O cisco no olho e a pedra no caminho.


Rosberg venceu de ponta a ponta e mostrou a Hamilton que o inglês pode até ser o favorito ao título, mas é bom abrir o olho (e tomar cuidado com ciscos).

Tô de mal

Parece que ia chover no Principado de Monaco durante o final de semana, o que trouxe uma certa expectativa quando, na quinta-feira, Fernando Alonso resolveu ser o mais rápido em uma das sessões livres daquele dia. Além disso, o outro ponto positivo era o bom rendimento da Williams, o que fez Felipe Massa pedir uma “colinha” do acerto do companheiro Bottas para poder se juntar ao time da frente.

Com o treino oficial em andamento, muita gente que tenta fazer milagre com seus equipamentos limitados costuma receber ajuda daqueles que vão a frente, que abrem caminho sem maiores problemas. Nas últimas posições, os “Marussianos” e os “Caterhamnenses” estavam com a companhia dos “Sauberáticos”. Até aí, tudo normal, mais que normal, até que o Marcus Ericsson resolveu aparecer atrás de Felipe Massa em volta rápida. O brasileiro, gentil toda vida, abriu passagem e recebeu de presente uma pancada na lateral. Fim de treino para Massa e punição para Ericsson, que deveria largar no meio do grid da GP2.

Os carros da Lotus pareciam que iam evoluir mas no seletivo e travado circuito de Monaco, nem Grosjean e nem Maldonado conseguiram muita coisa, ficando entre os carros da Williams de Bottas e Massa. E para fechar o Q2, Button e Hülkenberg resolveram deixar seus companheiros de equipe disputar a super pole.

Mas e os touros? Ah, vamos começar pelos Rossos então. Jean-Éric Vèrgne conseguiu colocar o carro #25 na sétima colocação, um excelente resultado, sem dúvida, só que seu companheiro Daniil Kvyat não deixou por menos e, mesmo tendo dado uma escapada forte e avariado o bico do carro no Q3, foi garantir um nono lugar no grid. Detalhe: Kvyat nunca andou em circuito de rua antes. Entre eles, outro estreante, Kevin Magnussen que, aos poucos, vai aposentando Jenson Button (pelo menos é o que corre no paddock). E Pérez ficou com a décima posição. Fazendo as contas, sobraram Mercedes, Red Bull e Ferrari.

Rosberg disposto a segurar quem viesse atrás.

Rosberg disposto a segurar quem viesse atrás.

Alonso conseguiu se classificar na frente de Raikkonen, até aí, normal. Ricciardo a frente de Vettel, até aí, também normal até agora. Então, a pole seria de Hamilton como de costume e Rosberg em segundo. Tudo normal. Mas não.

Rosberg tinha que mostrar a Hamilton que também quer como nunca alcançar o título mundial. O que ele precisaria fazer? Bom, antes de tudo, ser mais rápido que o companheiro, mas precisasse talvez de algo que desestabilizasse um pouco Hamilton, seu ponto mais fraco.

Faltando apenas uma tentativa para cada um, era de Rosberg a melhor marca até então e ele vinha em outra volta rápida, tentando tudo, até que na freada da mesma curva em que Massa abriu para Ericsson, Rosberg travou os pneus e conseguiu jogar para a área de escape sem que tivesse maior prejuízo para o Mercedes #6. Bandeira amarela no local e Hamilton teve que aliviar, perdendo a última chance de manter a sequência de poles. Deu, portanto, Rosberg no principado, assim como no ano passado.

Euforia de Rosberg, cara de poucos amigos de Hamilton, e um sorriso um pouco mais tímido de Ricciardo na foto oficial dos três melhores classificados do treino. Se o erro de Rosberg foi intencional ou não, talvez nunca saberemos, mas o clima mudou e ficou pesado entre ambos, notoriamente. Segundo os comissários, nada de anormal.

Safety-cars ajudaram algumas recuperações

Seria na largada o troco de Hamilton, na freada da Curva da Padroeira? Nada disso. Rosberg largou muito bem e segurou o ímpeto de Hamilton. Vettel tomou o lugar de Ricciardo e Raikkonen se apertou para ganhar duas posições e embutir logo atrás do tetracampeão. O fato de Ericsson, Bianchi e Maldonado terem largado dos boxes não mudou em nada este instante da prova.

Hora do rush, comum.

Hora do rush, comum.

Freada da Saint Devote, ok. Subida do Cassino, ok. Mirabeau? Pára tudo! Button encosta em Pérez, que fica atravessado na pista e provoca o primeiro safety-car do dia.

Hamilton não descolava de Rosberg nem na volta de apresentação, e toda atenção estava neles quando o safety-car saiu. Ambos rasgaram a famosa “reta curva” dos boxes e o carro de Vettel foi ficando, ficando, deu mais uma volta e acabou abandonando de vez a corrida. Outro abandono prematuro foi o de Kvyat, que era oitavo e de quem poderia se esperar uma boa surpresa.

Quem tirava um pouco da monotonia da corrida era Sutil, que ganhava posições na curva mais lenta do circuito, forçando espaço onde normalmente só caberia um carro. Estava indo bem, bem mesmo, até errar sozinho na freada da saída do túnel e dar gerar um belo custo de lanternagem para a equipe indiana. Como resultado, entra na pista o segundo safety-car.

Com outra parada forçada para tirar o Sauber de Sutil, Raikkonen teve o azar de ter que fazer dois pit-stops porque um de seus pneus novos acabou furado no retorno a pista. Caiu para a décima terceira posição. Neste momento, sem parada, Felipe Massa já era o quino colocado.

Durante o safety-car, Vèrgne foi liberado para voltar a pista enquanto Magnussen rasgava o pit-lane. Por pouco, muito pouco mesmo, o espaço já reduzido dos boxes do principado não se tornaram inviáveis para os dois. Resultado para Vèrgne foi um drive-thru e a saída da disputa pelos pontos. Mais tarde, abandonaria por problemas no motor.

E problemas no motor não foi exclusividade da Renault em Mônaco. Pela primeira vez no ano, um dos motores Mercedes falhou, o do carro #77 de Bottas que, mesmo parado no meio da pista, não precisou da intervenção de um novo safety-car.

Só dá Mercedes esse ano, mesmo com o safety-car.

Só dá Mercedes esse ano, mesmo com o safety-car.

A segunda seguida no principado

Lá na frente, Rosberg administrava Hamilton a uma distância que, se não poderia lhe permitir erro, pelo menos não possibilitava que o inglês fosse mais incisivo a ponto de tentar uma ultrapassagem. E a corrida caminhava para o final sem muita perspectiva quando Gutiérrez resolve aproveitar a cláusula de seguro que a Sauber tem para sinistros onde, mandando um carro para a funilaria, o segundo é grátis. E tome mais uma marca no guard-rail, na curva de acesso aos boxes, a Rascasse.

Quando Hamilton começou a tirar a diferença para Rosberg, entrou sujeira, literalmente.

Hamilton acusou pelo rádio que sua vista esquerda estaca prejudicada, com um simples cisco, o que o afastou da luta contra Rosberg e o deixou na alça de mira de Ricciardo, mas não acabou mudando as posições no final.

Na última volta, Raikkonen estava voando, tinha a melhor volta da prova, mas acabou forçando uma ultrapassagem sobre Magnussen e teve o bico danificado. Magnussen também acabou perdendo posições para Bianchi e Grosjean. Sim! Bianchi e Grosjean!

Rosberg venceu de ponta a ponta, sem deixar espaço para a reação de Hamilton, mas ambos cravaram a quinta dobradinha consecutiva nas seis provas iniciais da temporada. Ricciardo foi ao pódio de novo. Alonso, discreto, chegou em quarto, não ameaçou e não foi ameaçado. Hülkenberg, Button e Massa, em provas de recuperação, conseguiram bons resultados, assim como Grosjean em nono e Magnussen em décimo. Só que o destaque mesmo foram os primeiros pontos da Marussia e de Jules Bianchi, oitavo lugar, que vale muito (em dinheiro) inclusive.

Agora Rosberg virou de novo o jogo sobre Hamilton na liderança do campeonato, que ainda tem Alonso em terceiro e, agora, Ricciardo na quarta posição.

Massa, boa corrida depois de uma catástrofe no treino oficial.

Massa, boa corrida depois de uma catástrofe no treino oficial.

Começa agora um novo campeonato, pode esperar…

Palpitando:

– Eu disse, algumas corridas atrás, que a harmonia entre os amigos de classe iria acabar. Rosberg não passou a cola e Hamilton não tirou nota alta. Segundo o inglês, em declaração de hoje, eles nunca foram amigos. Vai ter briga no recreio;

– A Marussia demorou, demorou, mas conquistou seus primeiros pontos. Eu achei que a Caterham faria isso primeiro. Agora, a pressão sobre o time malaio aumenta, mais pelo dinheiro do que pelo resultado em si;

– Começam as especulações de Alonso na McLaren em 2015;

– Kimi chegou atrás da McLaren, correu com patrocínio de whisky hoje, Também chegou atrás do patrocínio da vodka e o do coquetel. Recaída, Iceman?;

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Glauco de F.Pereira says:

    Ah se o único problema de Hamilton fosse um cisco no olho… Tudo seria tão mais simples!

    Mas, não esqueçamos de quem é o principal dominador no Canadá, próxima prova. Acredito que, em condições normais de temperatura, pressão e altitude, a resposta de Hamilton será em alto e bom som!

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