Abanando a asa


Todo mundo se movimentando e só Vettel decidiu ficar no mesmo lugar em que terminou no GP anterior, ou seja, o primeiro. No calor da Malásia, o alemão já abre bastante na briga pelo bi-campeonato.

Enfim, veríamos o funcionamento das novas regras?

O circo chegou à Malásia com algumas perguntas. Depois da etapa de abertura em Melbourne, duas semanas atrás, todos queriam saber se, afinal, a asa móvel seria realmente um diferencial em um circuito como o malaio ou se repetiria a pouca eficácia da corrida anterior. E o desgaste dos pneus sob o calor insuportável de Kuala Lumpur, seria realmente um fator decisivo?

Nos treinos, as primeiras respostas já começaram a aparecer. A tal da asa traseira móvel estava aumentando a velocidade final na reta principal em mais ou menos 15km/h. E nos treinos, como o uso da asa é liberado em qualquer parte do circuito, o ganho na volta era bem grande. Já os pneus também demonstraram um desgaste acentuado como se previa. O que não se previa era uma certa “dificuldade” da Red Bull, em especial de Sebastian Vettel, em superar os adversários. E assim como na etapa de abertura, foi a McLaren que chegou para incomodar os taurinos.

A dupla da equipe inglesa mostrava que poderia acabar com a série de pole-positions do time austríaco e Hamilton era o mais atirado na disputa, mostrando que o carro McLaren tem que ser neste momento, no mínimo, respeitado.

Bom para o time da rainha, mal para o time de Maranello. Tirando o máximo possível do carro vermelho, Alonso não conseguia sequer andar no mesmo segundo dos primeiros colocados enquanto seu companheiro Felipe Massa ficava ainda mais atrás. Atrás das três equipes, chega em definitivo a Lotus Renault para ser a quarta força da temporada, ao menos por enquanto. Com um treino mais consistente de seus dois pilotos, a equipe francesa mostrou que vai incomodar sim as grandes e que o sistema de escapamento revolucionário (que faz com que as saídas sejam posicionadas no meio do carro jogando ar quente sob o assoalho, aumentando a pressão aerodinâmica na parte superior do carro (o downforce) e, conseqüentemente, gerando mais equilíbrio) é realmente muito eficiente. Por isso, até já começou a ser copiada.

Foi com essa distribuição de forças que os adversários foram ficando para trás. A Williams esteve limitadíssima, fazendo com que Maldonado se juntasse aos pequenos já na primeira degola do Q1 e Barrichello não conseguisse mais que um décimo quinto lugar. No meio do pelotão ainda ficaram a Force India, a Toro Rosso, a Sauber de Sergio Perez e a Mercedes de Schumacher, despachados pelos seus companheiros de equipe Kamui Kobayashi (10º) e Nico Rosberg (9º), respectivamente.

Além destes, Massa não foi além de um sétimo lugar, ficando entre os dois Lotus Renault, com vantagem para Heidfeld em relação a Petrov. Alonso fechou com o quinto lugar e ficou desolado ao ver os tempos no monitor ao final da sessão. Isso porque, lá na frente, Red Bull e McLaren estavam bem superiores. Webber se viu superado por Button na segunda fila e a pole esteve nas mãos de Hamilton, que até baixou ainda mais seu próprio tempo na última passagem. Mas a comemoração foi contida porque Vettel estava ainda na pista. Por alguns segundos, todos os olhos se voltaram para o atual campeão do mundo. Sem erros, Vettel cruzou com menos de um décimo de segundo à frente de Hamilton e garantiu a seqüência de poles até aqui. Três campeões mundiais disputando as primeiras curvas já parecia indício de uma corrida movimentada. E foi mesmo.

Muita movimentação

A largada...

A largada...

Impressionante como largaram os dois carros da Lotus Renault. A pista larga permitiu que não só Heidfeld como também Petrov chegassem para a disputa da segunda colocação na primeira curva, que na verdade é um “S”. Heidfeld conseguiu assumir a segunda posição logo atrás de Vettel e deixando a dupla da McLaren Hamilton e Button logo atrás. Em seguida, Petrov se arrumou em uma ótima quinta posição, logo a frente de Massa, que também superou Alonso. Webber? Acho que este rapaz precisa urgentemente de um livro de auto-ajuda para recuperar a auto-estima. Passou na primeira volta em um “auto-décimo lugar”. Pior mesmo só Rosberg, que também caiu bastante passando o primeiro giro em 13º.

No meio do pelotão, sobrou um toque no pneu traseiro de Barrichello que o forçou à uma parada imediata e a última posição dentre os pilotos naquele momento (ambos Williams abandonariam a prova mais tarde). Enquanto aconteciam algumas disputas no meio do pelotão, Massa partiu decidido para cima de Petrov e ganhou a posição do russo, que logo em seguida se atrapalharia e perderia mais duas posições. Mas a briga do momento era entre Webber e Kobayashi. Com limitações no uso do KERS de seu Red Bull, Webber usava a asa móvel para ganhar a posição de Kobayashi. Por sua vez, o japonês voador não se dava por vencido e devolvia a ultrapassagem. Só entre ambos, diversas alternâncias. Webber, então, decide fazer a primeira parada para troca de pneus e volta em 17º.

Excepcional largada dos carros da Lotus Renault

Excepcional largada dos carros da Lotus Renault

Lá na frente, Heidfeld se mantinha girando meio segundo por volta mais lento que Vettel, mas o suficiente para segurar Hamilton a uma distância segura. Massa e Alonso começaram a atacar Button no mesmo momento em que Hamilton decide pela sua primeira parada, caindo para décimo. E foi exatamente no meio dos pit-stops dos líderes que era possível ver nitidamente pingos de chuva na lente das câmeras on-board. Nada que justificasse pneus de chuva ou mesmo intermediários, mas até quando?

O líder Vettel fez sua parada colocando novamente pneus macios. Massa fez o mesmo, mas a Ferrari se atrapalhou um pouco e o brasileiro perdeu mais tempo que o normal, fazendo-o cair para oitavo. Aconteceu algo neste momento da prova que somente uma pista larga como a da Malásia permite; uma disputa entre três pilotos, lado a lado, na reta de acesso aos boxes, antes da reta principal. Nada menos que Webber de um lado, Hamilton de outro e no meio de ambos, Schumacher. Aqui já teria valido o ingresso. Para os russos, a corrida poderia terminar aí mesmo, já que quem liderava era Petrov. Curiosamente, neste momento, o desempenho de seu companheiro Heidfeld caía justamente diante de Hamilton, Button e Alonso, todos de calçados novos.

Quase na metade da prova, Vettel era o líder, seguido por Hamilton, agora Alonso, Button, Heidfeld, Webber (que se recuperava), Massa e Petrov, que voltava dos boxes. Em pouco tempo, Massa se aproximou e ultrapassou Webber, que já seguia para a segunda parada. Na vez de Hamilton, o inglês é o primeiro dos ponteiros a colocar pneus duros, tentando deixar os pneus macios para a última etapa da prova. Atrás dos oito primeiros, Kobayashi e Schumacher lutavam para tentarem dobrar seus pontos (de 1 para 2, mas o dobro) na briga pela nona posição. Nesta disputa, Schumacher tomou um “duplo x” de Kobayashi, valendo aqui mais um ingresso, em minha opinião. Kobayashi ainda ultrapassaria por Petrov mas o russo gostou tanto do primeiro pódium da carreira que se recuperou sobre o japonês já na sequência.

Kobayashi não teve piedade de Schumacher

Kobayashi não teve piedade de Schumacher

O caminho dos descalçados

No último trecho da prova, Alonso começou a perder rendimento e Button foi para cima de Hamilton que já estava novamente sem pneus. Depois das paradas dos pilotos da McLaren, as posições de ambos estavam invertidas, com Button já ocupando a segunda posição na corrida, enquanto Hamilton, Webber e Alonso lutavam pela terceira posição. Mas a posição de Webber logo foi cedida para Alonso quando o australiano foi para mais uma parada, deixando caminho livre para a disputa entre o inglês e o espanhol. A disputa, apimentada pelas declarações de Hamilton durante a semana que disse ser Alonso, e não Vettel, seu maior adversário no campeonato, só podia dar enrosco. Pior para Alonso, que além de ter problemas com o acionamento da asa traseira, perdeu parte da dianteira e teve de fazer uma parada extra. Pouco mais atrás, Kobayashi ultrapassa de novo Schumacher, coitado.

Heidfeld se recuperou sobre Petrov e Massa. Webber também se aproximou de Massa e ambos protagonizam uma bela disputa pela quinta posição, com vantagem para o australiano, embora Massa tenha vendido bem caro esta posição. Petrov também ultrapassou Kobayashi. Mas Hamilton sofreu demais com os pneus e foi ultrapassado por Heidfeld e Webber antes de ir para os boxes faltando apenas três voltas para a bandeirada. O alemão, que substitui Robert Kubica em recuperação, apagou a má impressão da prova da Austrália, voltando ao pódium, curiosamente, no mesmo circuito em que tomou champanhe de graça pela última vez, em 2009.

Petrov estava marcando pontos e fazendo boa corrida, mas depois de uma escapada para a grama e um salto com as quatro rodas, teve o trem de pouso, quer dizer, a coluna de direção quebrada e foi obrigado a abandonar.

Massa consegue chegar a frente de Alonso

Massa consegue chegar a frente de Alonso

Sem ameaças, Vettel foi para o lugar mais alto do pódium, seguido por Button e Heidfeld. Webber minimizou o prejuízo da largada e chegou a apenas um segundo atrás do carro preto e dourado, em quarto. Fez também a volta mais rápida da etapa malaia. Massa chegou à frente de Alonso, por uma diferença de míseros três décimos, mas que foi aumentada para mais de vinte segundos depois que os comissários resolveram punir o espanhol e Hamilton, que com isso acabou caindo para oitavo. Sorte de Kobayashi, que mostrou mais uma vez que a Sauber deve ter alguma coisa com os seringueiros do Acre, pois entre todos, é o carro que menos gasta pneus. Completando os pontos, Schumacher e Paul Di Resta, da Force India, que pontuou pela segunda vez seguida em sua segunda corrida na categoria, ofuscando um pouco o bom companheiro de equipe Adrian Sutil.

Button conseguiu um ótimo segundo lugar

Button conseguiu um ótimo segundo lugar

O uso da asa móvel provou um pouco de sua funcionalidade, mas será muito peculiar em cada circuito, pois depende de trechos de aceleração mais longos e de uma freada que permita ultrapassagens. Quanto aos pneus, estes mostraram seus desgastes fazendo com que o pessoal do pit-stop já entrasse com reivindicação de aumento salarial, ginástica laboral para evitar lesões por esforços repetitivos e coisa e tal, afinal, a carga de trabalho em alguns casos mais que dobrou. Sem contar que os carros parecem peregrinos no Caminho de Santiago de Compostela, tendo que trocar o calçado com muita freqüência.

Só que tudo isso me fez ter a certeza de que a Fórmula 1 precisa mesmo é de circuitos em que os carros possam dividir curvas e fazerem as tomadas das mesmas de maneiras diferentes. Circuitos onde se tenha segurança suficiente para se tentar a chamada “freada prá lá do Deus me livre” e, se não for bem-sucedida, ter área para poder voltar. Nada contra circuitos de rua como Mônaco e Valência, por exemplo, mas com certeza Monza e Spa vão ser mais divertidos, sem que haja necessidade de chuva ou safety-car.

China é a próxima etapa já na semana que vem. A gente se vê lá!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. O Vettel ainda vai ser campeão, pode crer…

  2. Alexandre Pinho says:

    Para quem não viu nada deste GP (meu caso) o post é um belo resumão de tudo!

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