Me move e ainda comove.


Fácil para a Mercedes de novo, mas com uma Williams completando o pódio. Mas o GP do Canadá foi de Massa e Vettel (e da marmota).

Like a virgin (isso serve para mim e para Nasr)

Me permitam usar a primeira pessoa.

Parece que vou falar mais do mesmo, mas posso falar com um pouco mais de conhecimento. Desde os treinos de sexta-feira, era possível ver nitidamente a diferença entre os carros da categoria. Pobre Manor, pobre McLaren. Na oportunidade que tive de acompanhar o treino livre de sexta-feira com vista para o “hairpin”, a falta de potência na saída era muito gritante em relação aos demais. Button, coitado, nem conseguiu andar direito na sexta e no sábado acabou ficando de fora da classificação, com um drive-through para cumprir por trocar o motor. Alonso foi um pouco melhor, passando para o Q2, mas por causa de uma zebra. Uma não, duas.

A Williams trouxe modificações no carro e sonhava em colocar seus pilotos a frente da Ferrari neste final de semana. No entanto, um problema na válvula do turbo “limou” as chances de Felipe Massa em passar para o Q2, deixando o brasileiro pra lá de revoltado, ainda mais porque seu companheiro Valtteri Bottas conseguiu a quarta colocação. E a segunda zebra ficou com a equipe do cavalo rampante, com o carro de Sebastian Vettel, que não conseguiu fiar entre os quinze primeiros. Para piorar, foi punido por uma ultrapassagem com bandeira vermelha no treino livre 3, depois do acidente de Felipe Nasr. Saiu nos últimos minutos e não conseguiu muita coisa. Assim, Button, Merhi, Stevens, Massa e Vettel ficaram de fora.

E a pancada do Felipe Nasr? Chegando para o terceiro treino livre no sábado, ainda voltei ao “hairpin” para tentar ver e registrar mais algumas coisas. A caminho da arquibancada da reta dos boxes, vejo os sinais de bandeira vermelha e assisto por um monitor a pancada de brasileiro da Sauber. De onde eu avistava o monitor, pensei que tivesse sido no muro dos campeões, mas depois me dei conta que havia sido alguns metros a frente de onde eu estava. Registrei a retirada do carro pelo caminhão de serviço. Como consequência, os mecânicos ficaram sem almoço, mas conseguiram mandar Nasr para a pista faltando ainda poucos minutos para o término do Q1. Com as zebras citadas, facilitou pro brasileiro uma vaga no Q2, mas Ericsson, seu companheiro, não foi tão melhor assim e ficou com o décimo segundo lugar, duas posições a frente de Nasr. Alonso ficou entre eles. Carlos Sainz Jr foi o outro que ficou pelo Q2.

A Sauber de Nasr sendo recolhida depois do acidente no treino livre 3

A Sauber de Nasr sendo recolhida depois do acidente no treino livre 3

Com vagas sobrando no Q3, a Force India conseguiu colocar os dois carros entre os dez primeiros. Sergio Pérez foi o décimo, e Hülkenberg voltou ao melhor estilo e marcou o sétimo tempo.

A Red Bull ostenta o segunda posição na ordem dos boxes, mas não consegue este ano, na pista, justificar isso. Ricciardo e Kvyat ficaram com a nona e oitava posições respectivamente. O australiano risonho, inclusive, já começa a demonstrar insatisfação com a equipe e vê que o carro ainda precisa evoluir muito para brigar por um pódio. Nenhuma novidade, mas pelo rendimento que pude ver, falta, pelo menos, uns sete décimos de desenvolvimento, e não vão tirar coelho da cartola nas provas que ainda restam para o final da temporada.

Bonito foi o treino da Lotus. Romain Grosjean chegou a fazer o melhor tempo no treino livre 3, meio confuso como eu disse, mas andou bem. E o Pastor Maldonado parece que quer mostrar que não é tão “braço” como circula no vídeo feito por um fã da Fórmula 1, sérvio se não me engano, que mostra o venezuelano em suas “melhores performances”. Terceira fila toda da Lotus, com o quinto posto para o francês e sexto para o sulamericano. A segunda fila, como disse antes, ficou com Bottas e um excelente terceiro lugar de Kimi Raikkonen, formando a fila finlandesa. Kimi, não pareceu muito satisfeito e, não sei se por isso, passou de cabeça baixa no desfile dos pilotos, acenando a esmo.

Na frente, os Mercedes, realmente não tem concorrência. Hamilton conseguiu sua pole de número 44, para combinar com o número do carro, e deixou Rosberg a mais de três décimos de distância. Simples assim. Os dois carros andam muito mesmo, redondinhos, equilibrados, insuperáveis. A única besteira do final de semana foi do próprio Hamilton, na sexta a tarde. Choveu na metade do treino e todo mundo desistiu de voltar a pista, exceto os carros prateados. Hamilton voltou para a pista e na freada do “hairpin” passou reto com os pneus travados, indo bater na barreira de pneus. Eu estava de saída e escutei um sonoro ‘ooooooooooooooowww” e voltei os olhos para o telão para ver o inglês saindo do carro. Pena que não deu para registrar.

Alonso just wanna have fun (serviu para mim também)

Largando atrás, Massa e Vettel tinham tudo para serem os protagonistas do GP. E foram.

Largada comportada onde costuma ter confusão.

Largada comportada onde costuma ter confusão.

Uma largada bem comportada, apesar da espremida curva do Senna logo de cara, mas ninguém se encostou. Praticamente todos mantiveram suas posições, sem sustos, mas nos giros seguintes, Vettel e Massa tratavam de recuperar na pista o que queriam ter conseguido nos treinos. O alemão da Ferrari arriscou uma parada logo no início da prova, quando já estava atrás de Felipe Massa, e voltaria em último, o que abrilhantaria ainda mais a sua façanha neste domingo.
Felipe Massa fazia uma corrida dentro do que se esperava dele, até chegar atrás de Ericsson, quando perdeu muito tempo. O piloto da Sauber conseguia segurar bem o brasileiro até que Massa fez a ultrapassagem da corrida, nem na minha frente. Colocou por fora na freada da curva do Senna e os carros chegaram a ficar “encaixados” lado a lado, perigosamente até, embora em um trecho de baixa velocidade. E Massa passou mostrando as garras para continuar sua recuperação.

Problema semelhante teve Vettel quando chegou em Alonso. O espanhol valorizou, mas com o carro que tem em mãos, dono de um ronco “engasgado”, não daria mesmo para segurar a Ferrari de Vettel com pneus macios. Ai eu soube que o engenheiro de Alonso pediu para ele economizar combustível e ouviu um sonoro não, seguido de uma reclamação pública de que já estava fazendo papel de amador. É o fim do amor…

A cada giro, era possível ver os carros da Mercedes separados praticamente pela mesmo distância, Raikkonen ficando um pouco para trás, mas ainda próximo, e Bottas caindo um pouco em relação ao compatriota. Porém, os quatro iam embora do pelotão do meio com certa facilidade.

Tirando os aplausos do público para Massa e Vettel, Button, se arrastando em último, também recebia o carinho dos presentes. Um incentivo para o inglês superar os dois carros da Manor. Triste.

Começam então as paradas de pit-stop, e uma delas mudou a história do pódium.

Raikkonen parou, sem problemas, mas ao tentar andar rápido, rodou na saída do “hairpin” e fritou os pneus para voltar ao traçado. Mais tarde, quando foi a vez de Bottas parar, o Finlândia tinha outro representante no pódio.
Vettel seguia pilotando como louco, levantando poeira as vezes, mostrando que estava no limite, justamente em um circuito que não perdoa erros.

Família é tudo.

Família é tudo.

Um momento de tensão da corrida aconteceu quando uma marmota resolveu atravessar a pista bem a frente do carro de Felipe Massa, que trazia Grosjean e Vettel logo atrás. O pequeno roedor parecia que não iria sair quando deu uma corridinha para o lado e evitou que sua viúva recebesse pensão. Ufa!

Thank u (da canadense Alanis, que resume meu sentimento)

Um olho na marmota, outro nas disputas do meio do pelotão.

Vettel seguia remando muito e quando foi ultrapassar Nico Hülkenberg na entrada da reta dos boxes, deu uma forçadinha de barra, dentro da legalidade, e o compatriota da Force India acabou rodando e ficando atravessado na pista, conseguindo voltar mesmo andando perigosamente na conta-mão por alguns metros.

Raikkonen perdeu o pódium por erro próprio. Foto exclusiva de Marcelo Lazarini.

Raikkonen perdeu o pódium por erro próprio. Foto exclusiva de Marcelo Lazarini.

Mas se teve alguém que errou feio no cálculo de ultrapassagem foi o Grosjean, que até então vinha fazendo um final de semana irrepreensível. Foi na tentativa de ultrapassar a Manor de Will Stevens ao final da reta que traz para os boxes que o francês fechou desnecessariamente o piloto da Manor e acabou quebrando a asa do mesmo e tendo seu pneu furado. Como a área de acesso aos boxes agora é de asfalto, deu para ambos acertarem o rumo e surpreenderem os mecânicos no melhor estilo “cheguei, arruma isso ai rápido, por favor”. Grosjean acabou punido em mais 5s e terminou apenas na décima posição.

Lá na frente, depois dos pits, Hamilton chegou a ver a aproximação de Rosberg. Eu também. O público começava a apostar em uma briga que, ao final, não aconteceria. Ficou bem explicita a tocada segura de Hamilton e a falta de força de Rosberg para tentar desestabilizar o inglês. Rosberg, aliás, foi quem andou dando uma “barrigada” no “hairpin” quando parecia mais forte na prova.

Alonso e Button acabaram abandonando a prova, que não teve o tradicional safety-car. Uma bela pista, mas que não perdoa erros, normalmente tem a entrada do carro oficial para remover o que sobra de um esbarrão aqui e outro ali.
Nas voltas finais, ainda deu tempo Felipe Massa ultrapassar Pastor Maldonado e conquistar a sexta posição, atrás de Vettel, que por sua vez ficou a menos de cinco segundos de Raikkonen, em quarto. Hülkenberg foi o oitavo e Kvyat o nono, deixando Ricciardo mais melancólico ainda. Felipe Nasr se arrastou na pista o tempo todo, mas pelo menos ele viu meu cartaz que dizia “Pau neles, Felipes !” e acenou para mim durante a parada dos pilotos que antecede a prova. Ah, e confesso que não vi com atenção a corrida de Verstappen, mas o menino não provocou nenhum barulho como fez em Mônaco a duas semanas.

A Lotus colocou os dois carros na zona de pontuação, com Maldonado terminando a frente de Grosjean.

A Lotus colocou os dois carros na zona de pontuação, com Maldonado terminando a frente de Grosjean.

Hamilton venceu e interrompeu o crescimento de Rosberg no mundial desta ano. Pela primeira vez no ano, diferente do que ocorreu nas seis etapas anteriores, não tinha um piloto da Ferrari no pódio, o que talvez indique que a Williams acertou nas inovações trazidas para o Canadá e que devem dar certo também na Áustria, próxima etapa do campeonato.

Ao desligar dos motores…

– Como tem pássaro naquela ilha. Acho que são albatrozes, ficam só esperando o barulho diminuir para pegar o resto de lanche do público;

– Por falar em barulho, quando estive em Interlagos no final de 2013, o som dos motores V8 da época me faziam estremecer por dentro. Eram monstros gritando perto destes que eu pude ouvir agora. O protetor auricular é descartável nos dias de hoje;

– A possibilidade de ver treinos e corrida em três lugares diferentes, um a cada dia, é algo que realmente precisa ser explorado em circuitos como Interlagos, onde a visão da pista é de quase 70%. Gostei;
– Esperava mais de Montreal;

– Esperava mais de Felipe Massa também, um pódio por exemplo, mas dadas as circunstâncias, valeu. Lembro aqui que não vou a corridas para ver apenas os brasileiros se dando bem, mas aprendi com Piquet e Senna a gostar deste esporte, portando, uma pachecada de vez em quando não faz mal;

– Foram 1900 quilômetros, mais outros mil e tantos dinheiros entre ingressos, hospedagem e afins, exceto pedágio, que não tem. Como disse em minha página no Facebook, curti cada segundo e torci para que eles passassem lentamente, contrariando o princípio da velocidade que tanto me apaixona. Quero voltar, quero continuar curtindo, mas quero ouvir o ronco dos motores de longe como acontecia nas primeiras vezes que eu fui a um GP, no Brasil.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Fernando Marques says:

    Dessa vez, o gosto de pode descrever e narrar os fatos de mais uma etapa da Fórmula 1 foi além!

    Acompanhando suas fotos no Facebook, pude ver a felicidade de seus amigos em ver seu sonho se realizando, enfim, assistindo uma corrida da F1, com direito a família e tudo

    Parabéns pelo texto e claro, pela realização de mais um sonho, afinal, são eles que nos movem. Um dia ainda realizarei o meu de assistir a F1 diretamente de Monte Carlo! hahaha.

    Abraço.

    • Grande Fernando.

      Assistir a um GP fora do Brasil era algo que eu pensava desde a primeira vez que estive em Interlagos, em 1990, quando Interlagos voltou a ser a sede do GP nacional. Antes disso, eu só via as imagens da TV do falecido autódromo de Jacarepaguá. Como seria ver in loco algo que eu já havia visto pela TV?
      Nem nos meus melhores sonhos imaginei que isso seria possível.
      Claro que Monza, Silverstone, Spa-Francorchamps, Mônaco, seriam preferidas, mas elas tem em comum a Europa. Aqui nas Américas, apenas o GP do Canadá tem a tradição com a Fórmula 1 que eu conheci. Nem mesmo Indianápolis (com a Fórmula 1), tem tamanha história quanto o circuito Gilles Villeneuve, portanto, não poderia ser melhor neste aspecto.
      Ver os pontos históricos e andar por eles foi inesquecível. Presenciar as pessoas fazendo fila para posar no “muro dos campeões”, no “hairpim”, na curva “Senna” também me fez sentir que não apenas não estou sozinho nesta paixão, como não sou o mais louco deles.
      Sou feliz por ter amigos, familiares e conhecidos que me apoiaram e com quem fiz questão de dividir um pouco do que eu pude viver. E foi a primeira vez do meu filho em um autódromo, e logo com a Fórmula 1. Se por um lado ele não se impressionou como eu há 25 anos, tem a vantagem de ter a metade da idade que eu tinha na época e já vivenciar isso. Torço para que ele veja uma Fórmula 1 ainda melhor.
      Um grande abraço.

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