Dentro da margem de erro, para mais, ou para menos
A vitória de Hamilton no GP de Cingapura o colocou na liderança do mundial a cinco etapas do final. Rosberg, apesar do abandono, tem apenas 3 pontos de desvantagem, e o final caminha para ser dos mais equilibrados dos últimos anos com este empate técnico momentâneo. Vettel e Ricciardo completaram o pódio.
007 contra os alemães
A competitividade entre Hamilton e Rosberg tem alcançado níveis interessantíssimos. No GP de Cingapura ela foi muito acirrada. Pelo menos nos treinos. Tudo bem que Fernando Alonso resolveu colocar muita pilha nos treinos livres e chegou a liderar dois deles, inclusive o terceiro treino livre, aumentando a responsabilidade da dupla prateada em não deixar escapar a primeira fila. Até Daniel Ricciardo andou forte também, ameaçando uma das vagas da primeira fila.
Mas o que me chamou a atenção, de novo, foi aquele algo a mais que me faz pensar que Hamilton só perde para ele mesmo. Explico: Analisando todas as classificações em Cingapura, Rosberg somente esteve a frente de Hamilton em um dos treinos livres, justamente quando a diferença entre os dois foi a maior de todas em treino. Os 0.250s de vantagem para o alemão no TL3 dava a impressão de que Rosberg tinha como controlar Hamilton com sobras, e foi o que ele acreditou até fechar a sua volta, já com o cronometro zerado, e ficar com a pole… por alguns instantes.
Hamilton vinha muito forte, e mesmo admitindo um pequeno erro, baixou o tempo de Rosberg em 0.007s. Um nada, que era tudo que o alemão não queria. E esbravejou um “que droga!” pelo rádio logo que soube do ocorrido.
Alonso não conseguiu repetir o desempenho dos treinos livres e ficou atrás da dupla da Red Bull, Ricciardo e Vettel, já na ordem natural de 2014 da casa austríaca. Felipe Massa conseguiu um excelente sexto lugar, e viu seu companheiro Bottas ficar apenas em oitavo, atrás de Kimi Raikkonen. Vale dizer que a Williams se achou durante o final de semana porque os primeiros treinos livres davam a impressão de uma briga apenas para fugir do Q1.
Os estreantes Kevin Magnussen e Daniil Kvyat foram os outros dois que chegaram ao Q3, ficando respectivamente em nono e décimo lugares respectivamente. E esta tem sido uma boa briga também para ver quem vai ser o melhor estreante da temporada. Meu voto é pro russo, por enquanto.
Os demais?
Bom, começando pelos companheiros de Magnussen e Kvyat, Button e Vèrgne, que não conseguem andar na frente dos meninos e, pior, não conseguem cockpit para o ano que vem. Pode ser que os dois resolvam abrir uma lavanderia express juntos ano que vem.
Discretíssimo este ano, Nico Hülkenberg pelo menos ficou a frente de Sergio Pèrez. Ainda assim, melhor ter ido para a Force India do que para a Lotus, que vive brigando com a Sauber para ver quem fica entre os seis eliminados no Q1. Gutiérrez e Grosjean foram para o Q2, Sutil e Maldonado ficaram mais atrás. Normal.
Não pegou e não largou
Iria acontecer um dia algum problema maior com Rosberg. Nada contra o filho de Keke, apenas uma situação natural que deve ocorrer com os pilotos algumas vezes em uma temporada completa. Rosberg não partiu para a volta de apresentação devido a uma substância estranha e invisível, segundo investigações da própria equipe (uma das vantagens de escrever depois de uma semana é esta, ter mais detalhes). E Rosberg teve que largar dos boxes.
Hamilton, assim, teve uma largada mais tranquila e permaneceu na ponta enquanto Ricciardo, Vettel e Alonso brigando pela segunda posição. Deu Vettel, que teve a vida facilitada pela ausência de Rosberg. Fernando Alonso deu uma bela cortada na chicane e passou os pilotos da Red Bull, mas depois devolveu a posição para Vettel, se “esquecendo” de fazer o mesmo com Ricciardo.
Pouco mais atrás, Magnussen e Button já começaram se estranhando e Massa pode recuperar posições depois de uma largada ruim.
Era a corrida da economia de pneus, coisa que todo mundo sabia. E as paradas começaram cedo, com Felipe Massa. E a segunda parada de Felipe foi feita na volta 23, restando ao brasileiro mais 38 improváveis voltas para tentar se segurar entre os primeiros.
Rosberg tinha problemas sérios no carro e acabou por abandonar ainda antes do início das paradas de box, e a vitória de Hamilton era praticamente certa. Só que corrida em Cingapura sem safety-car não existe, certo Flávio? (um doce para quem acertar o sobrenome do capo). Desta vez a entrada do carro de segurança foi em razão da briga nada sutil entre o piloto da Sauber homônimo ao adjetivo de delicadeza e o intrépido Sergio Pèrez. O mexicano ficou sem bico e tinha tanto detrito na pista que parecia que o Dick Vigarista tinha passado por lá e deixado obstáculos para não ser alcançado. Foram 8 voltas de faxina com direito a adicional noturno da rapaziada.
A maior briga da prova ficou entre os pilotos da Red Bull e Fernando Alonso. Vettel chegou a assumir a primeira posição depois de Hamilton fazer sua última parada mas, mesmo assim, Hamilton não teve dificuldade para triunfar mais uma vez, com a companhia dos pilotos da Red Bull no pódio. Vettel tirou alguns milímetros do sorriso de Ricciardo chegando a frente do australiano.
Como vovó dirigia
Massa foi quem fez uma corrida muito interessante, economizando muito os pneus e batizando seu estilo de dirigir como uma vovó faria. Isto o fez segurar uma excelente quinta colocação, justamente em uma prova em que Valteri Bottas ficou fora da zona de pontuação. Digam o que quiserem, mas somente um piloto com sensibilidade e experiência poderia ter feito o que fez Felipe Massa, ainda mais porque o carro da Williams não é um primor de equilíbrio.
Outro destaque interessante foi a recuperação de Jean-Éric Vèrgne durante a prova e, mesmo tendo sido punido em disputa com Maldonado, chegou em sexto lugar. Mas, sem dúvida, o que mais chamou a atenção foram as constantes levantadas de mão de Magnussen, tentando fazer com que alguma parte de seu corpo se refrigerasse. O piloto avisou pelo rádio que a água que serve para hidratar os pilotos estava fervendo e suas nádegas estavam em brasa, porque alguém esqueceu o botão que aquece o banco no “on”. Será que foi o Jenson? Brincadeiras a parte, Magnussen é um exemplo que quão exigente é a corrida na cidade-estado de Cingapura, ainda mais com a corrida tendo terminado pelo tempo de 2 horas devido a longa intervenção do safety-car. É preciso que a saúde e integridade física dos pilotos seja preservada, já que piloto de verdade não tem integridade mental (no bom sentido, sempre).
Sérgio Pèrez merece menção honrosa por ter conseguido o sexto lugar mesmo tendo o nariz do bólido estraçalhado na briga com Sutil.
Entre o sexto e o décimo quarto, apenas 14 segundos de diferença nas 22 voltas normais depois do safety-car. Uma corrida até um tanto sonolenta, mas que evidenciou mais uma vez a velocidade de Lewis Hamilton, que quando teve de andar forte, mesmo com pneus já um pouco desgastados, o fez, e bem.
Agora, é Rosberg quem tem que correr atrás de Hamilton e deixar de lado um pouco a pilotagem mais burocrática que lhe é peculiar, visto que a regularidade, agora, não mais lhe é toda favorável. Faltam apenas cinco etapas com pontuação de seis, já que a última terá pontuação dobrada, lembram? E o final pode ser épico, não sei se a ponto de termos um final estilo Senna e Prost como em 1989 e 1990, o que seria lamentável, mas neste quesito, acho que Hamilton tem um atenuante.
Palpitando:
– Fala-se na saída de Alonso da Ferrari e sua ida para alguma escuderia prateada. Antes, associava-se o nome do espanhol a McLaren e a Honda. Agora, já se fala em Mercedes, no lugar de Hamilton. O mercado está aqueci do demais;
– A Honda deveria fazer o anúncio da dupla de pilotos no Japão, próxima etapa, mas adiou. O motivo? O mesmo do ítem acima;
– Até Rubens Barrichello se ofereceu para ser piloto de testes da Mercedes para alguns quilômetros. Precisam colocá-lo para fazer propaganda de um site de vendas para ver se o menino desapega de vez;
– Rosberg tem 7 poles, Hamilton tem 6. Rosberg tem 4 vitórias, Hamilton 7. Se Hamilton ganhar mais uma, Rosberg poderá, no máximo, empatar com ele neste quesito, pois faltam apenas cinco etapas. Como a diferença entre eles é de 3 míseros pontos, fica evidente como Rosberg prefere “cozinhar o galo” e Hamilton é mais “win or wall”;
– Lucas Di Grassi venceu a primeira corrida da Fórmula E depois de um acidente assustador entre Prost Jr e Nick Heidfeld na última volta, quando brigavam pela liderança. Di Grassi escreve seu nome na história como o primeiro piloto a vencer na nova categoria, apesar de lamentar o acidente entre os competidores que iam a sua frente.