Crash, quase crash e outros flashes


Rosberg vence, Hamilton se recupera com um pódio depois de largar na última fila e Ricciardo foi beber chamapanhe mais uma vez no ano. Uma corrida em que Magnussen estampou na Eau Rouge e Verstappen aprontou de novo.

Saudade da velocidade?

Pois é, e tivemos um GP que teve um pouco de tudo na Bélgica, no retorno das férias de meio de ano do campeonato mundial. Então vamos ao que aconteceu efetivamente.

Uma decisão que influenciaria diretamente na corrida já era esperada. Era toda uma atualização do pacote motriz do carro de Hamilton, uma vez que o circuito belga permite ultrapassagens e poderia favorecer os carros da Mercedes mesmo que largassem lá de trás. E isso foi realmente assumido na quinta-feira que antecedeu ao GP. Trocaram câmbio, motor, turbo, MGU-K, MGU-H, e tudo que tinha direito, um acúmulo total de 55 posições perdidas, o que só não foi pior que a posição de largada de Alonso, também trocando muitos componentes do seu McLaren. Uma última fila de respeito, sem dúvida.

Prazer, Esteban Ocon.

Prazer, Esteban Ocon.

Todos puderam ver que a Sauber trouxe um novo pacote aerodinâmico, depois de ter recebido uma injeção de dinheiro de seu novo investidor. Melhorou? Sim, mas nada que tirasse os carros do fundo do grid. Ericsson, por exemplo, largou dos boxes e Nasr não foi além de um décimo sexto lugar.

Felipe Massa foi quem fez o melhor tempo no Q1, e o impressionante Wherlein marcou o nono tempo. Mas a alegria ficou mesmo no Q1 para os dois. Aliás, antes que passe despercebido, a Manor promoveu o piloto Esteban Ocon para o lugar de Rio Haryanto na equipe. Depois das Olimpíadas, o Rio foi esquecido mesmo (horrível essa piada). Ocon é francês, era reserva da equipe Renault, e veio também da DTM, onde substituiu o agora companheiro de equipe Pascal Wherlein. Ocon foi o décimo sétimo, a frente do outro Esteban, o Gutiérrez, e de Daniil Kvyat, além, claro, de Alonso e Hamilton. O Gutiérrez, na verdade, foi punido com cinco posições por ter atrapalhado Wherlein em sua volta rápida.

Os dois carros da Renault mostraram um bom desempenho, pularam para o Q2 e conseguiram a décima segunda e terceira posições, logo a frente de Carlos Sainz. Wherlein e Nasr foram os piores do Q2. Romain Grosjean andou bem também, mas foi apenas o décimo primeiro e foi “mais cedo para o chuveiro” como se diz no futebol, assistir ao Q3 dos boxes.

Pouco espaço e pouca inteligência

Pouco espaço e pouca inteligência

Se a gente colocar Rosberg e sua pole de lado, veremos que Verstappen, o segundo, fez 1’46”893, enquanto Ricciardo, em quinto, fez 1’47”216. Entre eles, os dois carros da Ferrari e, de novo, Raikkonen melhor que Vettel. Em sexto e sétimo lugares, os dois carros da Force India, Hülkenberg e Pérez, que ficaram à frente dos carros da Williams. Massa errou na volta rápida e acabou ficando atrás mesmo de Jenson Button, que conseguiu um excelente nono lugar.

Revendo as leis da física

Bom, se dois corpos já não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo, três então nem pensar. Mas foi exatamente o que aconteceu na primeira curva, La Source, famosa por dezenas de entreveros.

Acontece que Verstappen largou mal, e ia caindo de segundo para a quarta posição ainda no pequeno trecho de reta antes da primeira curva. Mas, forçando uma freada por dentro onde somente um carro poderia caber (acho que ano que vem, com as novas dimensões, nem isso), o pequeno holandês forçou a barra para cima de Raikkonen que, espremido, acabou abrindo um pouco a curva e encontrou Vettel, fechando a curva como se ainda quisesse alguma tangência. O resultado foi o carro de Vettel parado, atravessado na pista, e Raikkonen e Verstappen subindo a Eau Rouge e deixando pedaços de bico para trás em função do toque entre ambos. Mas, logo depois da subida, Raikkonen perde rendimento e os dois carros da Force India aparecem em segundo e terceiro, com Massa em quarto de maneira incrível.
Ainda sobrou detrito no pneu de Carlos Sainz, que estourou bonito e, ao tentar permanecer na pista, acabou rodando e posteriormente danificando toda a asa traseira com uma “chicotada” do que havia sobrado do pneu traseiro direito de seu carro.

Magnussen em um momento de fé. (Continental Circus, por Paulo Alexandre Teixeira)

Magnussen em um momento de fé. (Continental Circus, por Paulo Alexandre Teixeira)

Tanto Raikkonen quanto Verstappen foram para os boxes para corrigirem as avarias. Raikkonen chegou com uma chama embaixo do carro, fruto do atrito da “prancha” que fica na parte debaixo do carro com o asfalto. Pouco depois, a direção de prova acionou o safety-car virtual, para limpeza dos detritos remanescentes de uma primeira volta totalmente agitada.

Rosberg? Adivinha.

Durante o período de alívio do acelerador, a transmissão mostrou um acidente entre Button e Wehrlein, com danos para ambos. O piloto da Manor abalroou o carro da McLaren e ambos abandonaram.

A corrida recomeçou com velocidade máxima, mas foi por pouco tempo, e com um grande susto. Os dois carros da Renault apareciam em sétimo e oitavo lugares, com Palmer na frente de Magnussen. Palmer passou pela Eau Rouge, mas Magnussen acabou perdendo o controle do carro e batendo, claro, muito forte. Assustador como sempre é quando acontece naquele ponto do circuito.

Por sorte, Magnussen saiu andando do carro, maio zonzo, meio mancando, mas sem nada de grave aparentemente. O que restou do carro, literalmente, mostrou que a segurança segue em evolução constante. Voou caco para todo lado, além de danificar a proteção de pneus e o guard rail. Isso acabou provocando, além da entrada do safety-car real por algumas voltas, a suspensão da corrida pela bandeira vermelha até a reconstrução do local.

Verstappen contra Raikkonen. E o perigo passou muito perto.

Verstappen contra Raikkonen. E o perigo passou muito perto.

Se foi assim o primeiro quarto da corrida com muito trabalho nos boxes e no setor de limpeza. Na ordem, com a relargada em movimento, as posições eram Rosberg, Ricciardo, Hülkenberg, Alonso, Hamilton, Massa, Pérez, Kvyat, Palmer, Grosjean, Vettel, Bottas, Gutiérrez e Verstappen. Raikkonen era o último.

Não demorou muito para Hamilton passar por Alonso e Hülkenberg, mas o show mesmo estava lá atrás, com Verstappen se pegando com Raikkonen. E o pega foi forte, com o rádio do finlandês trabalhando como nunca.
Apesar da boa colocação, Hamilton já sentia o desgaste dos pneus e foi mais uma vez para os boxes. A diferença para Rosberg quando ultrapassou Hulk era de menos de dez segundos.

No final, todos felizes

Estava interessante a corrida, com brigas diversas, e uma delas aconteceu entre o próprio Hülkenberg e Alonso, que disputaram posição até dentro do pit-lane, com direito a toque entre ambos (curiosamente sem punição para Alonso, o causador do toque).

E punição, segundo a visão de muitos, faltou para Verstappen. Além de brigar com Raikkonen, o menino holandês brigou também com Vettel por várias voltas. Era um tal de Vettel passar e Verstappen retomar, até que Vettel se livrou em definitivo, mas não sem ter briga boa entre ambos. Acontece que Verstappen já estava sem pneus de novo e foi para os boxes logo depois de também ter sido ultrapassado por Bottas.

Alonso seguia firme na quarta posição, com Massa e Pérez logo atrás. Pérez, com talento, fez uma boa ultrapassagem sobre o brasileiro. Pouco depois, já vinham Vettel, Bottas e Raikkonen atrás do brasileiro, trazendo à tona duas brigas entre Williams e Ferrari. Era Massa segurando Vettel e uma briga de conterrâneos entre Bottas e Raikkonen.
Hamilton faz mais uma parada de segurança, para ir tranquilo até o final da prova sem perder a terceira posição. O inglês, nitidamente, lutando pelo campeonato com o regulamento embaixo do braço e mais experiência.

Massa não vendeu muito fácil a posição para Vettel, mas os pneus o fizeram perder a posição não só para o alemão, mas também para os dois finlandeses. Vettel ainda ganharia a posição sobre Alonso.

Disputado até nos boxes, Alonso e Hülkenberg fizeram ótimas corridas.

Disputado até nos boxes, Alonso e Hülkenberg fizeram ótimas corridas.

Rosberg, com uma corrida facilitada pelos que vinham imediatamente atrás. Ganhou, mas ainda é o vice-líder do mundial. Seu companheiro Hamilton foi terceiro, com a melhor volta da prova e satisfeito com o pódio. Entre eles, Ricciardo, sorridente como sempre e cada vez mais seguro de ainda é veloz, apesar da companhia de Verstappen ao seu lado e dando muito trabalho, principalmente nos treinos.

A Force India aproveitou a chance na pista que mais lhe favorece e fez quarto e quinto lugares, com Hülkenberg e Pérez, e passou a Williams no mundial de construtores. Vettel, Alonso, Bottas, Raikkonen e Massa completaram os primeiros colocados.

Uma boa volta ás aulas, quer dizer, às pistas, mas a turma CDF é a mesma.

Ao desligar dos motores…

– Os comissários e a própria instituição do automobilismo precisa mostrar a Verstappen que, apesar de seu talento inegável e de sua atitude combativa, sua agressividade não pode ser a mesma de um videogame ou simulador. Lá se tem mais vidas;

– Não achei, entretanto, que o toque na primeira volta tenha sido culpa do holandês. Para mim, um simples acidente de corrida. Se eu tiver que apontar alguém, para mim, seria Vettel, que com sua experiência não deveria ter fechado tanto assim a sempre problemática La Source;

– Em Spa, quem fala alto é o motor, e Alonso andou bem, lembrando que largou na última fila. A evolução é nítida;

– A torcida holandesa compareceu em massa ao autódromo de Spa, cobrindo em tons se laranja boa parte das arquibancadas. É legal ver o torcedor se identificar assim com um piloto, e como as fronteiras são próximas, a “invasão” foi bonita, mas deve ter havido muita frustração com o resultado;

– Magnussen foi levado ao hospital para avaliação e, ao que parece, só teve uma lesão no tornozelo, sem gravidade. Sem desejar o mal ao dinamarquês, mas seria interessante saber quem a Renault escalaria para substituí-lo já semana que vem, no GP da Itália, uma vez que o piloto reserva era Esteban Ocon, agora titular da Manor.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Sabe aquela vitória que deixa um posto amargo? Essa vitória de Rosberg é uma dessas porque, afinal, mesmo com Hamilton largando lá atrás, o mesmo ainda fora capaz de conseguir um terceiro lugar, com colaboração de várias disputas que na pistas se assemelhavam a um pugilato.

    Verstappen e sua excessiva agressividade, Magnussen #jogadelado mas no lugar errado e por aí vai.

    Quanto ao acidente de Magnussen, algo me chamou a atenção: como pode um equipamento de segurança essencial, como o protetor lateral de cabeça no cockpit, ser literalmente “cuspido” em uma colisão??? Faltou silver tape pra segurar a peça?

    Ao final, ou Rosberg aceita, que dizem que dói menos, sua inferioridade em relação a Hamilton, que segue em franca vantagem para o seu quarto título, ou reza para que o mesmo canse da Mercedes e troque de equipe para novos desafios, ou ele mesmo faça isto, sob pena de ficar conhecido com um bom segundo piloto e coadjuvante, como muitos outros passaram para a história da F1.

    • Rosberg fez o que pode, mas não sei se faria o mesmo que Hamilton largando de trás.
      Sobre o equipamento de segurança, protetor de cabeça, não podia ter saido com tanta facilidade. Se faltou silver tape eu não sei, mas tudo se resolve com isso no final não é? O assoalho do Raikkonen foi assim.
      Um abraço.

  2. Franklin Wiese says:

    Não pude acompanhar a corrida final de semana! Obrigado pelo resumo/análise aqui registrado/a. Quase melhor que ver reprise da prova.

    Abraço!

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