Agora, são outros quinhentos


Mais uma vitória de Hamilton e toda a vantagem que Rosberg abriu no início do mundial se transformou agora em um revés de seis pontos. Ricciardo voltou ao pódio e Raikkonen foi o destaque da prova.

Amarelou, mas não teve punição

Se havia um momento no campeonato em que Nico Rosberg deveria mostrar força, este momento era agora, na metade do campeonato. Em uma competição no qual o conjunto homem-máquina pode falhar, o homem não poderia.

E, de quebra, a Mercedes reiterou a confiança no piloto alemão, anunciando a renovação de seu contrato até 2018. Se é merecido ou não, aproveito e já deixo esta pergunta no ar para você que está lendo. Na minha opinião, um dos cockpits mais disputados do grid vai permanecer, por mais duas temporadas, nas mãos de um piloto que… Bom, vamos ao que aconteceu no leste europeu.

Com muita água, mas muita água mesmo na pista em razão de um temporal que persistia até o início do Q1, a sessão atrasou. O safety-car foi verificar as condições do traçado e aproveitou para pegar um tubo em algumas curvas, um toboágua em outra, e assim por diante. Carros na pista, apenas dez minutos depois.

Mesmo com resultado não significativo, Felipe Nasr chamou atenção.

Mesmo com resultado não significativo, Felipe Nasr chamou atenção.

Com a pista um pouco melhor, os carros foram liberados, mas acabaram voltando para os boxes com o acionamento da bandeira vermelha em razão da volta da chuva.

Parecia que teríamos aquele grid todo misturado em uma pista de difícil ultrapassagem. E assim como a água que descia pelos ralos, alguns pilotos viram suas classificações indo pelo mesmo caminho. Marcus Ericsson foi o primeiro a estampar seu carro azul na proteção de pneus, o que o forçaria a largar dos boxes.

Com a pista melhorando, tinha gente que arriscava mais. Massa foi um deles, mas um erro levou o brasileiro para a proteção também e acabou com o treino no brasileiro. O outro Felipe, Nasr, ficou com o melhor tempo por alguns momentos, mostrando o que sabe fazer no molhado.

A maioria já usava pneus intermediários, mas ainda tinha Haryanto para estacionar seu carro na brita e acabar com o Q1. De fora, apesar das intempéries, praticamente os mesmos de sempre, ou seja, os dois pilotos da Renault, os dois da Manor, Marcus Ericsson e Felipe, só que o Massa, não o Nasr.

O Q2 foi agitado demais. A pista secava a cada segundo e os pilotos testavam os pneus para pista seca. O melhor tempo foi trocando de mãos a cada carro que cruzava a linha de chegada. Com todo mundo arriscando tudo que podia. Felipe Nasr mantinha a boa performance e chegou a fazer o quarto tempo, praticamente carimbando sua passagem para o Q3. Mas, surpreendentemente já com a quadriculada indicando o final do Q2, quase todos melhoraram os seus tempos e Nasr acabou na décima sexta posição. Raikkonen, que chegou a ter o melhor tempo, foi o décimo quarto. Entre ele e o brasileiro ficou Esteban Gutiérrez, da Haas. Já seu companheiro Grosjean foi o décimo primeiro, seguido por Daniil Kvyat e Sérgio Pérez.

Fernando Alonso voltou a andar (um pouco) mais a frente

Fernando Alonso voltou a andar (um pouco) mais a frente

Na hora da onça beber água, já não tinha água para beber. A pista ainda tinha pontos perigosos fora do trilho e era tudo ou nada. Hamilton parecia tranquilo para assegurar a pole, mas em sua última tentativa se viu obrigado a diminuir o ritmo em razão de uma rodada de Fernando Alonso. Não faltaram bandeiras amarelas para avisar, e todo mundo que vinha atrás diminuiu o ritmo. Quer dizer, quase todo mundo.

É certo que o carro de Alonso já não estava em local perigoso, e Rosberg nem tomou conhecimento das condições. Fechou a volta e tomou a pole de Hamilton por 0.143 segundos. Mas os comissários levaram horas até ratificarem a pole do alemão, sob protestos da Red Bull, que ficou com a segunda fila. Eu, particularmente, acho que ele foi favorecido. Na terceira fila, Vettel teve a companhia de Sainz Jr, que surpreendeu com o sexto lugar, a frente de Fernando Alonso e Jenson Button. Aliás, a McLaren andou de maneira mais decente nos treinos, em pista onde o chassi fala mais alto que a potência do motor. Fechando os dez do grid, Hülkenberg e Bottas.

Com todo o cuidado

Sol de rachar na manhã de domingo. O asfalto sofria o efeito do espelhismo, aquele fenômeno que faz parecer que o asfalto está molhado.

E as provas de que Rosberg talvez ainda não esteja pronto para ser campeão começaram na largada. Preocupado em se defender de Hamilton, que largava por dentro e na parte suja da pista, Rosberg não viu a ação de Ricciardo, por fora, e que acabou passando ambos por alguns momentos. Mas Hamilton fez a ultrapassagem sobre o australiano e Rosberg também não perdeu tempo, mas já era do inglês a liderança da prova.

E que largada linda. Os cinco primeiros carros chegando juntos na primeira curva, sem toques ou maiores prejuízos. Uma largada muito comportada também, por sinal.

Ainda no começo da prova, o carro de Jenson Button apresentou problema de câmbio e o inglês foi ficando para trás, dando toda pinta de abandono. Pelo rádio, o time orientava o que fazer, o famoso “ctrl+alt+del”. Entrou nos boxes para recolher o carro e a equipe apenas trocou os pneus e o mandou de volta para a pista. Depois tomaria um drive-thru e abandonaria em definitivo.

Aqui, parênteses: durante a transmissão a qual eu estava ouvindo, foi dito que a FIA estuda que o piloto, para receber instruções do time pelo rádio, só o poderá fazê-lo no pitlane. Ou seja, se o problema for muito complexo, passe mais devagar possível e, claro, atrapalhe ao máximo a vida de quem não tem nada com isso. Essa medida, assim como os sensores colocados em uma das zebras para punir aqueles que excedessem os limites da pista e, assim, ganhassem tempo, está desgastando a imagem da Fórmula 1. Será que essa chatice continua por muito tempo?

Enquanto Hamilton e Rosberg alternavam melhores voltas, Raikkonen vinha ganhando posições na pista, ainda sem as paradas para troca de pneus. Por falar nas paradas, foi Vettel quem abriu os trabalhos desta vez. Aliás, estratégia bem diferente dos pilotos da Ferrari, uma vez que Raikkonen faria sua parada bem mais tarde.

Na liderança, nenhuma troca de posições, embora pareceu por muitas vezes que Rosberg viria para cima de Hamilton para demarcar território.

Entre os mais prejudicados, Verstappen perdeu tempo nos boxes e voltou brigando com Raikkonen pela sétima posição.
A corrida de Felipe Massa foi para esquecer. Largou atrás, levou bandeira azul de tudo que é lado e ainda ouviu ficou exposto a ira de Vettel, que reclamou do brasileiro pelo rádio para todo mundo ouvir.

Hamilton abrindo caminho após a largada enquanto Rosberg ainda brigava com Ricciardo

Hamilton abrindo caminho após a largada enquanto Rosberg ainda brigava com Ricciardo

Mesmo a segunda rodada de pit-stops não trouxe muitas novidades. A única que chamou a atenção foi a de Sérgio Pérez, que chegou em um momento que a equipe estava degustando um tandoori chicken. Aí atrasou tudo para o lado do mexicano.

Gesto universal

Sem grandes brigas na pista, os pontos altos foram uma escapada discreta de Jolyon Palmer, mas com direito a um retorno perigoso para a pista, e a reclamação de Hamilton com Gutiérrez. O mexicano da Haas demorou para abrir passagem para o líder da prova e foi educadamente advertido com o gesto mundial que sinaliza desentendimentos de trânsito, proferido por Hamilton. Gutiérrez ficou ofendido, coitado, mas o mundo aí fora é selvagem, pequeno Estebán, mamãe não avisou?

Raikkonen era o protagonista da corrida. Em sexto, depois de sua segunda parada para troca de pneus, chegou em Verstappen e ambos protagonizaram a disputa do final de semana. Parecia que Raikkonen iria engolir o holandês, mas o garoto nasceu dentro de um cockpit, não é possível.

Defendendo-se com garra, Verstappen provocou um toque de Raikkonen em seu pneu traseiro, em que o prejuízo ficou todo com no carro da Ferrari. Até nisso o menino tem sorte, porque era o típico toque para rasgar o pneu. Raikkonen reclamou e, mais tarde, Verstappen ficou surpreso em saber que o finlandês conseguia falar. Marrento esse menino.
No final da corrida, Hamilton chegou a cometer um erro que fez Rosberg ficar a meio segundo de retomar a liderança perdida na largada. Acontece que Hamilton tinha mais recursos e tratou de abrir sempre que foi colocado a prova. Nem mesmo os retardatários atrapalharam uma possível investida de Rosberg.

Ricciardo, mais aliviado de ter chegado a frente de Verstappen

Ricciardo, mais aliviado de ter chegado a frente de Verstappen

O resultado do GP da Hungria não poderia ter sido outro senão a vitória de Hamilton e a dobradinha da Mercedes, com os dois carros da Red Bull segurando os oponentes da Ferrari nas brigas pela terceira e quinta posições. Ricciardo foi ao pódio.

Em sétimo, Alonso fez uma corrida descente como o treino classificatório, mesmo chegando uma volta atrás. Sainz Jr também fez o que poderia com o equipamento que tem e cruzou em oitavo, a frente de Bottas e Hülkenberg.

Ao desligar dos motores…

– Dizem que quem larga na frente na Hungria só perde a prova de errar, porque a ultrapassagem é impossível. Será que ninguém ouviu falar de Nelson Piquet?;

– A Sauber foi vendida e o simpático Peter Sauber vai deixar a equipe que leva o seu nome. Um mal necessário que faz com que Felipe Nasr reconsidere a possibilidade de se manter na equipe, agora com dinheiro para desenvolvimento;

– Hamilton tirou 40 pontos de desvantagem e já abriu seis de Rosberg com o campeonato chegando na metade ainda. O alemão tem a chance de reverter em casa a situação já no próximo final de semana, senão, vai ter que voltar para a terapia;

– Raikkonen correu mais leve de contrato renovado, embora ele não aparente sentir a pressão destas coisas. Aliás, Raikkonen é um caso a ser estudado. Fez a melhor volta da prova;

– Ricciardo chegou a frente de Verstappen. Ele precisava disso;

– Piloto é uma coisa engraçada mesmo. Alguns reclamaram que o novo asfalto húngaro tirou uma das características da pista, que eram suas ondulações. Vai entender.

A nova geração de fãs já está ai, mas merece mais da categoria

A nova geração de fãs já está ai, mas merece mais da categoria

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Segundo as más línguas, Raikkonen esta até agora atrás de Verstappen tentando ultrapassar e não consegue…

    É incrível como com todas as alterações dos carros, motores e pilotos nos últimos tempos, sempre no começo de todo ano uma coisa pode ser cravada: a corrida da hungria é sempre a mais chata, a mais difícil de acompanhar. Quase sempre, aquele que sai na frente chega liderando a procissão, como aconteceu mais uma vez.

    A única diferença que tivemos foi o fato de que quem deveria, em tese, liderar a procissão, o “coroinha” Rosberg, deixou mais uma vez Hamilton passar a frente, isto porque teoricamente Hamilton largou do lado “sujo” da pista… Imaginem então se largasse do lado bom???

    Enfim, a cada corrida vemos a cronica do tetracampeonato anunciado se aproximar. Alguém para impedir isto? Difícil.

    Se o principal concorrente de um piloto é o seu companheiro de equipe, podemos dizer então que Hamilton “corre” sozinho? Maldade excessiva? Ou realidade que se impõe através dos fatos?

    Respostas no próximo domingo (se bem que… será que é preciso ainda mais?)

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