Bonita corrida, Fernandinho


Em uma corrida cheia de lances dentro dos boxes, Alonso se aproveita da falha da Red Bull e vence o GP da Inglaterra, com Vettel e Webber logo atrás. Será que o domínio dos taurinos está ameaçado?

Mudando a regra de novo

Dando prosseguimento às medidas de contenção para os carros azuis da Red Bull, a novidade para o GP da Inglaterra era a proibição do chamado “escapamento aerodinâmico” ou “difusor aquecido”. Para o amigo leitor, falando de maneira bem simplificada, isto significa que os gases saídos do escapamento do carro não poderiam ser mais direcionados aos difusores traseiros, o que estava gerando aumento do equilíbrio do carro, principalmente nas curvas, devido ao aumento da pressão aerodinâmica. Porém, o que não era sabido ainda, o quanto isso poderia significar para cada equipe, já que a diferença de projetos mostraria apenas na pista o quanto cada um ganharia ou perderia.

Mas a sexta-feira foi nula para avaliação da mudança devido a chuva inglesa, que colocou Webber e Massa como os mais rápidos do dia, sendo o australiano o melhor da manhã e o brasileiro na parte da tarde. Quem não gostou muito da pista molhada foi Kobayashi, que danificou o Sauber para alegria dos mecânicos que já tinham agendado um happy-hour no pub mais próximo.

Chegada a hora do treino oficial, a pista estava molhada em alguns trechos, e isso sempre traz alguma surpresa. Uma que poderia passar despercebida foi a queda dos dois carros da Toro Rosso já no Q1, o que significava que um dos carros “pequenos” iria para o Q2. Foi Heikki Kovalainen e seu Lotus que fizeram a façanha. E teve estréia no GP da Inglaterra. O australiano Daniel Ricciardo, atual piloto de testes da Toro Rosso, fez sua primeira corrida na F1 pela Hispania no lugar do indiano Narain Karthikeyan.

E na hora de medir forças pra ver o que a falta do “bafo quente” era capaz de fazer, a Ferrari foi a equipe que mais se aproximou da Red Bull. Massa chegou inclusive a conseguir o melhor tempo no Q2, mas a primeira fila ficou de novo com a Red Bull, só que desta vez com Webber. O australiano contou com uma garoa no finalzinho do treino que impediu a melhora dos tempos de todos e lhe garantiu a primeira pole na temporada. Alonso ficou a pouco mais de um décimo da pole, em terceiro, e Massa fechou a segunda fila. Os destaques positivos foram as excelentes performances de Paul Di Resta, da Force India, de Pastor Maldonado, da Williams, e de Kobayashi da Sauber, respectivamente 6º, 7º e 8º colocados no grid, logo na frente de Rosberg, o nono. Os pilotos da McLaren, correndo em casa, tinham sensações opostas. Enquanto Button ficou logo atrás dos carros da Red Bull e da Ferrari, Hamilton foi apenas o décimo colocado.

Parecia tudo normal, exceto pela notória alegria de Alonso na coletiva dos três melhores classificados após o treino. O espanhol afirmou que não foi a mudança no regulamento que trouxe a proximidade dos carros de Maranello em relação aos carros da Red Bull, e sim um conjunto evolutivo aerodinâmico que foi usado em Silverstone. E ele tinha razões para estar feliz mesmo.

A umidade é relativa

Sem chuva, mas com a pista molhada assim como no treino de sábado, todos resolveram largar de pneus intermediários. Ao apagar das luzes vermelhas, Webber jogou a pole fora deixando Vettel assumir a ponta sem o menor esforço. Alonso tentou roubar a segunda posição de Webber, mas quem conseguiu pular uma posição a frente foi Button, superando Massa. Incrível, porém, foi a largada de Hamilton, que foi para a sexta posição logo na primeira volta. E não pararia por aí. Na recuperação de posição de Massa sobre Button, Hamilton veio de carona e deixou também o compatriota para trás. Como é de seu temperamento, Hamilton forçou para cima de Massa e deu uma passeada pelas novas áreas de escape do circuito inglês, que ficou espetacular com a reforma que sofreu nos últimos meses.

Vettel toma a pole de Webber nos primeiros metros do GP

Agora vem um assunto muito curioso em 2011. Vocês que nos acompanham já notaram que Schumacher não está tendo aquele desempenho que todos estávamos acostumados a ver, certo? Pois é, acho que descobri o problema. A Mercedes deve ter construído um carro muito grande para o alemão, que se não tem dificuldades para alcançar os pedais, com certeza não enxerga a frente do carro. Brincadeiras à parte, mais uma vez Schumacher perdeu o bico do carro em uma colisão com Kobayashi, e foi por causa da pista molhada mesmo, ou seja, na da a ver com o tamanho do Mercedes. Isso lhe rendeu uma ida aos boxes para troca do bico, e o alemão aproveitou para ser o primeiro a colocar pneus de pista seca, com oito voltas completadas.

Com a formação do trilho de pista seca, enquanto Alonso colava em Webber, Massa sofria pressão de Hamilton, nas duas brigas mais acirradas da prova naquela ocasião. E dentre os líderes, foi Button que resolveu ir para os boxes e trocar os pneus intermediários esfarelados pelos de pista seca. Parece que todos queriam uma cobaia, e depois de Button, todos resolveram partir para a troca. Melhor para Hamilton, que ganhou a posição de Massa na volta do pit-stop e deixou o brasileiro na alça de mira de Button. O outro súdito então fez uma linda ultrapassagem sobre o piloto da Ferrari, com direito a encaixe de rodas e fritada de pneus.

Hamilton terminou a prova inteiro. Já os pneus...

Aliás, a rainha deve ter cutucado o Príncipe Charles por várias vezes durante a prova. Hamilton foi para cima de Alonso e deixou o espanhol para trás (e sem perder nenhum pedaço do carro !). Mas Hamilton queria mais e começou a fazer as melhores voltas da prova, só que Alonso não tardou a responder com voltas rápidas. Vettel e Webber também faziam seus giros rápidos e os quatro protagonistas da prova estavam decididos a vencer. Mas as atenções foram para os boxes, porque o Sr. Kobayashi causou danos materiais para a Force India. Na verdade, a culpa foi do “homem-do-pirulito” da Sauber, que liberou o japonês antes do tempo e, para não bater em Maldonado, Kobayashi teve que seguir o caminho da mangueira da pistola pneumática usada na troca de pneus da equipe indiana. Por danos materiais, Koba teve que voltar aos boxes para cumprir a punição.

A outra punição foi para Schumacher, e aqui eu quero fazer uma observação simples. A Fórmula 1 é um esporte que pode gerar contato entre os carros. Eu acho que os comissários tem sido muito rigorosos em alguns julgamentos como este de Schumacher. O alemão perdeu o controle do carro por causa da pista molhada e acabou por atingir o carro de Kobayashi na seqüência. Punir um piloto por tocar em outro é demais. É tirar do esporte que é o automobilismo a sua essência, que é a coragem de ser mais ousado, mais astuto, mais decidido que seu adversário. É bom que a FIA reveja os critérios para que se evite julgamentos infelizes como, ao meu ver, este de Schumacher.

A vitória é convincente

Alonso devolve a ultrapassagem sobre Hamilton enquanto a Rainha cochilava e a diferença entre os quatro primeiros Vettel, Webber, Alonso e Hamilton era de apenas sete segundos. Os quatro abriam de Button, Massa e de Di Resta, que fazia ótima corrida até a segunda troca de pneus. Com o carro já erguido e sem os pneus, o que se viu foi um corre-corre de gente carregando pneus novos sem saber ao certo onde colocar que lembrou os bons tempos dos Trapalhões (acho que poucos aqui se lembram deles). Di Resta voltou em 16º e ainda acertou Buemi, pra fechar o final de semana com “chave-de-roda”.

E as paradas de box foram mesmo as protagonistas do GP. Depois das paradas de Webber, Massa e Button, que entraram juntos, os líderes Vettel e Alonso resolveram parar na volta seguinte, também juntos, e aí foi o macaco da Red Bull que fez Vettel pagar um mico. O equipamento que erguia as rodas traseiras não funcionou e Alonso voltou na frente do alemão. Vettel ainda perdeu também a posição para Hamilton. De novo, os quatro pilotos liderando, agora em ordem trocada e separados por apenas três segundos.

Massa e Button bem que tentaram, mas seus companheiros de equipe foram melhores

Com rendimento superior, Alonso começou a virar as voltas mais rápidas do GP e abriu, enquanto Vettel fazia uma pressão alucinante sobre Hamilton, mas o inglês se segurava como podia. Por quatro voltas, Vettel tentou e, vendo que a resistência inglesa era muito grande, optou por antecipar o último pit-stop. Isso lhe valeu a ultrapassagem quando Hamilton fez o seu pit-stop logo na seqüência.

E tinha mais um capítulo da complicada vida nos boxes de Silverstone. Na última troca de pneus de Button, o pneu dianteiro direito simplesmente não foi apertado. A cena, cômica até na minha opinião, foi de imaginar o mecânico que aperta a roda tentando fazer a fixação da porca e, ao largar a pistola pneumática problemática para pegar a reserva funcionando, o “homem-do-pirulito” simplesmente libera o piloto. Quando o mecânico olha para a roda a ser apertada, como em um passe de mágica, ela não estava mais lá. Estava na saída dos boxes com Button tendo de abandonar a prova.

Massa e Hamilton chegaram separados por 0.024 segundos

Na pista, mais brigas nas voltas finais. Hamilton é orientado a diminuir o ritmo para não ficar sem combustível e Webber encostou. Hamilton não é um cara fácil de ser ultrapassado, por isso, Webber tem que fazer uma ultrapassagem com “U” maiúsculo, por fora, segurando o carro em um trecho ainda úmido. Como ainda havia tempo, Webber foi para cima de Vettel e Massa duelava com Hamilton pelo quarto lugar. Webber foi orientado a manter distância de Vettel, o que lhe deixou muito irritado ao final da prova. Embora tenha dito que ignorou a ordem, Webber não conseguiu superar Vettel. Já entre Massa e Hamilton, a briga foi roda a roda nas últimas curvas, com direito a pedaços de carro voando, faíscas, e uma chegada com diferença de 0.024s em favor do inglês. Rosberg chegou em sexto depois de brigar muito com Sergio Perez, que fez excelente prova e chegou apenas cinco segundos atrás do alemão mais novo da Mercedes. Completando os dez primeiros, Heidfeld, Schumacher (outra boa prova de recuperação) e Alguerssuari, que apagou um pouco o mal resultado do treino.

Alonso venceu com autoridade e já é o quinto piloto mais vitorioso da Fórmula 1

Lembram da alegria de Alonso no sábado? Pois é. O espanhol conseguiu a 27ª vitória na carreira, empatando em 5º lugar como escocês Jackie Stewart entre os pilotos que mais venceram na Fórmula 1, atrás apenas de Schumacher, Prost, Senna e Mansell. Mais que um retorno ao lugar mais alto do pódium, Alonso mostrou que a Ferrari realmente tem bom ritmo de corrida e se aproximou dos carros da Red Bull ao menos no circuito inglês. Se isso vai se repetir nos próximos GPs ainda é uma incógnita, até porque as equipes vão decidir se a tal “baforada aquecida” deve voltar ou ser deixada para trás, literalmente. A decisão, que deve sair nesta semana, tem que ser unânime entre os representantes das equipes. Vamos ver como a Ferrari, depois da ressaca da vitória, vai votar.

A gente se vê na terra do campeão Vettel, em duas semanas. Até lá!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Everton Luiz says:

    ‘Green Hell’ promete hein.

  2. Fernando Neto says:

    já fazia um tempo que não tinhamos uma corrida tão boa!

  3. Victor Ligeiro says:

    Parabéns Lauro pelo texto, a propósito, quem por algum motivo não acompanhar alguma corrida (o meu caso, pois esqueci de por o despertador), é só ler os textos do Lauro, é um resumaço excelente de tudo que ocorreu, inclusive treinos!!

  4. Fábio A. says:

    Lauro, sobre o texto nem, é necessário comentar a qualidade do mesmo!! =)

    Gostei muito do seu comentário sobre a punição ao Schumacher!! Você disse tudo e mais um pouco!!

    Parabéns!!

    Vamo que vamo!!

    Abraços!!

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *