Tetraterapia


Aprendendo a relaxar como fez na Bélgica, Vettel segue disparado na luta por mais um mundial com a vitória no GP de Monza. Alonso só evitou a dobradinha da Red Bull, nada além.

Mais um canguru alado

Não sei se o sobrenome italiano deu um empurrãozinho para que o anúncio fosse feito na semana do GP da Itália, mas a verdade é que o cockpit mais cobiçado da temporada do ano que vem já tem dono. Daniel Ricciardo é o escolhido pela Red Bull para assumir o segundo carro da equipe na nova era turbo e ponto final. Pesou nesta decisão a continuidade pelo trabalho do jovem australiano na casa rubrotaurina, vindo do time B, a Toro Rosso. E é lá que agora sobra uma vaga bastante interessante, mas que também deverá ficar com algum talento vindo da GP2, principalmente entre o português Félix da Costa e o brasileiro Felipe Nasr.

Só que a dança de cockpits ainda não terminou e, também mantendo o som da tarantela alto, Massa é o mais ameaçado da vez. Como dissemos em oportunidades anteriores, Raikkonen, Button e Hülkenberg aparecem na lista de sucessores. E o molho está forte. Olha só o que aconteceu no treino classificatório.

Geralmente, Monza é o circuito do carro mais veloz e do piloto mais veloz. Sendo assim, Vettel era barbada para a pole position. Nos treinos livres de sexta-feira, o alemão já havia humilhado a concorrência, colocando mais de meio segundo sobre o companheiro Webber. Uma distância absurda em se tratando do circuito italiano. No sábado, foi só confirmar, passeando, apesar da distância ter ficado menor para Webber.

Nico Hülkenberg surpreendeu no treino e foi bem na corrida. Especula-se o alemão no lugar de Massa em 2014.

Nico Hülkenberg surpreendeu no treino e foi bem na corrida. Especula-se o alemão no lugar de Massa em 2014.

Para tentar minimizar o prejuízo certo, a Ferrari tentou colocar Massa trabalhando para Alonso. Aqui, vou ter que fazer o infame trocadilho que me acompanha desde criança quando aprendi que pegar o vaco (vácuo) não era atropelar o marido da vaca. O marido da vaca no caso, o touro, em Monza parecia ter mesmo asas. Agora voltando a seriedade, a tática era ter Felipe Massa abrindo caminho para Fernando Alonso e o espanhol aproveitando a menor arrasto aerodinâmico provocado pelo carro do brasileiro.

Felipe Massa, aliás, pressionado, quase ficou de fora do Q3, desprazer que tiveram Raikkonen, Grosjean e Hamilton, surpresas negativas. Hamilton admitiu que errou, mas também lamentou que o carro não estava bom depois de uma escapa ao final da parabólica, ou seja, errou duas vezes, e em Monza, um décimo faz muita diferença. Pra piorar, foi atrapalhado por Adrian Sutil, o que custou a perda de três posições para o piloto da Force India.

A tática do time italiano não surtiu o efeito esperado. Massa realmente saiu a frente de Alonso na última tentativa de ambos de conquistar um lugar na primeira fila para o espanhol. Alonso, pelo rádio, disse que Massa estava muito a frente dele e que não conseguiria se beneficiar da estratégia. E não se beneficiou mesmo. Pior ainda, viu Massa se aproveitar do vácuo de Webber e conseguir a quarta posição no grid, um centésimo a frente do espanhol. Alonso reclamou via rádio também, depois pois panos quentes na entrevista. Não gostou, claro, e repercutiu bastante.

Quarta posição sim, porque quem abriu a segunda fila foi Nico Hülkenberg com a Sauber, que usa motor Ferrari, mas o carro não é vermelho, apesar da conta bancária da equipe estar desta cor. Já sabemos que o alemão é rápido, e um treino desses com o nome especulado no time italiano era realmente para deixa-lo sorridente na hora da pesagem.

A câmera térmica no carro de Di Resta. Show nos treinos e meia volta na corrida.

A câmera térmica no carro de Di Resta. Show nos treinos e meia volta na corrida.

Outro Nico, o Rosberg, fez a fez da Mercedes conseguindo apenas a sexta posição no grid, demonstrando que o carro que vinha de quatro poles consecutivas não estava tão veloz assim na pista italiana. Com ausência de Lotus e da Force India, além do Mercedes de Lewis Hamilton, coube a Toro Rosso e a McLaren preencherem a quarta e quinta filas, com Ricciardo em sétimo, Pérez em oitavo, quase com o mesmo tempo do companheiro Button, que ficou em nono. Jean-Eric Vèrgne, resignado e feliz por Ricciardo segundo ele próprio declarou em relação a escolha da equipe austríaca para a vaga de Webber, fechou na décima posição.

Mamma mia!

O sol se foi e a temperatura da pista diminui demais. A previsão era de chuva, bastava olhar para o céu carregado, mas quando as luzes vermelhas se apagaram, a pista ainda estava seca.
Uma largada de muitas disputas em que Vettel penou um pouco para segurar a ponta, com direito a travada de pneus e tudo. Massa foi quem fez uma largada muito boa e já pulou para segundo, deixando Webber em terceiro e Alonso em quarto. Hülkenberg caiu para quinto. Mais atrás, problemas com Raikkonen, que toca na traseira de Pérez mas ambos continuam. Sem perder tempo, Alonso vai pra cima de Webber e já deixa o australiano para trás, com direito a um pequeno toque, mas nada sério. Sério mesmo foi a pancada de Di Resta no meio de uma disputa de posição com seu companheiro de equipe Sutil e com Grosjean. Uma pancada entre as rodas dianteira esquerda do carro de Di Resta e a traseira direita do carro de Grosjean sentenciaram o fim de corrida para o escocês e da câmera térmica, que mostrava a distribuição de calor nos pneus.

Massa largou bem, chegou ameaçar Vettel, que foi visto só neste momento.

Massa largou bem, chegou ameaçar Vettel, que foi visto só neste momento.

Com a queda para a última posição, Raikkonen fazia a melhor volta, solitário. Hamilton, ainda chateado consigo mesmo pelo desempenho no treino de sábado, vinha na décima posição com seu ex-companheiro de McLaren Jenson Button em seu retrovisor.

Mesmo largando melhor, Massa permitiu a passagem de Alonso. Talvez tenha esta sido a única ultrapassagem que não foi brigada na corrida, porque lá atrás a coisa estava muito disputada. Brigas diretas entre Rosberg e Ricciardo, Vérgne e Hamilton, Button e Grosjean tomavam a atenção da corrida. E foi Button quem se deu melhor neste momento, se distanciando de Grosjean e conseguindo ultrapassar Hamilton.

Na frente, Vettel abria meio segundo por volta para Alonso. A esperança dos tiffosi era que algum problema acontecesse com o carro de Vettel, e parecia que algo não estava tão bem. Pelo rádio, a equipe chamava o líder para uma troca de pneus depois de constatar um pequeno furo no dianteiro direito, sacrificado na largada com uma travada forte. Mas nada de Vettel parar.

Pouco mais atrás, Vérgne abandonou com o motor quebrado. E o Hülkenberg, constante na quinta posição, chamando atenção e fazendo o que podia para se manter entre os líderes. Rosberg chegava no compatriota. E hora dos primeiros pit-stops programados, com Grosjean e Button puxando a fila.
A Red Bull opta então por trazer Vettel e Webber para os boxes ao mesmo tempo, uma manobra perfeita. Massa e Hülkenberg param na volta seguinte, mas o brasileiro perde a posição para Webber quando retorna a pista e, de quebra, tem Grosjean pressionando logo atrás. Hamilton vinha bem forte, mas o Vettel destruía os tempos com seus pneus novos. O estranho neste momento era Alonso ficar na pista com pneus usados, uma vez que o rendimento já não era o mesmo. Mas foi por poucas voltas. Isso custou uma aproximação perigosa de Webber sobre o espanhol neste momento.

Erros no sábado e vontade de leão no domingo. Assim foi o final de semana da Hamilton na Itália.

Erros no sábado e vontade de leão no domingo. Assim foi o final de semana da Hamilton na Itália.

Rosberg e Hamilton, uma briga forte dentro da casa prateada que deu rendeu mais uma posição para o inglês. Uma ultrapassagem milimétrica, bonita, de dois pilotos que se respeitam e que disputam como gente grande cada posição.

Raikkonen, se beneficiando das paradas dos demais, apareceu na quinta posição, mas não teria pneus para aguentar o ritmo até o final. O finlandês para de novo na volta 31. Neste momento, na pista, Hamilton tomava a quinta posição de Hülkenberg, mas ele também teria que fazer mais uma parada.

Nada de chuva

Daniel Ricciardo em oitavo assistia de camarote a disputa doméstica entre Button e Pérez, o que parece que aconteceu em todas as corridas. Era de novo Raikkonen quem detinha a melhor volta da prova, enquanto Rosberg fez o melhor slalom da corrida italiana, passando reto no final da reta e ziguezagueando entre as placas de publicidade para voltar a pista. Grosjean resolve separar Button e Pérez deixando o mexicano para trás no momento em que Hamilton vai para a sua segunda parada.

Lá na frente, Alonso segurava Webber como podia, e o rádio da Red Bull, de novo, dizia que o carro da equipe não estava em ordem total, apresentando problema de câmbio. O pedido era para Webber poupar equipamento, mas valia uma dobradinha do time austríaco. Difícil de segurar o ímpeto de Webber.

Raikkonen e Hamilton vinham abrindo caminho, tentando chegar na zona de pontos. Ambos se depararam brigando pela décima primeira posição depois de se livrarem de Gutiérrez e de Sutil. Uma briga muito forte, mas muito leal também. Entre Ricciardo, que era o sétimo, e Hamilton, o décimo segundo naquele momento, a diferença era de apenas dois segundos e meio. Hamilton consegue a ultrapassagem sobre Raikkonen, roda a roda, e depois vai encapetado para cima de Pérez, que também não consegue segurar o inglês. Grosjean, que parecia ser a solução para a briga de Button e Pérez, deixou o inglês para trás. Hamilton também superou seu ex-companheiro de equipe. Na disputa final, Hamilton até tentou passar por Grosjean, mas travou os pneus e escapou da pista, voltando sem problemas, mas não conseguindo nada além de uma nona posição.

Ninguém me viu, fui!

Ninguém me viu, fui!

Sem dificuldades, Vettel cruzou em primeiro, seguido por Alonso e Webber. Massa foi quarto e o constante Hülkenberg em quinto, logo a frente de Rosberg e Ricciardo. Além de Grosjean e Hamilton, Button fechou os dez primeiros, deixando Raikkonen fora da zona de pontos pela segunda vez seguida depois de estabelecer o recorde de regularidade na categoria.

Uma prova que, apesar das disputas ao longo das 53 voltas, não empolgou ninguém e apenas ratificou as previsões de que o atual líder do campeonato venceria com facilidade, que Alonso teria que tirar leite de pedra para evitar uma dobradinha e que a Mercedes não conseguiria acompanhar o ritmo dos ponteiros, apesar de Hamilton ter ficado com a melhor volta da prova.

Vettel põe uma das mãos na taça. A situação não deve escurecer para o alemão e ele tem tudo para ser o tetra mais moleque da história da categoria. Sobre as especulações, que devem ser resolvidas talvez já nesta semana que se inicia, Hülkenberg, Button e principalmente Raikkonen aparecem fortes para a vaga de Massa, que fez uma corrida boa com certeza, conforme pedido pelo chefe Luca di Montezemolo, mas mesmo resultados positivos neste momento podem não ser suficientes. Torço para que Massa, antes de tudo, fique na categoria, e se não for na Ferrari, talvez possa ser na Sauber, em uma troca simples com Hülkenberg, mas Raikkonen aparece como favorito para ocupar o segundo carro vermelho.

Veremos…

Aplausos para Alonso, vaias para Vettel. Os tiffosi reconheceram que não daria para vencer.

Aplausos para Alonso, vaias para Vettel. Os tiffosi reconheceram que não daria para vencer.

Rápidas

– Vettel fez a 40ª pole e venceu a 32ª corrida na carreira, que foi a sexta neste ano das doze corridas disputadas. Sua primeira vitória, há cinco anos, também foi em Monza, a bordo da Toro Rosso. O carro pode ser bom, mas Vettel é impressionante.

– Esta semana, dia 13, estréia o filme RUSH, sobre a rivalidade de Niki Lauda e James Hunt no campeonato de 1976. Imperdível para todos os fãs da Fórmula 1.

– Merecidamente, Galvão Bueno e Reginaldo Leme receberam nesta corrida uma medalha da FIA, através de Bernie Ecclestone, por entrarem no grupo seleto de pessoas que presenciaram mais de 500 GPs da categoria. Suas contribuições ao longo das últimas décadas criaram um vínculo difícil de ser quebrado com quem assiste as transmissões, por isso é difícil ficar dois GPs seguidos sem a narração de um e os comentários de outro, como aconteceu na Bélgica e na Itália com Leme, quer você goste ou não do trabalho deles. Nosso reconhecimento a estes profissionais.

– Pastor Maldonado que mover seu rebanho de dólares da PDVSA para a Renault em caso de um eventual acerto entre Raikkonen e Ferrari. Será?

– Assisti aos treinos em uma TV de 14 polegadas, antiga, por necessidade. Três metros de distância foi o suficiente para não saber quem era BUT, SUT, GUT, VET ou WEB. Os tempos de volta então, pareciam códigos de barra. Ah, e sem volume adequado. Mas consegui, e já marquei o oftalmologista.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

6 Responses

  1. lsussumu says:

    Como sempre Lauro, muito bom o texto,esse premio de monza teve muitas surpresas. Massa em 4 lugar era algo que eu não esperava. Riccardo pelo jeito fez uma prova muito boa e está mostrando que merece a vaga do Webber.

    Espero que massa continue na F1. Ano que vem tera muitas mudanças.

    • lsussumu says:

      Alonso e Raikkonen na Ferrari, vai ser interessante hein glauco!!!! Valeu pela noticia!!!!

  2. Glauco de F. Pereira says:

    Sei não, mas, a se confirmar tal notícia, a “chiliquenta” terá muito, muito trabalho com Raikkonen…

  3. lsussumu says:

    Vamos ver o que o tio Bernie está preparando para o Nasr
    http://www.motorpasionf1.com/formula-1/helmut-marko-descarta-a-felipe-nasr-como-piloto-de-toro-rosso

    Enquanto os brasileiros tem esperança de que Nasr entre na F1 e que Massa fique em alguma equipe, os Russos esperam que o jovem talento Sergey Sirotkin, tire a super licença e assim possa ser um dos pilotos da Sauber que será salva pelo dinheiro de investidores Russos.

    http://www.motorpasionf1.com/formula-1/sauber-confirma-a-sergey-sirotkin-como-piloto-oficial-para-el-2014

  4. lsussumu says:

    A Willians vai ressurgir??? Dinheiro russo já está trazendo alguns nomes!?!?
    http://www.motorpasion.com.br/formula-1/ross-brown-esta-proximo-de-se-juntar-a-williams

    E parece que o Massa “acertou” com a Lotus, só falta o $$$

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