Ao infinito e além!


História escrita com alegria, simplicidade e cumplicidade de um dos casos de relacionamento homem-máquina mais bonitos já visto.

Como de hábito

Muita gente e muita coisa ameaçada quando a Fórmula 1 chegou na India para a realização daquele que pode ser o último GP naquele país. Até mesmo a corrida deste ano ficou ameaçada por problemas com impostos, mas que foram resolvidos em tempo e garantiram os carros na pista para a tão esperada prova que poderia dar a Sebastian Vettel o tetracampeonato.

Até mesmo as vagas nas equipes para a temporada 2014 estavam se esgotando, com algumas surpresas anunciadas nos dias anteriores aos treinos livres. A maior delas, o anúncio do acerto entre o russo Daniil Kvyat e a equipe Toro Rosso para o lugar de Daniel Ricciardo, a peça principal do mercado este ano. Uma das vagas mais cobiçadas para o próximo ano acabou ficando com um piloto jovem (19 anos), do programa de pilotos da própria Red Bull, mas que nunca esteve em destaque na mídia ou teve seu nome vinculado a qualquer vaga. Kvyat pode ser campeão da GP3 ainda este ano.

Outra movimentação importante parece ser a ida de Felipe Massa para a Williams para substituir Pastor Maldonado. Isso mesmo, tá aí para todo mundo ler e nos canais mais respeitados de automobilismo do Brasil. Massa na equipe de Sir Frank Williams é uma grande surpresa porque, se me lembro bem, ele mesmo disse que preferia parar com a Fórmula 1 se tivesse que correr em uma equipe que não lhe desse chances de disputar, ao menos, o meio do pelotão. Infelizmente, a Williams de 2013 só não é pior que as ainda pequenas Caterham e Marussia, e é difícil imaginar que o time vai mudar tanto em performance de uma ano para o outro, principalmente sem o dinheiro da PDVSA, a estatal petroleira venezuelana que dá o maior apoio para a carreira do veloz Maldonado. A aposta fica com o motor Mercedes, que pode sim fazer diferença.

Em casa, meio vazia é verdade, a Force India até que fez bonito

Em casa, meio vazia é verdade, a Force India até que fez bonito

Esta saída de Maldonado da Williams significa um sinal laranja para a contratação de Nico Hülkenberg pela Lotus, afinal, o sulamericano vem com os bolsos cheios de grana e não é provável a saída de Romain Grosjean do time. O momento de Hülk é melhor do que o de Maldonado, mas o venezuelano não é mau piloto não, e uma dupla com Grosjean seria interessante também, desde que a Lotus tivesse um carro para brigar.

Aí, virou bagunça de novo, porque na dança dos cockpits até uma das vagas da Caterham parece ter sido preenchida por Heikki Kovalainen, que costuma dar o ar da graça nos treinos livres e volta a ser titular para a nova era turbo. Quem dançou foi Giedo Van Der Garde, que negocia sabe Deus com quem, porque neste momento Red Bull, Ferrari, Mercedes, Toro Rosso e Williams fecharam seus pilotos para 2014. Lotus, Force India, Sauber e McLaren ainda teriam vagas, mas depende da demissão de um ou dois de seus pilotos. A Marussia e a Caterham não devem ser as casas dos pilotos que estão disponíveis no mercado ainda, portanto, já não sei o que pensar.

Vamos falar dos treinos? Claro, mas sem muitas surpresas. Uma só na verdade. Romain Grosjean não foi o mesmo das corridas anteriores e acabou ficando já no Q1. Escolher os pneus médios no final causou a surpreendente 17ª posição, o que favoreceu a ida de Valtteri Bottas e de Esteban Gutiérrez para o Q2. Maldonado fez companhia a Grosjean no fundo do grid. Bottas poderia reivindicar coisa melhor no grid ano que vem, está batendo o companheiro em 11 x 5 nas classificações, mas, como o petróleo finlandês não assusta o da Venezuela, então, só resta ao nórdico baixar a cabeça e trabalhar).

Em casa, a Force India chegou a andar bem como há algum tempo não se via, mas nada que lhe desse o gostinho do Q3. Além da equipe indiana, os dois carros da Toro Rosso, a Sauber de Gutiérrez e já citado Bottas, ficaram no bloco intermediário.

O time da frente tinha uma certeza apenas: a pole seria, de novo, de Vettel. Foi assim em todos os treinos livres, foi assim nas últimas corridas, só não seria assim se um elefante sentasse sobre o carro do alemão antes do Q3. Como não tinha elefante nos boxes, quem tratou de sentar a bota foi o própro piloto, que nem se esforçou para enfiar mais de sete décimos sobre os adversários da Mercedes Rosberg e Hamilton, segundo e terceiro colocados respectivamente. Webber não passou de um quarto lugar, mas ele tem uma estratégia de largar com pneus médios, e mesmo assim andou muito perto dos carros prateados. Atrás do australiano, Felipe Massa e Kimi Raikkonen. Notaram como Massa tem sido veloz nos treinos depois que foi “liberado” da Ferrari?

Nico Hülkenberg e Fernando Alonso ficaram com a quarta fila, logo a frente de Sergio Pérez e Jenson Button. Assim como Webber, os três últimos optaram pela mesma tática de Webber. Um sacrifício que, no caso de Alonso especificamente, precisaria de um componente de sorte para poder prolongar a sobrevida do asturiano no campeonato, afinal, para Vettel um quinto lugar era suficiente, independente do resultado do piloto da Ferrari.

E o mundo acompanhou a história sendo escrita mais uma vez. Foi assim…

Início nebuloso

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Nova Delhi possui um céu muito cinzento, poluído. Quando as luzes vermelhas se apagaram, o que embaçou de vez foi a vida de Fernando Alonso. Um toque na traseira de Webber e um segundo toque roda a roda com Button ainda nas primeiras curvas deixaram as coisas mais difíceis para o asturiano logo de cara. Enquanto isso, Felipe Massa fazia uma largada excepcional, pulando da quinta para a segunda posição com direito a uma ultrapassagem dupla sobre os carros da Mercedes ao final do retão. Hülkenberg já era quinto.

As esperanças de Alonso voltariam na segunda volta, quando Vettel surpreendeu a todos e foi para sua primeira troca de pneus, mas devido a avaria no bico da Ferrari, Alonso optou por fazer a parada também e trocar o bico já na volta seguinte e voltou lá no final do grid. Massa na ponta.

Já com seis voltas completadas, foi a vez de Hülkenberg fazer a sua parada. Na pista, Mark Webber recuperava a posição sobre Raikkonen e já fazia a melhor volta da prova, mesmo com os pneus médios. Para Raikkonen a vida estava difícil, pois tomou também uma ultrapassagem de Pérez e resolveu já fazer a sua parada também. Rosberg veio junto. Na volta para a pista, Raikkonen, Vérgne e Button voltaram encaixotados em uma briga muito divertida, ainda que pela décima sexta posição apenas.
Hora de Massa e Hamilton fazerem suas paradas, mas Vettel se recuperou no posicionamento sobre o brasileiro, muito importante nesta altura porque Webber tocava forte na manutenção da liderança ainda sem fazer sua troca.

Ao longo do primeiro terço de prova, muitas ultrapassagens registradas. Vettel ia tirando os adversários da frente na pista, primeiro sobre Ricciardo, e depois sobre Pérez, que vinham em excelentes terceira e segunda posições respectivamente, ainda que sem o primeiro pit-stop feito. Outra briga boa aconteceu quando Bottas, Hülkenberg e Raikkonen se encontraram pelo caminho. Por muito pouco os três não ficam fora da prova tamanha a proximidade entre os carros na disputa por posição. Porém, a briga mais importante estava neste momento entre Massa, Rosberg e Hamilton, que lutavam diretamente pela sexta posição. O alemão chegou a ultrapassar Massa mas tomou um “x” na sequencia. Hamilton se aproximou mas Rosberg, acabou desistindo momentaneamente da briga e foi para a sua segunda parada.

Com liberdade, Massa fez uma das melhores provas do ano e quase foi ao pódio

Com liberdade, Massa fez uma das melhores provas do ano e quase foi ao pódio

Webber conseguiu se manter na pista até a vigésima nona volta e colocou pneus macios. Na diferença de estratégias entre os dois pilotos da Red Bull, um fato curioso; assim que Vettel fez sua segunda parada, três voltas depois da primeira de Webber, o australiano também voltou para os boxes para já também fazer a sua segunda parada e ter pneus para o resto da corrida. A diferença entre ambos era de aproximadamente treze segundos.

Em cada corrida tem sempre uma turma que decide fazer uso dos pneus ao extremo. Desta vez os “economistas kamikazes” foram Ricciardo e Sutil. O primeiro se manteve na pista até a trigésima quarta volta, mas nada comparado ao sacrifício de Adrian Sutil de forçar a sua Force India a quarenta e duas voltas sem fazer uma parada. Havia sido superado por Raikkonen e por Rosberg pouco antes e era o quarto colocado na prova quando os pneus já estavam na missa de sétimo dia. Não teve vida fácil porque, ao voltar, teve que segurar Gutiérrez (que já tinha tomado um drive-through por queimar a largada), Bottas, Ricciardo e… Alonso.

Parecia que uma dobradinha coroaria um também tetra campeonato consecutivo da Red Bull, mas o carro de Webber não colaborou, de novo. A telemetria acusou um problema no alternador e o australiano foi intimado a parar o carro imediatamente depois de ouvir uns duzentos “stop” pelo rádio. Os ativistas dos direitos dos animais estão de olho nestas “experiências” que a Red Bull parece fazer com cangurus…

De quatro, todos os adversários

Que a Lotus é a equipe que menos gasta pneus todo mundo sabe (apesar da sutileza na tocada de Sutil da Force India como dissemos), mas não tem milagre. Raikkonen era terceiro na prova mas já se arrastava pelo terço final da prova e não resistiu a aproximação e ultrapassagem de Nico Rosberg, que assumiu a segunda posição da prova e era a Mercedes, realmente, a primeira equipe a ser batida depois da Red Bull, claro. E o drama de Raikkonen não acabou por aí.

Grosjean fez uma corrida para renovar contrato, e com aumento.

Grosjean fez uma corrida para renovar contrato, e com aumento.

Vocês lembram que o Grosjean largou apenas na décima terceira posição? Pois bem; era ele agora que vinha tirando diferença significativa para o companheiro Raikkonen para brigar por um lugar no pódio. Com um carro muito mais estável que o do finlandês, Grosjean chegou rápido mas não teve vida fácil não. Ambos quase se encostaram, teve saída de pista e devolução de posição por parte do francês, até que o amadurecido Grosjean ultrapassou Raikkonen e assumiu o terceiro lugar na corrida. Massa se aproveitou disso e como já havia se aproximado muito da briga interna da Lotus, aproveitou para também deixar Raikkonen para trás e pular para a quarta posição.

Sergio Pérez, como quem diz “olha o que eu posso fazer, equipe querida”, ultrapassou de uma vez só Hamilton e Raikkonen, em uma manobra muito bem executada enquanto o inglês e o finlandês conversavam sobre como era ver seus companheiros de equipe no pódio. Raikkonen, para não aumentar o prejuízo, ainda fez uma última parada e colocou pneus macios, o que lhe garantiu a melhor volta da prova.

Sem adversários, Sebastian Vettel cruzou a linha de chegada em primeiro humilhando a concorrência mais uma vez, quase trinta segundos a frente de Rosberg e quase a quarenta de Grosjean, que fez uma parada a menos. Felipe Massa conquistou um excelente quarto lugar, assim como excelente também foi a quinta posição de Sérgio Pérez. Hamilton e Raikkonen foram sexto e sétimo colocados respectivamente.

Em casa, a Force India conseguiu pontos com a oitava colocação de Paul di Resta (que veio comendo pelas beiradas) e com a nona de Sutil. Ricciardo fechou entre os que pontuaram no GP indiano. Alonso? Apenas o décimo primeiro, três paradas de box e quase cem segundos atrás de Vettel. Justamente na corrida em que usou um capacete com o número 1571 em referência ao seu recorde de maior pontuador da categoria (ainda que controverso este recorde), Alonso não levou nenhum desta vez. Hülkenberg foi outro que não pontuou, mas por causa de um abandono faltando poucas voltas para o final.

Zerinhos e luvas para a arquibancada. Feliz de quem estava lá.

Zerinhos e luvas para a arquibancada. Feliz de quem estava lá.

E o show de Vettel foi além da bandeirada. Ao retornar da volta de agradecimento, o alemão não recolheu o carro e retornou para o grid para dar saudar com “zerinhos” e muita fumaça os espectadores presentes ao autódromo de Buddh. Já fora da máquina, reverência de joelhos a sua amante deste ano e corrida para o alambrado para jogar as luvas que protegem mãos quatro vezes campeãs seguidamente (se alguém souber quem pegou uma delas, me avise). Emocionante sim, mesmo que a conquista tenha sido relativamente fácil.

Palpitando (especial)…

Portanto, todos os adjetivos para Sebastian Vettel são poucos neste momento. Mais jovem tetracampeão da história com 26 anos de idade, um dos três únicos a conquistar quatro títulos seguidos, juntando-se as lendas Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher e dividindo com eles e Alain Prost a galeria dos tetracampeões.

A maioria de nós achava que Fangio seria insuperável em número de títulos. Aí o professor Prost chegou perto, mas se aposentou ao vencer o quarto título. Pensei que Fangio estava garantido. Aí veio Michael Schumacher e destruiu praticamente todos os recordes. Agora, presenciei Vettel fazer algo absolutamente inimaginável para um garoto de 26 anos apenas e, olhando para frente, ele nem deve estar na metade da carreira na Fórmula 1.

O que esperar deste moleque, no sentido mais levado e puro da palavra? Você pode dizer que falta a ele um título por outra equipe, com outro motor, com outro pneu, sei lá. Pode ser que falte, mas pode ser que aconteça naturalmente também. A máquina é espetacular, mas Vettel dá a química necessária que faz os grandes conjuntos homem-máquina tornarem-se imbatíveis.

Eu e você testemunhamos nos últimos cinco anos uma das carreiras de ascensão mais meteóricas da história do esporte em geral, da Fórmula 1 nem se fale. O que ainda pode vir deste alemão? O que ainda virá desta categoria que tem na constante evolução de sua tecnologia, a força da maturidade precoce de seus cada vez mais jovens pilotos? Talvez a melhor reposta seja justamente o rejuvenescimento do fascínio do homem pela velocidade. Pode ser que muitos falem que as temporadas voltaram a chatice da Era Schumacher. Esta, propriamente, não é das mais emocionantes em termos de disputas, mas não se pode ficar indiferente com o que está acontecendo.

Eu não sei viver sem você, e te prometo ser fiel...

Eu não sei viver sem você, e te prometo ser fiel…

Parabéns Sebastian Vettel, seu menininho atrevido.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

3 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    A reverência de Vettel, ao final da prova a “Heidi”, como ele apelida seu carro, pra mim foi uma dos grandes momentos do ano. Fora isso, acho que estamos sendo privilegiados em ver a história sendo construída diante de nossos olhos por este “moleque”!

    E, sinceramente, acho seriamente sob risco o recorde de sete campeonatos alcançados por Schumacher, se a Red Bull continuar neste ritmo e caso a dobradinha Vettel e Newey continue por mais algumas temporadas.

    Outra coisa que os amantes de velocidade irão ter ano que vem será a disputa Raikkonen vs. Alonso. Acho eu que duas “prima donna” na equipe italiana proporcionará dramas dignos de ópera italianas…

    Ontem mesmo Raikkonen deu mostras de seu gênio digamos, indomável, na disputa com seu atual companheiro de equipe…

    http://tazio.uol.com.br/blog/blog-do-tazio/kimi-discute-com-engenheiro-pelo-radio-por-causa-de-grosjean

  2. Glauco de F. Pereira says:

    E um “pequeno” detalhe: dos 4 títulos, três foram sobre Alonso…Sintomático, não?

  3. lsussumu says:

    Muito bom o texto como sempre!!! Muitos criticam o Vettel por ele ser novo, e falam que a tecnologia faz tudo, mas como você falou, o conjunto Homem e Máquina está perfeito. Quero ver como vai ser ano que vem com os motores novos.
    Curiosidade
    O Russo que vai entrar na Toro Rosso, ele ganhou 1 corrida, e no momento de executar o Hino Russo, a organização não tinha, pois não esperavam que fosse acontecer ahahahhahaah

    hahaahhaaha O Ice Man respondendo hdsauhduahuasd

    Ano que vem Alonso e Raikkonen vai ser interessante, imagina “Alonso abra passagem” ahahahahah

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