Rosberg nas cordas


Hamilton joga duro com Rosberg na largada, se aproveita da estratégia errada da Ferrari e leva o GP do Canadá deste ano, com Vettel e Bottas ao seu lado no pódio. Rosberg foi apenas o quinto e o campeonato embola.

Meu lugar na fila é na frente

Não há mais dúvidas que a Red Bull chegou forte para brigar com a Ferrari e tentar sempre colocar um de seus pilotos no terceiro degrau do pódio, certo? Ok.

Só que já temos seis etapas completas no mundial e, desde que este começou, só se escuta (e se espera) quando a Ferrari, enfim, fará frente a poderosa Mercedes. Aí o Vettel se esforça no discurso, até porque o Raikkonen não consegue isso, e a equipe gasta fichas de desenvolvimento de motor, melhora a aerodinâmica, pede para os pilotos emagrecerem e… enfiam quase quatro décimos de segundo no último treino livre na sétima etapa do mundial! E com a Red Bull na segunda posição!

Mercedes escondendo o jogo? Não precisa.

De novo, não foi desta vez ainda que os carros vermelhos ou os azuis conseguiram superar os prateados. A Mercedes veio para o treino oficial forte como sempre e viu seus dois colocarem seus desempenhos no limite.

Rosberg foi passear no parque pela trilha errada.

Rosberg foi passear no parque pela trilha errada.

O Q1 teve a participação de 21 carros apenas porque Magnunsen, da Renaul, danificaou seu carro um pouco demais no terceiro treino livre e a equipe resolveu trocar tudo, menos a cor do carro. O dinamarquês vai largar do pit-lane.

Sem muitas novidades no pelotão de trás, os dois carros da Sauber e da Manor foram eliminados como sempre, sendo que o Rio Haryanto facilitou a sua eliminação ao tocar o gurad-rail com a roda traseira, furando o pneu de imediato e se recolhendo mais cedo das atividades do sábado à tarde. Ah, na Sauber, Ericsson pagando cinco posições (e não dez como escrevi na resenha passada) daquele acidente tosco com seu companheiro Nasr.

Ocupariam as últimas seis posições no grid não fosse a intrusão de Carlos Sainz Jr, penalizado em 5 posições por ter trocado o câmbio. Esta troca se deu pelo fato de que Sainz, apesar de dão ter título na categoria, bateu justamente no famoso “Muro dos Campeões” da entrada da reta e obrigou a direção a acionar a bandeira vermelha no Q2.

Me parece que os carros da Haas precisam de uma atualização rápida. Seus dois pilotos ficaram pelo Q2 e vão largar em décimo terceiro e décimo quarto lugares, com vantagem para Gutiérrez sobre Grosjean. Isso porque Kvyat foi penalizado com três posições no grid, também por problemas no Principado há duas semanas.

McLaren e Force India deixaram, cada uma, um de seus pilotos no Q2 e dois passaram para o Q3. Os desclassificados foram Pérez e Button, que alinharam na sexta fila, tendo logo a frente seus companheiros Hülkenberg em nono e Alonso, que levou o McLaren de novo para o Q3, em décimo.

A quarta fila ficou com os carros da Williams, sendo que Bottas superou o brasileiro Massa e ficou com a sétima posição. Massa, que sofreu um forte acidente na sexta, teve que andar com uma asa traseira não atualizada, e se disse satisfeito com o seu resultado devido a esta condição.

Max Verstappen foi outro que fez um bom treino, assegurando a quinta posição logo à frente de Raikkonen, mas atrás de seu companheiro de equipe Daniel Ricciardo, que recebeu desculpas do time pelo erro crasso ocorrido em um de seus pit-stops em Mônaco e disse, abertamente, que acha que merece disputar o título mundial.

Vettel fez o que pode, melhorou em relação aos treinos livres, mas não conseguiu chegar mais perto do que 0.178s da pole position, que mais uma vez ficou com Hamilton no Canadá. Mas entre eles ainda tinha Nico Rosberg, apenas a 0.062s do inglês. Pouquíssima diferença entre os três melhores colocados nos treinos, o que dava um prenúncio de uma bela corrida.

O raio vermelho

Havia a expectativa de chuva na Ilha de Notre Dame. Durante a abertura da transmissão, algumas câmeras posicionadas perto do Hairpin apareciam com alguns pingos de chuva na tela, isso faltando pouco mais de meia hora para a largada. No entanto, ela não veio em nenhum momento da prova, apesar do céu pesado.

Vettel deixou escapar a vitória, porque desta vez, parece que dava.

Vettel deixou escapar a vitória, porque desta vez, parece que dava.

Não choveu mas teve um raio, chamado Vettel. Enquanto os dois carros da Mercedes se entreolhavam e se aproximavam para o lado direito da pista logo após o apagar das luzes vermelhas, Vettel puxou o carro para a esquerda saindo de traz de Hamilton e tomou a ponta com tranquilidade antes ainda da primeira curva.

A tendência era que os carros da Mercedes alinhassem em segundo e terceiro, não fosse aquela Lei de Newton que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Hamilton, ao que me pareceu, estudou mais e, “embarrigando” mais a curva acabou gerando um toque entre eles e Rosberg teve que ir para fora da pista, caindo para a décima posição. Não bastasse isso, Rosberg se viu imediatamente atrás de uma disputa entre Hülkenberg e Alonso, fazendo com que o alemão perdesse ainda mais tempo. Péssimo começo de prova para Rosberg.

Vettel seguia na frente mas era Hamilton quem fazia as melhores voltas e diminuía a diferença para a Ferrari. Enquanto isso, Rosberg errava e passava reto na freada da chicane antes da reta dos boxes.

Pouco mais atrás, um bloco formado por Alonso, Button, Pérez, Grosjean, Gutiérrez, Sainz e Kvyat vinha muito próximo um do outro, todos disputando diretamente posições, até que o motor de Button decidiu que não queria mais brincar e deu aquela escapada “ninja”, com bastante fumaça e até um princípio de incêndio. Veio então o safety-car virtual.

A Ferrari decidiu ir para uma estratégia ousada e chamou os dois carros para os boxes ao mesmo tempo, o que não afetou Raikkonen por causa da diferença de tempo entre ambos na pista. Vettel voltou na quarta posição enquanto Hamilton assumiu a ponta.

Verstappen, Bottas e Rosberg. Só o alemão se deu mal deste trio.

Verstappen, Bottas e Rosberg. Só o alemão se deu mal deste trio.

Entre os pilotos da Mercedes e da Ferrari, os carros da Red Bull, com Verstappen segurando Ricciardo sem permitir o mínimo de dúvida sobre quem manda agora na Red Bull (pelo menos quem pensa que manda). Mas esta disputa entre os carros da equipe austríaca logo teve que mudar de enredo com a chegada de Vettel, que passou ambos até de maneira relativamente fácil. Rosberg era sétimo neste momento.

Passou do ponto

Não demora muito e o primeiro pelotão vem todo para os boxes. Verstappen, Ricciardo, Pérez e o próprio Rosberg. Os carros da Williams se mantinham na pista.

Sebastian Vettel continuava diminuindo a diferença para Hamilton, que já apresentava pneus muito desgastados. O remédio? Box, box, box. No retorno a pista, o inglês tinha uma desvantagem de treze segundos para Vettel, agora ele com pneus mais novos. E a diferença foi caindo, caindo, enquanto as atenções estavam na briga entre Raikkonen, Ricciardo, Bottas e Rosberg, que escalava lentamente as posições que perdera na largada.

A Ferrari então colocou em prática a estratégia de duas paradas e chamou Raikkonen primeiro que Vettel, que veio logo em seguida. Entre as paradas do time de Maranello, Massa parou em definitivo nos boxes e não voltou, com problemas no carro.

O piloto alemão começou então um trabalho de formiguinha e tirava alguns décimos em todas as voltas. De vez em quando alguém atrapalhava um pouco, como fez Grosjean. Mas as voltas de Vettel tinham que ser perfeitas para que ele conseguisse, enfim, a chance de lutar pela primeira vitória do ano. Parecia que chegaria.

Enquanto isso, Bottas, que já tinha feito uma parada, ficava quietinho assistindo os adversários fazerem suas segundas paradas e assumia a terceira posição.

Sabe aquela expressão “andando mais que o carro”? Era o que acontecia com Vettel. O preço foram dois erros, duas escapadas de pista e o aumento da diferença de maneira que não fosse mais possível para ele alcançar Hamilton.
Mas, se a vida estava mais tranquila para a Mercedes #Mas, se a vida estava mais tranquila para a Mercedes #Mas, se a vida estava mais tranquila para o piloto do Mercedes #44, o outro carro da escuderia, #6, estava lutando como dava para tentar pelo menos um quarto lugar. O problema é que pela frente estava Max Verstappen.

Coloquei uma foto da Renault porque achei bonita. Só isso.

Coloquei uma foto da Renault porque achei bonita. Só isso.

A briga entre ambos foi bonita. Nico nitidamente com mais carro que Verstappen, mas o holandês é de uma personalidade que dá gosto e segurou Rosberg por algumas voltas, até que o alemão forçou a passagem ao retardar a freada da chicane da reta dos boxes além do limite, resultando em uma escapada feia que, se fosse em outro ponto da pista, poderia tirar Rosberg da prova. Mas ele voltou e garantiu a quinta posição.

Raikkonen foi apenas o sexto colocado, mas pior ainda foi Ricciardo, que largou em quarto mas cruzou a linha de chegada em sétimo, isso porque Massa abandonou. Nico Hülkenberg, Carlos Sainz Jr e Sérgio Pérez fecharam os dez primeiros colocados.

Um GP que prometia mais do que realmente foi. A classificação do sábado deixou um gostinho de corridaça e a perspectiva de pista molhada poderia dar uma pitada de drama. Nem safety-car teve.
Já o campeonato, que parecia definido em favor de Rosberg, muda de perspectiva e vai para uma pista desconhecida de todos. Poderemos ter mais surpresas.

Ao desligar dos motores…

– Carlos Sainz é tido por Alain Prost como companheiro ideal para Vettel ano que vem. No entando, seu nome é fortemente ventilado na Renault para o ano que vem. Vai começar a dança das cadeiras, e é Rosberg quem precisa se definir para começar a música;

– Por falar em Renault, Massa também diz que conversa com a equipe francesa;

– Hamilton homenageou Muhamed Ali no rádio logo após a vitória, repetindo a frase do maior lutador de box peso pesado de todos os tempos que dizia “voe como uma borboleta, ferroe como uma abelha”. Ao sair do carro, dançou como o pugilista fazia nos ringues. Bela homenagem;

– A FIA optou pelo Halo como proteção para a cabeça dos pilotos no ano que vem. O motivo, segundo minha leitura, foi a falta de testes do screen que a Red Bull propôs. Feio, mas necessário;

– Hamilton talvez não venceria em Mônaco, mas a Red Bull ajudou. Talvez não vencesse em Montreal, já que Vettel estava na frente com boa vantagem, mas a Ferrari ajudou. Sorte de tetracampeão? Rosberg terá forças para ser campeão? Acho que a grande aposta é saber quantas vezes eles ainda vão se tocar até o final do ano;

– Hëineken, a nova parceria.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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