitar tão facilmente.

Os testes seguem na Espanha, só que agora em Jerez de La Frontera, de 10 a 13 e de 17 a 20 deste mês. A gente vai ficar de olho, claro.

Um abraço a todos.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

7 Responses

  1. Guilherme maia says:

    Belo comentario!

  2. Por mais apaixonado que eu seja por carros, Fórmula 1 nunca foi muito minha praia, quando mais novo eu achava muito chato assistir a uma corrida “monótona” e longa, mas de uns tempos pra cá comecei a gostar um pouco.
    Muito boa a matéria! Abraços.

  3. Fernando Marques says:

    Tenho o mesmo pensamento do Marcus Vieira. Quando o Michael saiu da F1 as corridas ficaram mais disputadas e deram oportunidades para outros competidores mostrarem seus talentos. Era sem graça assistir a F1 pq só o Michael ganhava !

    Este ano tem tudo para ser histórico pela volta do Michael,só espero que ela não volte a ser “monótona” novamente. E viva o retorno de Felipe Massa e o começo de Bruno Senna … brasilsilsil !!!

  4. Lauro, antes dessa matéria ser publicada no blog, estava pensando com meus botões em relação a essa lambança das trocas de equipe, de nomes, de proprietários, e de pilotos! Confesso que ficou difícil de entender quem saiu de onde e foi pra qual equipe, que já não é mais a mesma que corria no ano passado.

    Estava pensando em pedir que escrevesse uma matéria justamente para explicar essas mudanças, citando patrocinadores novos (Virgin se mudando da Brawn para a já ex-Manor), equipes que apenas mudaram de nome (McLaren, que não tem mais Mercedes no nome), que foram completamente compradas/vendidas, que iam pro buraco e não foram (Renault), ou que ressurgiram das cinzas (Lotus). A última, aparece no site oficial da F1 como uma equipe completamente nova, não constam as estatísticas anteriores da época de Fittipaldi e Senna.

    A Brawn foi campeã, mas agora nao existe mais, ou existe? Ela foi criada a partir dos espólios da Honda num ano, e vendida no outro… mas o Ross ainda é dono de uma porcentagem ou é apenas chefe de equipe? Como fica a numeração dos carros, por exemplo, já que Button foi campeão pela Brawn e se mudou pra McLaren? A coisa ficou tão estranha, que agora McLaren e Mercedes se separaram e viraram concorrentes! Mas a primeira ainda aparece no site da F1 com o antigo logo “McLaren Mercedes”.

    E a dança das cadeiras entre os pilotos? A McLaren (inglesa) com dois pilotos ingleses, ambos campeões. A Ferrari com dois pilotos de sangue latino. A Mercedes (alemã) com três pilotos alemães (contando o de testes). Querendo ou não, isso influencia até nos carros de passeio. Ok, não são carros de passeio normais, são os superesportivos que me interessam, no caso. Mas o sr. Michael Schumacher, por exemplo, ajudou (e muito) no desenvolvimento da nova Ferrari 458 Italia. Enquanto isso, a nova Mercedes SLS AMG era preparada para ser lançada. E agora que Schumacher foi para a Mercedes e Alonso veio para a Ferrari, tudo se inverteu. A Mercedes fez questão de mudar até a propaganda da SLS AMG, colocando um Schumacher com cara de raposa, dando a sua característica piscadela no final. E por outro lado, vi uma entrevista feita com Fernando Alonso, a bordo da 458 Italia, na pista de Fiorano!

    Pode?

  5. Ah, esqueci de perguntar. Como as equipes não poderiam usar “F1” no nome, a tal “US F1” aparece no site da FIA apenas como “US”!? É isso? A equipe não terá nenhum nome mais criativo, não?

    USA x Mundial de Pilotos! hahaha…

  6. Lauro says:

    Eduardo,

    A coisa tá tão confusa que há horas atrás (eu disse horas) a estreante Campos deixou de ser Campos para virar Meta (que espero seja sinônimo de “objetivo”, senão a Globo vai chamar de “Coloque”). O dinheiro que a Campos precisava não veio, nem com o apelo de marketing que a contratação de Bruno Senna poderia rsultar.
    Mas vou preparar sim uma coluna, que deverá ir para o ar lá pro dia 10 de março, explicando quem é quem, quem veio da onde, quem pilota pra quem e assim por diante.
    Quanto a USF1, a verdade é que Bernie Ecclestone, que detem os direitos comerciais da categoria, não quer nada com “F1” no nome. A equipe parece que conseguiu usar sei lá como, mas, como quem ri por último ri melhor, parece que nem vai estrear por problemas financeiros, e será substituída pela Stefan GP, com o apoio de Ecclestone. Mas eu esplico mais pra frente, com mais detalhes.
    Abraço !

  7. hahahaha… boa Lauro! Pelo visto vc também leu a coluna do FG (http://colunistas.ig.com.br/flaviogomes/2010/02/13/todos-os-nomes-2) ou já tá de saco cheio da Grobo! hehehe

    Aguardo pela matéria e obrigado por considerá-la no seu roteiro!

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