Um vício que completa 40 anos


Nesta semana de GP do Brasil, um humilde registro de um acontecimento extremamente importante para o automobilismo nacional: o 40º aniversário da primeira vitória brasileira na Fórmula 1 pelas mãos de Emerson Fittipaldi.

Um carro, um piloto, uma vitória. Para os brasileiros, o primeiro representante a pisar no lugar mais alto do pódium, fez isso já há quatro décadas e foi, sem dúvida, o responsável por injetar diretamente na veia de cada torcedor um vício que perdura até hoje, o de vencer na categoria mais importante do automobilismo mundial.

Falar sobre Emerson Fittipaldi necessitaria de várias colunas, porque a importância deste homem vai muito além das pistas, passa pelo empreendedorismo, ultrapassa por mais de uma categoria, passa pela família e se confunde com a própria história do Brasil nas pistas do mundo. E saber que ele se aventurou quando jovem, inclusive, nas motos.

Fittipaldi era um garoto de 23 anos apenas, mas sua primeira vitória veio cercada de drama e de emoção, quase que um amadurecimento instantâneo. Afinal, a equipe Lotus sofrera um duro golpe quando seu primeiro piloto e líder do campeonato na ocasião, o austríaco Jochen Rindt, morreu em um acidente nos treinos do GP da Itália, em Monza.

A morte de um piloto na Fórmula 1 era fato corriqueiro naqueles tempos em que se corria sentado em uma banheira de combustível com um cigarro na boca. Mas a morte de Rindt, líder do campeonato, além de ter sido muito sentida por todo o circo, fazia com que o título daquela temporada de 1970 pudesse sair das mãos do time Lotus. Era preciso a garantia matemática da conquista.

A Fórmula 1 estava então nos Estados Unidos, em Watkins Glen, três semanas depois da tragédia de Monza. Então, naquele 04 de outubro, Emerson entraria para a história do automobilismo mundial como o primeiro brasileiro à vencer na categoria. E foi exatamente esta vitória que deu o primeiro, e até agora único, título post mortem a um piloto na categoria. Mais dois anos, e seria a vez do próprio Emerson ganhar, em Monza, o primeiro de seus dois títulos mundiais.

Você pode estar se perguntando o motivo pelo qual resolvi escrever algumas linhas sobre Emerson Fittipaldi, de quem vagamente me lembro de alguma corrida a bordo do Coopersucar no final dos anos 70, e de quem minha avó sempre perguntava em que lugar ele estava depois de perguntar quem estava liderando as corridas que eu assistia. O motivo é a emoção, esta é a explicação.

Ontem, como parte dos eventos que marcam a semana do GP do Brasil, Emerson Fittipaldi voltou a vestir (sim, vestir mesmo) o Lotus 72 da primeira vitória nos Estados Unidos. Na verdade, o chassi era o mesmo, já que a carenagem era vermelha e dourada na ocasião. O carro que andou em São Paulo levava o eterno contraste entre o preto e o dourado, para muitos, um dos mais bonitos modelos de todos os tempos, para os brasileiros, simplesmente inesquecível.

Ruas fechadas na maior metrópole do país para assistir ao desfile a mais de 250 km/hora de um mito, de um herói, de um jovem senhor que já passou dos sessenta anos de idade e que, mesmo acostumado às diversas emoções que uma carreira de piloto de ponta exige, não conseguiu conter as lágrimas ao sair do carro do qual ele deu alma de vitória. Não há como não se emocionar ao ver esta mistura de homenagem ao ídolo pelos fãs e vice-versa. Ele, Emerson, abriu os caminhos para que os brasileiros entrassem em definitivo para o hall da fama da Fórmula 1, com os oito títulos mundiais e mais de uma centena de vitórias. Ele, Emerson, rascunhou os primeiros capítulos de uma história que levará milhares de torcedores para Interlagos no próximo final de semana, e que vão ter a oportunidade de vê-lo acelerar novamente o Lotus 72 pela pista em mais um momento emocionante. Para mim, que nunca o vi acelerando ao vivo, será mais um momento ímpar, que espero registrar com alguma qualidade para vocês. E assim, só não terei o prazer de ter visto ao vivo apenas José Carlos Pace, dentre os brasileiros que venceram na Fórmula 1.

Foto: MAURICIO LIMA/AFP

E quero aproveitar aqui para um agradecimento público ao Guilherme que, durante a cobertura do Salão do Automóvel, conseguiu um pôster autografado por Fittipaldi e me presenteou com o mesmo. Podem ter certeza que ele terá lugar especial, para sempre.

Um abraço a todos.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Alexandre A. ctba pr says:

    Boa Lauro, Ver o Emerson andando na Lotus 72 na rua só prova uma coisa. Que o asfalto tem ondulações demais 😀

    Abraço

  2. João Henrique says:

    Vi essas imagens ontem no Fantástico e achei demais! Foi de arrepiar pela televisão, imagina pra quem estava lá!

  3. Eduardo Fonseca says:

    Realmente emocionante!!!
    Parabéns pelo texo, Lauro, como sempre ótimo!!!

    Abraços

  4. Fernando Marques says:

    Apesar de eu não ser nascido na época, vejo algumas imagens pela internet e ele pilota muito. Sem dúvidas um grande piloto e um grande homem, mostrou mais uma vez na entrevista a sua humildade e simpatia com todos.

    Em um dos seus Salões de Acessórios, os encontramos nos corredores e fomos comprimentá-lo (eu e minha família). Ele nos perguntou o que achamos do evento, se gostamos, o que estava ruim e o que estava bom, sem ao menos me conhecer. Isso mostra que para pessoas com bom caráter, o dinheiro é apenas um artifício benéfico na vida, e não uma filosofia. Parabéns ao Emerson !

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