Em casa de touro, o espeto é de prata


Rosberg volta a vencer com Hamilton fazendo mais uma dobradinha para a Mercedes. Bottas põe os pés no pódio pela primeira vez.

Deu branco

Assim como eu escrevi na rede social, a Mercedes ainda é a equipe a ser batida, a Red Bull estava correndo em casa, mas desta vez a pole position era de outro carro. A honra coube a Felipe Massa, em uma performance espetacular travando uma briga doméstica com Valtteri Bottas, que completou a primeira fila com menos de um décimo de diferença entre eles. Chegava assim o fim da série de pole positions da equipe alemã neste ano.

O óbvio seria que os carros da Mercedes então aparecessem na segunda fila, e antes da primeira curva tomassem o lugar das Williams. Bom, pelo menos Rosberg fez o seu trabalho de sempre e, mesmo superado pela equipe de Frank Williams, cravou a terceira posição no grid. Já Hamilton não conseguiu ficar tão próximo assim. Um erro em sua última tentativa o colocou em uma longínqua nona posição, atrás de um constante Fernando Alonso, na quarta posição, Ricciardo em quinto, dos novatos Magnussen e Kvyat, e de Raikkonen, desta vez um segundo e meio atrás do companheiro Alonso. Nico Hülkenberg ainda ficou com o décimo tempo.

E que fase de Vettel é essa? Mizifio tá cos pobrema bravo, sô! Ficou só na décima segunda posição, isso porque Sergio Pérez ficou com a penalidade de cinco posições no grid por causa do acidente com Felipe Massa no Canadá. Os demais, se mantendo mais ou menos como sempre, no meio do pelotão, e lá no final do grid, o quarteto fantástico começa a virar sexteto com a presença constante da dupla da Sauber.

Massa se segurou na ponta na largada, mas nem no pódio terminou.

Massa se segurou na ponta na largada, mas nem no pódio terminou.

Vieram melhorias com os famosos pacotes aerodinâmicos que algumas equipes levaram para a Áustria, mas tirando a surpresa da Williams em colocar uma dobradinha na primeira fila e o vacilo de Hamilton errar sozinho na hora de definir o grid, o resto prevaleceu praticamente inalterado. O circuito, casa dos touros vermelhos, a outra grande novidade do final de semana, só foi ofuscada pelas voltas voadoras de Massa e Bottas. Até aqui, eu assisti como sempre.

Como falar de algo que não se viu?

Diz a lenda que o menino do carro branco número 19, brasileiro, se manteve na ponta na primeira curva e que seu companheiro, largando do lado mais sujo da pista, virou presa fácil para o alemão da Mercedes. No entanto, valente e decidido, o finlandês do carro 77 recuperou a segunda posição antes da metade da primeira volta.

Nesta fase do campeonato, se aproximando da metade, mostrar poder de recuperação pode ser fundamental. Hamilton não se abalou com a posição de largada e apareceu na quarta posição na segunda volta, já no encalço de Rosberg. Isso prova que mesmo cometendo erros, Hamilton é extremamente veloz.

Soube que Vettel teve um momento de “engasopamento”, com o carro parando pela pista e o pessoal do box dizendo que nada estava errado, pelo menos nada que os computadores indicassem. Acostumado aos gritos de “Yes!” depois de cada vitória no ano passado, parece que o tetracampeão soltou um “Sai zica!” (em alemão, claro) não captado pela equipe e, como em um milagre, o carro voltou a andar, só que lá no final do grid, o que iria causar voltas depois um incidente com Esteban Gutiérrez e o abandono definitivo da prova. Banho de sal grosso neste menino urgente, até porque o seu companheiro de equipe Ricciardo continua somando pontos e, depois da primeira vitória na carreira, até a embalagem com o energético da equipe já estampa o sorrisão do australiano. Sinal que ele está agradando e muito. Desta vez, foi oitavo.

Primeiro pódio do finlandes Bottas. Deve vir mais por aí.

Primeiro pódio do finlandes Bottas. Deve vir mais por aí.

Foi nas paradas de box que os carros da Williams trocaram de posição com as Mercedes e entre si. O ritmo de prova dos carros brancos era muito bom, mas a equipe optou por deixá-los na pista por mais voltas que os carros da Mercedes, e nesta briga direta, com os poderosos carros prateados, não deu para Massa segurar a ponta da corrida. Pior, o brasileiro caiu para a quarta posição e ainda foi ameaçado no final da prova por Fernando Alonso, sempre por ali esperando alguém cochilar para subir ao pódio.

Eu não posso afirmar que a corrida de Pérez foi fantástica porque eu não vi, mas sempre quem larga no último terço do grid e chega entre os primeiros, é porque alguma estratégia funcionou muito bem ou porque o piloto fez milagres durante a prova. Sempre me balizando por Nico Hülkenberg, seu companheiro de equipe, contra quem Pérez largou bem atrás e, de novo, chegou na frente, eu diria que o mexicano, quase desempregado ao final do ano passado, tem sido sim digno de respeito. Cabe a ele manter o respeito sem cometer erros bobos ou se envolver em polêmicas, o que parece mais difícil do que ele marcar pontos. Hülk foi nono, a frente de Raikkonen ao final da prova.

Kevin Magnussen, outro que vem dando trabalho para o companheiro de equipe, no caso Button, conseguiu um bom sétimo lugar.

Nico na frente e abrindo pontos. É melhor Hamilton abrir os olhos.

Nico na frente e abrindo pontos. É melhor Hamilton abrir os olhos.

Não me pareceu uma corrida tão disputada em um circuito que realmente permite ultrapassagens. De qualquer forma, fica evidente que não há pacote aerodinâmico que melhore a concorrência em relação aos alemães da Mercedes.

Palpitando:

– Rosberg está conseguindo a constância necessária para ampliar a vantagem para Hamilton e é, neste momento, mais candidato ao título que o inglês;

– Massa conseguiu a primeira pole e Bottas o primeiro pódio da Williams nesta temporada. No caso de Bottas, o primeiro pódio da carreira. O finlandês é osso duro mesmo, e veloz demais;

– Pérez fez a melhor volta da prova. Em um circuito rápido como o da Áustria, isso é indício que vem mais resultados bons para a Force India em Monza e Spa, principalmente;

– A Caterham está com os dias contados.

P.S.: Eu agradeço o respeito e a compreensão de todos para esta resenha. A culpa não foi da Copa nem de nada mais sério. Apenas explicando, eu tinha viagem marcada no último domingo, no horário da corrida, o que eu não costumo fazer. De qualquer forma, com os canais pagos, há sempre o recuso do VT, o que para minha surpresa não foi possível porque o tal canal não tinha liberado no hotel onde eu fiquei. Me desculpo com vocês que sempre me prestigiam mas, depois de não sei quantos GPs consecutivos, me veio a cabeça o GP da Áustria de 2002, só que com a narração do Cléber Machado ao contrário: “Hoje sim, hoje sim! Hoje não?!…” É, domingo não deu. Mas foi coisa pontual, e que espero que não se repita em algumas centenas de GPs daqui em diante. Um abraço a todos.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Perdoado pelo “deslize”, mas que não se repita mais, ok?

    E que a sua resenha da corrida, na sua grande maioria, se mostra mais interessante do que a mesma…

    E falando de Massa, o que fazer? Em voltas rápidas, se mostra mais rápido que Bottas. Mas, em um conjunto de voltas ( não a corrida toda) a impressão que se tem é de que Bottas tem mais ritmo, ou consegue tirar algo mais que deixa Massa para trás.

    Vejamos as cenas dos próximos capítulos a confirmar ou desmentir esta teoria…

    E quanto a Hamilton, a parte pior que ele tem (cabeça) já estaria a dar o ar da graça, por estar atrás do campeonato? Rosberg segue rumo ao título? E como tirar a diferença no campeonato, com carros tão iguais?

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