Tetra à vista!


Hamilton dominou a prova e venceu novamente. Rosberg cruzou em segundo mas perdeu a posição para Verstappen por ter infringido o regulamento de comunicação entre equipe e piloto. Entre os pilotos da Mercedes, o roda-a-roda agora é na tabela de classificação.

A dura vida de bad boy

Uma faixa no circuito de Silverstone avisava a Rosberg: “Cuidado, curva a frente, não se esqueça de virar”, em uma tradução mais próxima. Afinal, uma semana apenas não foi tempo suficiente para a polêmica do acidente entre ambos baixar totalmente a poeira.

A equipe Mercedes ameaçou ambos em reunião, dizendo que novo acidente não seria tolerado, e tal. Mas foi Niki Lauda, diretor do time alemão, que fez o maior estrago ao dizer que Hamilton havia quebrado um monte de coisas nos aposentos da equipe após o treino no Azerbaijão, e que teria mentido sobre o seu relacionamento com Rosberg, ao que teria dito que está tudo como antes quando na verdade ambos mal se falam. Depois, teve que dizer que não era bem aquilo, que Hamilton era bom moço e que todo mundo era legal, mas a informação ruim corre demais, mais rápido até que o carro da equipe alemã.

A própria Mercedes chegou a dizer que, pelo bem do esporte, não daria ordem aos seus pilotos com o intuito de evitar possíveis acidentes. Apesar de positivo, difícil acreditar que não deverá haver interferência do time ou que haverá punição para um dos dois pilotos caso nova troca de tinta entre ambos aconteça.

Molhou, safety-car.

Molhou, safety-car.

Hamilton, apesar de toda a carga de bastidores, dominou o treino do começo ao fim, tanto os livres quanto o oficial. No treino classificatório, Hamilton chegou a fazer a pole, mas os comissários anularam seu tempo porque o inglês chegou a sair com as quatro rodas do traçado, o que lhe daria uma certa vantagem. Tudo bem. Hamilton foi lá e fez o melhor tempo de novo, acabando com as pretensões de Rosberg, o segundo colocado.

Na segunda fila, os carros da Red Bull. Verstappen e Ricciardo, mas ai a Fórmula já é outra, afinal, um segundo atrás dos carros prateados ainda é muito. Na terceira fila teríamos os dois carros da Ferrari, mas Vettel, mais uma vez, teve que trocar o câmbio e foi punido com cinco posições no grid, caindo para a décima primeira posição. Assim, Raikkonen em quinto e Bottas em sexto.

Carlos Sainz e Nico Hülkenberg, além de Fernando Alonso e Sérgio Pérez, completaram as cinco primeiras filas.
Massa não foi nada bem, ficou apenas com o décimo segundo tempo, logo a frente dos carros da Haas. Kvyat ficou em décimo quinto, a frente da Ranault de Magnussen, e Jenson Button acabou ficando entre os dois carros da equipe francesa, em décimo sétimo.

Ruim mesmo está a vida da Sauber, amigo. Atrás agora da Manor no grid e vendo Ericsson nem participar do treino oficial depois de destruir o carro em uma pancada muito forte no terceiro treino livre. O sueco poderia não correr, ou por veto médico ou por falta de peças ou de fita adesiva para remendar o carro azul #9. Maldade minha, mas só a parte da fita. Liberado, Ericsson correu.

Verstappen dá show de novo

A chuva pode ser bem-vinda nas corridas de automóvel, mas eu não entendo porque tanto cuidado com as largadas. A Fórmula 1 é uma categoria em que os carros partem parados e lado a lado, e assim deve continuar sendo. Parece-me que basta alguém deixar cair um copo d’água no asfalto que se faz necessário o uso do safety-car. Não gosto, embora entenda que é uma maneira de manter mais pilotos na disputa por mais tempo. Neste domingo, a chuva tão esperada na Áustria foi lá molhar toda a pista inglesa, determinando safety-car por cinco voltas.

Só gente grande nesta foto, mesmo.

Só gente grande nesta foto, mesmo.

Como já não estava mais chovendo propriamente, na hora em que o safety-car liberou a pista, metade dos competidores já se encaminharam para os boxes para trocar o pneu de chuva pelo intermediário. Na ponta, Hamilton segurou a posição, seguido de Rosberg e Vertappen.

Claro que ainda estava escorregando, e muito em alguns trechos. O primeiro a aquaplanar legal foi Pascal Wehrlein, da Manor, o mesmo que fez uma corridaça na Áustria. Pelo rádio, o famoso “sorry guys”, e a direção de prova determinou safety-car virtual na curva 1.

Foi neste momento que os líderes foram para os boxes, e voltaram sem perder posição. Hamilton, Rosberg, Verstappen, Pérez, Ricciardo, Raikkonen, Sainz, Massa, Bottas, Hülkenberg, Alonso, Vettel e Kvyat. Estes eram os principais pilotos na disputa pelos pontos, todos muito próximos. Mas a pista, ainda molhada, ia fazer muita gente rebolar.

Bottas rodou na disputa com Hülkenberg, mas voltou. Logo depois, Raikkonen deu um belo passeio pela área de escape, mas segurou o carro e voltou. Enquanto isso, Massa segurava Hülkenberg, Alonso e Vettel, os quatro muito próximos, porque o brasileiro era lento como em todo o final de semana. Foi neste momento que Vettel foi para os boxes novamente para arriscar com pneus de pista seca, já que o traçado apresentava melhoras a cada volta.

Verstappen se aproximou muito de Rosberg, mas o motor Mercedes respondia bem como era de se esperar. Até que Rosberg deu uma pequena errada, o suficiente para Verstappen colocar por fora com a pista ainda não totalmente seca e fazer uma manobra linda, arrancando aplausos dos presentes (e porque foi em cima de Rosberg, claro).

Todo mundo colocando pneus secos. No caso da Renault, tentou inovar e arriscou colocar apenas três no carro de Palmer. O experimento durou alguns metros e logo os mecânicos tiveram que buscar o rapaz e empurrar o carro de volta para a colocação de mais um pneu. Patético, e rendeu 10 segundos de penalização ao filho do “Seu” Jonathan.

O melhor dos que não vestem prata

O melhor dos que não vestem prata

Verstappen chegou a liderar por alguns momentos quando Hamilton foi para os boxes. Rosberg foi junto, Ricciardo e Pérez também. Parecia ser a escolha certa no momento, até que o Vettel deu um belo currupio, mas também conseguiu voltar. Aliás, a curva 1 parecia ter outro traçado pois praticamente todos os pilotos deram uma voltinha por fora da pista. Alonso foi um dos que escapou mais forte e atravessou a brita, o que possibilitou o mesmo de voltar. Antes, ele já havia travado uma bela disputa com Felipe Massa, com direito a roda na grama e tudo mais.

Outra briga boa, mais para a parte final da prova, foi entre Massa, Kvyat e Vettel, pelo nono lugar naquela altura. Vettel e Kvyat deram um pouco de show para os presentes. Já pensou se os dois se tocam de novo?

“Alô, é dos boxes?”

Pista quase totalmente seca e Rosberg foi tirando diferença de Verstappen. A ultrapassagem seria questão de tempo, mas o menino da Red Bull valorizou muito a disputa e deu várias fechadas de porta no alemão, todas leais, diga-se. Parece que Verstappen não fez outra coisa na vida senão pilotar, porque seu posicionamento na pista é de quem conhece muito. Mas, mesmo com todo esforço, Rosberg conseguiu a ultrapassagem e reassumiu a segunda posição, com outra bela manobra.

Lembram da briga entre Massa, Kvyat e Vettel? Pois bem. Depois de ter passado por Kvyat, Vettel chegou no brasileiro e, na tentativa de ultrapassagem, o alemão foi jogando Massa para fora, exatamente como Rosberg fez com Hamilton corrida passada. Foi meio grotesco, mas mesmo alegando pista escorregadia, Vettel foi punido com cinco segundos.

Para salvar a Ferrari, Raikkonen lutou e passou por Sérgio Pérez e assumiu a quinta posição, atrás dos dois carros da Mercedes e da Red Bull, como no início da prova.

Ele fica em Maranelo ano que vem.

Ele fica em Maranelo ano que vem.

Nas voltas finais, um drama para Rosberg. Sem esboçar o mínimo de possibilidade de atacar Hamilton, o líder do mundial teve um problema se câmbio que parecia ter travado seu carro na sétima marcha. Em conversa pelo rádio com os boxes, o alemão foi orientado a evitar a mesma e, com outros ajustes tipo “ctrl + alt + del”, parece que o carro voltou a andar bem, embora a diferença entre ele e Verstappen tenha caído bastante.

O único “probleminha” é que estas conversas estão proibidas, sendo que apenas podem ser aceitas em caso de ameaça a segurança do piloto ou dos demais participantes. Não era o caso, e Rosberg passou a ser investigado pelos comissários. E seria punido três horas após o termino da corrida.

Hamilton venceu com tranquilidade, seguido de Rosberg e Verstappen, que chegaram receberam seus troféus como segundo e terceiro colocados respectivamente, mas devem marcar hora e local para trocarem suas premiações. Ricciardo foi o quarto colocado, seguido de Raikkonen, Pérez, Hülkenberg, Sainz Jr., Vette e Kvyat.

Ao desligar dos motores…

– Jenson Button é a peça chave na dança das cadeiras para 2017. Por que? Siga;

– Kimi Raikkonen teve seu contrato com a Ferrari renovado para o ano que vem, esfriando muito o mercado. Segundo Maurizio Arrivabene, Kimi “vá benne” e deve continuar por merecimento. Li durante a semana que ele é o campeão do mundo que menos faz na categoria no momento entre os que já levantaram a taça. Acho que não é bem assim, afinal, se fosse ano passado, o nome seria Button, certo?;

– A Williams, além de não render na pista, sinalizou também perda de dinheiro por conta da desvalorização da libra depois do plebiscito inglês que optou pela saída do país da União Européia, o chamado “Brexit”. Aqui também é cultura;

– Felipe Massa segue sem renovação, mas viu na imprensa que é a primeira opção da Williams ainda. Com a crise, vai ter que abrir mão de algumas coisa (entenda-se salário) para continuar na equipe britânica;
– A outra vaga da Williams pode ficar com Nasr, que até fez uma boa corrida hoje novamente, mesmo ficando lá no fundo do grid. A Renault também pode ser o caminho;

– A vitória de Hamilton e o terceiro lugar de Rosberg fez com que a diferença entre ambos caísse para um ponto apenas. Será que a Mercedes vai interferir para mantê-los mais longe até na tabela? Bom, a verdade é que o time da estrela vai entrar com recurso e tentar anular a punição e recuperar a dobradinha;

– Na minha opinião, se a comunicação técnica, assim como ordens da equipe, entre box e piloto são proibidas, a punição de 10 segundos aplicada a Mercedes foi muito branda. E se o risco alegado pela própria equipe era o de que seu carro poderia não completar a prova caso a interferência não fosse feita, apenas piora a situação. Hipoteticamente, o líder da prova pode recorrer ao recurso para resolver um problema sério que pode impedi-lo de completara a prova e, se estiver a mais de dez segundos do segundo colocado, a vitória continua garantida. A FIA se embananou de novo.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Repetindo o que disse Alonso: a dona “FIA” deve brincar de fazer regulamentos (esdrúxulos, por sinal).

    Determina que o carro tenha tecnologia da Enterprise, mas, como uma espécie de compensação saiba-se lá a favor de que ou quem, os métodos de comunicação se deem com a mesma tecnologia aplicada a aquela antiga brincadeira infantil, consistente em um barbante ligado com duas latas…

    Ah vá, né!

    E a disputa do campeonato, começa quando? Sim, porque disputar Hamilton com Rosberg beira a covardia… Enquanto nas etapas iniciais Hamilton ainda estava em “ritmo de festa”, Rosberg abriu um caminhão de pontos.

    Mas, quando alguém avisou Hamilton que o campeonato já havia começado e que ele poderia tornar-se tetra campeão, é uma sova atrás de outra em Rosberg. Portanto, há de se reconhecer, Hamilton disputa com Hamilton, sendo Rosberg um coadjuvante de luxo…

    Enfim, esperemos as próximas corridas. Se Hamilton com a cabeça nas nuvens já é osso duro de roer, imagina só em uma crescente rumo ao quarto título??? Sinceramente, pode mandar começar a preparar a festa do tetra…

    E por falar em tetra, tomar que seja (nunca pensei que iria falar isto mas, vamos lá…) com Galvão Bueno gritando “é tetra, é tetra, é tetra”, pois Luiz Roberto, numa boa, não serve pra narrar nem corrida de lesma… Pelamor de deus!

  2. Glauco! Que bom te-lo aqui comentando mais uma vez conosco. E sempre com propriedade.

    Eu acho Hamilton muito superior ao Rosberg. Vou além (e vou provocar polêmica): acho ele o piloto que mais se parece com Ayrton Senna pilotando. Não o tempo todo como o brasileiro fazia, mas toda vez que é necessário.

    Sobre o Galvão, por mais que se fale dele, acho o melhor narrador esportivo de todos. Pode ser ufanista, pode ser chato, pode até falar besteiras, mas é o cara que narra melhor qualquer tipo de esporte.

    Um grande abraço amigo, volte sempre!

Leave a Reply to Glauco de F. Pereira Cancel reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *