Baku de opiniões diversas.


Pista de rua inédita marca a reação de Rosberg em uma corrida muito abaixo da expectativa. O campeonato volta para as mãos do alemão, reafirma a boa fase de Sérgio Pérez e reabre a discussão sobre pistas de rua e suas limitações.

Prazer, Baku.

Azerbaijão.

Se eu pegasse uma máquina do tempo há 15 anos e caísse agora, nos dias atuais, não acreditaria que um GP de Fórmula 1 seria realizado no Azerbaijão, provavelmente eu soltaria um palavrão cuja sonoridade remeteria ao local onde a pista de rua foi idealizada. Baku.

Com o Mar Cáspio ao fundo, que na verdade é um “lagão”, a pista na capital azeris foi idealizada por Herman Tilke, aquele mesmo de tantas outras pistas controversas que do calendário. Com uma reta enorme, onde os carros chegam a 340km/h, e trechos sinuosos e estreitos como uma subida ao lado de um castelo medieval, o traçado de Baku foi concebido para privilegiar a técnica e mostrar que um circuito de rua pode propiciar ultrapassagens.

Para os pilotos, opiniões diversas. Uns gostaram e elogiaram a qualidade do trabalho, apesar de algumas zebras soltas após o primeiro treino livre. Outros, como Jenson Button, classificou a pista como um retrocesso na questão de segurança. Na minha opinião, a pista não se apresentou ruim, mas não se pode esquecer que circuitos de rua não são uma primazia em segurança nem em pontos de ultrapassagem.

Acidentes? Claro, desde os treinos livres, mas sem a intensidade ou o risco que se temia.

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Falando de resultados agora, desde os primeiros treinos livres, Lewis Hamilton parecia que conhecia a pista desde pequeno. Mandou bem nos treinos livres, tendo sempre Rosberg na sua sombra, mas uma sombra longa como as das árvores ao final da tarde, hora do treino oficial.

Hamilton só poderia ser derrotado por ele mesmo. Hamilton, então, foi derrotado por ele mesmo depois de se ver atrás de Rosberg no Q1 e no Q2. Exagerou no Q3 e resvalou sutilmente em um dos guard rails do “S” do castelo e deixou o Mercedes “zarolho” que só. Largaria apenas na décima posição e dava assim a pole para o companheiro de equipe de mão beijada.

O motor Mercedes empurra muito, sem novidade, e foi colocar na primeira fila Sérgio Pérez, que está em ótima fase, diga-se. Mas, aquela batida nos treinos livres fez com que a equipe optasse pela troca do cambio e colocasse, então, Checo na sétima posição apenas. Bom para Ricciardo, que já estava feliz por ter conseguido bater os carros da Ferrari e acabou por dividir a primeira fila com a poderosa Mercedes.

Atrás de Vettel e Raikkonen veio Felipe Massa, que surpreendeu no treino oficial, se colocando três posições a frente de Bottas. Daniil Kvyat foi o sexto. Verstappen, que parece ainda não estar acostumado com circuitos de rua, foi apenas o nono colocado.

De novidade mesmo apenas o fato dos carros da Manor terem andado a frente da Renault, da Sauber de Marcus Ericsson e da McLaren de Jenson Button.

Pérez em ascensão. Ui, caramba!

Pérez em ascensão. Ui, caramba!

Muita expectativa para a largada e para o desenrolar da prova. Falava-se em corrida truncada, aquelas em que o carro a cruzar a linha de chegada em primeiro poderia causar surpresa.

Sérgio Pérez com vontade, Kvyat prometendo bom desempenho, Ricciardo tentando um pódio, Vettel e Raikkonen sempre perigosos e a dupla Hamilton e Verstappen vindo de trás. Tudo pronto para a estreia do GP do Azerbaijão, sede do GP da Europa deste ano.

Nota 10 em comportamento

Eu apostei que teríamos dois safety-cars reais, mais dois virtuais, zebra soltando, gato na pista e pelo menos sete abandonos, metade no previsível “salseiro” da largada. Mas parece que fizeram um pacto de bom mocismo entre todos e a largada foi mais tranquila do que se tivesse sido com safety-car.

Poucos pilotos mudaram de posição. Um deles foi Sérgio Pérez, que pulou para a quinta posição e deixou Felipe Massa muito pressionado por Kvyat. Porém, Massa conseguiu se segurar e Kvyat acabou segurando então Bottas e Hamilton por algumas voltas.

Teve briga? Teve, mas parece que o espectador quer ver "sangue".

Teve briga? Teve, mas parece que o espectador quer ver “sangue”.

Na abertura da quinta volta, Bottas abre de um lado e Hamilton do outro sobre Verstappen quando os três rasgavam a reta. Os três carros muito próximos chegaram na freada quase que lado a lado, a 340km/h, onde Bottas levou a posição de Verstappen e Hamilton o fez na sequência, na curva 2. Um começo de prova muito disputado.

Na volta seguinte foi a vez de Vettel fazer a ultrapassagem sobre Ricciardo e assumir a vice liderança da prova, mas nesta altura Rosberg já começava a pensar quem estaria ao seu lado no pódio. Raikkonen e Pérez vinham logo atrás de Ricciardo que, a esta altura, já demonstrava que o rendimento da Red Bull não estava bom como se pensava.

Havia uma expectativa de que apenas uma parada de box seria suficiente. No entanto, Verstappen e Alonso já foram para os seus primeiros pits com mais ou menos dez voltas, o mesmo para seus companheiros Ricciardo e Button, que o fizeram imediatamente depois.

Para a torcida russa, que comparecia em bom número, a alegria durou apenas sete voltas. Daniil Kvyat abandonou por problemas no Toro Rosso.

Massa era pressionado pelo companheiro Bottas e por Lewis Hamilton, e acabou optando por fazer a sua troca antes dos dois adversários diretos. E a Williams parece que está treinando direitinho, pois está muito mais eficiente nos pits do que no ano passado. A equipe chegou a igualar a marca recorde da Red Bull, de 2013, de 1s92 apenas. Impressionante!

Com a palavra, Kimi Raikkonen. Sempre com uma pérola.

Com a palavra, Kimi Raikkonen. Sempre com uma pérola.

Vettel também foi chamado para os boxes pela equipe, mas disse que estava tudo bem e seguiu na pista. Raikkonen, então, foi quem entrou para os boxes. E nessa leva de pit-stops, apenas Vettel, Bottas e o líder Rosberg retardaram ao máximos suas paradas.

Na pista, mesmo, continuava a torcida para ver se alguém iria entrar naquele castelo que parece uma pizzaria de São Paulo, ou se iria entrar algo estranho na pista, etc. Nada. Na verdade, uma ou outra ultrapassagem aqui e ali. A mais bonita delas, em minha opinião, a de Kimi Raikkonen sobre Hülkenberg na freada da reta, por fora, com precisão invejável. Raikkonen é um grande piloto, sem sombra de dúvidas, e posso até afirmar que ele salvou o GP da mesmice com suas declarações sempre diretas. A equipe, em determinado momento da prova pediu para que ele deixasse Vettel seguir a sua frente, ao que atendeu prontamente, mas mandou recado para equipe dizendo que era para o alemão acelerar pois ele não queria ficar preso atrás dele. O engenheiro chegou a pedir calma para ele em outro diálogo mais ao final da prova.

Hamilton pensando com seus botões

Para não dizer que ninguém acertou o muro, coube a Felipe Nasr arrancar uma labareda com a roda traseira na mesma curva em que, nos treinos livres, já havia vitimado Pérez e Ricciardo. Mas o brasileiro, diferente das outras situações, continuou sem problemas.

Já no terço final da prova, outra conversa de rádio, agora de Hamilton com seu engenheiro, deu a noção exata de que o inglês não passaria de ano se a prova do Enem fosse neste domingo. Como a comunicação entre piloto e box está mais restrita, o engenheiro não conseguia ser específico na tentativa de ajudar o tricampeão a resolver problemas no rendimento de seu carro. Ficou uma conversa mais ou menos como aquela brincadeira de “tá quente, tá frio”, muito engraçada por sinal. Parecia que Hamilton iria cortar o fio errado a qualquer momento e iria “explodir a bagaça” como se diz popularmente. É preciso estudar amigo.

Nem dois segundos. Treinaram, ah se treinaram.

Nem dois segundos. Treinaram, ah se treinaram.

Para a Toro Rosso, outra péssima noticia foi o abandono de Carlos Sainz, e ao que pareceu foi por problemas se suspensão.

Foram poucos abandonos pelo que se esperava. Outra vítima foi o outro espanhol, Alonso, que já havia duelado com Button e com Nasr, perdendo para os dois, inclusive. O motivo do abandono de Alonso foi falta total de freios, o que se esperava de outros também, mas que afetou demais o carro #14.

Os carros da Williams e da Red Bull desapontaram a todos. A primeira fila no grid para Ricciardo e a quinta posição na largada de Massa davam a expectativa de uma briga de ambos, não necessariamente entre ambos, pelo pódio. Nem Verstappen e nem Bottas foram bem também.

O pódio parecia que ficaria mesmo com Rosberg e os dois carros da Ferrari, mas Raikkonen não conseguiu segurar o terceiro lugar e o perdeu para Sérgio Pérez nas voltas finais. Mesmo que cruzasse a frente do mexicano, Raikkonen precisava de mais de 5s de vantagem para o mesmo por conta de uma punição recebida por cruzar a linha branca da entrada dos boxes. É que por ser um trecho de alta velocidade, os pilotos entraram em consenso de que ninguém deveria vir pela esquerda para evitar um acidente na entrada dos boxes.

Baku, dividindo opiniões.

Baku, dividindo opiniões.

Vitória tranquila de Rosberg, sem erros, com direito a pole e melhor volta. Mais que isso, o alemão ainda pode comemorar a distância de Hamilton, que cruzou apenas na quinta posição. Vettel fez pro gasto e conseguiu a segunda colocação e Sérgo Pérez chegou pela segunda vez em terceiro lugar esta ano, mostrando que a Force India em pistas velozes ainda pode dar trabalho, mais com ele até do que com Hülkenberg, que não está em boa fase, ao contrário de Checo.

Bottas, Ricciardo, Verstappen, Hülkenberg e Massa completaram a lista dos que pontuaram neste domingo.

Ao desligar dos motores….

– Rosberg teve um belo alívio com o resultado deste domingo. Não é suficiente, mas dá para repensar na estratégia das próximas etapas, pelo menos até a pausa para as férias. Mas, por melhor que sejam as previsões e as corridas daqui para frente, ou Hamilton vira tetra campeão ou a Alemanha terá mais um campeão do mundo depois de Schumacher e Vettel;

– Flavio Briatore, ele mesmo, deve ter pensado como seria fácil armar uma “estratégia” de interrupção da corrida naquela subida do castelo…;

– Carlos Sainz Jr cortejado pela Renault e Jenson Button, ao que parece, pode voltar para a Williams;

– Duas frases marcaram o final de semana automobilístico: “I have no brakes”, de Fernando Alonso antes de abandonar a corrida em Baku. “I have no power”, de Kazumi Kakajima, companheiro dos ex-pilotos da Fórmula 1 Sebastian Buemi e Anthony Davidson, depois de liderar boa parte das 24 de Le Mans deste ano e apresentar problemas antes de abrir a última volta. Coisas de um esporte que depende de máquinas;

– Por falar em categorias diferentes, a forma como as coisas aconteceram este final de semana provocaram reascenderam as discussões sobre competitividade nas diferentes modalidades de corrida de carros. A prova do Azerbaijão foi meticulosamente agendada para iniciar ao final da tradicional 24 Horas de LeMans. Esta última, uma categoria de endurance, teve um final absolutamente dramático, decidido nos segundos finais depois de um dia inteiro de carros virando na pista. Aí veio o GP da Fórmula 1 e frustrou aqueles que esperavam uma corrida agitada e cheia de imprevistos. Sobraram críticas para a pista estreante, para a mesmice dos carros prateados vencendo, e sobraram elogios para o show de velocidade dos fabricantes europeus e asiáticos, a pista era sensacional, etc, etc. Eu não conheço Le Mans a ponto de poder opinar com propriedade. Além disso, escrevo sobre Fórmula 1 e talvez minha opinião soasse tendenciosa sem pretensão de sê-la. Portanto, se alguém quiser escrever o que acha aqui, o espaço é seu, como sempre foi.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Fábio Abade says:

    Laurão, esse GP foi tão chato que nem veio nada à cabeça para comentar…kkkkk

    Vamo que Vamo pra qquer lugar longe de Baku!! rsrs

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