Fórmula 1 – Nem tudo que reluz é touro.


Hamilton vence a primeira do ano em mais uma dobradinha da McLaren na temporada, enquanto na Red Bull, a logomarca dos energéticos resume o clima dentro da equipe.

Além do fato corriqueiro de termos uma Red Bull na pole position, parece que Webber também quer tornar comum o fato de superar o companheiro Vettel nos treinos e também nas corridas. Mas Hamilton e Button intercalaram seus carros prateados nas primeiras filas e, como já haviam mostrado nos treinos livres, iriam infernizar a vida da equipe do touro vermelho. Schumacher e Rosberg logo atrás, Kubica de novo muito bem posicionado, Massa fazendo o possível e ficando apenas com a oitava posição no grid. Completando os dez primeiros, Petrov mostrava que a evolução da Renault é sólida tinha Kobayashi ao seu lado, tentando repetir na Sauber as boas corridas que fez na Toyota no final de 2009. Sentiu falta de Alonso? Pois é. O espanhol conseguiu apenas o 12º lugar no grid, em parte pelos seus próprios erros e em grande parte pelo desempenho limitado dos carros Ferrari que, definitivamente, não são mais os carros que pintavam entre os favoritos na pré-temporada.

Mas, se em Mônaco com a pista estreita e largando dos boxes Alonso conseguiu chegar em sexto, numa pista larga e com mais pontos de ultrapassagem seria mais fácil para Alonso se recuperar, certo? Sim, mas só que o carro tem uma grande parcela para se obter essa recuperação.

Na largada, Vettel e Schumacher deixaram os McLaren de Hamilton e Button para trás, respectivamente, mas os ingleses deram o troco ainda antes de completar a primeira volta. E enquanto Massa brigava com Kubica, chegando a tocarem os pneus, Alonso não conseguia evoluir uma posição sequer.

Webber começava então a ser pressionado por Hamilton que, assim como em outras etapas, se mostrava muito competitivo e disposto a vencer depois de vários GPs sem visitar o lugar mais alto do pódium. Isso fazia com que ambos abrissem um pouco de Vettel e Button, e o quarteto já se destacava dos demais. Alonso, ainda na 12ª posição, faria sua troca de pneus na 12ª volta. Na seqüência, pararam ao mesmo tempo Kubica e Massa, sem troca de posições.

Dos quatro primeiros, Vettel trocou os pneus antes dos pilotos da McLaren e de Webber. Schumacher fez a troca logo depois. E aí veio o primeiro lance que iria começar a construir a vitória de Hamilton.

Curiosamente, foi na troca de pneus de Webber e Hamilton, realizada no mesmo instante como todos estavam esperando, que o inglês acabou por perder a posição para Vettel no retorno para a pista. Parecia que Hamilton não teria forças para brigar agora não com um, mas com os dois carros da Red Bull. Enquanto isso, Button fazia as melhores voltas da prova e, logo após a sua troca de pneus, voltou ao mesmo quarto lugar, só que agora colado atrás de Hamilton.

Os quatro primeiros já abriam cerca de trinta segundos para o segundo pelotão que mantinha a mesma ordem do começo, com Schumacher, Rosberg, Kubica, Massa, Petrov e Alonso já na zona dos pontos.

Separados por três segundos apenas, o quarteto da ponta era pura adrenalina. Webber se defendia de Vettel, que era atacado por Hamilton, que tentava fugir de Button, e todos sabiam, dentro de seus capacetes, que podiam vencer. Havia também a expectativa muito grande de chuva, mas que acabou não se confirmando. Começaram então os problemas domésticos.

Aproveitando-se de um momento melhor, Vettel foi para cima de Webber na longa reta e colocou o carro lado a lado com o australiano. Faltavam pouco menos de vinte voltas. Nesse momento, Vettel deveria estar pensando que ali interromperia a boa fase de Webber, tirando-lhe a liderança do mundial, fazendo voltar sua autoconfiança e a tranqüilidade mental tão importante para um piloto. Mas Webber não pensou assim e, mesmo sem mover o volante um grau sequer, viu Vettel tocar perigosamente em sua lateral e quase acabar com a prova dos dois carros azuis. Quase, porque quando a fase é boa, mesmo com esse “pequeno percalço”, Webber continuaria na prova para chegar em terceiro, depois de ter de parar mais uma vez para trocar o bico do carro.

E Vettel ficou tão inconformado com o acidente que, embora tenha sido ele o causador do mesmo, chegou inclusive a gesticular que seu companheiro de equipe era louco assim que saiu do carro. Jogou para a torcida, como dizem no futebol. Péssimo para a equipe, pior para o próprio Vettel, que com os mesmos 78 pontos de quando chegou a Turquia, cai agora para quinto no campeonato.

Mas ainda tinha mais uma briga doméstica, agora na prateada McLaren. Button encostou, e depois de algumas curvas lado a lado com Hamilton, passou pelo companheiro em uma seqüência de curvas. Mas Hamilton não se deu por vencido, e logo em seguida mergulhou na curva um logo após ambos passarem pelos boxes, e quase se tocando com Button recuperou a primeira posição para não mais perder.

No final da prova, Alonso ainda tentou uma manobra para cima de Petrov que resultou em toque entre ambos e um pneu furado para o russo que, pela necessidade da troca, acabou por fazer a volta mais rápida da corrida.

Dobradinha da McLaren, com Webber em terceiro. Schumacher, cada vez mais próximo do pódium, em quarto, seguido de Rosberg, Kubica, Massa, Alonso e Kobayashi, que marcou seu primeiro ponto na temporada. Webber segue líder do mundial, tendo agora os dois pilotos da McLaren, Button e Hamilton, logo atrás. No campeonato de construtores, a McLaren assume a ponta por apenas um ponto em relação à Red Bull.

Na entrevista coletiva, nenhum dos três pilotos estava muito empolgado com o resultado. Nem mesmo Hamilton, que pareceu sentir o peso da briga com Button mas, principalmente a ausência do pai, que já não é mais seu manager e com quem havia comemorado todas as vitórias da carreira. Webber foi muito comedido ao se referir ao acidente com Vettel, chegando a hesitar a resposta por algumas vezes quando foi perguntado sobre o assunto.

Webber e Button estão vivendo um momento melhor que seus companheiros Vettel e Hamilton, o que para muitos é uma surpresa e eu me incluo nesses muitos. Alonso vai ter que trabalhar muito para brigar pelo campeonato, pois é notória a queda de rendimento dos carros vermelhos (diga-se de passagem, completaram seu GP de número 800 na Fórmula 1), ficando nesta corrida com rendimento até abaixo dos dois Renault. Se a Mercedes melhorar um pouco de rendimento, pode ser a equipe germânica a fiel da balança na luta pelo título, tirando pontos dos líderes.

A Fórmula 1 volta a se reunir no Canadá, pista que volta ao calendário mundial depois da ausência no ano passado e que tem tudo para trazer mais uma prova emocionante para o campeonato. Até lá.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Lauro says:

    Olá amigos,

    Acabo de ler em alguns meios de comunicação a explicação para a emocionante corrida da Turquia ontem. E elas são, no mínimo,confusas.
    Tanto a Red Bull quanto a McLaren orientaram Webber e Hamilton para economizarem combustível. Para piorar, o engenheiro de Vettel disse que ele poderia passar Webber sem problemas por conta disso.
    Avaliando o caso da Red Bull apenas: se Webber tinha que economizar combustível, como voltou da troca do bico fazendo melhor volta atrás de melhor volta?
    E se Hamilton tinha que economizar combustível, será que esqueceram de combinar isso com Button ou ele se fez de desentendido?
    Ora, ora, ora, a velha ordem de equipe, tão criticada pelos brasileiros quando partem da Ferrari, parece que funcionam igualmente nas “liberais” Red Bull e McLaren.
    Isso explicaria o sinal de Vettel e cara amarrada de Hamilton, por exemplo, mas parece ser mais um disfarce burocrata para deixar claras as intenções de Red Bull e McLaren de ter Vettel e Hamilton, respectivamente, com mais chances de título que seus parceiros. Assim funciona também na Ferrari para Alonso e na Mercedes para Schumacher.
    Como eu disse, Webber e Button estão surpreendendo seus companheiros fazendo com isso que o esporte, a Fórmula 1, o espectador, ganhem. Vamos torcer para que em um campeonato tão aberto como esse, a famosa “ordem do rádio da equipe” não aconteça camuflada em mentiras mecânicas.

    Um abraço à todos.

  2. Lucas Brunckhorst says:

    Começando pelo título, sensacional! Hahaha

    Esta foi uma, senão a mais emocionante corrida da temporada para mim. Ver a “disputa” dos RBR, que infelizmente terminouu em acidente, e a briga entre as Mclaren foi um espetáculo a parte.

    Realmente uma boa corrida para se ver! O que não está nada bom são meus palpites, mas isso vamos administrando.

    Uma boa semana e até o próximo post!

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