Tá lento, é isso.


Até parece que eu também troquei de motor para este ano.

Lento como os novos V6 turbo, é assim que eu me sinto neste início de 2014. Estou em testes também. Planejamento, paciência e criatividade para conciliar tudo que este janeiro me reservou foi mais complicado do que eu pensava. E o duro de ficar sem escrever por um tempo é que, quando você resolve retomar a sua atividade-hobby, você tem milhares de assuntos para tratar e corre o risco de digitar demais ou de esquecer algo. Minha memória teima em ficar com a segunda opção. Vamos pingar “is” e “jotas” então, apesar de nada ser novidade. Afinal, a velocidade da informação hoje é desleal com quem escreve só de vez em quando como eu, mas, o prazer continua o mesmo. Portanto, para atualizarmos o que já está desatualizado, temos o seguinte:

Tempo de despertar
Na minha última coluna falei da minha relação com o heptacampeão mundial. Cheguei perto dele algumas centenas de vezes, por vários anos, mas nunca trocamos uma palavra sequer. O “perto” para mim eram algumas dezenas de metros, e ele sempre passou a centenas de quilômetros por hora. Ele nem sabe que eu existo, claro, só que comigo e com muitos outros fãs do esporte, Schumacher desenvolveu uma relação de amor e ódio. Nestes últimos dias ele começa a ter a medicação retirada lentamente para um novo despertar, que ainda pode levar muito tempo segundo os maiores especialistas em neurologia e neurocirurgia do mundo. Os médicos que o acompanham falam em resposta a estímulos, o que é um alento face a escassez de notícias nas últimas semanas e a permanência na indução ao coma. Seja como for sua recuperação, é cada vez mais certa a presença de sequelas (não se sabe ainda quais) e a lentidão com que o quadro possa evoluir. A minha torcida e a de muitos fãs pelo mundo continua.

Fãs de Schumacher em Spa Francorchamps, na Bélgica. A torcida continua e é forte.

Fãs de Schumacher em Spa Francorchamps, na Bélgica. A torcida continua e é forte.

Não corra papai
Uma descoberta em dezembro e uma filha em janeiro. Este deve ter sido mais um recorde para Sebastian Vettel. Ele e a namorada de adolescência, Hanna, descobriram a gravidez já no oitavo mês e a herdeira do atual tetracampeão de Fórmula 1 nasceu na primeira quinzena de janeiro. O nome da bebê? Não sei. Com quantos quilos e quantos centímetros nasceu? Não sei também. Você deve estar se perguntando de eu fui contratado por alguma revista de celebridades para por uma notícia deste tipo aqui. Não de novo. Minha atenção para este assunto é saber se, realmente, confirmar-se-á a lenda que um piloto, depois que se torna pai, fica três décimos de segundo por volta mais lento. Se for verdade, Daniel Ricciardo deve estar feliz com a paternidade do companheiro de equipe.

Reservado, o casal Sebastian e Hanna já tem uma herdeira.

Reservado, o casal Sebastian e Hanna já tem uma herdeira.

Pai herói
Triste foi a notícia da morte do pai de Jenson Button, John Button, também na primeira quinzena de janeiro. Continuo afirmando que não estou escrevendo para revistas de conteúdo fotográfico apenas. A notícia é pertinente porque John, assim como muitos pais de pilotos, foi o maior incentivador de Jenson. Mais que isso. John foi presente como poucos no paddock e nas comemorações das vitórias do filho. Dizem que pai de piloto é igual a mãe de miss. Nos últimos anos, ele e a namorada de Jenson, Jessica Michitaba, eram vistos sempre juntos de Jenson e este apoio familiar que agora se quebra por força maior pode mexer com o desempenho de Button nas pistas. De novo, o fator psicológico, assim como no caso da paternidade de Vettel. Até que ponto Button sentirá esta ausência, antes, durante, e depois de cada corrida. O trio Jenson-John-Jessica era a família mais presente nos boxes da Fórmula 1 nas últimas temporadas. Não sei o quanto Button sentirá a ausência da proximidade do pai, mas justamente ele, que está em vias de se aposentar nos próximos anos, tem este ano a chance de voltar a andar na frente, afinal, conta com um estreante como companheiro de equipe e deve ter um carro bem melhor que o do ano passado. Nesta semana, durante os primeiros testes, usou no capacete a figura do Papai Smurf para homenagear o próprio pai. John vai deixar saudade pela alegria e bem querer de todos que o conheceram.

Descanse em paz, John...

Descanse em paz, John…

O poderoso chefão I
Acusado de corrupção em vendas de ações da categoria em 2006, Bernie Ecclestone foi afastado do quadro de diretores da CVC, empresa majoritária que comanda os negócios da F1. Na verdade ele vai ficar nos bastidores, como sempre, mas ele perde o poder de decisão na categoria que tem desde que eu me conheço por gente, e olha que é tempo bastante. O processo continua e Ecclestone ainda se defende das acusações alegando inocência, mas esta semana andou criticando duramente as mudanças no regulamento para 2014. Aos 83 anos, pode estar passando o bastão em definitivo a partir desta temporada. E daí? Bom, ele conduziu e tornou a Fórmula 1 no grande negócio que é hoje praticamente sozinho, portanto, podem vir mudanças em breve.

Aos 83 anos, Bernie Ecclestone tem que se acertar com a Justiça européia.

Aos 83 anos, Bernie Ecclestone tem que se acertar com a Justiça européia.

O poderoso chefão II
Ron Dennis voltou ao comando da McLaren no lugar de Martin Whitmarsh. Provável reflexo da desastrosa temporada de 2013, sem um pódio sequer, e da aposta em Sergio Pérez, desfeita depois de apenas uma temporada. A McLaren também perdeu o apoio de importantes patrocinadores e, se faltar dinheiro, o mínimo de desenvolvimento que deve existir durante a temporada fica comprometido. Imaginava-se então Ron Dennis com os fones de ouvido na mureta dos boxes. Nova surpresa. A equipe foi buscar na rival Lotus Eric Boullier, que fez um excelente trabalho no time de Enstone no ano passado. Caberá a Eric a tarefa de recolocar a McLaren no seu devido lugar. Será que Ron vai querer trazer Lewis Hamilton de volta? E, sobre a Lotus, a gente talvez volte a falar se sobrar alguém do staff por lá.

A McLaren volta a ter mão de ferro em seu comando e mais força política com a volta de Ron Dennis.

A McLaren volta a ter mão de ferro em seu comando e mais força política com a volta de Ron Dennis.

Pendurou o fone…
Ross Brawn anunciou que se aposenta em definitivo da Fórmula 1. Nada de ano sabático, de mudança para a McLaren ou de retorno para a Ferrari. Brawn simplesmente exerceu o direito de abandonar o mundo selvagem das corridas de carro e se dedicar a si mesmo e a família. Dono de uma carreira brilhante, não é preciso dizer que Brawn foi um dos grandes responsáveis pela trajetória vencedora de Schumacher na Ferrari e pela linda história de pegar o espólio da equipe Honda e transformar na equipe que levou o seu nome e que se sagrou campeã na primeira e única temporada que disputou, em 2009, antes de se tornar Mercedes. Um grande profissional que perde a categoria, sem dúvida, mas, a vida é curta e tem que ser aproveitada da melhor maneira.A Fórmula 1 vai sentir a sua falta.

... e a calculadora.

… e a calculadora.

Para quem ainda não viu
Os carros mudaram de acordo com o novo regulamento, o qual eu ainda devo um texto sobre ele. Para cada lançamento, a expectativa de ver o trabalho dos engenheiros e projetistas traduzido em linhas, arrojadas ou conservadoras, para os bólidos deste ano. O legal, sob minha ótica, foi que teve de tudo um pouco. Ousadia de uns, beleza de outros, inovação de mais alguns. A cara da Fórmula 1 é heterogenia e eu, particularmente, gosto disso, independente do aspecto estético. Dizem que carro bonito é carro vencedor, portanto, é a vitória na pista que refina as linhas que nascem sempre com o bordão “para melhorar o coeficiente de arrasto e passagem do ar, favorecendo o equilíbrio e o desempenho”. Isso é quase o mesmo do jogador de futebol dizendo “graças a Deus a equipe soube explorar as falhas do nosso adversário e conseguimos sair com um resultado positivo”. Eu gostei do desenho da McLaren, da ousadia da Lotus e da estranheza-familiar da Caterham (a Ferrari fez algo parecido há 30 anos). Máquinas para todos os gostos, algumas ainda sem as cores definitivas e ausência de patrocinadores. Mas e daí? Elas já andaram semana passada em Jerez de La Frontera, Espanha, e olha que a coisa parece que mudou mesmo. Falo sobre os testes em outra oportunidade, por enquanto, quero saber a sua opinião sobre o design dos carros. E aí, o que você achou?

Sem extravagâncias para se manter no topo, a aposta da Red Bull.

Sem extravagâncias para se manter no topo, a aposta da Red Bull.

Bico em forma de escorregador e a boca de bagre. Eis o F14-T

Bico em forma de escorregador e a boca de bagre. Eis o F14-T

Bico tomada e o apelido de batmóvel. A Lotus ousa, mas lhe falta dinheiro.

Bico tomada e o apelido de batmóvel. A Lotus ousa, mas lhe falta dinheiro.

A linda Mercedes optou também pelo estilo bem comportado

A linda Mercedes optou também pelo estilo bem comportado

Bico tomada e o apelido de batmóvel. A Lotus ousa, mas lhe falta dinheiro.

Bico tomada e o apelido de batmóvel. A Lotus ousa, mas lhe falta dinheiro.

A elegância predomina no MP4-29 da McLaren. E tem até espaço para propaganda.

A elegância da McLaren.

Bico tamanduá e tons de preto. A Force India quer mais em 2014.
A Sauber deste ano é mais escura e o traz o bico funil.

A Sauber deste ano é mais escura e o traz o bico funil.

Estranho, feio, indecente. Eu li várias definições sobre o carro da Toro Rosso.

Estranho, feio, indecente. Eu li várias definições sobre o carro da Toro Rosso.

As cores devem mudar, e os resulatados também. A Williams quer voltar a ser quem já foi um dia

As cores devem mudar, e os resulatados também. A Williams quer voltar a ser quem já foi um dia

Alguém postou no facebook "it's a boy" sobre o carro da Caterham. Com certeza!

Alguém postou no facebook “it’s a boy” sobre o carro da Caterham. Com certeza!

Parece curto este carro da Marussia, mas pode ser uma boa surpresa.

Parece curto este carro da Marussia, mas pode ser uma boa surpresa.

Um abraço!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Parafraseando um ex-Presidente de um País da América Latina, “nunca antes em uma temporada” tantas modificações ao mesmo tempo aconteceram!

    Diante de tudo isto, é difícil e de muita coragem fazer qualquer tipo de prognóstico nesta temporada que se inicia.

    Mas uma coisa, nestes testes, ficou muito clara: os motores Mercedes estão muito fortes e parece que darão as cartas neste início de temporada.

    E ao contrário dos anos anteriores, parece que a Renault/RBR é que terá que correr atrás de melhores resultados neste início!

    Mas não podemos esquecer de que o “gênio” Adrian Newey, um dos únicos nomes que realmente faz a diferença no projeto de um carro, ainda é da RBR!

    Enfim, até o início do ano, o trabalho na RBR parece que será mais pesado este ano.

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