Muro construído


Nova vitória de Ricciardo, beneficiado pelo toque entre os carros da Mercedes. Rosberg se enroscou com Hamilton no início, e mesmo assim foi segundo, com Bottas em terceiro. E o muro que divide a equipe está lá, para todos verem.

Tira, põe, deixa ficar

Férias tensas da Fórmula 1.

Assuntos mau digeridos durante semanas causaram mais barulho que os motores deste ano. Um deles, meio desapercebido, foi a demissão do responsável pelo desenvolvimento dos motores V6 da escuderia, Luca Marmorini, a quem a equipe italiana atribui boa parte da culpa pelo desempenho abaixo do esperado nas dez primeiras etapas. E parece que o “facão” tá sendo afiado na casa italiana.

Quiseram discutir a eficiência de Vettel comparada a de Ricciardo, o mercado de pilotos se agitou e o primeiro a sentir que algo não está nada seguro foi Kamui Kobayashi, que perdeu o cockpit para Andre Lotterer, o veterano estreante tricampeão das 24 horas de Le Mans que, aos 32 anos, tinha a incumbência de conseguir um resultado melhor para a equipe esmeraldina que, entre outras coisas, trocou aquele bico “sugestivo” por um mais convencional. Kobayashi, ao que tudo indica, volta para o GP da Itália.

Outro que estava perdendo o lugar era Max Chilton, na Marussia. Uns disseram que ele saiu voluntariamente, outros disseram que ele foi convidado a sair. Alexander Rossi, seu substituto, nem chegou a vestir o macacão quando foi avisado que não correria mais na Bélgica, e assim, tudo ficou como antes. A razão da troca? Dinheiro, meu amigo, dinheiro.

Na pista, com o tempo seco, só de Mercedes. Só que no sábado choveu na hora do treino oficial e… só deu Mercedes de novo. A diferença é que o domínio era de Hamilton, domínio este necessário para quem luta pelo título e precisava de um ótimo resultado para diminuir a diferença para o companheiro e principal adversário. A verdade é que, de novo, “na hora da onça beber água”, Rosberg foi lá e ficou com o melhor tempo.

Caterham de bico novo mas com o mesmo desempenho. (Blog do José Ignácio)

Caterham de bico novo mas com o mesmo desempenho. (Blog do José Ignácio)

Se esperava muito dos carros da Williams, mas o piso molhado ainda não é o melhor terreno para o FW36 mostrar seu valor. Bottas e Massa foram ao Q3 mas, discretos, conseguiram apenas o sexto e nono lugares respectivamente, muito pouco para quem, com pista seca, tinha a segunda fila quase garantida.
Surpresa não é ver Fernando Alonso na quarta posição do grid, nem mesmo na pista veloz de Spa e já se sabendo que o motor Ferrari não é aquilo tudo. É que Alonso é Alonso e ponto, e colocou o primeiro carro da Ferrari na segunda fila, quarta posição. Kimi Raikkonen, também foi bem e conseguiu o oitavo lugar, logo a frente de Massa. A surpresa mesmo ficou com o terceiro lugar de Vettel e o quinto de Ricciardo, cujos motores Renault são os menos competitivos da temporada. Como explicar isso? Simples. A Red Bull praticamente reduziu a asa traseira a uma lâmina, deixando o carro um verdadeiro foguete nas retas, ainda que prejudicando um pouco a estabilidade nos trechos mais sinuosos.

A McLaren foi a outra equipe que colocou os dois carros no Q3, com Magnussen e Button em quinto e décimo lugares. Ausência sentida foi a dos carros da Force India, que sempre andaram bem na Bélgica e agora ficaram pelo Q2. Os pilotos da equipe indiana ficaram atrás de Kvyat e Vérgne, caso de Pérez em décimo terceiro, e mais atrás ainda no caso de Hülkenberg, que nem passou pelo Q1.

Lembram de Lotterer na Caterham? Pois é. Com poucos minutos de Q1 e sem ter andado com pista molhada, o alemão estava tomando sete segundos de seu companheiro de equipe e não teria tempo nem mesmo para alinhar no grid pela regra dos 107% do tempo da pole. Pois depois de entender o contexto, Lotterer terminou a classificação um segundo a frente de Ericsson, demonstrando, sim, talento, não aproveitado talvez em sua primeira oportunidade na Fórmula 1 em 2002.

Uma navalhada, independente do sentido

Pista seca para a largada. Na quarta posição do grid, antes da volta de apresentação, uma correria imensa para fazer o carro de Alonso funcionar. Carro no cavalete, uma bateria no chão, um cabo positivo e um negativo. Correria, trazem outra bateria e, com os demais carros partindo para a volta de apresentação, Alonso consegue fazer o carro “pegar” e se recoloca no grid. Todos já sabiam que ele seria punido, só não sabiam como.

Rosberg cai para terceiro na largada e Hamilton avança.

Rosberg cai para terceiro na largada e Hamilton avança.

Rosberg largou mal e deixou não só a ponta para Hamilton como também a segunda colocação para Vettel. O tetracampeão parecia decidido a tomar a ponta de Hamilton, mas cometeu um pequeno erro na freada da curva Le Combes e escapou, voltando ainda a frente de Alonso.

Mais uma volta e Rosberg cola em Hamilton na descida da Eau Rouge e vem forte pela reta. Na trajetória, pelo lado de fora da Le Combes, Rosberg tenta mas Hamilton está a frente quando há um toque entre ambos. Voa uma parte do bico de Rosberg para um lado e fica o prejuízo maior na conta de Hamilton, que acaba com o pneu traseiro esquerdo furado e tem que andar quase cinco quilômetros em três rodas para fazer a troca, caindo para a última posição do grid.

Por esta imagem, a batida era evitável.

Por esta imagem, a batida era evitável.

Um dos detritos de pneu deixados por Hamilton acabou embaixo do carro de Felipe Massa, deixando o brasileiro com o carro bem desequilibrado e minando as chances de um bom resultado. Nestas poucas voltas, Lotterer e Maldonado já tinham abandonado a prova.

Ricciardo, já era terceiro atrás de Vettel e se aproveitou de uma “sambadinha” do companheiro para assumir a segunda posição. Como Rosberg apresentava um ritmo “convencional”, os seis primeiros ficaram muito próximos. Rosberg, Ricciardo, Vettel, Alonso, Bottas e Raikkonen davam o tom da corrida.
Bottas passou por Alonso e assumiu a quarta posição ainda antes da décima, pouco antes da entrada de Rosberg para a troca de pneus e de bico. Raikkonen veio junto, mas deixou o bico do mesmo jeito.
Quando Rosberg voltou a pista, um fato inusitado aconteceu com ele. O que parecia ser uma “rabiola de pipa” enroscou em das pequenas antenas que ficam a frente do carro e a cena de Rosberg tentando se livrar dela foi até divertida. Algumas voltas depois, o alemão meio que amarrou a linha dentro do cockpit e se livrou do problema.

Quando Alonso foi para sua primeira parada, Alonso já sabia que teria que pagar sua penalidade pelo problema na largada. Apenas 5 segundos foi a pena dada pelos comissários, e pode-se dizer que ficou barato para o espanhol.

Lá na frente, depois de fazer a sua parada, Ricciardo liderava a prova, com Raikkonen em segundo e Vettel em terceiro. Rosberg era o quarto e na investida para tentar ganhar a posição de Vettel, deixou o pneu quase sextavado e o obrigou a mais uma troca ainda na volta vinte, porque a vibração era grande segundo ele. Bottas pulou então para quarto.

Belas disputas foram possíveis pela melhoria da Ferrari e da Red Bull.

Belas disputas foram possíveis pela melhoria da Ferrari e da Red Bull.

Hamilton era apenas décimo quinto, fora da zona de pontos, e não conseguia melhoria no desempenho para lutar pelos pontos. Já Felipe Massa, depois da segunda parada, teve seu desempenho melhorado, mas já era tarde para conseguir um resultado como se esperava para a Williams.

Pode pagar o pedreiro

Ricciardo estava quinze segundos a frente de Bottas quando fez a segunda parada e voltou apenas três segundos atrás do finlandês, mas não teve o trabalho de lutar para reconquistar a ponta porque Bottas parou logo na volta seguinte, deixando o caminho livre entre Ricciardo e Rosberg.

Bottas, em quinto, vinha decidido e fez linda ultrapassagem sobre Vettel. A fase do piloto da Williams e o talento natural deste menino deve manter a audiência das corridas na Finlândia emm alta por muito tempo ainda.

A equipe Mercedes incentivava Rosberg dizendo pelo rádio que ainda era possível vencer a prova, mas para isto o alemão teria que virar muito rápido. A superioridade do carro alemão permitiu que Rosberg parasse de novo, perdesse e recuperasse as posições para Raikkonen e Bottas e ficasse a vinte segundos do australiano faltando ainda 8 voltas.

Magnussen foi bravo, mas os fiscais entenderam um pouco diferente.

Magnussen foi bravo, mas os fiscais entenderam um pouco diferente.

Depois de serem ultrapassados por Rosberg, Bottas e Raikkonen queriam decidir qual finlandês iria para o pódio. Deu Bottas, com sobras.

Hamilton recolheu, era décimo sexto. Pelo menos chegou primeiro na reunião da equipe após a corrida.
A quatro voltas do final, Rosberg havia tirado metade da diferença, ou seja, na média, Rosberg chegaria em Ricciardo e decidiria talvez na última volta quem venceria. Mas enquanto Rosberg fazia sua parte, pouco mais atrás, Magnussen tentava segurar a todo custo as investidas de Alonso, Button e Vettel, que vinham separados por menos de dois segundos. A briga dos quatro a mais de 300km/h, com Alonso na grama, foi uma das mais sensacionais da temporada. Button se aproveitou e passou por Alonso, que recuperou-se em seguida e Vettel passou por Button. Ainda muito próximos, Alonso toma outra fechada de Magnussen e vai para fora da pista mais uma vez e agora é Vettel que ganha a posição do espanhol. Em seguida, Vettel supera Magnussen com uma manobra planejada e de quem sabe tudo de Fórmula 1, mesmo não estando em boa fase. Ainda na última volta, Alonso deu uma escapada na saída da Eau Rouge e voltou perigosamente a frente de Button. O inglês acabou superando o piloto da Ferrari e chegou na sexta posição com o bico avariado em uma das aproximações com Vettel.

E não é que deu Ricciardo de novo? O piloto australiano nem se importou com a aproximação de Rosberg no final e selou a terceira vitória do piloto sensação da temporada. Rosberg em segundo e Bottas no pódio, de novo completaram os três primeiros. Raikkonen fez uma corrida como se esperava dele desde que voltou para Maranello e ficou em quarto. Vettel foi o quinto e Magnussen seria o sexto, mas pelas fechadas em Alonso, tomou 20 segundos de punição e acabou ficando, inclusive, fora da zona de pontos. Button, Alonso, Pérez, Kvyat e Hülkenberg completaram os dez primeiros.

Alguém imaginava duas vitórias seguidas de Ricciardo?

Alguém imaginava duas vitórias seguidas de Ricciardo?

Só que o clima na Mercedes pesou mais do nunca. Hamilton saiu da reunião dizendo que Rosberg assumiu que fez o que fez propositalmente. A direção da Mercedes disse que Rosberg “optou por não evitar a batida”, mas não acusou o alemão formalmente até o momento, mas considerou inadmissível o ocorrido hoje, que tirou mais uma dobradinha certa da equipe. E a tendência é piorar…

Palpitando…

– Se Rosberg e Hamilton decidirem por acabar suas rixas em pizza, a próxima etapa é a mais indicada;

– Raikkonen e Alonso estão garantidos na Ferrari para a próxima temporada e o anúncio deve sair em Monza;

– A Toro Rosso anunciou Max Verstappen, filho do ex-piloto Jos Verstappen, como titular da equipe para 2015, provavelmente no lugar de Jean-Eric Vérgne. Detalhe: Verstappen Jr tem só 16 anos de idade atualmente e vai formar a dupla mais jovem da história da Fórmula 1 com o Kvyat;

– Então a punição para Alonso foi de 5 segundos durante o pit-stop e a de Magnussen 20 segundos no tempo da corrida. Sei…

– Felipe Nasr vem fazendo bonito na GP2, venceu a etapa da Bélgica e briga não só pelo título da categoria, mas também por uma vaga na Fórmula 1 em 2015;

– Correu uma notícia de que as transmissões da Fórmula 1 no Brasil sairia da TV aberta já em 2015 e migrariam para os canais fechados. Parece que isto ainda não vai acontecer, mas, para mim, é certo que não demorará, principalmente se o jejum de bons resultados continuar.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

3 Responses

  1. Estéfano says:

    Bom dia!

    Porque não mudam o nome do site de “No Trânsito” para “Na Pista”?
    Foi-se o tempo que o site era bom, com flagras de carros periodicamente e não uma vez por mês.
    Não sou fã de fórmula 1, mas só de olhar por cima as matérias entendo que são muito bem formuladas e boas!
    Porém o propósito inicial do site já foi pro saco há muito tempo.

    • Olá Estéfano,

      Poderia começar com o velho jargão “sua opinião é muito importante para nós”, o que não deixa de ser verdade. Você tocou em ponto que me deixa extremamente envaidecido, que é a receptividade e a qualidade de nosso trabalho (se é que posso chamar assim), o qual por vezes eu mesmo questiono e critico por não ter o espaço de comentários populado.
      Digo isso porque, se as corridas não fossem a cada 15 dias em média, acho que eu também não teria o número de resenhas e textos publicados aqui como aconteceu até o momento. Por etapa, são pelo menos 3 posts (2 do Bolão e um da própria corrida). E, confesso, leva tempo para preparar, executar e conferir, e mesmo assim, coisas erradas acabam passando.
      Manter um site como este demanda tempo e assuntos interessantes, e aqui sempre teve isso, seja “no trânsito” ou “na pista”. A frequencia de posts sobre flagras e carros de luxo realmente caiu, é fato, mas não deixou de manter a qualidade não só nas fotos mas também, e cada vez mais, nas matérias sobre as máquinas clicadas.
      Eu ainda preciso me empenhar mais para torná-lo um fã da Fórmula 1, e vou continuar tentando, ainda mais depois deste elogio. Tenha certeza de que estamos olhando para tudo e tentando manter e melhorar, ainda que careça de uma reformulação, as melhores máquinas do mundo, seja na pista ou no trânsito.
      Um grande abraço.

  2. Bruno Cardoso says:

    Laurão

    É melhor avisar o Massa para tomar um banho de sal grosso, e fechar a boca, porque é muito azar para uma pessoa só. Ou seria perseguição com os brasileiros?? Só acontece esse tipo de incidente, com Massa e Rubinho?
    O jeito é esperar o Nasr mesmo!

    Abração
    Bruno

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