Quem vai pisar primeiro na Lua?


O foguete austríaco Red Bull deixa seus “astronautas” como favoritos ao campeonato. Mas, como mostrou a história, não bastará apenas ter a nave nas mãos e pilotá-la até a conquista. Será preciso também deixar sua marca primeiro lugar.

Humilhando a concorrência.

O GP da Alemanha mostrou que a Ferrari melhorou muito no conjunto do carro, mas seus pilotos chegaram a Hungria ainda sobre o eco da troca de posições na corrida alemã. Porém, na hora do treino oficial, o que se viu de novo foi o domínio absurdo da Red Bull, com Vettel quebrando inclusive o recorde da pista que pertencia a Michael Schumacher desde 2004. Webber também fez um bom treino, chegou a liderar o Q2, mas Vettel fez uma volta simplesmente arrasadora. Na Ferrari, a segunda fila até que caiu bem, com Alonso sendo sistematicamente mais rápido que Massa. O brasileiro até que fez um bom treino, psicologicamente falando, mas ficou a mais de três décimos do, agora, “companheiro” de equipe. Só que não há muito o se esperar de uma corrida sem muitos pontos de ultrapassagem e largando a 1.2s e 0.8s dos tempos da primeira fila respectivamente. Hamilton e Rosberg, que trouxeram suas únicas McLaren e Mercedes para o Q3, posicionaram-se na terceira fila. A boa surpresa do treino foi Vitaly Petrov que pela primeira vez ficou a frente de Kubica, e deixando a quarta fila toda amarela e preta. Fechando os dez primeiros, Pedro de La Rosa (BMW-Sauber) e Hülkenbeg (Williams). Os destaques negativos ficaram por conta de Button e Barrichello, que não conseguiram passagem para o Q3, e para Schumacher, que viu seu recorde da pista cair apenas lá da décima quarta posição do grid. Pior foi o desempenho da Force India, que parece ter ficado para trás depois de boas corridas no começo da temporada. Apesar disso, foi na Bélgica ano passado que a equipe chegou a fazer um segundo lugar e, coincidentemente, é a próxima etapa.

A esperada dobradinha não veio, mas…

A pista húngara tem o lado interno de sua reta principal conhecido pela extrema sujeira que se acumula dos treinos e que faz a vida mais difícil de quem larga nas posições pares, teoricamente, pela desvantagem no momento da aceleração. E foi assim que Fernando Alonso se aproveitou desta situação para ganhar a posição de Webber e por pouco não pular na frente também de Vettel. Outro que se deu bem foi Petrov, que ganhou a posição de Hamilton, mas o inglês a recuperaria duas voltas depois numa das poucas ultrapassagens da corrida.

Vettel abria, em média, 1s por volta sobre Alonso e parecia que daria uma volta no segundo colocado se mantivesse o ritmo e a pista permitisse. De repente, surge no meio da pista um pedaço do bico da Force India de Sutil, forçando a entrada do safety-car e, como era de se esperar, a maioria decide entrar para os boxes. Vettel foi avisado quando já havia perdido a entrada dos boxes, mas não pensou duas vezes e pulou a zebra em um ponto em que ainda era possível acessar o pit-lane, lembrando uma manobra de trânsito para fugir de um congestionamento. E foi no confuso trânsito dentro dos boxes, que o mecânico da Renault liberou a volta de Kubica exatamente quando Sutil estava chegando para sua troca no box imediatamente a frente. Os dois se enroscaram, sobrando um stop and go para o polonês na seqüencia da corrida, o que acabou com seus planos para a prova húngara. Outro que viu sua corrida ir embora foi Rosberg, que simplesmente perdeu a roda traseira direita ainda dentro dos boxes, num erro primário da Mercedes. Por pouco a roda não acertou um dos vários mecânicos das outras equipes e isso também deverá render punição para a equipe prateada. Hamilton também ganhou a posição de Felipe Massa durante a rodada de pit-stops.

Na volta do safety-car aos boxes aconteceu o lance que determinaria a perda da dobradinha certa da Red Bull. Como Webber não entrou para a troca de pneus com receio de perder muitas posições esperando pela troca de Vettel, o australiano precisaria abrir muito para o terceiro colocado, Alonso, para assim tentar voltar na frente depois de efetuar a parada. Com esse intuito, Vettel deixou Webber e o safety-car abrirem muito na re-largada. O regulamento diz que a distância não pode ser maior que dez carros e com isso Vettel acabou punido com um drive-thru sem entender o motivo. Na mesma hora em que é comunicada a penalização para Vettel pelo rádio, Hamilton abandona com problemas mecânicos. Os dois carros da Red Bull começam então a virarem mais rápidos que a concorrência e abrirem distâncias seguras sobre os carros da Ferrari. Como tinha apenas algumas voltas para pagar sua punição, Vettel não conseguiu abrir o suficiente para continuar a frente de Alonso, mas ainda voltou em terceiro. O carro da Red Bull é tão superior aos demais que isso permitiu a Webber nada menos que 43 voltas com o pneu macio e, assim, o australiano pode fazer a sua parada com tranqüilidade e voltar na ponta para não mais perder.

A pista estreita da Hungria fez a diferença em favor de Alonso, que se defendeu dos ataques de Vettel até o final e conseguiu um excelente segundo lugar. Vettel ficou com a melhor volta da prova e deve ter pensado no campeonato para não se arriscar sobre Alonso, já que provavelmente não alcançaria Webber. Massa foi discreto e terminou onde largou, em quarto lugar.

Mas nas voltas finais, Barrichello mostrou que há sim espaço para ultrapassagens no circuito húngaro. Com a mesma estratégia de Webber, a de não parar para a troca de pneus obrigatória durante o safety-car, mas com pneus duros, Barrichello era quinto colocado quando, faltando 14 voltas para o final, decidiu ir aos boxes e voltou apenas em 11º, atrás de seu maior rival Michael Schumacher. Barrichello tentou por várias voltas a ultrapassagem sem sucesso. Faltando três voltas apenas, o brasileiro entrou na reta principal com mais equilíbrio que o Mercedes de Schumacher e, quando já tinha mais de meio carro sobre o alemão, foi espremido no muro do pit-lane e só não aconteceu um acidente grave porque o muro acabou e ninguém saia dos boxes naquele momento. Barrichello teve de controlar o carro já dentro da faixa branca da saída dos boxes para garantir um ponto que para ele, com certeza, valeu muito. E Schumacher ainda foi penalizado em 10 posições no grid para o GP da Bélgica. A rivalidade de ambos os veteranos foi o ingrediente que salvou uma corrida sem emoção, mas muito importante para o campeonato, e com excelentes resultados dos estreantes Petrov, em quinto, e Hulkenberg, sexto. Button foi apenas o oitavo.

… a superioridade dos carros azuis é incontestável

O foguete austríaco Red Bull deixa seus “astronautas” como favoritos ao campeonato. Mas, como mostrou a história, não bastará apenas ter a nave nas mãos e pilotá-la até a conquista. Será preciso também deixar sua marca primeiro lugar. Foi assim na conquista da Lua pelo homem, em julho de 1969. Edwin Aldrin, Michael Collins e Neil Armstrong formavam a tripulação da Apolo XI pelo espaço. Apenas Aldrin e Armstrong desceram em solo lunar através do módulo lunar Eagle, sendo Armstrong primeiro e Aldrin depois dele. Assim como na Red Bull, onde Webber tem se destacado mais até agora, é de Aldrin a maioria das fotos da missão, inclusive a da marca de sua bota no solo, mas algo me diz que Vettel será o Neil Armstrong desta conquista.

Dos candidatos ao título, mais embolados ainda nesta altura do campeonato, Webber é o mais constante e o maior vitorioso até agora (Espanha, Mônaco, Silverstone e Hungria), enquanto que Vettel é quase sempre mais veloz que o companheiro, mas não consegue traduzir em pontos sua velocidade na pista. Hamilton está atravessando um campeonato de pouca sorte e Button está muito comedido, e assim parece que o título fica cada vez mais próximo dos pilotos da Red Bull. Mas ainda tem Alonso e ele realmente ainda não pode ser descartado, até porque é, na minha opinião, o mais completo dos cinco e é o único que entra na briga sem a rivalidade direta do companheiro de equipe, apesar de toda a polêmica já discutida.

Como disse lá no começo, a Fórmula 1 agora vai para o velocíssimo circuito de Spa-Francochamps, na Bélgica, depois de uma pausa de quatro semanas. Será que alguém vai querer descansar nas férias?

Um abraço e até lá.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

5 Responses

  1. Só digo uma coisa: Ao final do ano, a Ferrari será A campeã.

    PS: Lauro, me desculpe se estiver enganado, mas queria perguntar se o que vale para o “recorde da pista” não é apenas a melhor volta da prova, ou seja, durante a corrida e não qualify? Dito isso, Schumacher havia fato a melhor volta da prova em 2004, registrando 1:19.071 como recorde da pista (mais rápido até que no qualify, em 1:19.146), enquanto que Vettel fez “apenas” 1:22.362 na corrida desse ano (apesar dos 1:18.773 do sábado).

  2. Du, no caso, melhor volta da pista, seria a melhor volta dada na pista…não importa o “evento”!

  3. A Formula-1 viveu dois momentos antagônicos nessas duas semanas!!. Massa vs Alonso (na Alemanha) e Barrichello vs Schumacher (Hungria). O Episódio na Hungria me fez lembrar do úiltimo post que fiz na corrida da Alemanha que foi o seguinte:

    “Deixando de lado os motivos dos pilotos e das equipes (por suas ações), o que espero como torcedor é Competição e atitude.. E isto esta faltando!!!”

    Bem: Que ultrapassagem foi aquela do Barrichello!!!!

    E ai o antagonismo das duas corridas… A entrega simples e pura da posição (de vencedor da prova e 25 pontos!!!) versus a luta (quase até seu limite) pela Décima posição e seu 1 ponto!!!

    Sabemos que para os dois tinha mais em disputa do que esse 1 ponto, mas a briga por não ceder a posição e por ganhá-la arrepiou!!!

    Com certeza o “sapateiro” como diria o Senna foi até inconsequente e deve ser punido pois o que acabou foi o muro e não sua pressão sobre o Rubens para não ceder a posição!!!

    E cá entre nós, que sabor deve ter tido para o Rubinho (quase que chorando de emoção na engrevista após a corrida em um misto de puto e satisfeito) estar atrás do Shummy e não ter de ouvir aquela ordens da equipe para tirar o pé.!!!

    Isso não redimi a Formula-1 mas da esperanças por corridas melhores!!

  4. Victor BM says:

    Rubinho e Schumi foi praticamente uma rinha de galo, no melhor estilo Senna “sai da frente que ai vem gente” huaeuhae.

    Que venha Spa-Francorchamps!

  5. Para os que ainda estiverem interessados em refletir sobre o caso Massa x Alonso, segue uma sugestão de vídeo. No meu modo de ver, é isso que falta para a nossa imprensa, jornalismo sem hipocrisia: http://www.youtube.com/watch?v=1yP068g_wjE&NR=1

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