Acontece nas melhores famílias
Hamilton teve a vitória nas mãos, nos pés e na cabeça, só que a equipe errou feio com ele e deu de presente a vitória para Rosberg, perdendo uma dobradinha certa e acirrando o campeonato. E o mundo julga e precocidade de Max Verstappen pelo forte acidente em que se envolveu.
Mônaco e suas possibilidades
Semana agitada essa que antecedeu o GP de Mônaco. Mesmo com limitações nos pensamentos, dá-se como certa a volta do reabastecimento em 2017. Cogitou-se a possibilidade de mais fabricantes de pneus e considera-se firme a proposta de alteração dos motores. É bom que pensem, e rápido, e decidam pelo melhor para o esporte e para o espetáculo.
Na pista, meus amigos, um quase mesmo de sempre. Lewis Hamilton tinha 42 poles na carreira mas nunca em Mônaco. Pois é, chegou o dia. Podemos dizer que Rosberg chegou a assustar, no Q2, onde foi muito mais veloz que Hamilton e Vettel, os principais adversários. Mas o inglês tinha sobra para cravar a pole e o fez com certa tranquilidade, colocando mais de três décimos sobre o companheiro Rosberg. Vettel não foi ameaça, ficou a mais de sete décimos, mesmo em um circuito em que a potência não é fundamental, mas sim o torque e o equilíbrio da suspensão.
Olhem para o caso do Ricciardo e do Kvyat, quarto e quinto colocados no grid respectivamente. O tempo de ambos foi praticamente o mesmo, em torno de um segundo a mais que o de Hamilton, o que mostra claramente que o problema do carro é a falta de potência do motor Renault para circuitos em que há retas maiores e curvas mais velozes. Belo trabalho dos meninos e lamentos por parte de Ricciardo, que queria a segunda fila de qualquer jeito. Raikkonen, mais introspectivo que o normal, fechou em sexto apenas.
E a quarta fila então? Guacamole com plátano. Sergio Pérez, que a alguns anos sofreu um fortíssimo acidente nesta pista quando ainda corria pela Sauber, conseguiu um surpreendente sétimo lugar, não pelo final de semana em si, mas mais pelo que a Force India ainda carece em oferecer. Ao seu lado, Pastor Maldonado, o “Mad’Donado”, rápido e louco como sempre. Fato é que conseguiu ficar a frente do Grosjean, seu companheiro de equipe, que seria o décimo não fosse a troca de câmbio que lhe custou cinco posições. Aliás, o lugar de Maldonado era para ser de Carlos Sainz Jr, mas o espanhol foi desclassificado porque não fez a pesagem do carro durante o treino. Vergonha de uns quilinhos a mais? Custou ao bom piloto espanhol a última colocação no grid.
Com as duas punições, Max Verstappen, o pré-mirim, subiu para a nona posição e em décimo estava ele, altivo, Sir Jenson Button. Pela primeira vez a McLaren tinha chances reais de pontuar, mesmo com Fernando Alonso tendo conseguido apenas a décima terceira posição. Também ele, Alonso, garantiu que os carros empurrados com motor Honda tinham condição de passar para o Q3 desta vez. Assim como a Renault, uma clara referência que o motor não empurra como deveria.
Sentindo falta das Williams? Pois a equipe não se achou mesmo no Principado, tanto que Bottas foi eliminado no Q1, o que não acontecia desde 2013, quando a Williams se arrastava, lembram? Felipe Massa não foi muito longe também não, ficando originalmente com o décimo quarto lugar originalmente, décimo segundo com as punições. O outro brasileiro, Felipe Nasr, assim como seu companheiro Marcus Ericsson, mostraram claramente as limitações da Sauber, sem forças para passar para o Q2 e fazendo companhia para Bottas e com os dois carros da Manor.
Imaginem se pintarem as ciclo-faixas
Nem comentei sobre o Nico Hülkenberg nos treinos, mas ele largou logo na frente de Felipe Massa e foi o protagonista da primeira volta, em um certo toma lá, da cá. Primeiro, na disputa com o próprio Massa logo após a Saint Devote, o alemão acabou tocando no carro de Massa e o resultado foi uma esmerilhada na roda dianteira do brasileiro que teve que se arrastar pela pista por uma volta inteira até chegar aos boxes. Logo em seguida, o mesmo Hülkenberg tomou um chega pra lá de Alonso na curva Mirabeau e perdeu o bico do carro, teve que dar marcha a ré, e também caiu para as últimas posições.
Lá na frente foi tudo bem. O Vettel até tentou tomar a posição de Rosberg mas não conseguiu. Quem se deu melhor foi o Kvyat sobre o Ricciardo. Os dois carros da McLaren, Button e Alonso, eram décimo e décimo primeiro respectivamente, ao final da primeira volta, mas o espanhol tomou uma punição de cinco segundos pela fechada em Hülkenberg.
O Verstappen é um cara arrojado e ele foi o segundo protagonista da prova. Fez uma ultrapassagem sobre Maldonado primorosa e arrojada. Lado a lado, com frieza, o menino foi tão competente que Maldonado acabou encostando nos boxes logo depois e abandonando a prova (por problemas mecânicos, claro, é só brincadeira).
Vieram os pit-stops e tudo se mantinha da mesma forma, mas na vez de Verstappen, a equipe se atrapalhou um pouco, colocando o menino lá atrás. Isso seria fundamental para algo que mudaria a história da prova mais para o final.
A corrida, em si, muito, mas muito monótona. Deu tempo para fazer curso de economia global, assistir aos discursos de Fidel Castro e deixar o Suplicy falando sobre o renda mínima até te convencer do projeto. De efetivo mesmo, o abandono de Fernando Alonso, a inversão de posições de Raikkonen sobre Ricciardo na parada de box. Foi ai que o Verstappen apareceu de novo.
O menino brigava com Bottas e foi para mais uma parada, sem finalizar a manobra. Quando voltou, embolado com os líderes mas disputando posição com o mesmo Bottas, que também havia parado de novo, e com Sainz Jr, Verstappen foi bem malandro. Atrás de alemão da Ferrari, o pequeno belga quase que se camuflou e quando Sainz Jr abriu para Vettel passar, Verstappen foi junto. Quando foi a vez de Bottas, o mesmo truque e Verstappen ganhou duas posições. Eu já estava achando o menino genial, mas quando chegou a vez de Grosjean…
Na mesma tentativa de carona com Vettel, Grosjean foi mais esperto e fechou a porta. Mas Verstappen estava muito mais rápido e vinha colado no francês. Descendo a famosa “reta curva”, Verstappen abriu para passar por fora mas tentou um drible, acabando por bater na roda traseira do Lotus, indo bater de frente com guard-rail da Saint Devote. Violenta a batida, dura, mas Verstappen saiu sozinho, consciente.
Aqui, a corrida mudou.
Foi sem querer querendo
Sem entender muito o porquê, Hamilton apareceu nos boxes para uma nova troca de pneus, faltando pouco mais de dez voltas enquanto se retirava o carro do menino Verstappen. Mas, para que? Evitar um infortúnio, não dar sopa para o azar? Em suma, garantir a vitória. E foi isso mesmo que a Mercedes conseguiu tirar de Hamilton.
Saindo dos boxes, Hamilton voltou lado a lado com Vettel, mas atrás de Rosberg, e ainda perdeu a posição para o alemão na subida do cassino. Tudo isso ainda atrás do safety-car. Faltavam nove voltas quando liberaram a briga novamente.
Rosberg, então, abriu de Vettel enquanto Hamilton ficava preso atrás do alemão. Pelo rádio, Hamilton já praticamente jogava a toalha e parecia não acreditar no que estava acontecendo. Em Mônaco, quando um não quer, dois não brigam, como diz o velho ditado.
Ainda teve espaço para mais um pequeno show, o de Ricciardo, que passou Raikkonen na base da força, com direito a toque, depois passou por Kvyat e chegou a colar em Hamilton faltando três voltas para o final. Acabou sendo dele, inclusive, a melhor volta.
A Fórmula 1 é, por vezes, injusta. Hoje, foi com Hamilton, mas a grande patacoada foi protagonizada pela Mercedes, que assumiu que fez uma conta errada, que o que era para sair assim acabou saindo assado, e tal. Perderam a dobradinha por isso e, com certeza, criaram uma saía justa com o inglês. Por merecimento, Hamilton deveria ter cruzado a frente, com seus opositores abrindo caminho. Isso não existe na Fórmula 1. Ou melhor, existe sim, claro.
O Ricciardo, quando percebeu que não conseguiria o pódio com sua estratégia suicida de virar tempos de treino nas voltas finais, retribuiu a gentileza de Kvyat e deixou com que o russo cruzasse na quarta posição, em uma atitude, no mínimo, louvável. Foi a equipe que “recomendou”, mas não tira o mérito pela atitude do australiano. Raikkonen foi o sexto, Pérez, um excelente sétimo lugar. E os três últimos que pontuaram tem mérito por razões diversas.
Button foi o oitavo, garantindo os primeiros pontos dele e da McLaren no Mundial de 2015. Não é nenhum gênio o Button, mas é constante e a equipe pode confiar nele. Felipe Nasr, aproveitou muito bem os abandonos dos que foram a sua frente e voltou a marcar pontos para ele e para o time, muito valiosos a medida que a equipe já não corresponde ao que se esperava dela. E em décimo, Sainz Jr, que saiu da última colocação na largada para a zona de pontos. Continua fazendo um ótimo campeonato. Os dois carros da Williams, fora dos pontos.
Na hora da premiação, Rosberg era só euforia, Vettel também, e Hamilton era a cara de parte anatômica usada para se apoiar quando está sentado. A diferença que isso fez no campeonato foi trazer para apenas 10 pontos a distância que, hoje, poderia ter sido de 27 pontos ao final da prova. Acho que vai ter coisa no Canadá.
Ao desligar dos motores…
– O que são as teorias conspiratórias… O preço de Hamilton por ter renovado com a Mercedes era que entregasse a vitória para Rosberg em Mônaco. Pelo amor de Deus, nada disso! Mas se Tio Bernie mandou, aí já não sei;
– Verstappen foi punido em 5 posições no grid para o próximo GP por ter sido considerado culpado no acidente com Grosjean. Para mim, o francês freou um pouco antes, e Verstappen também achou, mas não adiantou nada se defender;
– Ainda sobre Verstappen: quando um piloto qualquer causa um acidente como este, julgam ele pela personalidade e pela habilidade (ou falta dela). No caso do menino belga, a discussão é sobre a sua maturidade aos 17 anos. Para mim, direto ao assunto, Verstappen já demonstrou que pode ficar no grid sim. Não está maduro, mas não é podre como alguns que já passaram pelo circo. Vai se firmar e vai incomodar. Aliás, já está incomodando;
– Rosberg reconheceu que Hamilton merecia a vitória, mas quer saber de comemorar apenas, justamente onde começou a se desentender com Hamilton ano passado;
– Momento glamour: o vestido da Princesa Charlene não se encontra nas melhores casas do ramo, só “na” melhor delas.
Sensacional Lauro! Principalmente a descrição da cara do Hamilton no pódio!!! kkkk
Abração
Ainda bem que eu não precisava garantir o refrão. Um abraço!
Alguém também contou quantas vezes o Galvão “viúva” Bueno fez referência a figura do Ayrton Senna durante a corrida?
Em vinte eu parei, virei pro lado, dormi e assisti o resto no domingo a tarde…
Cara de nádegas? Ele queria mesmo é matar metade da equipe a unha!
E continuando e aumentando as teorias conspiratórias tiradas de “debaixo do braço”, olha só essa: Toto Wolff, alemão; equipe com motores Mercedes, alemã; Nico Rosberg, alemão.
E alguém ainda acha que o Hamilton tinha chance de levar essa com o passeio que foi todo o final de semana? Inocentes…
E o Maldonado sendo “responsabilizado” pelo acidente sem imagens na transmissão? Várzea total!
Então Glauco, eu posso dizer muito sobre a transmissão, mas nada mais sobre a narração. Por questões técnicas, eu tenho ouvido as provas por outro canal. Mas a transmissão em si foi péssima, sem os replays, sem os principais lances.
Sobre as teorias conspiratórias, é sempre muito polêmico declarar algo, mas faz parte. Acho que houve um erro de cálculo, simples, mas questiono o risco de se jogar uma vitória fora. E se a pistola não funciona? E se o macaco não sobe o carro? E se alguém pede uma selfie durante a troca? Muito risco para nada.
Já o Maldonado, é só uma questão de fama.
Um grande abraço!
Lauro Vizentim, está de parabéns pela sua análise, uma das melhores em relação a blogs que não estão ligados a alguma empresa. Show de bola, abraços.
Obrigado Omega. Espero que você nos prestigie com mais comentários sempre que tiver oportunidade. Um abraço.