Flutuando


Agora foi a vez de Hamilton mostrar a superioridade da Mercedes, mas Rosberg completou a dobradinha e segue com folga na liderança do mundial. Vettel voltou ao pódio.

Na lamina d’água

A água que caiu com vontade no treino oficial em Sepang não foi suficiente para tirar da Mercedes a pole position e o favoritismo na segunda etapa do Mundial. Coube a Lewis Hamilton fazer a segunda pole consecutiva, mas o que pode parecer que foi muito fácil, na verdade, não foi tão fácil assim. Pelo menos nos treinos.

Embora tenham revezado na liderança dos treinos livres e oficial, Hamilton e Rosberg tiveram a companhia dos carros da Ferrari e Red Bull em todas as sessões. Ainda que não tão ameaçadoras assim, as presenças destes mostram que já há uma aproximação em termos técnicos e uns caras que estão querendo algo mais que apenas ficarem de coadjuvantes por tanto tempo.

Kimi Raikkonen é um deles. Andou sempre namorando o melhor tempo, ficou em segundo duas vezes e em terceiro uma vez nos três treinos livres, mas na hora da onça beber água (e tinha mais água que na Guarapiranga) ficou apenas com a sexta posição. Parecia que ia andar bem a frente do companheiro Fernando Alonso, que durante o Q2 até bateu na Toro Rosso de Daniil Kvyat e teve um dos braços da suspensão dianteira esquerda rompidos, mas o que parecia fim de treino para o espanhol acabou não acontecendo e, com um tempo suficiente para passar para o Q3, acabou terminando o dia com um excelente quarto lugar.

E o touro vermelho começa dar sinais de vitalidade de novo. Não que o segundo lugar de Daniel Ricciardo (mesmo desclassificado) na Austrália tenha sido desprezível, mas desta vez os rubrotaurinos andaram mais perto do top 5. Falar da capacidade de Vettel, para mim, é chover no molhado, e há de se reconhecer que Ricciardo mostrou que é capaz sim de tocar o carro azul. O tetracampeão volta a largar na primeira fila e o australiano conseguiu uma ótima quinta colocação. Rosberg se encaixou na terceira posição e, assim, o grid teve Mercedes, Red Bull e Ferrari nas três primeiras filas.

Ainda na disputa da superpole Nico Hülkenberg, da Force India, ficou com uma boa sétima posição, a frente de Kevin Magnussen, o dinamarquês estreante da McLaren, louco para mais um pódio. Na quinta fila, Jean-Eric Vérgne, mostrando que a Toro Rosso também tá boa de bico este ano, e Jenson Button, que já se deu melhor em condições mais úmidas.

É larga esta largada.

É larga esta largada.

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Você deve estar se perguntando sobre os carros da Williams. Pior que água no chope é água no drink para o time inglês. O personagem Cascão, de Maurício de Souza também não gosta de água, mas pelo menos quando vê chuva ele corre, ao contrário dos carros branquinhos e limpinhos de Massa e Bottas. Mas é preciso dizer que a equipe deu uma pisadinha de bola com os meninos porque mandou eles para pista com pneus intermediários no momento em que ninguém menos que Noé abria a volta. O erro custou a Bottas um péssimo décimo quinto lugar e que acabou virando um mais-que-péssimo décimo oitavo lugar, isso porque o finlandês foi punido com mais três posições no grid por ter bloqueado Ricciardo em sua volta rápida. Massa, por sua vez, achou uma volta que conseguiu alçá-lo ao décimo terceiro posto, atrás dos “molequinhos” Kvyat e Gutiérrez com seus respectivos bólidos da Toro Rosso e da Sauber. Sergio Pérez, com a outra Force India, largará atrás de Felipe Massa.

Lotus? Ah, sim. Romain Grosjean passou para o Q2, o que pode ser motivo de comemoração para o time do bico partido. Pastor Maldonado, que já deve estar ficando arrependido em ter escolhido o número 13, não passou para o Q2, mas a punição de Bottas o livrou do sexteto do final do grid, que além do piloto da Williams teve também Adrian Sutil, Jules Bianchi, Kamui Kobayashi, Max Chilton e Marcus Ericsson fechando o grid. Ericsson foi protagonista de uma bela pancada que chegou a provocar bandeira vermelha no finalzinho do Q1.

Se dividirmos o grid em 6-8-6, eu diria que os seis primeiros brigariam pelo pódio, os oito do meio por marcarem pontos e os seis últimos por completarem a prova. Mas eu erro demais em termos de apostas.

Silêncio pelo vôo desaparecido

No meio da polêmica do barulho dos novos motores, a Fórmula 1 prestou homenagem ao voo MH370 da Malasya Airlines, desaparecido desde 8 de março e que ainda comove o país.

Dobradinha da Mercedes pode virar o prato principal dos domingos.

Dobradinha da Mercedes pode virar o prato principal dos domingos.

Sem poder sequer alinhar no grid devido a um problema hidráulico, Sergio Pérez largou dos boxes. E todos os pilotos tiveram a chance de escolher com qual composto largariam porque o treino oficial foi molhado demais, e todos optaram pelos macios, com previsão para três paradas para todos, exceto se caísse mais água durante a prova.

Lewis Hamilton tratou de se firmar na frente na primeira curva e Rosberg veio com ele, mesmo depois de ter tomado uma boa expremida de Vettel em uma pista que tem uma das retas mais largas do campeonato. Os carros da Red Bull protagonizaram uma bela briga e Ricciardo saiu com vantagem. Os dois Ferrari vieram se enroscando com Hülkenberg logo atrás.

A sequencia em “S” logo depois da reta dos boxes e um trecho de alta velocidade que caracterizam o circuito malaio normalmente são suficientes para alinhar os carros nos primeiros metros. Lá atrás, a Marussia de Jules Bianchi foi tocada e empurrou a Lotus de Maldonado para fora, mas foi o único enrosco do início a desalinhar o pelotão. Quer dizer, teve um outro ocorrido até mais relevante, que foi o toque de Magnussen em Raikkonen, resultando em um spoiler prateado quebrado e um pneu furado no carro vermelho. A corrida de Kimi se desmontou neste momento, mas não a do dinamarquês, que seguiu na prova mesmo com a avaria. Julgado culpado pelos comissários, Magnussen acabou punido com 5 segundos de stop and go quando na parada para troca de pneus. Ele mesmo foi o primeiro a abrir a primeira sessão de paradas regulares.

Os carros da Williams, no seco, rendiam bem mais que nos treinos e tanto Felipe Massa quanto Valtteri Bottas subiam na classificação, aparecendo em décimo e décimo segundo respectivamente. Vettel já havia superado Ricciardo e andava na terceira posição.

Alonso fez sua parada na volta 12 e Ricciardo na volta seguinte. Quando o australiano voltou para a pista, quase que houve um “esfrega carenagem” entre os dois. Depois vieram Vettel, Button e até Rosberg, primeiro que Hamilton. Quando o inglês fez sua parada, já tinha vantagem bem significativa. Hülkenberg ficou um pouco mais de tempo na pista e chegou a ter um lampejo de liderança, mas Hamilton retomou o lugar que era seu.

Maldonado já tinha abandonado, Pérez também, e Jean-Éric Vérgne decidiu fazer o mesmo. O francês já tinha tido problemas desde a largada e não vinha fazendo uma boa prova como seu companheiro Kvyat, que vinha brigando muito com Bottas e mostrava-se disposto a marcar mais alguns pontos. Na água o menino também mostrou boa segurança no sábado.

Alonso em quarto e Hülkenberg em quinto. Boa briga.

Alonso em quarto e Hülkenberg em quinto. Boa briga.

Era muito interessante ver as brigas entre os carros da Caterham e a Marussia de Max Chilton. Atrás deles vinha Raikkonen, ainda na prova, mas com uma dificuldade maior que a esperada para se recolocar na zona de pontuação. E já que tocamos no nome da Caterham, eu estou quase apostando que o japonês vai fazer o primeiro ponto para a equipe verde este ano. Palpite apenas.

O molho de Massa é outro

Tudo seguia como antes, uma briga aqui e outra lá, e já era praticamente certa a vitória de Hamilton, porém, a dobradinha ainda era dúvida. Isso porque Vettel, que já tinha voltado a andar bem como no ano passado, inclusive fazendo por algumas vezes a melhor volta da prova, parecia disposta a mais que um terceiro lugar.

Uma mãozinha para Ricciardo no pitlane.

Uma mãozinha para Ricciardo no pitlane.

Antes de começar a última rodada de pit-stops, ainda havia a possibilidade de chuva e era possível ver um ou outro pingo de chuva nas câmeras, mas nada ainda que determinasse opção por pneus ranhurados. E foi nos boxes que aconteceu uma falha que mudou o rumo da corrida de Ricciardo. Isso porque liberaram o retorno a pista do carro número 3 sem o aperto adequado da roda dianteira esquerda. O carro parou poucos metros depois, ainda no pitlane, e os mecânicos correram para trazê-lo de volta e arrumar o problema. Mesmo com a roda perfeitamente apertada e já de volta a pista, Ricciardo teve outro problema. Agora foi o spoiler que se quebrou e literalmente usinou o pneu dianteiro direito, obrigando o piloto a voltar para os boxes para solucionar mais este contratempo. De brinde, um stop and go de 10 segundos pela trapalhada do time.

Nem falei de Button ainda e ele já aparecia na sexta posição. O fato é que, constante ou burocrático, o inglês vem trazendo a McLaren de novo dentro do melhor que lhe é possível. Só que a dupla da Williams queria deixar Button para trás e Massa se aproximou perigosamente do campeão da 2009, porém, sem a força necessária para selar a ultrapassagem. Como resultado, Bottas se aproximou desta briga e era nítido que o carro do finlandês estava mais forte neste momento. Veio então o comunicado da equipe inglesa para o brasileiro que “orientava” Massa sobre a melhor condição de Bottas, que poderia sim ter alcançado e até passado Button. Só que agora Felipe Massa não é mais o piloto da Ferrari e quem corre com ele não é mais Alonso. Sem esboçar a menor compreensão, Massa brigou com Bottas até o final e não deixou o companheiro chegar a sua frente como queria o time. Ao final da prova, defendeu sua posição dizendo que ainda é prematuro demais este tipo de ordem. Quem te viu (e te passou) e quem te vê hein, Felipe!?

Sem ser ameaçado e com uma diferença de mais de 17 segundos para o companheiro Rosberg, Hamilton venceu com tranquilidade e a Mercedes fez talvez a primeira de muitas dobradinhas na temporada. Vettel voltou ao pódio e mostrou que a Red Bull pode já estar bem mais próxima do time prateado do que se imagina. Alonso chegou em quarto e Hülkenberg em quinto, com Button logo atrás beneficiado pela desobediência de Massa. Bottas e os estreantes Magnussen e Kvyat fecharam os dez primeiros colocados que marcaram pontos.

Uma corrida até monótona, sem a chuva, e o que parecia ser um embaralhamento forçado do grid por causa das condições difíceis no treino oficial deixa claro que a Mercedes está uns dois degraus acima dos principais concorrentes Red Bull e Ferrari. A McLaren ainda não tem um carro competitivo e a Williams precisa evoluir rápido para não ficar atrás da Force India, que se tivesse dois Hülkenbergs, com certeza, estaria bem melhor. Nada contra Sergio Pérez, mas é a verdade.

Massa não calçou as botas de segundo piloto na Williams.

Massa não calçou as botas de segundo piloto na Williams.

Palpitando…

– Romain Grosjean chegou em 11º e quase que a Lotus marca um pontinho. Eu já começo a olhar para 2015 e imaginar onde ele poderá estar. De “maluco da primeira volta” em 2012 a “maduro da volta por cima” em 2013, o franco-suíço tem que se reinventar para permanecer na Fórmula 1 em 2015;

– Daniil Kvyat está envelhecendo rápido, já tem 19 anos e 3 pontos;

– Daniel Ricciardo, apesar de ter uma desclassificação e um abandonado até aqui, já deu recado positivo para a Red Bull, mas vai ter mais problemas no Bahrein onde vai perder 10 posições no grid por causa da roda solta na troca de pneus. Precisa de pontos para ele e para a equipe, urgentemente;

– Acho que Massa demarcou território na Williams. Na carreira, pode ser que tenha vindo tarde demais, mas antes tarde do que nunca. Resta saber se a Williams vai reforçar esta postura e se ele vai fazer por merecer esta conduta;

– O caso de Raikkonen é semelhante ao de Ricciardo em termos de desempenho, ou seja, está longe da pontuação de seu companheiro (efetivamente até mais que Ricciardo x Vettel), mas mostrou-se veloz e dava pinta de que ia se dar melhor que Alonso neste domingo. O espanhol deve ter adicionado Magnussen na sua rede social em agradecimento.

Já na semana que vem, no Bahrein, cuja corrida este ano será noturna, teremos a terceira etapa e é lá que nos encontraremos novamente.

Um abraço!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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