Sai o primeiro título da temporada


Sem jogo de equipe e sem dar chance para ninguém, a Red Bull conquista o campeonato de construtores e adia a decisão do campeão do mundo para os Emirados Árabes com nada menos que quatro candidatos ao título.

No trilho e na hora “H”

A quente sexta-feira paulista, que havia deixado os dois foguetes azuis da Red Bull provisoriamente na primeira fila, saiu de cena e amanheceu em um sábado de tempo chuvoso e incerto. E o que parecia certo, ou seja, a pole de um dos dois carros da Red Bull começou a ir literalmente por água abaixo. No terceiro treino livre, com muito spray na pista, Kubica surpreendeu os favoritos e colocou a Renault na frente. E parecia mesmo que ia pintar surpresa na definição do grid, já que Kobayashi fechou o terceiro treino em quarto lugar.

Mas quem foi a Interlagos no sábado via que as nuvens carregadas queriam participar da festa e, entre o treino da manhã e o treino oficial, voltou a chover o suficiente para criar o que os especialistas em trânsito chamam de pontos de alagamento. E foi assim que começou o treino oficial.

Correndo em casa, Felipe Massa não conseguia bom rendimento de seu Ferrari. Se no treino da manhã conseguiu melhor tempo que Alonso (3º e 4º, respectivamente), o desempenho de Massa não empolgou a torcida e nem a si próprio, mas ao menos não sentiu nenhuma hostilidade por parte do torcedor brasileiro pelo episódio ocorrido no GP da Alemanha.

No Q1, pista molhada e sem surpresas nas eliminações. No Q2, com a pista ainda bastante úmida, porém secando relativamente rápido, foi a vez de Button e Rosberg deixarem duas vagas abertas no Q3 para seus colegas de trabalho. Um deles poderia ter sido Kobayashi, mas o japonês também ficou pelo caminho. Então vieram Red Bull, Ferrari, Renault e Williams com seus dois carros, mais Hamilton e Schumacher, que chegou a andar entre os três primeiros mais de uma vez e esteve sempre à frente de Rosberg. Parece que o heptacampeão nem havia se aposentado ali mesmo, quatro anos atrás.

Nem cinco minutos se passaram e o trilho é formado. Era só uma questão de tempo para saber quem arriscaria pneus de pista seca. Hamilton e Kubica tentam, mas o tempo não baixava logo de cara por causa do demorado aquecimento dos compostos nestas condições. Kubica chegou a sair da pista. Barrichello também tentou e, na seqüência, todos optaram pelos pneus secos, mas faltava pouco tempo. De repente, surge o protagonista do sábado.

Ao saber que Barrichello havia optado por pneus para pista seca, seu companheiro Hulkenberg começou a encaixar voltas rápidas. Assumiu a ponta, mas perdeu na sequencia para Hamilton. Em suas últimas voltas, Vettel e Webber superaram Hamilton, mas Hulkenberg baixou ainda mais o tempo da Red Bull e, com tempo para abrir mais uma volta, o estreante alemão baixou ainda mais seu tempo, colocando um assombroso 1 segundo de vantagem para Vettel. Webber ficou “protegido” por Hamilton da ameaça direta de Alonso, apenas o quinto. E os quatro postulantes ao título entre os dois Williams, já que Barrichello conseguiu um bom sexto lugar. Kubica, Schumacher, Massa e Petrov completavam as dez primeiras posições.

Maravilhosa. Na hora “H” foi a pole de Hülkenberg, de quem a Williams pode abrir mão para a próxima temporada, trocando-o pelo atual campeão da GP2, o venezuelano Pastor Maldonado, que deve trazer milhões de dólares da estatal petrolífera de Hugo Chavez. Mundo cruel este o da Fórmula 1, mas…

Foi só abrir a porteira…

A Williams e o próprio Hülkenberg sabiam que a pole do sábado poderia durar muito pouco, talvez nenhuma volta completa. Dito e feito. Vettel sequer deu chance para o compatriota fazer a primeira curva na frente. Mais duas curvas, no final da reta oposta, foi a vez de Webber assumir o segundo lugar. Era a vez de Hamilton atacar Hülkenberg, mas como errou na mesma freada que Webber conseguira a ultrapassagem, Alonso assumiu o terceiro lugar, mas travou atrás do carro da Williams. Era impressionante como os carros da Red Bull abriam com consistência, separados por pouco mais de dois segundos, enquanto um pelotão se formava atrás de Hülkenberg. Alonso levou seis voltas para passá-lo, Hamilton só conseguiu quando o alemão foi para os boxes.

Nas paradas, Hamilton se antecipou aos líderes e começou diminuir a diferença para os ponteiros, mas pegou tráfego e a recuperação não foi a contento. Os três primeiros fizeram suas paradas e voltaram na mesma ordem. Button conseguiu se recuperar na prova, se aproveitando, entre outras coisas, dos péssimos pits de Barrichello e Massa, que tiraram um pouco da vibração do torcedor. Só que o sonho do bicampeonato vai ter de ser adiado, pois Button está fora da disputa na última etapa.

Webber esboçou uma ameaça, chegou a reduzir a diferença para pouco mais de um segundo. A superioridade para as demais equipes era tão grande que sempre havia um ou mais retardatários para testar qual dos dois pilotos da Red Bull tinha mais habilidade em superá-los. Neste quesito, Vettel não vacilou, enquanto Webber chegou a reclamar de alguns de seus colegas de profissão. Até que veio uma chance inesperada.

O único a abandonar a prova foi Luizzi, e o fez com estilo. Acertou a barreira de proteção na segunda perna do S do Senna e, por ter ficado em um ponto perigoso, provocou a entrada do safety-car. Mas o curioso foi que o safety-car, ao invés de aproximar Webber de Vettel, na verdade, aproximou Alonso de Webber, já que entre os carros da Red Bull havia dois retardatários, de luxo, Kubica e Hülkenberg. Alonso até chegou a se aproximar, mas sem jamais ameaçar o lugar de Webber.

E a Red Bull é campeã

Sem tomar partido em favor de Vettel ou Webber, a Red Bull saiu de Interlagos campeã de construtores. O melhor equipamento do ano teve um merecido título que foi coroado, inclusive, com a maneira desportiva de permitir que seus pilotos resolvessem na pista quem seria o melhor aqui pelas terras paulistas. Vettel mostrou superioridade sobre Webber em Interlagos e ponto final, mas o famoso jogo de equipe, evitado pela Red Bull até agora, poderia ter deixado o australiano a apenas um ponto de Alonso, e não a oito como ficou para a prova final. Vettel tem chances, pois está a quinze pontos do bicampeão espanhol, mas tem de subir ao pódium obrigatoriamente e ainda depender dos fracassos dos dois líderes. Mas se nova dobradinha dos foguetes azuis ocorrer na próxima semana em Abu Dahbi, só que em favor de Webber, a temporada mais equilibrada dos últimos tempos, que tem quatro pilotos chegando para última prova com chances de levar a taça (sim, Hamilton tem chances matemáticas com vinte e quatro pontos a menos que Alonso, mas depende de um milagre), voltará para a Austrália depois de 30 anos pelas mãos de Webber. Mas vai ser difícil tirar o título de Alonso, que depende só de si e mostrou que nem necessita da ajuda de Massa.

Em uma corrida que começará com luz natural e terminará no início da noite, a Fórmula 1 conhecerá seu campeão de 2010 entre um espanhol, um australiano, um alemão e um inglês. Para o espanhol, o tri. Para o inglês, um improvável bi. Para o australiano, talvez a última chance de um campeonato. Para o alemão, provavelmente o primeiro de muitos títulos.

Não sei quem será o vencedor, mas perdedor, com certeza, será aquele que não assistir.

Até a semana que vem!

P.S.: Desta vez, exceto a foto da chamada do post, eu mesmo registrei alguns momentos em Interlagos. Por favor, as limitações do equipamento e principalmente do fotógrafo não devem ser julgadas aqui. Mas, ironicamente, só estive em Interlagos devido a uma foto minha premiada no site http://www.gpferrari.com.br sobre o tema “Como eu expresso meu amor pela minha fragrância preferida de Ferrari”. Fotógrafos do No Trânsito, tremei-vos.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

3 Responses

  1. Alexandre A. ctba pr says:

    Como sempre, escrevendo ótimos textos em Lauro, Parabéns, e Tá loco o Homem sortudo que é você hem… já é o 3º prêmio que vejo falar que tu ganhou, já tentou a Mega Sena ? hehehe

    Grande abraço

  2. Lauro says:

    Grande Alexandre,

    Pois é, acho que para algumas coisas realmente eu tenho sorte. Só para a Fórmula 1, na verdade, este foi o quinto ingresso que ganhei. Não posso reclamar não.
    Com textos e com fotos eu me saio relativamente bem, mas com números eu não consigo repetir a performance, embora tenha me formado em Engenharia.
    Obrigado pelo elogio aos nossos textos. Isso é motivador para mim e desafiante ao mesmo tempo, para que a qualidade sempre melhore.
    Um abraço!

  3. HAHAHAHAHAHAHAHA…
    O Juliano, o do cartaz com o protesto, me deu um cartão deste site para eu ver a fotos… rsrsrs
    Enfim, Lauro… estava no msm setor q vc! 🙂
    Abçs… e até o ano q vem!

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