Corpo fechado

A busca por Osama Bin Laden, enfim, terminou, mas a caçada à Sebastian Vettel na Fórmula 1 parece que ainda vai durar muito tempo. E olha que o menino já está se protegendo até contra mal olhado.
 

Pé nas costas

Depois de três semanas de intervalo, com tantos assuntos importantes pelo mundo, a Fórmula 1 voltou em grande estilo em solo turco, solo que estava molhado na sexta-feira. Isso, além de não contribuir com os testes das equipes, que usam a sexta-feira para colocar na pista as diversas modificações aerodinâmicas que foram desenvolvidas desde a prova da China em seus túneis de vento, serviu também para dar um pequeno susto no líder do campeonato, Vettel, que já no treino da manhã escapou da pista e bateu como gente grande, ficando fora do restante das atividades naquele dia. Só que o campeão alemão ainda tinha o sábado para se divertir e nem precisou aproveitar toda a festa.

No circuito de Istambul, que é de alta velocidade, quem reapareceu no primeiro pelotão foi a Force India, com Di Resta e Sutil incomodando as grandes. E quem andou bem também nos treinos foi Schumacher, aproveitando o uso indiscriminado da asa traseira, sempre encaixando boas voltas. E, falando em Schumacher, atualmente sempre lembramos de seu “carrasco” Kobayashi, mas desta vez a velocidade do japonês foi parada por um problema mecânico logo no início dos treinos e ele ficou em último.

Desta forma, no Q1 caíram as três pequenas mais o japonês voador. Surpresa foi o melhor tempo para Felipe Massa, seguido pelos carros da Red Bull, Hamilton, Alonso e Button, todos com marcas muito próximas.

Teve início o Q2 e com ele a sessão “eu contra o resto”, narrada por Sebastian Vettel, que já colocou meio segundo sobre a concorrência logo de saída. O time do resto agora era “liderado” por Rosberg, seguido de Hamilton e Webber. Neste segundo treino, Alonso e Massa ficaram mais para trás, o que parecia ser uma tentativa de economizar um jogo de pneus para a corrida. Mas só se pode economizar quando sobra alguma coisa, e na Ferrari ainda não é o caso.

Aula de economia e eficiência mesmo veio da Red Bull. Bastou uma volta para Vettel colocar quatro décimos de vantagem para os demais pilotos no Q3, fazendo com que o alemão assistisse o restante do treino e deixasse o cockpit ainda faltando ainda alguns minutos para o encerramento da sessão, já com o tempo garantido. Webber, mostrando que colocou a cabeça no lugar, fez o mesmo, garantido que estava na segunda posição do grid. A Mercedes mostrou que foi a equipe que mais evoluiu durante as semanas de intervalo e colocou Rosberg na terceira posição, seguido de Hamilton, Alonso (também bem com a Ferrari), Button, Petrov, Schumacher, Heidfeld e Massa. O brasileiro, aliás, nem completou volta.

Economizando um jogo de pneus, além do carro que também está sobrando, a Red Bull era a barbada para o dia seguinte.

Com a janela aberta e o braço pra fora

Antes da largada, Vettel deve ter sintonizado o rádio, preparado alguns biscoitos, um refrigerante e ligado o ar condicionado. Ao apagar das luzes vermelhas, saiu na frente de todos sem muito esforço. Largando do lado sujo da pista, Webber foi menos feliz e perdeu a posição para Rosberg antes da primeira curva. E já nas curvas seguintes, a briga entre os primeiros fazia sua primeira vítima. Hamilton tentou ultrapassar a concorrência por fora e errou, caindo para sexto, logo atrás de Button dando início a uma disputa bem interessante entre os dois McLaren. Mas antes de eles se pegarem pra valer, o primeiro toque da prova, o que deixou claro que a nova geração não respeita mais o velho Schumacher mesmo. Desta vez foi Petrov, que não queria perder tempo e, depois de se ver atrás do heptacampeão do mundo, não tomou conhecimento dos vários títulos a sua frente e, mesmo um pouco espremido no final da reta, achou espaço suficiente e enfiou o Renault pra cima do Mercedes. Mas Schumacher não queria se dar por vencido, quando na verdade já estava, e deu de presente o bico do carro para Petrov completar a tarefa.

Voltando aos McLaren, que briga maravilhosa foi aquela entre Button e Hamilton. Sem tempo para fofocas sobre o casamento real, os ingleses travaram um duelo de defesa e ataque digno de dois campeões mundiais. Hamilton levou a melhor neste momento, mas suou o macacão. Pouco mais na frente, Webber já se recuperara em relação a Rosberg e Alonso resolveu seguir o exemplo, também superando o alemão do carro prateado.

Mas Button, com sua pilotagem limpa, resolveu atacar e recuperou a posição sobre Hamilton, o que acabou ajudando Massa, que chegou para a disputa e também passou pelo campeão de 2008. Logo na seqüencia, ambos entraram juntos nos boxes. E, ao que parece, os mecânicos da Ferrari não estão muito satisfeitos com tantas trocas de pneus por corrida e resolveram fazer uma “operação tartaruga”, o que acarretou para Massa a perda, de novo, da posição para Hamilton, ainda no pit-lane (os dois saíram quase tocando rodas).

A corrida seguia bem movimentada, como já estamos nos acostumando a ver neste ano. Vettel, Webber, Alonso e Rosberg foram para suas primeiras paradas de boxes. Após voltar para a pista, Vettel teve um pequeno trabalho que foi o de superar Button, e nesta altura, já devia ter trocado a trilha sonora da largada, só para quebrar um pouco a rotina.

Outro flagrante da falta de respeito com Schumacher foi executado por Kobayashi. O japonês, que largou em último, foi arrojado e “criou” espaço para ultrapassar o velho Schummy, e ainda conseguiu trazer junto a Force India de Paul Di Resta, um dos estreantes do ano. Ah, esses moleques…

Massa chegou em Rosberg, que era quarto, mas encontrou uma resistência maior do que esperava, dando chance para que Button também se aproximasse desta briga. Após algumas tentativas, Massa conseguiu a ultrapassagem, só que logo em seguida foi a vez de Button fazer o mesmo, continuando com suas ultrapassagens limpas, sem dar chance aos adversários. Uma ultrapassagem linda, construída em uma seqüencia de curvas. E Button foi de novo, agora para cima de Massa, que ao ser ultrapassado retardou tanto a freada, que por muito pouco não acertou o McLaren, dando sua primeira escapada na corrida.

A Ferrari, enfim, andava bem. Alonso começou a fazer as melhores voltas da prova e ganhou a posição de Webber, em outra boa disputa. Mas, se na pista as coisas estavam indo bem, com disputas em todos os pelotões, nos boxes já havia mais adeptos à operação tartaruga da Ferrari. A McLaren complicou a vida de Hamilton em uma parada desastrosa. Logo depois, a Ferrari tratou de aumentar ainda mais o prejuízo de Massa em outra parada ruim. Aqui vale dizer que foram 82 paradas de box no total, com a maioria dos pilotos optando por quatro paradas. Dos ponteiros, Button optou por apenas três e pagou caro no final da prova, sendo superado por Hamilton e Rosberg. E ainda teve algo que também estamos nos acostumando a ver, ou seja, três carros disputando lada a lado uma tomada de curva. Na Turquia foram Massa, Schumacher e Alguerssuari. O espanhol, inclusive, fez uma prova muito boa e conseguiu chegar em nono.

Na frente, Alonso não suportou a pressão de Webber no final da prova e acabou ficando apenas com a terceira posição, mas ao menos subiu ao pódium, o primeiro da Ferrari na temporada de 2011.

Dobradinha, a primeira este ano

Os “foguetes azuis”, como chamei os carros da Red Bull no ano passado, obtiveram a primeira dobradinha este ano. Lucro para Webber, que parece mais calmo e conformado do que no começo da temporada, já que Vettel parece mesmo imbatível. O atual campeão sobrou na prova, não foi ameaçado em nenhum momento, não errou, e ainda teve o excelente desempenho da equipe de box para deixar os concorrentes brigando pelo segundo lugar, que neste domingo foi dela também. Alonso deu um alento a Ferrari, mas a lentidão nas paradas de Massa fez com que a equipe pontuasse com apenas um de seus pilotos. É verdade que Massa andou escapando da pista, mas para quem chegou a andar em quarto e quinto lugares, décimo primeiro é pouco, mais de um minuto atrás de Alonso.

Hamilton conseguiu um bom quarto lugar com todos os problemas que teve e é o vice-líder do mundial, anos luz atrás de Vettel, mas é dele o segundo lugar, por enquanto. Rosberg e Button tinham mais a lamentar do que a comemorar, porque também estiveram próximos do pódium e não conseguiram um gole de champanhe sequer ao final da prova. Aliás, Vettel não pode beber por causa de uma lei local que proíbe menores de 24 anos de ingerir bebida alcoólica, que é o caso do jovem campeão. E a Mercedes, por fim, ficou devendo pelo desempenho mostrado no sábado, independente do “bullying” que Schumacher vem sofrendo da molecada.  

E por falar em moleque…

O campeonato é longo, eu sei, mas quem apostaria hoje em outro campeão para 2011 na Fórmula 1 senão em Sebastian Vettel? Quem pode parar este rapaz? Quem será capaz de frear o bom momento que vive o conjunto carro-piloto? Ainda mais agora, que o garoto está se protegendo de qualquer mau-olhado. Caso alguém não tenha notado, Vettel correu com um olho turco, chamado lá de Nazar Bancugu (ou rosário de olhar), pintado na parte superior do capacete para espantar justamente a inveja. Nem sei se ele realmente precisa, mas se a moda pegar, vou comprar um dos motor-home e transformá-lo em loja de patuá, afinal, a demanda é grande.

Nossa próxima missão será na Espanha, dia 22.

Um abraço e até lá.