Le fonds de la fosse


Foi com esta frase contundente, em recente entrevista, que o tetracampeão francês Alain Prost se referiu a situação de seu país na Fórmula 1. Será este também o nosso destino?

Resolvi então buscar uma coluna inacabada de alguns meses atrás e que falava exatamente da ausência, pela primeira vez na história, de um piloto e de um grande prêmio franceses na Fórmula 1. Com certeza, uma injustiça.

Falando sobre circuitos, com exceção feita ao ano de 1955, o GP da França sempre fez parte do calendário mundial. Mas, em outubro de 2008, a Federação Francesa de Automobilismo decretou que as dificuldades financeiras eram decisivas para a desistência de se tentar realizar o GP em 2009. O circuito que era então utilizado, Magny Cours, também não era muito bem visto pela FIA por sua pouca estrutura logística e hoteleira. Somadas as dificuldades e a explosão de circuitos do lado oriental do planeta (Bahrein, Malásia, Abu Dhabi, só para citar alguns), a França amarga esta realidade de ser preterida neste momento. Outros circuitos como Reims, Rouen, Clermont-Ferrand, Dijon, Paul Ricard e até Le Mans, já sediaram GPs memoráveis.

A França só perde para o Reino Unido e para a Itália em número de pilotos na Fórmula 1 ao longo dos anos. Foram 68 no total, sendo o último deles Romain Grosjean, que correu no lugar de Nelsinho Piquet parte da temporada de 2009 depois do estouro do caso Cingapura-2008. Muito pouco para um país que teve Rene Arnoux, Jacques Laffite, François Cevert, Alain Prost, Jean Pierre Beltoise, Jean Alesi, Jo Schlesser, Didier Pironi, entre outros tantos.

Mas a França, ao menos, possuía uma equipe, a Renault. Mas isso também se encerrou na semana passada com o anúncio do negócio da venda da parte minoritária da equipe que ainda pertencia à Renault ( o grupo de investimentos Genii já era majoritário no ano passado) para o grupo Próton, da Malásia, que detém a marca Lotus. Sim, a Lotus outra vez, que deverá ter duas equipes no ano que vem. A verde e amarela que correu este ano, que pertence ao também malaio Tony Fernandes, e a agora preta e dourada (déjà vu) Lotus Renault.

O próprio presidente da Renault, o brasileiro Carlos Ghosn, entende que a criação de um centro de desenvolvimento e fornecimento de motores é mais adequado para a realidade da montadora, apoiado na credibilidade de seu propulsor campeão com a Red Bull em 2010.

Mas ter apenas o fornecimento de motores é muito pouco para um país que já teve tantos pilotos, tantos circuitos, e equipes como a Ligier, Matra, a própria Renault, a Larrousse, a Prost. O apoio de empresas como a fornecedora de pneus Michelin e a estatal francesa de petróleo Elf. E até presidentes da própria FIA, como o nosso “saudoso” Jean-Marie Balestre e o “não menos admirado” pelos brasileiros, Jean Todt, atual presidente.

A França faz muita falta na Fórmula 1, e os esforços de Alain Prost de tentar trazer de volta o GP para seu país parecem ser em vão. Os dois projetos existentes, de um circuito em Flins-Les-Mureaux ou em Paris, na EuroDisney, não atraem investidores. Os prejuízos são iminentes para atrair um público de até sessenta mil pessoas. Para piorar, o francês mais próximo de um cockpit no momento é Jules Bianchi, contratado como piloto de testes da Ferrari para 2011. E é só.

Dói para os franceses pensarem que foi justamente em um GP da França, em 1979, que a equipe Renault venceu pela primeira vez na categoria, com a vitória do também francês Jean-Pierre Jabouille. Para aumentar a nostalgia e a dor, foi neste mesmo grande prêmio que outro francês, com a outra Renault, Rene Arnoux, travou o mais belo duelo da história da categoria, em minha opinião, com o inesqucível canadense Gilles Villeneuve e sua Ferrari.

Pobre França, pobres franceses…

E aí me pego pensando se isso não poderá ocorrer com o Brasil, e muito em breve. Afinal, já sentimos a carência de pilotos para os próximos anos, que vem em paralelo com a ausência de títulos. Nosso querido Interlagos precisa urgentemente de investimento na estrutura de acomodação de equipes, profissionais e público, senão, adeus. Durante a coletiva realizada no Salão do Automóvel deste ano, inclusive, Emerson Fittipaldi manifestou esta preocupação ao ser perguntado pelo No Trânsito sobre esta possibilidade. E como não temos equipes, nem motores para fornecimento, e muito menos poder político no meio, podemos sim estar fadados ao mesmo destino dos atuais pobres franceses, até porque de pobreza entendemos mais que eles.

P.S.: Aproveito a oportunidade para enviar meus votos de um excelente Natal e de saúde, sorte e sucesso para 2011 à todos os leitores que nos acompanharam ao longo do ano. Nossa coluna volta com força total logo no início do ano para, quem sabe, termos um campeonato tão empolgante quanto em 2010. Se a sua vida também é corrida, você está em boa companhia!

Um forte abraço e até lá.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

6 Responses

  1. É uma pena se o Brasil ficar fora da Fórmula 1. Aposto que quando isto acontecer os políticos vão querer mexer os pauzinhos, mas aí será tarde demais. O próprio Fittipaldi citou que se o Brasil ficar de fora provavelmente nunca mais irá retornar. Nossos autódromos não chegam nem a ser de terceiro mundo, são de quinto mundo!

    E a frase do Prost é bem tipica dele, sempre dramático…

  2. stile says:

    Lauro, excelente texto como sempre.

    É lamentável mas concordo contigo que o Brasil talvez fique mal das pernas na F1 por alguns anos, mas com tantos pilotos de talento e agora com o (ainda pequeno, é verdade, mas ao menos existe) incentivo que existe em categorias de base nós continuaremos sendo produtores de pilotos de ponta.

    Ou pelo menos eu torço para que isso aconteça!

    Abraços e um ótimo Natal

  3. Eduardo Fonseca says:

    Boa Lauro, ótimo texto como sempre!!!

    aproveito também para deixar meus votos de Feliz Natal para toda a excelente equipe do No Transito e em especial ao Guilherme, que consegue “tocar” este site de uma forma magnífica, mesmo enfrentando todas as dificuldades que aparecem pela frente. Desejo que 2011 seja de muito sucesso para toda esta equipe a qual reconheço o trabalho e esforço de vocês em querer nos dar sempre o melhor do mundo dos carros.

    Os meus Votos de Feliz Natal vão também para os leitores e amigos que acompanham o site e participam de uma forma muito legal, confesso que isso foi um dos motivos que me fez participar destes fóruns ao longo destes anos, além é claro da alta qualidade do conteúdo do site.

    E vamos aguardar as fotos de Jurerê, Guarujá (para onde irei..huahua), Riviera, etc, etc, etc….

    Bom Galera, é isso aeee….forte abraço à todos e juízo com as festividades natalinas e “reveillonlinas” hein…….hahahahaha

  4. Eduardo Dantas says:

    O Brasil já está neste caminho da França e os fatores “Copa do Mundo” e “Olimpíadas” irá drenar boa parte das verbas que poderiam ser utilizadas para uma melhoria de Interlagos ou criação de um novo circuito ( Jacarepagua, depois do Pan do Brasil, acredito que deixou de ser circuito ).

    Outro problema é a falta de um piloto que tenha feito uma carreira nas formulas européias e assim conquistar o publico Europeu.

    Mesmo com a ascenção dos países Asiaticos conforme comentado, a Europa ainda é o coração para a formação destes pilotos.

    Infelizemte os pilotos Brasileiros estão a merce de suas equipes e jogos de equipe. Foi lindo ver uma equipe ser campeã sem jogo de equipe, que foi o caso da Red Bull, mas é uma exceção a prática.

    Precisamos acreditar nestes pilotos novos ( Lucas e Bruno ) e torcer que cheguem novos pilotos carismáticos para injetar sangue novo Brasileiro na F1 e poder manter a F1 no Brasil por anos.

    Boas Festas Laurão e amigos de “No Trânsito”.

  5. RTP says:

    Grande Lauro… vc não descansa cara?! Ótimo texto para refletir sobre o valor dado ao esporte aqui. Mas vamos para 2011 com pensamento positivo…

    Feliz Natal a todos!!! Boas festas e como disse nosso amigo Eduardo Fonseca “Que venha Jurere, Guaruja”

  1. 15/12/2010

    […] This post was mentioned on Twitter by Beatriz Amorim Silva, No Trânsito. No Trânsito said: Le fonds de la fosse http://bit.ly/fBfSYw […]

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