Nem pediu licença e foi abrindo a geladeira


Hamilton continua série de vitórias, e sai de férias com quase vinte pontos de vantagem sobre Rosberg que, mesmo correndo em casa, não conseguiu nem ir ao pódio. E a Red Bull se afirmou como a segunda força do mundial.

Quem tá tocando a campainha?

Nico Rosberg tinha hoje, uma semana depois de ter sofrido a perda da liderança do mundial e correndo em casa, a oportunidade de reverter a situação com uma dobradinha da equipe desde que ele, claro, fosse o vencedor. Tarefa relativamente fácil se considerarmos que, praticamente, o único adversário era Lewis Hamilton, seu companheiro na Mercedes e atual líder do Mundial.

Todos sabem a receita, é sempre a mesma: mostrar superioridade nos treinos livres, fazer um temporal no treino classificatório e largar bem, segurando a ponta.

A classificação do Q3 foi um pouco apreensiva para Rosberg. Após abortar a primeira tentativa e ver Hamilton pular na ponta, parecia que o alemão do time prateado não iria fazer a lição de casa. O domínio total dos treinos livres parecia que não iria ajudar em dada. Mas, na segunda tentativa, Rosberg se recuperou e cravou outra pole. Porém, Hamilton assegurou um lugar ao seu lado na primeira fila.

Kvyat reflete sobre sua atual situação. É ruim.

Kvyat reflete sobre sua atual situação. É ruim.

E os carros da Red Bull, meu amigo! Andando (quase) de igual para igual com os donos da casa! Não poderiam ficar em posição melhor que a segunda fila, com Ricciardo se segurando a frente de Verstappen nas classificações. Não ameaçaram a pole, mas ficaram com a “pole do resto”.

Ferrari? Vai mal, obrigado. Nitidamente inferior aos carros da Red Bull, coube a Raikkonen o lugar na terceira fila na quinta posição, melhor que Vettel mais uma vez. E os parzinhos acabaram por ai, apesar de o Q3 ter levado cinco equipes e seus dois pilotos respectivamente.

Hülkenberg seria o sétimo colocado, mas foi punido por uso inadequado dos pneus na classificação. Caiu para oitavo e cedeu a posição para Bottas. Logo atrás de Hulk, seu companheiro Pérez e, em décimo, Felipe Massa.

Pelo Q2, haviam ficado os dois carros da McLaren, mas os veteranos pilotos mostram a cada GP uma pequena evolução. É verdade que Gutiérrez fez um ótimo treino e ficou com o décimo primeiro tempo, a frente dos carros de Button e Alonso, mas a equipe empurrada pelo motor Honda foi consistente.

Quem surpreendeu com um bom treino foram os carros da Renault, décimo quarto e décimo quinto tempos, mas beneficiados com uma punição para Carlos Sainz por ter obstruído a volta rápida de alguém (não lembro quem) e Romain Grosjean, que teve que trocar o câmbio. Três e cinco posições respectivamente de punição para cada um.

No time do fundo, a presença de Daniil Kvyat, que andou fazendo uma autorreflexão e reconhece que está com desempenho aquém do que pode, aquém do que o carro pode, enfim, instável. E os dois carros da Sauber, enquanto o dinheiro do novo investidor não entra, alinharam na última fila.

Ei, tire os sapatos por favor!

Para que facilitar as coisas né, Rosberg? De repente, cair para a quarta colocação poderia trazer mais emoção para a corrida. Atacar Hamilton dentro da parte do estádio, levantar a multidão e sair como herói do final de semana, certo?

Foi...

Foi…

Pelo menos Rosberg “fez a sua parte”, largando mal demais e sendo ultrapassado não só por Hamilton, mas também pelos carros da Red Bull. Verstappen, aliás, por pouco não deu um toque me Ricciardo, mas ambos conseguiram seguir, e bem.

Rosberg então sabia que tinha que se recuperar o mais rápido possível porque Hamilton tinha a cara pro vento, e abriria fatalmente de quem quer que fosse o segundo colocado. Por isso, tentou ultrapassar Ricciardo, mas o australiano segurou bem o ímpeto do piloto do time prateado.

Para o piloto brasileiro Felipe Massa, a corrida já começou bem ruim com uma pancada na roda traseira esquerda de Jolyon Palmer. O carro, que já não estava grande coisa, ficou quase coisa nenhuma depois disso. Em uma das vezes em que foi ultrapassado, perdeu posição para Sainz e, ao tentar se recuperar, perdeu em seguida a posição para Magnunssen.

Próximo da décima volta, começou a primeira rodada de pit-stops. Rosberg parou bem antes de Hamilton e colocou pneus supermacios. Quando Hamilton parou, o composto escolhido foi o macio. Era de se esperar que o alemão da Mercedes fizesse voltas mais rápidas, e foi o que aconteceu.

Corrida rápida, voltas rápidas e mais paradas porque os pneus estavam indo embora também de maneira rápida.

Nas trocas de posição ocasionadas pelas trocas de pneus, Verstappen volta a pista na frente Rosberg, muito próximo. Na curva do “cotovelo”, Rosberg jogou o carro por dentro e ignorou a curva, jogando o menino da Red Bull para fora da pista. Mesmo assim, Verstappen não aliviou, mas acabando perdendo a posição mesmo assim. O fato é que a manobra foi acintosa, escancarada. Os comissários não viram com bons olhos não, e puniram Rosberg em cinco segundos.

Eu acho que não puniriam Schumacher, Senna, Alonso, Vettel, ou até mesmo Hamilton por manobra semelhante, mas o Rosberg é aquele cara que mesmo maior de idade tem que mostrar a identidade para assistir filme adulto. Na Fórmula 1 está assim: se você passa, é punido. Se não passa, tem a balaclava frouxa.

Ficando para trás. A Ferrari perde a vice liderança do mundial para a Red Bull

Ficando para trás. A Ferrari perde a vice liderança do mundial para a Red Bull

Massa acabou abandonando. Pouco antes, na sua segunda parada, os mecânicos da roda traseira esquerda atingida na primeira volta, ficaram analisando se valia a pena montar uma roda ali ou se mandavam o carro com três rodas mesmo… E, por falar em abandono, os únicos a abandonarem a prova foram os brasileiros de nome Felipe.

Quem pegou meu chopp?

Ricciardo foi um dos últimos a fazer a última parada e ultrapassou Verstappen, mostrando apetite para ir também para cima de Rosberg. Era clara a superioridade do carro da Red Bull, de calçados novos, mediante a Mercedes do alemão. E Rosberg não quis briga, indo para sua última troca e pagando a punição de cinco segundos, ficando quite com a direção de prova. Aliás, pagou com juros, porque a Mercedes deixou ele oito segundos parado.

No final, sem muita briga, os três primeiros (Hamilton, Ricciardo e Verstappen) fizeram mais uma parada e, embora parecia que Ricciardo tirava diferença para Hamilton, a verdade é que o tricampeão estava apenas administrando a vantagem.

Muito além da pista. Rosberg joga duro com Verstappen, mas é punido.

Muito além da pista. Rosberg joga duro com Verstappen, mas é punido.

Se a única ultrapassagem da corrida foi a punida? Não, a ultrapassagem de Rosberg não foi a única, mas foi uma corrida de poucas ações.

Já no final da corrida tivemos uma bela disputa entre Nico Hulkenberg e Valteri Bottas, que também seria ultrapassado por Button. Hülkenberg terminou em sétimo, Button foi oitavo. Já a outra McLaren, de Alonso, não conseguiu marcar o ponto que disputava na disputa com Sérgio Pérez, que acabou na décima posição.

Discretos, os carros da Ferrari ficaram como largaram, quinta e sextas posições, mas com Vettel na frente de Raikkonen.

Hamilton conseguiu uma vitória fácil, sem ser ameaçado em nenhum momento. Não teve pole nem melhor volta, mas teve 25 pontos a mais na tabela, que é o que importa. Por falar em melhor volta, ela foi de Ricciardo, o segundo colocado, em seu últmo stint de pneus. Verstappen, mais um pódio no ano. E Rosberg, o pole, apenas conseguiu a quarta colocação.

A Fórmula 1 entra em férias, só volta no final de agosto. Rosberg ficou de recuperação.

Ao desligar dos motores…

– Em um momento da corrida, em que Ricciardo tinha pneus melhores que Verstappen, o time pediu e o menino abriu para o australiano ir à caça de Rosberg. Será que ele se vendeu ao sistema?;

– A comunicação de rádio foi liberada. Agora vale até declaração de amor. Palavrões terão seu tradicional “piiiiiii” e, segundo os bastidores, querem liberar o whatsapp também;

– Comunicação lembra gestos, e gestos lembra Hamilton e Gutiérrez na Hungria. Antes do GP da Alemanha, ambos fizeram as pazes, pelo menos até a próxima bandeira azul;

– Na atual fase de Massa, é complicado falar em renovação de contrato. Button aparece como um dos candidatos a sua vaga no time inglês;

– Por falar em dança de cockpit, Pérez aparece como a bola da vez, na Renault;

– A torcida alemã compareceu em bom número para a volta de Hockeinheim ao calendário. A maioria de vermelho, legado de Michael Schumacher;

– Ah, e esqueçam o halo para 2017. Vetado.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

4 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Antes, Rosberg dava alguma “pressão” em Hamilton. Poderíamos dizer que dava para disputar…

    Agora, literalmente, não dá nem pra largada!!!! Faz o mais difícil que é bater Hamilton em uma volta rápida e entrega a rapadura logo de cara??????

    Assim, o tetra é somente uma questão de contagem regressiva… Hamilton está igual aqueles pistoleiros de filmes western antigos, que “riscam” quantos já mataram na coronha de sua arma…

    E o pior de tudo, adivinhem que é o seu antagonista favorito???

    Depois do período Vettel, em que o mesmo dava as cartas, assistimos a estória ser escrita novamente diante de nossos olhos. E, de certa maneira, o trabalho de Hamilton vem sendo mais fácil, pois nem mesmo dentro de casa, com o mesmo equipamento, acontece disputa.

    Agora, imaginem só. Imagina se Hamilton tem um companheiro ao estilo Verstappen, Ricciardo, Vettel ou até mesmo Raikkonen????

    Enfim, se não acontecer maiores surpresas, Hamilton já está na contagem regressiva para uma nova comemoração… E é tetraaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!! (onomatopeia estilo Galvão Bueno.)

    E para encerrar, #voltagalvao.

    • Obrigado pelos seus comentários sempre pertinentes, Glauco.
      Eu não tenho acompanhado as transmissões da Globo, por isso não posso opinar, mas ouvia as narrações do Luis Roberto até com certa simpatia. Sei lá.
      Um abraço.

  2. Bruno Cardoso says:

    Lauro, parabéns por mais um texto incrível!

    Ajudando, que eu me lembre, a punição do Sainz foi por ter atrapalhado o Massa.

    Também não concordo com punição por qualquer coisa, mas concordei com essa pela falta de espírito campeão do Rosberg. Ele já tinha passado e mesmo assim fez aquela manobra, ao meu ver, totalmente desnecessária. Eu apostava que ele poderia reverter a situação esse ano, já que Hamilton demonstrava novamente uma certa instabilidade, mas já era. Não recupera mais.

    Massa precisa de um bom banho com arruda, e outras coisas para ver se tira essa zica. Não acho ele o melhor piloto, mas acho exagerada a fase ruim dele. E não acho também que ela ajuda na renovação.

    E concordo com o Glauco, volta Galvão. Ele é chato, mas o Luis Roberto narrando corridas é lamentável! Vantagem de quem tem visto as narrações em inglês!!

    Abs!

    • Obrigado Brunão,
      O texto foi melhorado com a sua informação sobre a punição ao Sainz.
      Massa vai tomar banho de arruda e levar Rosberg, Vettel, Kvyat e Nasr junto.

      Um abraço!

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