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O circuito de Spielberg, casa da Red Bull, viu mais uma dobradinha da Mercedes e a volta de Felipe Massa ao pódio, mas a corrida foi marcada pelo forte acidente entre Raikkonen e Alonso, logo na largada.

Punir, o novo esporte

Se vale aqui uma crítica para o esporte a motor é de que, sempre, vai ter alguém querendo levar vantagem técnica quando o regulamento é muito restrito. Mas as restrições, sempre pautadas na busca da redução de custo e equilíbrio da categoria, acabam trazendo situações absurdas como aconteceu neste GP da Áustria: um grid de 20 carros com 70 posições só de punições a serem cumpridas.

Todas estas punições recaíram sobre as equipes Red Bull e McLaren. No caso da equipe da casa, Daniil Kvyat e Daniel Ricciardo receberam 10 posições de penalidade cada por trocarem seus motores. Ricciardo ainda tomou mais 5 segundos de penalty para serem acrescentados na corrida (não sei exatamente qual o motivo, confesso).

Agora olhem o caso da poderosa McLaren: cada um de seus pilotos tomou 25 posições de punição por terem trocado motor, o turbo e a unidade de geração de energia (MGU). Alonso ainda foi presenteado com um drive-through e Button com um stop and go de 10 segundos. Com dificuldades de passar para o Q2, a McLaren e, se as posições tivessem que ser pagas em cada corrida, a McLaren só voltaria a alinhar seus carros no grid nas últimas etapas do Mundial. Dureza…

Mas vamos para a pista e aos tempos cronometrados, que foram sempre marcados pela briga caseira da Mercedes e a ameaça da Ferrari em colocar um de seus carros na primeira fila, com chances de marcar a pole, inclusive. A Williams não estava ameaçando tanto como o fez no ano passado, onde Felipe Massa marcou a pole. Kimi Raikkonen era um nome forte, aparecendo sempre entre os três melhores tempos de todos os treinos livres e Vettel chegou a ter a melhor marca no treino que antecedeu ao oficial. Só que “deu ruim” pro finlandês.

Um Ferrari tão perto assim de um Mercedes, só no treino.

Um Ferrari tão perto assim de um Mercedes, só no treino.

Ainda com a pista úmida por causa da chuva, Kimi Raikkonen ficou apenas com o décimo oitavo tempo, muito decepcionado mas não quis falar muito sobre o problema, o que já era esperado. Com as punições da Red Bull e da McLaren, e o pífio desempenho dos carros da Manor, Raikkonen largaria em décimo quarto, só que isso era muito pouco para quem andou tão bem o restante dos treinos. E olha que o Kvyat marcou o quinto tempo e, com as dez posições de punição que cumpriu, largou logo atrás do finlandês da Ferrari. Pelo Q2 ficaram também Sergio Pérez, Carlos Sainz Jr, Marcus Ericsson e Pastor Maldonado, este último conseguindo, por fim, a décima posição com a punição de Kvyat.

A maioria das equipes colocou pelo menos um representante no Q3. A Lotus foi com Romain Grosjean, a Sauber foi com Felipe Nasr, que fez um treino muito bom e a Toro Rosso viu o menino Vertappen mais uma vez mostrar sua velocidade. No grid, todos foram beneficiados pela punição de Kvyat e alinharam respectivamente em nono, oitavo e sétimo lugares.

Como disse antes, a Williams não ameaçou como se esperava e Valteri Bottas colocou o carro branco em sexto, logo atrás de Nico Hülkenberg. O alemão, com a moral em alta depois de ter feito parte da equipe vencedora das 24 Horas de Le Mans, uma semana antes, voltou a ter o nome comentado para futuras oportunidades. Estes dois foram os últimos beneficiados por Kvyat.

Nas duas primeiras filas, um excelente quarto lugar de Felipe Massa, que contou com muitas atualizações no carro mas percebeu que, apesar disso, ainda tem que remar mais ainda para alcançar os carros de Maranello. De qualquer forma, tinha o direito de comemorar e sonhar com a possibilidade de pódio, por que não?

A sua frente, Sebastian Vettel, que sempre ameaçou tomar um lugar na primeira fila, mas a mesma acabaria de novo com a Mercedes, que viu seus dois pilotos brigando até o final e, mesmo já com a pista seca, ambos acabaram cometendo erros em suas últimas tentativas. Hamilton rodou forte na freada da primeira curva quando ainda queria ratificar sua posição de líder, e Rosberg cometeu uma escapada ao tentar fechar sua última volta rápida e foi para a caixa de brita na curva que antecede a linha de chegada. Ambos não danificaram os carros, mas queriam mesmo era danificar o psicológico do adversário, tentando até o limite algo que intimidasse o oponente.

Quadragésima quinta pole de Lewis Hamilton, igualando-se a Sebastian Vettel. Ambos têm 20 poles a menos que Ayrton Senna e 23 a menos que Michael Schumacher, o recordista. No ritmo que está, teoricamente, até o final de 2016 Hamilton tem totais chances de bater este recorde, pois serão mais de 30 corridas e ele precisaria fazer 2 em cada três. Olhem os recordes outrora inatingíveis sendo alcançados.

Olha o Rosberguinho fugindo.

Olha o Rosberguinho fugindo.

Kimi viu que a coisa é perigosa sim

A particularidade da pista austríaca faz com que todos fiquem mais atentos a segunda curva do que a primeira. Explico: é que a Remus, a segunda, é uma curva de mais de noventa graus e vem depois de um trecho de aceleração muito longo, com os carros ultrapassando aos 300km/h e, como ninguém quer perder tempo na largada, todo mundo chega junto nela, dividindo a pista, as vezes, em até três carros paralelos.

Logo na primeira curva, porém, Rosberg já havia deixado Hamilton para trás e, lá no meio do gris, Ericsson quase fez uma lambança, queimando a largada e parando de acelerar quando o sinal vermelho se apagou. Mas todo mundo se ajeitou após a primeira curva e na Remus tudo parecia normal, até que na saída dela, um grande susto.

Sabe-se lá porque, Raikkonen já estava com o carro alinhado depois de contornar a Remus e, de repente, ao tracionar, perdeu o controle do carro e acabou saindo para a esquerda. Lá estava Fernando Alonso e suas punições. Sem poder fazer nada, Alonso foi colhido pela Ferrari de Raikkonen e ambos foram bater forte no guard-rail e se arrastarem por vários metros e terminarem amontoados. Por sorte nada aconteceu com Raikkonen que, esperto, recolheu as mãos quando viu que não tinha mais o que fazer (procedimento normal entre os pilotos) e evitou piores consequências. Curioso é que na semana anterior ao GP, ele Raikkonen disse que a F1 precisava ser mais perigosa, discurso reforçado por Niki Lauda. Acho que ele deve repensar no assunto, mesmo que não diga nada a respeito, como usual.

É triste ver dois campeões mundiais, pilotos velozes e de comprovado talento, ficando de fora logo de cara e brigando para sair das últimas posições. E deu safety-car, claro, por sete voltas.

A lamina lateral do assoalho do McLaren de Alonso passa sobre o cockpit de Raikkonen. Ainda bem que nada de grave aconteceu.

A lamina lateral do assoalho do McLaren de Alonso passa sobre o cockpit de Raikkonen. Ainda bem que nada de grave aconteceu.

Na relargada, Rosberg não deu chances para Hamilton e continuou segurando firme a ponta, enquanto o inglês também deixava Vettel sem muita ação. Pouco mais atrás, Sainz Jr passou por Grosjean para ficar temporariamente na zona de pontos.

Jenson Button, coitado, deu dez voltas apenas e também encostou a outra McLaren. Mais um campeão fora de combate.
Ericsson acabou punido com um drive-through pela queima na largada, perdendo mais tempo. Mas a maior perda foi quando o seu Sauber parece que executou um “procedimento ilegal” e teve de ser reiniciado em plena reta dos boxes. Dava pinta de abandono, mas pegou no tranco e seguiu em frente, sem entender muito o que aconteceu.
Meio apagado nos treinos, Valteri Bottas fez um duelo muito bonito com Hülkenberg e acabou ganhando a posição do alemão, por fora, cirurgicamente.

A maioria viria a optar por apenas uma troca, e quem estava no pelotão intermediário começou a rodada. Grosjean fez um lindo duelo com Felipe Nasr quando o brasileiro voltou de sua parada. O francês, mais rápido, teve que mostrar talento e arrojo para passar por Nasr que não queria vender a custo nenhum a posição, mas a diferença de equipamento era evidente. Neste momento, Grosjean vinha escalando o pelotão e também passou por Kvyat logo depois, mas acabaria o final de semana abandonado antes do final, não sem antes aparar a grama da área de escape de uma das curvas do bonito circuito de Spielberg.

Rosberg e Hamilton fizeram suas paradas. Na sua vez, Rosberg quase bobeou e deixou dois quilos de borracha no asfalto para não passar do limite de velocidade do pit-lane. Já com Hamilton, o problema foi na saída, o que praticamente lhe custou a vitória. Hamilton passou por cima da linha branca que separa a saída da pista, o que é passível de punição, no caso, cinco segundos a serem acrescidos no tempo total de corrida do inglês. Em síntese, para vencer, Hamilton teria que superar Rosberg na pista e abrir mais de cinco segundos. Não era, naquele momento, o que parecia, porque Hamilton estava tocando bem.

Hülkenberg e Bottas fizeram um dos bons duelos da prova, e podem duelar pelo mesmo cockpit ano que vem.

Hülkenberg e Bottas fizeram um dos bons duelos da prova, e podem duelar pelo mesmo cockpit ano que vem.

Massa no pódio, na sorte e na experiência

Se Hamilton acabou punido mas não teve prejuízo, o oposto aconteceu com Vettel. Sem problemas nenhum com punições, o piloto da Ferrari teve problemas com a porca da roda traseira direita e foi devolvido para pista bem atrás de Felipe Massa, que assumiu a terceira posição nesta infelicidade da equipe italiana. Só que Vettel tinha sim um carro mais veloz e pneus três voltas mais conservados que os de Massa. Assim, era esperada uma bela briga pelo pódio para o final da prova.

Antes disso ainda, pudemos presenciar outra bela manobra de Bottas, agora sobre Maldonado e boas disputas entre quem queria entrar e quem não queria sair da zona de pontuação. O próprio Maldonado andou dando seu show habitual, mas desta vez não acertou ninguém. Na verdade, foi quase.

Primeiro, o venezuelano quase escapou sozinho quando tracionou na saída da curva 1, o que o fez perder um tempo sobre a aproximação sobre Verstappen. Recuperado e com o carro bem mais rápido, Maldonado atacou de novo o novato da Toro Rosso na reta dos boxes, e por pouco não foi beijar o guard-rail em uma manobra meio estranha para a categoria (talvez não para ele). Na ação, Maldonado ameaçou por dentro e Verstappen fechou a porta, fazendo com que o piloto da Lotus tirasse o carro para a direita e, por muito pouco, ele não perdeu de vez o controle. Na sequência da manobra, Verstappen escapou e permitiu que Maldonado o ultrapassasse sem maiores problemas.

Hamilton andou na linha na Áustria, mas isso não foi bom para ele.

Hamilton andou na linha na Áustria, mas isso não foi bom para ele.

Hamilton chegava em Rosberg, mas sem muita força, ao contrário do que acontecia com Vettel sobre Felipe Massa. As últimas seis voltas foram intensas, com ambos separados por volta de um segundo. A vantagem de Massa era nas retas, pois mesmo quando pode abrir a asa, Vettel não tinha velocidade suficiente para a ultrapassagem, embora chegasse no trecho intermediário com muito perigo. O brasileiro também mudava o traçado nas curvas para evitar uma porta-aberta e ver o sonho do pódio acabar faltando poucas voltas.

A briga foi até a linha de chegada, com o piloto da Williams cruzando a frente de Vettel e garantindo um sorriso de Sir Frank Williams. Bottas também conseguiu se recuperar um pouco em relação a sua posição de largada e chegou em quinto, seguido de Hülkenberg, outro que fez uma prova impecável, sem surpresas e dentro dos limites do equipamento que tem. Como dissemos, Maldonado superou Verstappen e ficou com a sétima posição. Fechando os dez melhores colocados, Pérez também somou pontos para a Force India e Ricciardo, com uma estratégia de atrasar ao máximo a troca de pneus obrigatória, marcou mais um pontinho na carreira. Apesar de ter ficado fora dos pontuadores, Felipe Nasr fez uma boa prova e tentou a todo custo se segurar entre os dez mais, só que não deu.

Massa subiu ao pódio na prova em que Rosberg alcançou o mesmo número de vitórias que ele, 11.

Massa subiu ao pódio na prova em que Rosberg alcançou o mesmo número de vitórias que ele, 11.

Mais uma dobradinha da Mercedes e desta vez Rosberg foi melhor que Hamilton, que até reconheceu a superioridade do companheiro na corrida. Mesmo sem conseguir a pole, Rosberg largou melhor e não deu chances para ao inglês, que correrá em casa na próxima etapa e, claro, vai querer presentear os conterrâneos com uma bela vitória. Só que Rosberg está ascendendo na tabela e tem performance melhor quando as corridas são na Europa. Coincidência ou competência, é bom Hamilton ficar ligado.

Ao desligar dos motores…

– Especula-se entre Valteri Bottas e Nico Hülkenberg a segunda vaga na Ferrari para 2016, no lugar de Kimi Raikkonen. Detalhe: Raikkonen não quer sair e Vettel não quer que ele saia. Caso se concretize a ida de Bottas, por exemplo, especula-se que Hülkenberg volte para a Williams;

– Nico Hülkenberg, como eu disse durante a resenha, foi um dos três pilotos da Porsche que venceu as 24 Horas de Le Mans este ano. É bom darem um carro bom para segurarem este talento antes que ele resolva sair da Fórmula 1;

– Alonso acha que a McLaren deve pensar em 2016. Button acha que ainda não, até porque, acho que ele não se vê em Woking ano que vem;

– Ainda sobre o acidente na primeira volta, entre Raikkonen e Alonso, fica claro para mim que é preciso fechar o cockpit o mais breve possível, sem que para isso se perca a característica da categoria. Olhem o que o designer holandês Andries van Overbeek sugere;

Cockpit fechado e desenho mais afunilado. Será o futuro?

Cockpit fechado e desenho mais afunilado. Será o futuro?

– Não sou de postar muitas fotos aqui no “desligar dos motores”, mas não é todo dia que os campeões Alain Prost, Niki Lauda e Nelson Piquet, além de nomes como Gerhard Berger, Pierluigi Martini, Jean Alesi, Ricardo Patrese e Christina Danner voltam ao cockpit de carros históricos e vão dar uma voltinha por ai. Pois aconteceu antes da corrida este ano. Dizem que Alonso estava até negociando a vaga de Martini na Minardi, mas o motor do italiano estourou e Alonso segue na McLaren.

E o passado que ninguém esquece, como fica?

E o passado que ninguém esquece, como fica?

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

3 Responses

  1. Fábio Abade says:

    Nem preciso comentar do, como sempre, Ótimo texto, né Laurão!?

    Só no trecho onde vc disse; “Mas vamos para a pista e aos tempos cronometrados, que foram sempre marcados pela briga caseira da McLaren e a ameaça da…”, creio que você quis dizer; “Mas vamos para a pista e aos tempos cronometrados, que foram sempre marcados pela briga caseira da MERCEDES e a ameaça da…”

    Não é?

    Quanto ao cockpit fechado, o maior desafio dos projetistas não é fechar o cockpit, mas sim garantir que o mesmo abrirá facilmente em quaisquer situações de risco. Mas os projetos do Andries van Overbeek são sensacionais. Factíveis? Talvez!

    Abração e Vamo que Vamo!!

    • Um obrigado triplo Fabio. Pelo elogio, pela fidelidade e pela leitura. E, como leitor assíduo e amigo, creio que você deve ter sentido mais este atraso no envio da resenha. Desculpe, até porque edições atrasadas devem ter desconto, mas não erros de texto, certo? Abraço e obrigado mais uma vez.

  2. Fábio Abade says:

    Imagina, Laurão!

    Só não comento sempre pois senão iria ficar até chato eu sempre falar que suas resenhas são ótimas. rsrsrs

    Mas estou sempre aqui, na surdina, lendo e vendo ótimas análises, opniões e piadelas sobre as corridas.

    Não se preocupe. Quem tem que estar preocupado com os erros são os engenheiros da McDonald’sLaren, ao tentar fazer o Big Mac deles voltar a andar entre os 10 primeiros e terminar os GPs….rsrs

    Grande Abraço e Vamo que Vamo pra Inglaterra!!

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