Fórmula 1 – Algumas modificações


Depois de três semanas de intervalo, a pista de Montmeló seria o palco para a nova divisão de força das equipes na temporada. Mas não foi bem assim.

O GP da Espanha veio cheio de novidades em todas as equipes. A Hispania, por exemplo, até contratou como piloto de testes Christian Klien, que já disputou duas temporadas na categoria pela Red Bull e foi piloto de testes da Honda e BMW, para ajudar no desenvolvimento do carro que teve algumas modificações aerodinâmicas. A Virgin trouxe inovações em um de seus carros apenas, enquanto a Lotus, entre as pequenas, foi a que mais mexeu nos seus bólidos. No bloco intermediário, a Williams foi a que mais mexeu na aerodinâmica.

Entre as grandes, a novidade era a modificação das tampas do motor de Mercedes e Ferrari. O time italiano trouxe também uma tentativa de copiar o revolucionário duto de ar frontal usado pela McLaren, que faz com que o piloto, com o corpo e num trecho de aceleração, tampe uma determinada região do cockpit e direcione assim o fluxo de ar para outras regiões do carro, deixando a aerodinâmica mais dinâmica, ao pé da letra. Se na McLaren o piloto usa as pernas para acionar o sistema, na Ferrari é necessário fazer esse redirecionamento usando uma das mãos e pilotar com a outra. Simples não? E a Mercedes modificou bastante o modelo do carro visando atender ao estilo de pilotagem do heptacampeão Schumacher. Até o entre-eixos foi modificado.

E se depois dos treinos livres na sexta-feira ninguém se arriscou a afirmar o que todas essas modificações poderiam fazer, o treino de sábado foi determinante para ver que a Red Bull, que quase não trouxe alterações nos modelos dos carros, ainda tem o carro a ser batido na temporada. Mais de 0,7s de diferença para as demais equipes, e a dobradinha da primeira fila trazia Webber na frente de Vettel pela segunda vez no ano. Os dois McLaren em terceiro e quinto, com Hamilton e Button respectivamente, estavam separados por Alonso. Schumacher, em sexto, pela primeira vez largava a frente do companheiro Rosberg, tendo entre eles o sempre presente Kubica. Massa e Kobayashi, nesta ordem, fechavam os dez primeiros. Ou seja; neste cenário, uma dobradinha da Red Bull seria a barbada do final se semana e a briga pelo último degrau do pódium deveria ser feroz. Mas também não foi bem assim.

Na largada, as primeiras posições foram mantidas. O destaque foi Barrichello, que depois de pegar tráfego no treino de sábado e não conseguir nada melhor que um 17º lugar (18º não fosse a penalidade para Petrov pela troca do câmbio do Renault), já aparecia em 12º logo na segunda volta. Massa também ganhou uma posição, enquanto Rosberg e principalmente Kobayashi caiam. Outro que largou bem e depois fez uma boa corrida foi Alguersuari com seu Toro Rosso.

E, logo de cara, Webber demonstrou que o domingo seria dele, marcando as voltas mais rápidas e abrindo de Vettel de maneira consistente. Ainda no primeiro quarto da prova começaram as paradas para troca de pneus. Rosberg, que já não vinha em um grande final de semana, teve problemas em uma das rodas durante o pit e perdeu bastante tempo, ficando longe dos pontos.

Como é sabido de todos que Montmeló é um circuito de raras ultrapassagens, alguns pilotos se aproveitaram das paradas de box dos adversários para ganhar posições. Foi assim com Schumacher na disputa com Button e Hamilton para cima de Vettel, numa manobra que por pouco não resultou em acidente entre ambos e a Virgin de Timo Glock, que se arrastava na saída dos boxes e obrigou Hamilton a espremer Vettel na curva ao final da reta.

Neste momento, Schumacher, Button e Massa estavam separados por muito pouco, e o atual campeão tentava de toda forma recuperar a posição do alemão. Nesta briga de motores Mercedes, e na reta dos boxes principalmente, Button se aproximava muito, em parte, por causa do tal duto de ar que falamos. Mas depois de várias voltas, Button desistiu da briga.

Ultrapassagens mesmo, só sobre os retardatários. Numa destas tentativas, Massa e Buemi sentiram quão lentos são os carros do fundo do grid. O brasileiro tentou não perder contato com Schumacher e Button quando todos chegaram para ultrapassar Chandhok e sua Hispania (a única na prova já que Senna tinha saído na terceira curva) mas acabou tocando de leve na traseira do carro do indiano e ficou com uma pequena avaria no spoiler, mas isso até que não afetou significativamente o desempenho de seu Ferrari.

Alonso era discreto, permanecia na quarta posição em que largou e assim deveria chegar na sua corrida em casa, mas a sorte do asturiano começou a mudar positivamente nas últimas voltas. E por causa de dois pneus furados.

Um deles foi o de Vettel, que obrigou o alemão a mais uma parada, entregando assim um lugar no pódium para o piloto da Ferrari. Vettel, aliás, ainda teria problemas sérios de freios nas últimas cinco voltas e diminuiu muito o ritmo para poder cruzar a linha de chegada no que seria o quarto lugar. Seria, pois havia outro pneu para furar, desta vez o de Hamilton, só que este não deu chances ao inglês de segurar o carro e fez com que o McLaren encontrasse a proteção de mais outros tantos pneus. Logicamente, com este acidente e restando pouco mais de uma volta para o final, a sorte veio não só para Fernando Alonso, mas também recolocou Vettel no pódium e garantiu a melhor colocação de Schumacher este ano, um bom quarto lugar. Para Hamilton, restou o consolo de ter a melhor volta da prova vencida de ponta a ponta por Mark Webber.

Com a ausência da chuva, desta vez, a corrida não empolgou tanto, mas é bom dizer que isso não se deve a falta do reabastecimento como havia no ano passado. A emoção foi agora para a tabela dos campeonatos de pilotos e construtores.

Button ainda segue líder, agora com 70 pontos, mas com apenas três de vantagem sobre Alonso. Pouco mais atrás, com 60 e 53 pontos respectivamente, estão Vettel e Webber. Rosberg e Hamilton, que não marcaram pontos, continuam separados por um ponto (50 x 49 em favor do alemão) e Massa chega junto com os mesmos 49 pontos do inglês. Em oitavo, mesma posição que terminou o GP espanhol, Kubica, com 44 pontos. Mais acirrada ainda é a briga na tabela de construtores, que tem a McLaren com 119 pontos, a Ferrari com 116 e a Red Bull com 113. A Mercedes tem apenas 72.

Continuando a fase européia e já no próximo final de semana, uma corrida que pode ser decidida pelos retardatários pelas ruas do Principado de Mônaco. É a chance de quem tem um carro mais lento de conseguir um melhor resultado.

Nos vemos lá, um grande abraço.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Belo texto…corrida cheia de surpresas…gostei!

    e garanti meus 20 pontinhos no bolão!

    Abraços!

  2. Lucas Brunckhorst says:

    Ótimo texto, já o meu bolão…. Não vamos comentar ;D

    Um abraço a todos e uma boa semana

  3. Fábio A. says:

    Parabéns pelo ótima narrativa da corrida Lauro!!

    Quanto ao Schumacher, falei que com o novo carro a história ia começar a mudar. O Button percebeu isso na pele.

    E o Massa precisa se motivar e voltar a correr como antes, pois não é de interesse da Ferrari entregar um carro melhor pra um e um carro pior para outro. Ela quer com certeza os 2 pilotos dela na frente e ficar com o titulo de construtores. O Massa não pode começar a ter Sindrome de Barrichelo e ficar culpando só o carro ou a equipe. Sei que a Ferrari falha, mas com o tempo eles vão se acertar.

    Quanto ao pneu furado do Hamilton, fiquei rindo por 5 minutos dele. Pagou pela arrogância e falta de humildade.

    Vettel está com Sindrome de Haikkonen!! Nem precisa explicar, não é?!?!

    A grande pena da temporada, pra não dizer dos últimos anos, é o Kubica não ter um carro à altura de sua capacidade.

    Kobayashi mostra mais uma vez que os japoneses ainda têm (de novo) Sindrome de Pearl Harbor!! Sim, são todos Kamikases, destruidores de carros… (Na minha opnião, lógico)

    Bom, é isso aí, e felizmente não vamos ficar muito tempo sem nossa F1 !!

    Quanto à notícia de redução dos motores, colocar turbo e motor hibrido, reduzir os cvs, etc, Acho uma tremenda palhaçada!! Em poucos anos vai ser mais emocionante assistir à GP2, com carros mais velozes!!

    Lauro, vale uma reportagem esse assunto, não?

    Abraços!

    Fábio

  4. Lauro says:

    Pedro, Lucas e Fábio
    Obrigado pelo comentário positivo. Já em relação ao Bolão, a sorte vai ser bastante determinante para decidir o vencedor. Eu estou procurando pela minha, pois neste quesito, somos adversários, certo?
    Pois é, respondendo ao Fábio sobre a mudança de motores que está sendo discutida, ainda é cedo para comentar. Nos anos 80, os carros turbo tinham 1500 cm3 (ou 1500 “cilindradas”)e querem voltar à isso. Claro que a queda de potência deve ser analisada, mas não será a primeira vez que isso acontece. A novidade é o motor híbrido e os benefícios que ele pode gerar em desenvolvimento para a indústria, servir de laboratório, o que é também um dos objetivos da Fórmula 1 também.
    Se couber uma coluna, com certeza, falaremos sobre o assunto nela, mas precisamos esperar um pouco mais os desdobramentos.
    Um abraço à todos.

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