Talvez, 2017. Ou não.


O que vem por aí eu acho que já sei

Eu fiquei pensando muito antes de recomeçar a escrever sobre a Fórmula 1 este ano. Não que eu tenha perdido o amor pela categoria, apesar de ter consciência de que o momento não é favorável, nem tranquilo, como diz um outro Bin Laden ainda vivo. Nem por causa da vida corrida que eu ainda estou enfrentando, e que não vem ao caso, claro, mas que toma boa parte do tempo que eu costumava passar lendo, vendo e revendo vídeos e propriamente escrevendo.
O que mais me deixou um tanto comedido mesmo era qual seria a diferença desta com as últimas temporadas duas temporadas e o que eu deveria argumentar para achar que este pode ser um campeonato bem interessante do ponto de vista competitivo.

Pensei primeiro nas novas equipes, a Renault e a Haas. A Renault, na verdade, não é uma equipe nova por assim dizer, porque vem da estrutura da Lotus do ano passado. A volta do time francês é aguardada com muita expectativa porque como fornecedora de motores nas últimas seis temporadas, carregou os quatro títulos de Sebastian Vettel com a Red Bull, mas que fez temporadas muito discretas em 2014 e no ano passado, o que resultou em uma briga entre a equipe austríaca e a fornecedora francesa. Agora, como dona de chassi e motor, é a chance da marca voltar aos seus melhores dias.

Alonso não teve amnésia este ano, e já começou a reclamar.

Alonso não teve amnésia este ano, e já começou a reclamar.

A Haas é a aposta dos americanos. O proprietário, Gene Haas, tem história no automobilismo americano e quer demonstrar como ser uma equipe estreante com resultados não vexatórios. Estrutura o time tem e parece que dinheiro também não é problema. O time escolheu a Ferrari como fornecedora de seus motores e quer incomodar no pelotão intermediário. Pilotos? Vamos falar deles então.

O time yankee contratou Romain Grosjean da antiga Lotus e resolveu dar mais uma oportunidade ao jovem Estebán Gutiérrez. Esta dupla poderia ser encarada como um desastre há alguns anos, já que Grosjean precisou de muito amadurecimento para mostrar que não era o piloto estabanado que Mark Webber (lembram dele?) um dia batizou de “maluco da primeira volta”. E o mexicano Gutiérrez não ficava muito atrás nos seus tempos de Sauber, mas para ele contou a experiência com os motores Ferrari da qual o mesmo foi piloto de testes ano passado.

Voltando a falar da Renault, o então piloto de testes do time em 2015 e campeão da GP2 Series em 2014, Jolyon Palmer, foi promovido para ir para a pista em todas as etapas do ano. No meu momento Glória Pires no Oscar, não posso comentar nada dele porque não o conheço. Já o outro piloto é o ex-McLaren Kevin Magnussen, aquele que tentou substituir Fernando Alonso na corrida de estréia da temporada passada, mas o carro não completou nem a volta de apresentação. É rápido Magnussen, mas o que vale é resultado, sempre.

A Haas deve vir de maneira decente, mas já sentiu na pista a diferença que a separa das demais.

A Haas deve vir de maneira decente, mas já sentiu na pista a diferença que a separa das demais.

Os outros estreantes da categoria são o alemão (mais um) Pascal Wehrlein e o indonésio Rio Haryanto. Pascal vem para a Fórmula 1 pelas mãos da Mercedes depois de se consagrar o mais jovem campeão da DTM (o campeonato de turismo alemão) pela equipe. O que eu li diz que o menino é bom, rápido e constante, mas a Manor, sua equipe, não parece que vai ajuda-lo muito. Rio, o companheiro do alemão na Manor, será o primeiro representante da Indonésia na categoria. Já testou pela categoria em 2010 sem grande alarde, e vem da GP2 Series onde conseguiu algumas vitórias. O governo indonésio vai patrociná-lo. Ah, o motor da Manor será Mercedes, para dar uma ajudinha a mais para o Pascal.

E como fica, então?

Nos testes realizados em Barcelona nas semanas anteriores, a vida da Haas e da Lotus parece que não vai ser muito fácil não. Mas nenhuma das duas foi um desastre não. A Manor evoluiu muito em relação ao ano passado, mas ainda deve figurar no fundo do grid, acompanhada pela Haas, pela Lotus e pela Sauber, que atrasou o lançamento do carro e não tem muito dinheiro em caixa, e até os funcionários ficaram sem receber. Vai contar com a dupla de pilotos do ano passado, o sueco Marcus Ericsson e o brasileiro Felipe Nasr e torce para ninguém mais aparecer com um contrato assinado e um advogado a tira colo.

Se os testes não foram lá grande coisa para a McLaren, pelo menos não foi vexatório como ano passado. Fernando Alonso, por exemplo, nem sofreu acidente e nem teve confusão mental nenhuma. Sabe onde está, com quem está, e voltou a criticar a Fórmula 1 pouco competitiva de acordo com ele e com a torcida da Ferrari. Seu companheiro, Jenson Button, renovou contrato e separou-se da modelo Jessica Mitchibata (o que todo o circo lamenta). Segundo a lenda, piloto solteiro é três décimos mais veloz que o casado. A Honda, fornecedora de motores, diz que achou alguns problemas e virá mais forte. Sim, mas quanto mais forte? Ao que parece, lutando no meio do pelotão ainda, embora alguns mais otimistas comecem a falar em pódio.

Raikkonen voou, Vettel também. Por enquanto, só eles podem ameaçar a soberania da Mercedes.

Raikkonen voou, Vettel também. Por enquanto, só eles podem ameaçar a soberania da Mercedes.

Por falar em meio do pelotão, o espaço ocupado hoje pela Red Bull, pela Toro Rosso e pela Force India promete ser o mais equilibrado do campeonato. Isso porque a Toro Rosso e a Force India mostraram força e confiabilidade. Teve até uma história de que a Force India poderia ser vendida para a Astom Martin, o que resolveria os problemas financeiros do time, mas não vingou. Isso, porém, não tirou o foco do time, que chegou a ser o mais rápido em um dos dias de testes e demonstrou claramente que há potencial de sobra para Hülkenberg e Pérez buscarem pódios.
Isso, claro, se Ricciardo e Kvyat deixarem, porque a Renault promete mais potência para o propulsor de 2016 e uma convivência mais harmônica entre ela e a equipe, se bem que agora, o que interessa mesmo é o motor do time principal da fábrica.

Talvez este seja o ano de afirmação da Toro Rosso, a equipe satélite da Red Bull. Os testes mostraram que tanto Carlos Sainz quanto Max Verstappen estão mais rápidos que ano passado. E esse avanço da equipe pode trazer um ingrediente a mais, que é a rivalidade entre ambos. Todos se lembram que Verstappen já se negou a ceder posição para Sainz ano passado, e o espanhol revidou dizendo que compreendia a atitude do colega mas que teria agido diferente, porém, que a partir daquele momento era cada um por si. Se sofrerem menos acidentes do que no ano passado, além de deixarem as famílias menos preocupadas, vão somar pontos valiosíssimos.

E todo mundo quer que lá na frente, tenha mais disputa este ano. Será que teremos um campeonato sem nenhuma emoção por conta do domínio de uma equipe apenas, de novo?

Olho na Force India.

Olho na Force India.

A Williams melhorou e animou Felipe Massa, mas quem fez bonito mesmo foi Valteri Bottas, seu companheiro de equipe. Foi dele o melhor tempo em um dos dias de teste. O carro é uma evolução do modelo anterior com poucas diferenças externas. No geral, é mais fácil a equipe brigar com Toro Rosso e, principalmente, com a Force India, pelo pódio das equipes. Se andarem melhor no molhado, talvez já seja um bom sinal, mas não houve chuvas nos testes desta vez.
E se alguma equipe mostrou velocidade constante durante os treinos na Cataluña, foi a Ferrari. Não foi só o reaparecimento da cor branca na carenagem que fez o carro de Maranello diferente do ano passado. O modelo SF-16 H é um carro novo, provido agora de suspensão push-rod e considerado como um grande passo à frente do modelo do ano passado. Verdade ou não, o fato é que Vettel e Raikkonnen dominaram os testes da pré-temporada com os tempos mais rápidos no geral e na maioria dos dias.

“Ah, então vai acabar a moleza da Mercedes?”, você pode estar se perguntando.

As flechas de prata continuam na mesma direção, que é a das vitórias. O carro de 2016 é muito parecido com o do ano passado, só que tão ou mais eficiente. Em termos de resistência, o carro é um verdadeiro “tanque” e a equipe usou os testes sem se preocupar muito com o cronômetro. O semblante de Rosberg e de Hamilton era muito, mas muito tranquilo durante todo o tempo. Há claros indícios de que o time escondeu muito o jogo e todo potencial do novo W07. A concorrência direta prega cautela. Portanto, se Rosberg não for adversário para Hamilton (o que eu acho que não será mesmo, como sempre, mas espero estar enganado), Vettel tem grandes chances de ver seu tetracampeonato igualado por Hamilton.

Agora é Renault o carro negro da Fórmula 1. Bonito, mas não tão rápido.

Agora é Renault o carro negro da Fórmula 1. Bonito, mas não tão rápido.

Por mudanças, mudaram o sábado

As principais diferenças em relação ao regulamento do ano passado são a introdução de um novo composto de pneus e os treinos malucos que devem mexer um pouco com a corrida. Vamos por partes:

No caso dos pneus, a Pirelli agora oferece 3 compostos por final de semana, aumentando a possibilidade de estratégias entre as equipes. O novo composto, denominado ultrasoft, vem para aumentar a velocidade dos carros mas há sempre a preocupação do desgaste. Em pistas menos agressivas, este pneu pode gerar excelentes benefícios em termos de desempenho, principalmente com os tanques mais vazios.

Já o treino de sábado tem tudo para ser mais interessante. Isso porque não necessariamente os mais rápidos vão largar na frente. A regra é meio confusa ainda, precisamos ver como funcionará na prática, mas se resume em manter o Q1, Q2 e Q3, só que da seguinte forma:

– Nos primeiros 16 minutos, teremos o Q1. Após 7 minutos de atividade, o mais lento será eliminado. A partir de então, a cada um minuto e meio, quem estiver na lanterna é automaticamente desclassificado. Sobram 15 pilotos para o Q2;
– Mais 15 minutos de Q2, onde ao final do sexto minuto, o lanterninha se despede e a cada um minuto e meio, mais um vai pro box mais cedo;
– No Q3 serão 14 minutos, quase a mesma coisa das outras etapas anteriores. Os oito remanescentes vão fazendo suas voltas e há cinco minutos do término, o mais vagaroso deixa o grupo e assim sucessivamente até sobrarem 2 pilotos para o minuto e meio final. A pole sai entre os dois.

Não basta maciez, tem que ser super. O novo pneu supersoft promete fazer a diferença.

Não basta maciez, tem que ser super. O novo pneu supersoft promete fazer a diferença.

Não pode haver erro! E fica a maior dúvida de todas: em circuitos onde a volta passa de 1’30”, como será o comportamento dos pilotos em termos de estratégia? Sem contar que a chuva, agora, passa a ser outro fator terrível para a definição do grid.

Minha opinião é que a tentativa é válida, mas tem que ser avaliada para que os mais rápidos larguem na frente sempre, o que parece óbvio, mas pode não ser. Havia previsão que fosse vigorar desde a primeira etapa, os pilotos reclamaram, decidiu-se por adotar a partir do GP da Espanha, mas parece que vai ser já na Austrália mesmo. Vamos ver.

Será a maior temporada de toda a história, com 21 GPs, por conta do retorno do GP da Alemanha e a estréia do Grande Prêmio do Azerbaijão, que será o GP da Europa em 2016. E será uma temporada que não teremos mais Pastor Maldonado que, quer queira ou quer não, era uma das atrações da F1.

O que desejamos sempre é que a temporada seja disputada e esportivamente limpa. Quem sabe baixando as expectativas a gente se surpreenda de uma maneira positiva.

O Toro mais bravo. Será que a equipe "dois" vai superar a matriz?

O Toro mais bravo. Será que a equipe “dois” vai superar a matriz?

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

8 Responses

  1. Fábio Abade says:

    A F1 2016 eu não sei se vai começar bem, já o Laurão começou muito bem o ano com uma ótima análise e um belo texto!!

    Vamo que Vamo!!

  2. F1 está de volta. Com ela, o fantasma que insiste em assombrar a participação da etapa em Interlagos. Belo texto e estou ansioso pela volta do bolão!

    • Obrigado Fernando. Vamos com o Bolão de novo, para divertir sempre. Interlagos sempre vai ser uma dúvida no calendário, mas é uma das melhores pistas ainda e os pilotos gostam. Precisa de obras de infraestrutura e o em torno é sofrível. A permanência de Interlagos está, acredite ou não, no que Felipe Nasr pode fazer.
      Um abraço.

  3. lsussumu says:

    Esse novo modelo de Qualify vai deixar as coisas bem interessante, poucos vão pensar em ficar nos boxes. Para 2017 tem que acabar com a restrição de ruídos e voltar os V8/V10/V12, decepcionante ir assitir a F1 e não escutar ronco nenhum. Tio Bernie precisa agir logo.

    Belo texto Lauro!!! Vamos ver o que a Hass e a Reanult tem a oferecer. “Treino é treino jogo é jogo”

  4. Marcelo Aguiar says:

    Parabéns pelo resumo, eu estava meio por fora das novidades de 2016, agora não estou mais 🙂

  5. Glauco de Faria Pereira says:

    O que????? Button separou da Michibata????? E continua os motores de VW Up????

    Tá ficando difícil… Acabou o motivo pra ver F1…

    Laurão, só ta salvando os seus textos! Olha a responsabilidade!!!!

    #partiunascar

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