Um ano decisivo


É assim que 2011 deverá ser para o brasileiro Felipe Massa. Mas mesmo que faça um bom campeonato, a Ferrari não deve ser a sua casa em 2012. Tenho alguns pensamentos sobre isto para dividir com vocês.

Voltando de uma pausa de algumas semanas, passei alguns dias fazendo exercícios de futurologia, apesar de não ser futurólogo e nem querer me tornar um, salvo no caso das seis dezenas mágicas. Entretanto, num destes exercícios, concluí que a vida de Felipe Massa na Ferrari está com os dias contados. Mais do que “achismo”, meu raciocínio é apenas lógico, nada mais. E quero deixar claro também que, embora eu não seja mais exatamente um brasileiro ufanista como já declarei aqui em outras oportunidades, não estou torcendo contra Massa de maneira alguma, mas me baseio em fatos como vou descrever agora.

Felipe Massa

Felipe Massa no GP da Bélgica 2010. Foto: Marcel Tauch

Massa vai para a sua sexta temporada no time de Maranello como titular, depois de ter sido promovido de piloto de testes com a saída de Barrichello. Massa inclusive iguala neste ano o mesmo número de temporadas do compatriota na escuderia vermelha. Ambos venceram suas primeiras corridas pela Ferrari nos respectivos anos de estréia, entre outras coincidências e tal, mas quero fugir do lugar comum de comparar Massa x Barrichello e me concentrar apenas nos resultados de Felipe Massa neste período.

Ao final da primeira temporada como titular da Ferrari em 2006, Massa venceu duas etapas, que foram o GP da Turquia e o GP do Brasil, este último com direito a macacão verde e amarelo e tudo mais naquela corrida que seria a, agora, primeira aposentadoria de Schumacher. Só que o heptacampeão saiu de cena na época como vice-campeão mundial e a frente de Massa no campeonato. Nestas alturas, já se sabia que Massa teria o finlandês Kimi Raikkonen como companheiro de equipe para 2007. Aí aconteceu, em minha maneira de ver, a primeira grande derrota de Massa em Maranello.

Kimi Raikkonen e Felipe Massa. Foto: Amorim UR

Kimi Raikkonen e Felipe Massa. Foto: Amorim UR

Raikkonen, com toda sua frieza e jeito de quem não estava nem aí para nada, conquistou o campeonato que parecia perdido logo no ano de estréia pela Ferrari. Na verdade, foi a McLaren que perdeu o título pela crise entre seus pilotos Hamilton e Alonso, e o nórdico contou também com uma “mãozinha” do próprio Massa, que cedeu uma vitória certa em pleno Grande Prêmio do Brasil para que o “Homem de Gelo” fosse o campeão.

Eu compartilho a idéia de que bater o companheiro de equipe é importantíssimo para demarcar terreno e definir preferência dentro de qualquer time. E embora Massa já contasse naquela época com o carinho da equipe além apoio de Schumacher, o fato é que Raikkonen não só superou Massa como já foi campeão, ou seja, um golpe duríssimo para o brasileiro na época. E aqui vale uma reflexão: talvez se eu tivesse escrito algo na época sobre o futuro de Massa, a coluna seria parecida com esta, mas as três temporadas seguintes deixaram esta coluna muito mais interessante, se me permitem a modéstia.

Felipe Massa dando a bandeirada no GP do Brasil 2009.

Felipe Massa dando a bandeirada no GP do Brasil 2009.

Felipe Massa reagiu em 2008, e bem. Mesmo sendo visível a falta de motivação do então campeão Kimi Raikkonen, Massa fez um campeonato excelente e chegou a ser campeão por alguns segundos, na épica decisão com Hamilton, de novo, em solo brasileiro. Não saiu como campeão, é verdade, muito em parte pelos erros cometidos pela própria Ferrari naquele ano, mas saiu muito fortalecido para a temporada de 2009, como um dos favoritos ao título inclusive. E a composição das equipes adversárias parecia favorecer uma nova briga entre o brasileiro e Hamilton, até porque ninguém esperava o domínio da Brawn naquele ano.

Só que como todos sabem, 2009 para Massa foi o ano que não acabou. O grave acidente na Hungria o afastou do resto da temporada e colocou em todos dúvida sobre sua capacidade de guiar em alto nível caso voltasse às pistas, tamanha a dimensão do acidente. Durante seu afastamento forçado, Massa assistiu a vitória de Raikkonen na Bélgica, vitória esta que poderia ter sido sua, já que o finlandês naquele ano sabia que não seguiria na equipe, o que culminaria com a contratação de Fernando Alonso para a temporada de 2010. O lado positivo de 2009 ficou por conta de sua excelente recuperação e do nascimento de seu primeiro filho, se bem que dizem que o piloto fica três décimos de segundo mais lento a cada herdeiro que nasce.

Besteira ou não, o fato é que Felipe Massa foi amplamente superado por Fernando Alonso desde a prova de abertura do mundial do ano passado. E Alonso só não repetiu o mesmo que Raikkonen já fizera em 2007 porque não foi campeão logo no ano de estréia pela Ferrari, o que teria sido ainda mais desastroso para Massa, mas que mesmo assim sentiu o golpe. A ultrapassagem de Alonso sobre ele na entrada dos boxes no GP da China e o episódio da ordem de equipe no GP da Alemanha mostraram o poder de bicampeão mundial sobre o brasileiro.

Barrichello e Massa no Desafio das Estrelas em 2009.

Barrichello e Massa no Desafio das Estrelas em 2009.

Pensei então: será que isso mudará em 2011?

Não é a minha aposta. Felipe Massa é um piloto de primeira linha dentro da Fórmula 1, sem dúvida. Admitiu o baixo desempenho na temporada passada e reclamou principalmente dos pneus Bridgestone, mas embora estes tenham sido substituídos pelos Pirelli para 2011, não acho este fator decisivo para uma mudança radical pró-Massa. Há necessidade de aguardar o conjunto, o pacote da Ferrari, e a adaptação de Alonso ao novo carro, fora o desempenho das outras equipes. Mais do que nunca, uma temporada impecável para não apenas calar as críticas e cobranças que vem também de dentro da própria Ferrari será determinante para que Felipe Massa assegure um bom cockpit para 2012, independente de ser ou não no time vermelho. Acho até que não é nenhuma tragédia mudar de equipe, só que as oportunidades nos times de ponta são muitíssimo disputadas, com muita gente boa esperando oportunidade. Kubica, que chegou a ter seu nome especulado para substituir Massa já neste ano, é só um dos exemplos.

Em recentes entrevistas, Massa se diz motivado como nunca e pronto para superar qualquer adversário, independente da equipe. Para acompanhar isso, vai ter o alto comando da Ferrari ditando as regras e uma torcida que já não vê um campeão há vinte anos, e que também já não o apóia tanto quanto no final de 2008. Provavelmente será, como no ano passado, o único representante do Brasil com chances de, ao menos, vitórias. E vou além; poderá ser o único representante brasileiro na Fórmula 1 no próximo ano. Mas essa realidade ainda pertence a um futuro um pouco distante.

É Massa na pressão em 2011. Vamos acompanhar juntos.

Um abraço!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

10 Responses

  1. Fernando Marques says:

    Nossa, muito boa a matéria, parabéns Lauro ! Apesar de não acompanhar muito a F1, desejo boa sorte ao Massa, pois é muito prazeroso ouvir na telinha da Globo os berros de Galvão Bueno “É CAMPEÃOOOOO … Brasil-sil-sil” heheheheh !!!

    Que seja uma excelente temporada e que o Felipe Massa e o Bruno Senna consigam equipes boas pois são muito talentosos nas pistas. Barichello já perdi minhas esperanças então nem conta.
    Abraço e que venha a temporada 2011.

  2. Eduardo Fonseca says:

    Ótimo texto Lauro, parabéns!!!! Altíssima qualidade…

    Desejo boa sorte ao Massa e espero que ele consiga nos proporcionar bons momentos em 2011.

    Ao contrário do Fernando, eu ainda tenho esperanças no Barrichello. Acho ele um piloto excepcional, mas infelizmente, parece que nunca consegue uma sintonia entre ele a equipe e seu carro. Nunca fui muito à favor das gozações que fazem com ele, até mesmo pq, se ele fosse tão ruim qnt falam, ele não estaria todo esse tempo na F-1. Pode ser que termine sua carreira na F-1 sem nenhum título, mas com certeza não será o mesmo de que qnd começou. Torço muito por ele, talvez até mais que o próprio Massa, e acredito que ele ainda será o cara nos trará o tão sonhado título, que como citou o Lauro, não vemos Há 20 anos.

    Abraços Galera!!!!

  3. Eu torço para que o Massa consiga um bom desempenho esse ano, não só ele, mas também o Barrichello. Ver dois brasileiros disputando um título seria algo muito bonito de se ver numa época em que o Brasil está em baixa na F1…

  4. Pedro says:

    Grande Lauro!!!

    Acompanho Formula-1 desde criancinha e isso faz tempo… Sempre analiso as possibilidades de alguem ser campeão verificando duas coisas básicas… Limite do carro e Limite do piloto… Se o limite do carro for maior que o limite do piloto ele quebra a cara… se o limite do piloto for maior que o carro geralmente ele não se sai bem, a não ser que o carro seja muito superior aos outros… Apesar de gostar e torcer pelo Massa acho que o limite dele é inferior ao carro e todos os que foram seus companheiros de dele equipe mostraram ter um limite (na média) maior que o dele. Se com a Ferrari, que tem um carro com limite muito alto ele não teve sucesso dificilmente o conseguirá em outra (mesmo que mais veloz que a Ferrari) mesmo porque ele sempre terá, em minha opnião, seu próprio limite que é inferior aos demais pilotos de ponta!!!
    Sendo irônico e fazendo piadinha infame… em 2012 ele deve abrir uma rotisserie e pendurar o macacão..Felipe´s Massa..!

  5. Marcelo Mendes Magalhães says:

    Grande artigo Lauro! Obrigado por nos presentear com esse histórico e por compartilhar seus pontos de vista com a gente.
    Abraço!

  6. Lauro says:

    Boa Pedro!
    Eu concordo com o seu pensamento e acho que um grande exemplo foi a performance do Mark Webber ano passado. Com um carro muito superior, bastou Webber explorar mais seus próprios limites para figurar bem no campeonato. Porém, embora tenha ampliado seu limite pessoal ao meu ver, Webber esbarrou em um patamar ainda abaixo de Alonso e Vettel, por exemplo.
    E, sob pressão, os erros tendem a aparecer mais pois precisa-se andar nos limites do carro e da técnica. Veremos o que vai acontecer.
    Um abraço.

  7. john says:

    Alonso=schumacher
    Massa=Rubinho
    ferrari=ferrari

  8. Sebastiao Pinho says:

    Grande matéria Lauro! Eu não tinha me dado conta de que já faz bastante tempo que o Massa está na Ferrari e com certeza a pressão por um título vai ser fortíssima. Concordo que vai ser muito difícil ele continuar em 2012 se não conquistar o campeonato de 2011, mesmo que tenha resultados bons esse ano. É como trabalhar em uma grande multinacional, às vezes é melhor mudar de ares, mesmo sendo campeão, e acima de tudo ser respeitado no lugar que trabalha – acho que o Rubinho sabe bem o que é isso, pode não estar ganhando corridas na Williams, mas deve estar muito mais feliz do que quando estava na Ferrari…

  9. Rodrigo Nascimento says:

    Ótimo artigo Lauro, parabéns vou acompanhar de perto aqui para ver se ganho dicas para participar do tradicional bolão da F-1.
    Grande Abraço

  1. 18/01/2011

    […] This post was mentioned on Twitter by Felipe Ovidio. Felipe Ovidio said: RT @no_transito: Um ano decisivo – Coluna sobre o futuro de Felipe Massa na Fórmula 1 http://bit.ly/gVg84a […]

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *