Seguro


Uma celebração tipicamente latina e entusiasmada dos torcedores mexicanos, que viram uma bela vitória de Rosberg em mais uma dobradinha da Mercedes no ano. Bottas foi o convidado para um gole de champanhe desta vez.

Recuerdos

Quando eu era pequeno, quer dizer, quando eu era jovem, eu costumava assistir ao GP do México com certa apreensão por causa daquela curva danada, de nome mais sapeca ainda. A Peraltada. Como todo mundo sabe, foi lá que Senna capotou nos treinos em 1991. Um ano antes, Nigel Mansell, a bordo de sua Ferrari, fez uma tremenda ultrapassagem, por fora, sobre a McLaren de Gerhard Berger na mesma curva. O pouco de inclinação e os “bumps” davam uma dose de perigo extra aquela curva. Apesar disso, foi o acidente de Philippe Alliot em 1988, também durante os treinos, onde o carro deu uma guinada para a esquerda logo após alinhar na reta dos boxes e foi se espatifar na mureta do pit-lane, capotando “com vontade”. O piloto nada sofreu, além do susto.

Saudosismo, como não podia deixar de ser para um fanático por Fórmula 1, que vê no retorno de um Grande Prêmio nas Américas (tão raro hoje), um pouco de sua história misturada na paixão pela categoria.

Mas vamos ao que aconteceu no final de semana de festa no México. Festa mesmo!

É disso que o povo gosta!

É disso que o povo gosta!

Se a ausência da temida curva Peraltada poderia esfriar um pouco o interesse dos espectadores, perdeu quem apostou nisso. Em seu lugar, um trecho lento e sem desafios, mas que passa pelo meio de duas arquibancadas que juntas formam quase que uma ferradura. Ali a Fórmula 1 pulsou no final de semana, literalmente.

E como a pista era nova, nada melhor que o mais novo do time para cravar a melhor volta logo no primeiro treino livre. Max Verstappen tratou de dar as cartas na primeira sessão, seguido por Daniil Kvyat, que fez o mesmo tempo de Kimi Raikkonen, em terceiro. A pista pouco abrasiva fez todo mundo tomar muito cuidado. Os carros Mercedes, por exemplo, ficaram em sexto lugar com Rosberg, e apenas em décimo primeiro com Hamilton.

Só que a ousadia da juventude tem seu preço. Logo que se liberou a pista para o segundo treino livre, lá foi Max Verstappen mais uma vez fazer volta rápida, mas o que ele conseguiu foi ser o mais rápido a bater, enfiando o Toro Rosso no muro e dando trabalho extra aos mecânicos do seu time.

A pista melhorou muito, e com 4 segundos a menos que o tempo de Vertappen pela manhã, Rosberg começou a dominar o final de semana, sempre com os carros da Red Bull por perto.

Pela quarta vez seguida, Nico Rosberg ficou com a pole position, tendo ao seu lado o campeão Hamilton. Em terceiro, Sebastian Vettel, seguido pelos carros de sua ex-equipe, a Red Bull. Daniil Kvyat mais uma vez na frente de Ricciardo. Logo atrás vieram os carros da Williams, com Bottas e Massa, sendo que coube ao brasileiro a honra de atingir a maior velocidade entre os pilotos nos treinos, andando a 365km/h. O ar rarefeito deixava os carros mais “soltos” e isso foi fundamental para essas velocidades absurdas.

Max Verstappen foi o oitavo, mostrando que estava realmente veloz. Ficou a frente dos carros da Force India, imediatamente a frente do piloto da casa, Sérgio Pérez.

A curiosidade foi a última fila, que ficou com os campeões Jenson Button e Kimi Raikkonen. O primeiro nem sequer treinou, mas os comissários deixaram o moço correr. Já Raikkonen foi punido pela troca de motor e caixa de câmbio.

Ai caramba!

A longa reta que leva ao primeiro “S”, e que não mudou em nada do que tínhamos antigamente, era prenúncio de que algum “strike” poderia acontecer logo de cara. Felipe Massa, com uma manobra ousada e deixando para frear no último instante, bem que tentou tomar algumas posições, de Bottas e Vettel principalmente, mas nas curvar seguintes, apenas Vettel ficou para trás, e nem foi por mérito do brasileiro. O alemão da Ferrari teve um toque com Ricciardo e um pneu traseiro furado.

Sem enrosco.

Sem enrosco.

Quem andou pouco foi Alonso, deu uma voltinha apenas.

Na terceira volta, liberada a abertura de asa traseira, o que não é nenhuma novidade no regulamento, mas o efeito que isso dava no México era um pouco mais acentuado. Na reta dos boxes, o ganho de velocidade era brutal e praticamente não havia defesa para quem quisesse defender posição. Na pista, a briga momentânea era entre Ricciardo e Bottas e entre Verstappen e Massa.

Bottas logo desiste da briga e vai para os boxes inaugurando oficialmente a primeira rodada de pit-stops. Massa e Hülkenberg entram na volta seguinte. E na pista era a vez de Hamilton começar a tirar um pouco da diferença para o líder Rosberg.

O piloto da casa, Pérez, levantava o público a cada passagem de seu Force India, mas sem ter feito o pit-stop como seu companheiro Hülkenberg havia pouco antes, era atacado por Carlos Sainz Jr, até que este último também resolve fazer sua parada. A torcida vibra de novo.

E a grande atração do GP era mesmo o público. Quando Vettel errou sozinho e rodou, foi quase como um gol. Era uma grande partida de futebol em alta velocidade e, como tal, também teve lance polêmico envolvendo, de novo, os dois finlandeses. Sabe quando um cara sofre uma falta e o adversário sai apontando o dedo e dizendo “vou te quebrar na próxima”? Como uma revanche do GP da Rússia, quando Raikkonen tirou Bottas do pódio e da corrida, desta vez foi o homem-de-gelo que levou a pior, tentando ultrapassar o carro #77 da Williams por fora. E, assim como no futebol, levou uma bela levantada de Bottas, sendo obrigado a abandonar com a suspensão traseira quebrada. Lance normal segundo o juiz, quer dizer, os comissários.

Crise na Finlândia, de novo.

Crise na Finlândia, de novo.

Os líderes fizeram duas devidas trocas de pneus sem trocarem de posição.

Lembram da briga entre Sainz e Pérez? Pois ele voltou a acontecer quando o mexicano começou a se aproximar do carro da Toro Rosso para tentar recuperar a posição perdida na parada para troca de pneus. Sainz, pressionado, acabou errando e cortou um belo caminho pela grama, o que é ilegal, e teria que devolver, ou melhor, deixar Pérez passar. Aí o espanhol escolheu fazer isso bem no meio da galera. Parecia final de Copa do Mundo com gol de Pérez.

Sebastian Vettel estava meio alucinado neste final de semana. Andando muito forte mas se queixando de muita vibração no carro, causada pela escapada de pista e pelas travadas de pneus, o alemão achou por bem fazer a sua segunda parada e tirar o “efeito britadeira” do volante. Só que na volta a pista, já viu que a missão de chegar em uma boa colocação estava ficando impossível, porque os dois carros da Mercedes já estavam uma volta a sua frente.

Muy bién Nico

Valtteri Bottas crescia na prova e começava a se aproximar de Kvyat, que ainda era o terceiro colocado na prova. Interessante como o ar do México fez bem aos carros da Red Bull. Ricciardo era o quinto colocado.

Eis que aparece um pedaço de carro ou de alguma coisa na pista, em um trecho rápido de curvas, e nada de alguém parar a corrida para pegá-lo. Nestas horas, o santo protetor dos fiscais de pista entra em ação ao ver um de seus devotos entrar na pista correndo, escorregar, e sair mais do que depressa para não ser pego pela… Ferrari de Vettel, de novo, assim como aconteceu no GP russo. Os que ficaram atrás do guard-rail receberam o colega de volta com aplausos, mas deveriam meter a mão no cara, porque, de novo, foi uma atitude totalmente imprudente e que poderia por toda a alegria que contagiava o circuito em segundo plano.

Na hora da segunda rodada de pit-stops dos líderes, Rosberg mais uma vez entra na frente e Hamilton é avisado pelo rádio que deveria fazer o mesmo. A equipe explica que é por motivos de segurança, para não correr riscos desnecessários já que era possível parar e não perder posição. Só que Hamilton queria era ganhar a posição de Rosberg e hesitou em entrar nos boxes logo na volta seguinte ao do companheiro de equipe. Será que o tricampeão iria tentar seguir até o final da prova com uma parada a menos que Rosberg e, assim, tripudiar em cima do ex-amigo? Mais uma volta e a suposta rebeldia foi deixada de lado, e Hamilton foi para mais um pit-stop.

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Na briga pela quinta posição, Massa tomava muita pressão de Ricciardo, estes sim muito amigos, mas o motor Mercedes ajudava o brasileiro na reta, fazendo com que o piloto da Red Bull tivesse que tentar uma manobra no miolo. Dito e feito, e Ricciardo assumiu o quinto lugar.

Bom, e se o problema era falta de safety-car, Sebastian Vettel falou “deixa comigo”. Com evidente problema de freios, o alemão passou reto em uma das curvas e deixou a Ferrari estampada no soft-wall em um lugar perigoso. Entrou então o safety-car real e os pilotos que tinham dúvida sobre uma eventual nova parada de boxes aproveitaram a deixa.

A ordem para a relargada, faltando dez voltas para o final, era Rosberg, Hamilton, Kvyat, Bottas, Ricciardo, Massa, Hülkenberg, Pérez, Verstappen e Grosjean. Seria um final de corrida emocionante e inesquecível para todos os presentes nesta reinauguração do autódromo Hermanos Rodríguez.

Mas Rosberg não quis nem saber e defendeu bem a sua liderança sobre Hamilton. O mesmo já não aconteceu com Kvyat, que perdeu a posição para Bottas e também um lugar no pódio. Além do abandono de Felipe Nasr, no finalzinho, nada mudou e, enfim, Nico Rosberg voltou a vencer este ano. Um excelente resultado para Bottas, o primeiro do resto, atrás de Hamilton. Kvyat e Ricciardo também confirmaram os bons treinos e, apesar de fora do pódio, mostraram competitividade.

Massa chegou a frente dos carros da Force India, Hülkenberg e Pérez, mas o torcedor não queria nem saber em que posição o Checco tinha chegado, o negócio era comemorar. Verstappen e Grosjean fecharam a lista dos dez mais do GP do México.

Uma corrida que não foi de toda ruim, mas que ficou com aquela impressão que poderia ter sido bem melhor. Mas o mais importante é que o México está de volta e com força, muita força. Arriba, Hermanos!

No quintal de casa, mas sem moleza.

No quintal de casa, mas sem moleza.

Ao desligar dos motores…

– 135 mil torcedores no domingo. Tá bom pra você?;

– A idéia de colocar o pódio virado para as duas maiores arquibancadas foi simplesmente genial;

– Se Rosberg tivesse a mesma atitude de jogar o chapéu para Hamilton na sala que antecede ao pódio, o serviço aeroespacial americano iria entrar em alerta, porque o sombrero era de respeito;

– Estebán Gutiérrez volta a ser titular ano que vem pela equipe Haas. Uma bela e rara chance;

– Nunca imaginei uma rivalidade tão grande entre Raikkonen e Bottas. Vamos ver no final quem é mais frio afinal.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Fábio Abade says:

    Laurão, só mesmo o seu texto para dar ânimo nessa corrida aí…

    E aquela arquibancada com a pista passando no meio? Top top!!

    Abração! Vamo que Vamo!!

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