Fórmula 1 – Pega-pega no parque


Na volta do circuito de Montreal, uma prova disputadíssima, com várias ultrapassagens, brigas, incidentes, e mais uma dobradinha da McLaren na segunda vitória seguida de Hamilton, que agora é o novo líder do mundial.

Foi com uma determinação muito grande que Hamilton mostrou no sábado que não era só a Red Bull que merecia a pole-position em 2010. Numa volta fantástica, o inglês deixava os carros azuis para trás, porém um deles ainda na primeira fila, com Webber, mais uma vez a frente de Vettel. Alonso colocou a Ferrari logo atrás dos Red Bull e tinha Button em quinto. Os dois carros da Force India vinham entre os dez primeiros, com Sutil em sexto e Liuzzi em nono. Massa apenas o sétimo, Kubica em oitavo e Rosberg em décimo. Schumacher, numa fase de readaptação um tanto longa, apenas o décimo terceiro.

Antes mesmo do apagar das luzes vermelhas, Webber via a ameaça de perda da liderança do mundial traduzida na troca do câmbio de seu Red Bull, o que lhe custou cinco posições no grid, caindo para sétimo. Largaria de pneus duros, mesma opção de Vettel, Kubica e Schumacher.

A primeira seqüência de curvas do circuito Gilles Villeneuve é certeza de toques entre os carros, e quem se deu mal desta vez foram Massa e Sutil, que perderam várias posições enquanto se estranhavam. Sorte de Webber que já pulou para quinto e trouxe Kubica junto com ele. Schumacher largou muito bem e já passava em oitavo. Massa então aproveita a parada para arrumar a asa dianteira e coloca pneus duros, mas a volta lenta até o pit lhe fez voltar quase uma volta atrás dos líderes.

Em cinco voltas, Webber passa por Button. Nessa altura, Schumacher ultrapassava Sutil e já vinha em sétimo enquanto Rosberg já tratava de trocar de pneus macios para duros. Mas as atenções estavam voltadas para o ataque de Vettel em Hamilton.

Perdendo terreno, Button vai para os boxes e parecia uma decisão acertada, pois Hamilton perdia espaço para Vettel enquanto Alonso e Webber encostavam nos líderes. Mas os carros da Red Bull liderariam a prova quando Hamilton e Alonso entraram juntos nos boxes. Na saída de ambos, a Ferrari trabalhou melhor e permitiu ao espanhol emparelhar ainda no pit-lane com Hamilton e ultrapassar o inglês na saída dos boxes.

Pouco mais atrás, Hülkenbreg fazia uma boa corrida, mas quase colocou tudo a perder ao tocar na traseira do carro de Sutil. Enquanto dois alemães se estranhavam, outros dois iam bem, obrigado. Vettel seguia liderando e Schumacher, sem trocar os pneus, já era o terceiro na décima volta. Mas a vida de Schumacher começou a se complicar de novo n primeira troca de pneus. Ao voltar para a pista, Kubica tomou uma “trancada de porta” do heptacampeão e retribuiu na curva seguinte, colocando Schumacher também na grama, num dos grandes pegas da corrida.

Webber e Vettel param para suas trocas de pneus nas voltas 14 e 15 respectivamente. Mas Webber coloca o mesmo pneu duro do início da prova e teria que parar novamente pelo regulamento, independente do desgaste.

E por falar em desgaste de pneus, o aumento da temperatura na pista do Canadá neste domingo fez com que todos os carros enfrentassem uma condição inesperada no comportamento dos mesmos e isso trouxe muita emoção para a prova. Para se ter uma idéia, a situação era tão imprevisível que a liderança era de Sebastien Buemi, da Toro Rosso.

Decidido, Hamilton ataca Alonso e recupera a posição perdida durante o pit-stop no momento em que Buemi vai para a troca de pneus. Button vinha em terceiro. E eram de Felipe Massa as melhores voltas da prova no final do primeiro terço do GP.

Os pegas continuavam, e a transmissão não dava conta de mostrar todas as disputas. Sutil ia para cima de Kubica, Vettel para cima de Button, e Alonso conseguiu recuperar a ponta com a segunda parada de Hamilton. Nesta altura, o espanhol surpreendia ao acompanhar os ponteiros e andar na frente dos Red Bull. Depois de mais uma rodada de pits, Webber liderava, exatamente por ter adiado a sua parada e conseguia abrir bastante de Vettel. Buemi confirmava a boa prova se mantendo em sexto. Mas os pneus de Webber começaram a perder rendimento embora o australiano insistisse em se manter na pista.

Hora então de Alonso literalmente empurrar Hamilton e assim ambos chegavam em Webber, que já totalmente “descalço” insistia em mais algumas voltas para, quando colocasse pneus macios, estes resistissem até o final da prova. Webber então é superado por Hamilton na pista e por Alonso na volta seguinte quando vai para sua última parada, voltando em quinto. A troca dos quatro pneus do carro do australiano, segundo informações ainda extra-oficiais, foi feita em apenas inacreditáveis 3 segundos.

E numa prova em que pneus e freios são normalmente muito exigidos, a tocada menos agressiva de Button lhe permitia sonhar com mais que um terceiro lugar. E, se aproveitando do tráfego que atrapalhou Alonso (leia-se Chandhok), o atual campeão do mundo deixou o espanhol para trás e parecia decidido a estragar o bom final de semana do compatriota Hamilton. Dava sinais que iria conseguir, virando mais rápido que o líder e trazendo Alonso com ele.

Faltando ainda 13 voltas para o final e depois de ter um pneu furado, Schumacher tomava 1 volta dos três primeiros. Era o oitavo e foi ultrapassado por Buemi.

Hamilton, então, decide mostrar que queria a segunda vitória seguida e começa a devolver os tempos de Button, solidificando a dobradinha prateada. Alonso se fixou na terceira posição e completou o pódium.

Mas uma corrida tão disputada não ia acabar sem mais algumas lascas. E seu personagem principal foi Michael Schumacher. Quando defendia o nono lugar dos ataques de Massa, Schumacher espremeu o “irmão mais novo” para fora da pista. E Massa ainda tocou no carro do alemão, sendo obrigado a mais uma troca do bico da Ferrari. Além dessa briga, na última volta, os dois Force India também passaram Schumacher, deixando o heptacampeão fora da zona dos pontos. Hamilton só não fez barba, cabelo e bigode (pole, vitória e melhor volta, ou hat trick) porque o dono do “bigode” foi o polonês Kubica.

Hamilton, Button e Webber lideram o campeonato, separados por seis pontos apenas. Vettel e Alonso um pouco mais atrás. Rosberg, Kubica e Massa vão ficando pelo caminho. Schumacher segue, como já dissemos, em adaptação. E a Ferrari não está satisfeita com o carro e deve trazer novidades para a próxima etapa, em duas semanas, mais uma vez na Espanha, agora para o GP da Europa, em Valência.

Bem, sem a chuva, que trouxe emoção nas primeiras etapas do mundial, foi a vez do desgaste dos pneus que, somados ao traçado sinuoso de Montreal, fazerem da etapa do Canadá uma corrida bem agitada e deixando o campeonato, neste momento, mais para a McLaren. A evolução do time inglês, que já venceu metade das etapas até aqui, com duas vitórias para cada um de seus pilotos, é notória e consistente. Mas ainda é cedo, claro, para se definir alguma coisa. Nos vemos em duas semanas, um abraço!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Silvio Ferraioli says:

    Excelente coluna como sempre. Esse rapaz conhece absolutamente tudo de F1. Estamos anciosos pelo resultado do bolão.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *