Quem ri por último…


Em corrida de chuva, sol, detritos e safety-car, Hamilton aproveita falha de box da Red Bull e volta a vencer. Nem mesmo a inédita conquista da pole por Ricciardo conseguiu lhe dar a vitória. Sérgio Pérez foi o terceiro e Rosberg, sexto.

Um sorriso em primeiro lugar

Para quem esperava que Rosberg e Hamilton chegassem à Mônaco trocando farpas e jurando morte um ao outro, se enganou. Os dois estavam mesmo, sim, preocupados com a promessa de que a Red Bull andaria melhor que os carros da Mercedes.

Nos treinos livres, a Mercedes mostrou força como sempre. Vettel até chegou a fazer o melhor tempo em um deles, mas na hora de separar homens e meninos, foi Ricciardo quem deu as cartas. E foi a primeira pole da carreira deste australiano com pinta de que “vai, mas ainda falta algo”, sabe?

Foi a estréia dos pneus ultramacios desenvolvidos pela fabricante italiana que começa com a letra P e que é exclusiva da categoria. Se eu falar que é a Pirelli, me acusam de merchandising. Estes pneus se mostraram muito rápidos mesmo, possibilitando uma nova dinâmica para as corridas em que ele for disponibilizado.

Os treinos oficiais começaram com um questionamento: como viriam Kvyat e Verstappen para um dos circuitos mais difíceis da temporada? Kvyat deve ter rido sarcasticamente quando viu Verstappen ficar de fora logo no Q1 depois de ter chegado tão perto do guard-rail que não pode evitar o atrito. Destruiu a suspensão dianteira direita e foi bater na próxima curva com o carro totalmente inguiável. Kvyat colocou o carro da Toro Rosso na oitava posição.
Felipe Nasr teve o motor estourado, o que proporcionou fotos incríveis para a imprensa e a última fila para ele. Outro que teve punição por troca de alguma coisa no carro foi Raikkonen, que perdeu cinco posições em razão da troca do câmbio, largando em décimo primeiro apenas.

Os dois carros da Williams não fizeram um bom treino. Ambos caíram no Q2 e “deram lugar” aos carros da Toro Rosso no Q3. Como eu disse, além de Kvyat se classificar bem, Carlos Sainz foi ainda melhor e colocou o segundo carro da equipe em sexto lugar.

E quem poderia apostar que a Force India viria com tanta força (por pior que seja o texto e o trocadilho) pelas ruas estreitas de Mônaco? Pois foi lá Hülkenberg e Pérez colocarem seus carros em quinto e sétimo lugares respectivamente. E teve até Fenando Alonso passando para o Q3 e colocando o carro da McLaren em nono lugar, que na verdade seria o décimo não fosse a punição de Raikkonen, mas que foi mais um sinal de evolução do time inglês.

Primeira pole de Ricciardo na carreira. Mas  faltou a vitória.

Primeira pole de Ricciardo na carreira. Mas faltou a vitória.

Todo mundo sabe que o grid, em Mônaco, é muito importante para um bom resultado, e Ricciardo passou a ser, portanto, favorito a prova não apenas pela posição de honra no grid, mas como também pela força do carro demonstrada ao longo do final de semana todo. E isso trazia também a expectativa de ver do que Verstappen seria capaz largando na última fila.

Avisa lá que eu vou

Com chuva, a direção de prova decidiu pela largada atrás do safety-car. Aquela procissão de carros coloridos levou exatamente 7 voltas até acharem que a pista já tinha condições mínimas de segurança (como se Mônaco fosse seguro).

Neste interim, Daniil Kvyat já tinha parado nos boxes com problemas técnicos no carro que não o permitiram aproveitar a boa classificação conseguida no sábado. Culparam o platinado. Ele até tentou voltar, a equipe trabalhou bastante nas voltas lentas do safety-car, mas o russo caiu para a última colocação no grid, comprometendo a sua corrida.

Reduza se molhado, sempre.

Reduza se molhado, sempre.

Liberados, todos os pilotos seguiram comportados. Quer dizer, quase todos. Enquanto Magnunsen ia para os boxes, seu companheiro Jolyon Palmer deu uma bela pancada na “reta-curva” dos boxes e, claro, provocou novo safety-car, mas agora só o virtual. Aquaplanagem em plena reta. Logo entrou o pessoal da limpeza e recolheu os detritos, liberando a pista novamente.

Ricciardo, então, abria dos carros da Mercedes, com claro desempenho inferior de Rosberg, que segurava Hamilton de todas as formas. Em Mônaco, quando um não quer, o outro não passa.
Na descida da curva Lowes, aquela mais lenta de todas antes do túnel, Raikkonen perdeu o controle do seu Ferrari e bateu no lado externo da curva, perdendo o bico do carro que ficara preso sob o eixo dianteiro. Atrás vinham Massa e Grosjean, que quase se chocam com o finlandês. Massa conseguiu se livrar de Raikkonen que, sem controle total do carro, acabou bloqueando a passagem de Grosjean como se fosse briga de trânsito, obrigando o francês a engatar a marcha a ré para poder voltar. Raikkonen se arrastou com o bico preso em baixo do carro por um bom tempo até se retirar em definitivo, deixando umas armadilhas pela pista.

Ricciardo abria e Vettel resolve fazer sua parada de boxes e coloca pneus intermediários. Muita gente na paetê de trás do grid já tinha feito isso, alçando Pascal Whelein e a modesta Manor para a décima segunda posição. A pista estava secando e os pilotos entenderam que o pneu intermediário era a solução do momento.

Na décima sexta volta, Hamilton aparece a frente de Rosberg porque o alemão abriu, seguindo aquela “recomendação construtiva” da equipe. Mas não era por isso que não tinha briga na pista. Felipe Massa, Vettel, Hulkenberg e Alonso apareciam colados brigando pelo sexto lugar, e Massa segurava a todos por ser o único dos quatro com pneus de chuva ainda. Mais atrás, outro trenzinho formado por Wehlein, Bottas, Verstappen, Magnunsen e Nasr.

Rosberg vai para a sua parada e Massa vem logo em seguida.

E mais gente engatando a ré na pista. Magnussen e Kvyat já vinham brigando desde a saída do túnel, até que na Rascassi, o russo achou que dava e, claro, não deu. Ambos foram para a parte de fora da curva e tiveram que voltar com suas próprias forças, sem alguns pedaços de seus carros, claro. Kvyat acaba abandonando.

Momento em que Hamilton fecha Ricciardo. Coisa de corrida segundo os comissários.

Momento em que Hamilton fecha Ricciardo. Coisa de corrida segundo os comissários.

Neste momento, os líderes Ricciardo e Hamilton seguiam com pneus de pista molhada, enquanto praticamente todos os demais, exceto Wehrlein, vinham de pneus intermediários. Então, Ricciardo faz a sua parada e volta em segundo. Mas Hamilton não para imediatamente na volta seguinte, fica mais um pouco. Enquanto isso, Ricciardo fazia a melhor volta, já com sol no Principado.

E o australiano chegou rápido em Hamilton, mas a pista em si já dava dica de pneus para seco, pois já havia um trilho bem definido. Mesmo assim, Hamilton se segurava com as “galochas” da largada. Ficando mais tempo na pista, Hamilton poderia optar por uma parada a menos. Mas, para isso, tinha que segurar o Red Bull. Hamilton então decide pela sua parada e coloca os pneus extra macios, estreando em corrida oficiais. Na volta seguinte é a vez de Ricciardo parar, mas parece que alguém fez daquelas besteiras monstruosas. Os pneus do carro do australiano não estavam prontos e a equipe demorou eternos 13s para liberá-lo de volta a pista. Em seu retorno, Ricciardo voltara colado em Hamilton, mas em segundo lugar. Erro pré-primário.

E enquanto os olhos de todos estavam voltados para a briga dos líderes, Max Verstappen acha o guard-rail e provoca mais um safety-car virtual. Não dá pra dizer que ele não fazia uma boa prova, com belas ultrapassagens e se recuperando até chegar na zona dos pontos. Ainda falta uma lapidada no menino.

Lewis, enfim, sorri neste ano

Na relargada, Hamilton erra na chicane da saída do túnel e Ricciardo chega a colocar o eixo dianteiro lado a lado com o eixo traseiro de Hamilton, que tranca a porta de maneira acintosa, mas dentro da normalidade. Era nítido que Ricciardo tinha mais carro como em quase todo o final de semana.

E nos tira-põe-deixa ficar da corrida, eis que Sergio Pérez aparece na terceira posição, com Vettel em quanto e Alonso em quinto. Rosberg era apenas o sexto. Mas ainda estávamos na metade da corrida e o mexicano, assim como Vettel, tinham pneus macios apenas, que deveriam ir até o final da corrida, o que não era esperado dos pneus intermediários de Hamilton, nem dos extra-macios de Ricciardo.

A corrida ficou monótona? Chame Sauber Crash Service que eles trarão a animação que você precisa! Felipe Nasr era o décimo quinto e seu companheiro Ericsson o décimo sexto. A equipe pede para o brasileiro liberar passagem para Ericsson, o que não acontece, e ai o sueco perde a paciência e tenta passar Nasr por dentro na Rascasse. Choque inevitável e mais um virtual safety-car para a turma da vassoura trabalhar em paz. Nem no vídeo game dá pra passar assim. Como prenda, Ericsson tomou penalidade de 10 posições no grid para o GP do Canadá.

Mas ainda tinha diversão lá na frente porque os líderes chegaram nos retardatários. Isso deu chance do australiano da Red Bull se aproximar de novo, mas a defesa de Hamilton era perfeita.

Que beleza!

Que beleza!

Pouco mais atrás, Alonso segurava Rosberg, Hülkenberg e Sainz. Rosberg até conseguiu passar por Alonso, mas teve que devolver a posição por cortar caminho na chicane. A outra briga que valia o pódio era entre Sergio Pérez e Sebastian Vettel. O tetracampeão forçava muito a aproximação que, por pouco, não deixou o seu Ferrari estampado no mesmo lugar que Vertsappen. Ficou no quase.

Sem muitas emoções a mais, Hamilton voltou a vencer na Fórmula 1 e, com o resultado magrinho de Rosberg, o campeonato fica um pouco mais equilibrado neste momento, ainda com a liderança de Nico. Excelente resultado da Force India, com Pérez em terceiro e Hülkenberg em sétimo. A McLaren também conseguiu um bom resultado com o quinto e nono lugares de Alonso e Button rerspectivamente. É pouco ainda, mas parece que a equipe está no caminho certo novamente, de maneira mais robusta. Já os carros da Williams decepcionaram de novo e apenas Massa pontuou com o décimo lugar.

Ao desligar dos motores…

– Não vamos julgar a capacidade de Verstappen depois de um final de semana desastroso em Mônaco. Os dois acidentes, nos treinos oficiais e na corrida, em nada tiram o mérito do moleque;

– O motor Tag Hauer, ou melhor, Renault, está rendendo bem e ameaça sim a hegemonia da Mercedes, principalmente em circuitos onde a combinação chassis+motor é fundamental. A propósito, a próxima etapa é em Montreal;

– Felipe Nasr não vai bem na Sauber e os desentendimentos com o time neste final de semana podem dar indício de que o brasileiro precisará procurar vaga ano que vem em outro cockpit;

– O outro Felipe, Massa, foi especulado na Renault para o ano que vem, quando termina seu contrato com a Williams. Com novo regulamento e a necessidade de um piloto experiente, parece ser uma boa caso o brasileiro queira continuar na categoria mais algum tempo;

– Parece que a Mercedes soube contornar muito bem o acontecimento entre seus pilotos no GP da Espanha. Rosberg admitiu ao longo da semana que fez besteira na largada e Hamilton se resumiu a agradecer ao companheiro o gesto que lhe proporcionou a vitória no Principado. Veremos até quando;

– Ontem, Alexander Rossi, ex-piloto da Fórmula 1 pela Manor no ano passado (ainda Marússia), estreou com vitória nas 500 Milhas de Indianápolis, em sua 100ª edição, e colocou seu nome na história do automobilismo. A vida de piloto, sem dúvida, é a que mais dá voltas.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. lsussumu says:

    Monaco é uma pista complicada, não da para condenar o Verstappen. Acredito que ele tenha muito para mostrar ainda.

    RBR gastando 13 segundos foi algo surreal, foi um erro muito primario. Fico imaginando o que se passava na cabeça do Riccardo. E mais para o fim da prova tive a sensação de que ele segurou para não passar o Comandante Amilton, para nao arruinar a prova dele e nem a do Amilton.

    Nasr deveria estar procurando outra equipe, afinal a Sauber já era.

    Proxima etapa acho que o Rosberg vai ir babando, afinal esse 6 lugar pode custar o campeonato para ele.

    Lauro o que você acha da proteção de cockpit que vai ter para ano q vem?

    Muito bom o texto.

    • Obrigado pela pergunta Sussumu. Minha opinião é direta: eu sou a favor de proteção do cockpit sim.
      Porém, isso não significa que eu seja favorável ao Halo, que é a proteção aprovada para a temporada de 2017.
      Ainda que urgente, na Fórmula 1 nada pode ser provisório, como parece ser o caso do Halo.
      Esteticamente, ele não é agradável na minha opinião. Já em termos de eficiência, ele é melhor que nada pois protege do impacto de peças maiores. Não sei se ele resolveria o caso de Felipe Massa e a mola na Hungria. Jules Bianchi não seria salvo com este dispositivo. Mas neste final de semana, por exemplo, uma tampa de bueiro das ruas de Mônaco se soltou e acertou o carro de Button, sem gravidade. Se viesse na altura da cabeça, as conseqüências poderiam ser trágicas.
      Há aqueles que defendem a tradição do cockpit aberto na categoria. Bom, esta tradição vai se perder. Porém, as laterais do cockpit já subiram tanto que só falta fechar mesmo.
      Espero que encontrem uma solução rápida, eficiente e esteticamente a altura do que pede a categoria.
      Um abraço e obrigado pelo prestígio de sempre.

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