Fórmula 1 – Lucros na Austrália


Depois de uma corrida monótona no Bahrein, nada melhor que um circuito de rua com uma pitada de chuva, que fez a corrida australiana ser eletrizante do começo ao fim.

Quem começou lucrando no circuito de Albert Park foram os carros da Red Bull que, no sábado, tomaram a primeira fila com autoridade de quem repetiria a dobradinha na corrida. Vettel conseguia sua segunda pole na temporada e comemorava no rádio dizendo “eles vão ver”, um recado especial para a Ferrari que havia feito a dobradinha no Bahrein devido ao problema de escapamento do alemão que o fez chegar apenas em quarto lugar na abertura do mundial. E o australiano Webber, correndo em casa, queria mostrar que ainda tem muito a mostrar depois das insinuações de Hamilton de que não se surpreenderia se Webber se aposentasse ao final da temporada, o que o próprio australiano se apressou em desmentir.

Depois dos touros vermelhos, Alonso se classificou em terceiro, duas posições a frente de Massa. Entre eles, Button, da McLaren. Os dois carros da Mercedes, com Rosberg novamente a frente de Schumacher, fechavam as sete primeiras posições do grid. A decepção ficou para Hamilton, que não conseguiu passar para o Q3 e largaria apenas em 11º, atrás de Barrichello, Kubica e Sutil, respectivamente.

E, como se esperava pelas previsões meteorológicas, viria chuva. Só que ela veio antes da largada, fazendo todo mundo largar de pneus intermediários. Promessa de confusão que se confirmaria logo na primeira curva.

Vettel largou mantendo a primeira posição. Massa fez uma largada espetacular, pulando para segundo, deixando Webber, Alonso e Button para trás. Mas na primeira curva, Alonso, Button e Schumacher se espremeram na disputa por posição e sobrou para o espanhol e para o alemão. Alonso ficou virado ao contrário e caiu para a última posição, enquanto Schumacher teve o bico do carro quebrado.

Excelente também as largadas de Kubica e Hamilton, que ganharam várias posições. Mas confusão pouca é bobagem, e lá no meio do pelotão uma batida forte. Kobayashi, que bateu durante todo o final de semana, teve o spoiler dianteiro quebrado e atravessou a pista para acertar Buemi, da Toro Rosso, e Hülkenberg, da Williams. Safety car na pista (aliás, um Mercedes SLS AMG, que faz de 0 a 100 km/h em menos de quatro segundos).

A tranqüilidade foi re-estabelecida só até o safety car sair. Na relargada, Webber recuperou a posição sobre Massa enquanto Hamilton tentou mostrar para Button quem manda na McLaren, deixando o atual campeão para trás. Mas Button não estava morto na prova e, numa decisão que parecia equivocada, parou logo na sétima volta para trocar os pneus intermediários pelos lisos macios. Logo na saída dos boxes, uma escorregada e parecia que a troca havia sido prematura. Mas não era.

Algumas voltas mais tarde, uma verdadeira procissão entrava nos boxes. Quem se deu mal foi Massa, que perdeu posições e não conseguia um ritmo forte na volta para a pista, enquanto Alonso já vinha numa recuperação assustadora. A mesma corrida forte fazia Hamilton, andando sempre entre os cinco primeiros, mas nessa altura Button já estava a sua frente. Já Schumacher mostrou que ainda precisa desenferrujar muito e fez com o jovem Alguerssuari (que tem metade da sua idade) uma briga que durou quase dois terços da prova.

Aí veio o lance que ninguém esperava. Vettel liderava com folga quando saiu reto em uma das freadas e ficou parado na caixa de brita, pondo um fim nas ambições de vencer a etapa australiana. Foi relatado um problema de freio, o que não tirou a frustração do rosto do alemão.

Button herdou a liderança e trouxe com ele Kubica, que já era segundo mas seria atacado de maneira infernal por Hamilton, pois a McLaren queria uma dobradinha e Hamilton queria uma segunda ultrapassagem em cima de Button, claro. Mas o polonês mostrou todo seu talento e segurou Hamilton de maneira fantástica.

Então, Hamilton, Webber e Rosberg optaram por uma segunda parada. Com isso, Massa e Alonso já ocupavam o terceiro e quarto lugares respectivamente. Os companheiros de Ferrari não chegaram a fazer um duelo muito empolgante, mas o brasileiro poderia ter perdido a posição para o espanhol quando, numa ultrapassagem sobre a lenta Lotus de Kovalainen, Massa atrapalhou a curva e Alonso chegou a emparelhar, mas recuou para evitar um provável toque.

O que se viu nas últimas voltas foi uma aproximação monstruosa de Hamilton, Webber e Rosberg para cima das Ferrari. Mas assim que colou na traseira do carro de Alonso, Hamilton teve as mesmas dificuldades quando tentou ultrapassar Kubica. Pior. Depois de mostrar o bico várias vezes para Alonso, Hamilton tentou a ultrapassagem sobre o espanhol, mas teve de recuar quando o espanhol fechou-lhe a porta e foi atingido por Webber. Apesar disso, ambos conseguiram voltar para completar a prova.

No saldo da corrida australiana, pode-se dizer que quase todos saíram no lucro. Button porque venceu já na sua segunda corrida pela McLaren. Kubica pela espetacular segunda colocação depois de ter largado em nono. Massa, por todos os problemas no final de semana, conseguiu chegar a frente de Alonso. Mas o espanhol, depois de ficar em último na primeira curva, também conseguiu uma boa posição com o quarto lugar. Rosberg continuou a frente de Schumacher (o heptacampeão marcou mais um ponto na carreira com o décimo lugar). Hamilton podia ter conseguido mais, mas o sexto lugar depois de largar em décimo primeiro também pode ser considerado lucro. Boas corridas de Liuzzi e Barrichello, assim como destaque para Lucas di Grassi, que enquanto esteve na pista, chegou a andar em décimo quinto, e para Karun Chandhok, companheiro de Senna na Hispania, que conseguiu levar o carro até o final da prova, ainda que quatro voltas atrás do vencedor Button.

No outro lado da balança, prejuízo total para a Red Bull, que poderia ter feito a dobradinha como nos treinos, mas saiu da Austrália apenas com a melhor volta da prova conseguida por Mark Webber, que terminou em nono. Para Vettel, que poderia ter cinqüenta pontos no mundial, o prejuízo é imenso, mas é recuperável.

E quando se pensava até em mudança das regras para acabar com uma provável monotonia criada pelo novo regulamento, o lucro maior da corrida em Albert Park foi da Fórmula 1, que viu voltar a emoção das ultrapassagens e das disputas.

Alonso lidera o campeonato com 37 pontos, quatro a mais que Massa. Atrás vem os dois pilotos da McLaren, com Button oito pontos a frente de Hamilton. No campeonato de construtores, Ferrari e McLaren também lideram, seguidas pela Mercedes. E a Red Bull, em duas provas, está empatada em 18 pontos com a surpreendente Renault que tem a mesma pontuação obtida com o segundo lugar de Kubica.

Nos vemos na Malásia, na próxima semana, também de madrugada.

Um grande abraço a todos.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

11 Responses

  1. Fantástico!!! A largada foi demais, até agora não entendi que botão o Massa apertou! LC foi permitido novamente? hehe… demais! Só não gostei da rodada do Alonso, podia ter estragado a festa dos Tifosi! Vibrei muito com as desgraças alheias, diga-se de passagem. Além disso, Hamilton optou por duas paradas e estava andando muito, fazendo volta mais rápida atrás de volta mais rápida! Mas na hora do vamo ver, era bloqueado pelas nossas vermelinhas, que só pararam uma vez. Gostei muito! Mas é isso, mantendo a liderança tá bom: Forza Ferrari!

    Ah Lauro, depois daqueles pontos levantados quanto ao novo regulamento em sua última matéria, começo a perceber uma certa vantagem no banimento dos reabastecimentos. Por um lado, pode não ter agradado a estrategistas saudosistas daquela dupla de Schumacher / Brawn. Por outro lado, os pilotos já perceberam que o momento de tomar decisões é na pista, partindo pra cima! Se não ultrapassar da maneira ‘legal’ (aquela que a gente gosta de ver), provavelmente não irá ultrapassar nos boxes, por pura estrategia. Isso porque, ao meu ver, quando o gargalo de desempenho é pneu, não se tem muita escolha do momento exato em que se fará a troca. Com combustível ainda se podia colocar mais ou menos, dividir os 2 ou 3 trechos igualmente ou não, adiantar paradas (para não ficar preso atrás de um carro mais lento) ou fazer um splash-and-go ao final da corrida. Com pneus, é tudo binário: composto duro ou mole? Uma ou duas paradas? Troca os quatro ou só os traseiros?

    Abraços!

  2. Lauro says:

    Grande Eduardo!
    Sempre presente e nos ajudando muito com seus comentários e auditando nosso Bolão.
    Mas que negócio é esse de nossas vermelhinhas? Torcida declarada!
    Brincadeira.
    Claro que Ferrari é muito importante para a Fórmula 1, quase um sinônimo, mas espero que nossas colunas sejam sempre imparciais.
    Pelo menos até agora acho que não deixei escapar minha torcida pela…
    Vamos ter de fazer outro Bolão para descobrir.
    Um grande abraço!

  3. O que Lauro…sua torcida pela Red Bull…todos ja perceberam!

    hahahahahaha…

    Cara…belissimo texto…e pra mim…

    essa foi uma das melhores corridas dos ultimos tempos…empatada com a do Brasil de 2008!

    Abraços!

  4. HAHAHAHA… Lauro, eu sou Ferrarista e nunca escondi isso! Tá lá no meu perfil, logo abaixo do seu, na equipe: “… além de tudo que envolve a Ferrari, desde os carros de rua até a Fórmula 1.”

    Concordo quanto a imparcialidade quando se está escrevendo uma matéria, mas me coloco como torcedor ao tecer os comentários… hehehe

    Saudações da Scuderia!

    PS: Zerei nas apostas do bolão pra esse GP e o Grilo pulou na frente!

  5. Lauro says:

    Pessoal,

    Os resultados do Bolão para o GP da Austrália serão divulgados em breve.

    É importante dizer que a próxima etapa já é no próximo domingo, dia 04. Portanto, assim que liberado o post, façam suas apostas!

    Um abraço.

  6. Victor BM says:

    Não vi a corrida 🙁 to aqui imaginando que cena linda ver essa Mercedes SLS AMG de safety car puxando o bonde da F1…

  7. Fabio A. says:

    Olá senhores.

    Parabéns. Nunca havia visto um texto sobre uma corrida tão bem escrito, e também o comentário do Eduardo Rimoli.

    Espero poder contribuir com meus comentários sempre que possível.

    Lauro, se me permite, estava lendo seu perfil, e vi escrito que você trabalha na industria automobilística.

    Você trabalha em alguma equipe de corrida ou trabalha em montadora de veículos?

    No caso de trabalhar em montadora, digo-lhe que ACHO que o correto é dizer que você trabalha na industria e/ou setor AUTOMOTIVA(O) há xx anos.

    Automotiva(o): Automóveis

    Automobilística: Automobilismo vide: http://pt.wikipedia.org/wiki/Automobilismo

    O site já está nos Favoritos!

    Grande abraço!

  8. Lauro says:

    Olá Fabio,

    Muito obrigado pelos seus elogios e, por favor, comente sempre que desejar. Seja muito bem-vindo ao blog.
    Quanto a minha atividade profissional, eu realmente trabalho em uma montadora. Nunca trabalhei (infelizmente) em uma equipe de corrida, mas conheço um amigo que já trabalhou, aqui no Brasil. A ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) publica anualmente um relatório sobre a indústria automobilística nacional, do qual obviamente a empresa que trabalho faz parte, e foi desta forma que extraí a designação de indústria automobilística. Automotiva também é um termo correto, mas usamos de uma forma macro, o que inclui auto-peças, serviços, etc.
    Obrigado por nos adicionar aos seus favoritos.
    Um grande abraço!

  9. Que bom Fabio A., agradeço pela parte que me toca. Comente sim, é sempre bom enriquecer nossas discussões. Nos diga o que pensa do novo regulamento, das disputas, das estréias, das mudanças de equipe, tudo que tiver a acrescentar é válido. Veja também, se tiver interesse, os posts anteriores do Lauro, clicando na tag “Lauro Vizentim” ou “Fórmula 1” no cabeçalho de qualquer post.

    Estava refletindo quanto aos pneus e surgiu uma dúvida Lauro. Com as limitações de algum tempo dos pneus para cada circuito, as equipes têm quantos tipos de pneu disponíveis para cada corrida? 3 ou 4? São sempre um composto mais duro e outro mais mole (podendo ser soft, medium, hard e suas variações), além do de chuva. Mas o último tem variações?

  10. Lauro says:

    Eduardo,

    O regulamento prevê que, durante o final de semana, cada piloto tem direito a 11 sets de pneu para seco, sendo 6 da especificação determinada pelo fornecedor e 5 de uma especificação opcional, mais 4 sets de pneus intermediários e 3 sets para chuva. No ano passado eram 14 sets por corrida. Portanto, se não me enganei, são 4 tipos por final de semana de grande prêmio.
    O de chuva e o intermediário não tem variação do composto.
    Parabéns pela pergunta, seus comentários sempre somam conhecimento. E obrigado mais uma vez por incentivar o Fabio A. a ler nossos posts.

    Grande abraço.

  11. Fabio A. says:

    Bom dia Lauro e Eduardo!

    Obrigado pelas boas vindas!

    Bom Lauro, quanto à designação eu prefiro classificar daquela forma que lhe disse, pois fica mais fácil explicar pras pessoas em qual setor eu trabalho, que é a automotiva, incluindo autopeças. 😀

    Eduardo, assim que eu tiver um tempo (uma calmaria) no trabalho, vou ler os posts e comentarios anteriores sim.

    Eu também sou Ferrarista (tanto na F1 quanto de carros de rua) desde o berçário, mas não deixo de critícá-la quando erra.

    Sou muito fã da Lamborghini também. Uma pena ela não competir mais!

    Sou fã de automóveis em geral!! Principalmente os de 4 rodas com tração traseira! 😀

    Enfim, sempre que possível estarei por aqui.

    Abraços!

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