Ventos mudando de direção


Rosberg vence e recupera a liderança do mundial, mas teve que suar muito para bater Ricciardo. Hamilton foi terceiro, e Vettel fez uma corridaça.

Monstro

Os treinos para o GP de Cingapura foram marcados por um equilíbrio maior entre as três maiores equipes do momento. A Mercedes só conseguia bons tempos com Rosberg, mas sempre havia uma Ferrari ou Red Bull por perto. Antes do treino oficial, Verstappen colocou a Red Bull na segunda posição, exatamente atrás de Rosberg, por “quase nada de cinquenta e nove milésimos de segundo”. Uma promessa de um treino de arrepiar, portanto.

Pistas como a de Cingapura tendem a ressaltar o melhor chassi, não exatamente o melhor ou mais potente motor, apesar que os pilotos chegam a mais de 320km/h debaixo das lâmpadas e do calor úmido e quase insuportável do pequeno país malaio.

Além de apertar os carros da Mercedes no último treino livre, Daniel Ricciardo fechou o Q1 com o melhor tempo. E não foi só isso não. O seu companheiro Verstappen foi o segundo e Kimi Raikkonen o terceiro, para só então aparecerem os dois carros prateados. Uma pena foi a eliminação prematura de Sebastian Vettel, que com problemas na barra estabilizadora traseira de seu Ferrari número 5, ficou com uma das rodas dianteiras “levitando” e sequer fez uma volta considerada razoável. Além dele, os sempre disciplinados em esperar a sua vez; Manor, Sauber e a Renault, como de costume. Com a ajuda de Vettel, foi Marcus Ericsson quem conseguiu seguir para o Q2.

Na segunda parte, considerando que metade do Q3 estava praticamente certo com Mercedes, Red Bull e Raikkonen, todo mundo arriscou um pouco mais, alguns mais até que isso. Foi o caso de Jenson Button, que deu uma esfregadinha básica na mureta, e de Grosjean, esse já partindo para o abraço fraterno e prolongado com o soft wall.

O sorriso do lagarto durante os treinos livres. Carinhosamente, foi batizado de Godzila.

O sorriso do lagarto durante os treinos livres. Carinhosamente, foi batizado de Godzila.

Marcus Ericsson ficou, como era esperado, e também os dois carros da Williams, de quem já não se espera praticamente nada para o final da temporada. Após as pistas velozes de Spa e Monza, a Williams se vê em situação complicada para se manter como a quarta força do mundial. Décimo primeiro para Bottas e décimo segundo para Massa. Gutiérrez também caiu nesta parte do treino.
Fácil então ver que os dois carros da Toro Rosso foram para o Q1, depois de algum tempo já, e com Kvyat muito competitivo. Foram eles que ficaram imediatamente atrás dos cinco cativos citados anteriormente, com Sainz em sexto e o russo em oitavo, a frente inclusive dos carros da Force India, que conquistaram a oitava posição com Hülkenberg a décima com Sérgio Pérez. Entre eles, Fernando Alonso! Mas, apesar do bom resultado da Force India, Pérez acabou punido com oito posições no grid porque, segundo os comissários, não reduziu a velocidade nos dois incidentes com Grosjean e Button.

E que briga no final, com todo mundo fechando volta, em sequência. Raikkonen não conseguiu evoluir como nos treinos livres e ficou mesmo na quinta posição. Verstappen, por sua vez, andou bem, mas não o suficiente para ficar à frente de Hamilton, e acabou na quarta colocação, com o inglês em terceiro. A briga, desta vez, foi mesmo entre Ricciardo, talentosíssimo como sempre, mas que encontrou pela frente um Rosberg inspirado em uma volta mais que perfeita. Para se ter idéia do que Rosberg fez, foram nada menos que sete décimos sobre o companheiro Hamilton.

Rosberg foi um “monstro” na pista no treino oficial, bem mais conhecido dos adversários que o lagarto gigantesco que apareceu atravessando a pista e que rendeu uma conversa entre Verstappen e o box das mais engraçadas. Verstappen disse: “tem um lagarto gigante na pista, e não é uma piada”, ao que o mecânico respondeu “ok, Max, nós acreditamos em você”. Bom, depois que foi mandado ao psicólogo por Lauda, foi prudente o menino dizer que não estava brincando, porque senão a especialidade poderia mudar para psiquiatria.

Hulk não foi para a balada

A pista nem é tão estreita assim em Cingapura, mas nem por isso dá para abusar. Basta que um piloto largue mal e a possibilidade de estrago é grande. Pelo menos foi para Hülkenberg.

Hülk abandona depois de andar alguns metros. Não dava para continuar assim.

Hülk abandona depois de andar alguns metros. Não dava para continuar assim.

Com a péssima largada de Max Verstappen, Carlos Sainz, que vinha logo atrás, desviou para o meio da pista, mas não viu que lá já estava o carro de Hülkenberg. Por sorte, o alemão acabou dando um “drift” na frente de Verstappen e foi encontrar o muro com bastante “vontade”. Por sorte, mais ninguém se esbarrou e apenas o piloto do carro 27 foi forçado a abandonar a prova prematuramente, mas os detritos fizeram um pneu furado no carro de Bottas.

Se Hülkenberg sequer andou alguns metros, ele não foi o primeiro a abandonar, já que Grosjean teve problemas de freio e nem alinhou o carro no grid. Mas o problema do alemão com a pista noturna não vem de hoje. É, tem pistas que não são boas para este ou aquele piloto. No caso de Hülkenberg, Cingapura é quase sinônimo de passar calor à toa.

Sebo nas canelas.

Sebo nas canelas.

Enquanto o pessoal da limpeza dava uma garibada na pista e o pessoal do guincho tirava o que restou do carro de Hülk, Bottas foi reparar o pneu furado e Button também foi fazer um servicinho no bico do seu McLaren. Em duas voltas, tudo ok para o reinício. Só esqueceram de avisar um fiscal de pista que ainda retirava alguns detritos ao final da reta quando os carros entraram rasgando pela mesma. O rapaz, já correndo, engatou a segunda e saiu a tempo de evitar algo inconcebível nos dias de hoje, com tanta tecnologia e informação disponível por parte de quem dirige uma corrida de Fórmula 1.

Rosberg, Ricciardo, Hamilton e Raikkonen puxavam o pelotão. Alonso aparecia em quinto, pressionado por Kvyat e Sainz. Verstappen caíra para oitavo. Massa já era nono e Magnussen fechava os dez primeiros naquele momento. Mas havia ainda quase duas horas de corrida pela frente.

Sainz foi muito bem nos treinos e prometia muito para a corrida. Embora não tenha sofrido grandes avarias no carro em razão do acidente com Hülkenberg na largada, o espanhol recebeu bandeira preta com círculo laranja, que diz para o piloto ir aos boxes imediatamente para corrigir as avarias, que se resumiam a uma peça solta na lateral da Toro Rosso. Para muita gente, inclusive para mim, um exagero pois não havia perigo eminente deste componente se soltar. Obediente, o espanhol foi e já fez a troca de pneus.

Vettel fez uma tremenda corrida, sem muito alarde.

Vettel fez uma tremenda corrida, sem muito alarde.

Em seguida, começaram as paradas daqueles que optaram por pneus mais macios no começo. Verstappen, Alonso, Ricciardo e Hamilton foram os primeiros. Hamilton voltou com os pneus macios e Ricciardo optou pelos super macios. Raikkonen, o último a parar, chegou a liderar por alguns momentos, mas caiu para a quarta posição ao fazer seu serviço.

Eis que olhamos para a pista e nos deparamos com Kvyat segurando Verstappen. E foi uma bela briga. Kvyat segurou o ímpeto do holandês que até esbravejava algo pelo rádio. Ficaram lado a lado algumas vezes, mas Kvyat foi limpo e deixou sempre o muro para Verstappen escolher em ir além ou tirar o pé.

Os dois Mercedes, de pneus mais duros que seus oponentes diretos, iam perdendo terreno para estes. Mas quem chamava atenção mesmo era Vettel, já frequentando o meio do pelotão e dando uma verdadeira aula sobre Sainz e Gutiérrez, deixando ambos para trás praticamente ao mesmo tempo.
E toda vez que alguém ia para os boxes e voltava próximo do adversário, era quase certeza de boa briga. Foi o que aconteceu quando Gutiérrez, Pérez e Verstappen se encontraram. Se Verstappen andava muito abaixo da expectativa, não se pode dizer que ele não justificou o ingresso da torcida laranja. Aplicou um belo drible sobre ambos e se recuperou um pouco na prova. Neste momento assumia apenas a nona colocação.

Xadrez nos boxes

Na volta 33, Ricciardo colocou pneus macios voltou para a pista ainda com boas chances de vitória. No entanto, a briga boa era entre os campeões Hamilton e Raikkonen. O carro da Mercedes já estava, segundo seus pilotos, apresentando problemas com superaquecimento dos freios. Hamilton, pressionado, deu uma travada e Raikkonen nem quis saber quem ele era.

Porém, Raikkonen foi para os boxes em seguida, e Rosberg também. E foi aí que o jogo estratégico das equipes ficou mais evidente. Isso porque quando Hamilton foi para a sua parada, não conseguiu retomar o terceiro lugar de Raikkonen. Seria preciso então jogar tudo em uma nova parada, ainda que nem se tivesse certeza de que haveria mais uma parada para todos.

Hamilton e Raikkonen travaram duelo pelo pódio, vencido pelo inglês.

Hamilton e Raikkonen travaram duelo pelo pódio, vencido pelo inglês.

Mas o nome da corrida era Vettel, em quinto quando parou nos boxes para sua última parada. Caiu para sexto, mas recuperaria a quinta colocação do final da prova, ainda que distante dos quatro primeiros.

Ricciardo tirava diferença para Rosberg e Hamilton também fazia o mesmo em relação a Raikkonen.
Faltando 15 voltas para o encerramento da prova, Hamilton fez a derradeira parada. Voltou de pneus supermacios e a equipe da Ferrari ficou se entreolhando no pit-lane. Parar ou não parar, eis a questão. Mesmo tomando uma decisão relativamente rápida, na volta seguinte, Raikkonen foi então para mais uma parada, mas perdeu a posição para Hamilton. Voltou colado, mas não conseguiu retomar a posição e, assim, Hamilton conseguiu seu lugar no pódio.

Com as paradas dos principais adversários, Ricciardo foi para a única estratégia que poderia lhe dar a vitória. Entrou nos boxes e colocou pneus supermacios, voltando para a pista com um único objetivo: vencer. Mas, lá na frente, Rosberg parecia ter uma distância segura. No entanto, a Mercedes pareceu que chamaria o alemão para os boxes. O que aconteceria se tivéssemos um safety-car, por exemplo?

Hamilton e Raikkonen estavam logo atrás de Ricciardo, mas o australiano voltou tirando quase três segundos por volta. No relógio, tudo era possível ainda.

Ricciardo foi chegando, chegando, até encontrar alguns retardatários a quatro voltas do final. Foi ai que os tempos de volta entre Rosberg e Ricciardo ficaram os mesmos, diminuindo muito a probabilidade de vitória da Red Bull. Na última volta, mesmo com aproximação perigosa, Rosberg segurou a vitória e cruzou menos de meio segundo a frente de Ricciardo, para alegria total do box prateado.

Rosberg foi simplesmente perfeito, no treino e na corrida, e sai como vencedor de seu GP número 200. Mais que isso, vira o jogo sobre Hamilton faltando apenas seis grandes prêmios para o final da temporada. Olha…

Ao desligar dos motores…

– Rosberg está forte agora. Será que isso desestabilizará Hamilton?;

– A Fórmula 1 terá o comando, agora oficialmente, da Liberty Media, um grupo americano cuja principal finalidade é reconduzir para a categoria o interesse do público. O negócio foi de milhões de dólares, claro, mas será que vai trazer milhões de espectadores a mais pelo mundo? Bom, americanos são bons de espetáculo, todos sabemos disso. Vamos ver se vai funcionar com a maior categoria do automobilismo mundial;

– Carlos Sainz pode virar moeda de troca na dança das cadeiras. O propulsor francês da Renault é a explicação;

– Que corrida fez o Vettel. Não significa que venceria, mas sair de décimo segundo e chegar em quinto, sem lagarto atravessando a pista, pedestre passeando, ou algum safety-car decisivo (já que o primeiro não colaborou tanto para sua escalada), é de tirar o chapéu;

– No pódio, Rosberg foi entrevistado por Martin Brundle, e mandou um recado na lata. “Não mostre que torce por mim, todos sabem que você torce para Hamilton”. Nada como estar por cima.

Bonito lá

Bonito lá

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Lembraram de avisar a Hamilton que a “Summer Vacation 2016” já acabou??? Acordão negão! Os “alemão” vieram com tudo e estão a sua frente com garbo e elegância (não dá pra falar quem em Cingapura foi sem suor…) a sua frente e você nada????

    Chama a Nicole Scherzinger pra dar uma animada nesse rapaz, senão… Olha que o sem-sal-mor da F1 vai levar essa bagaça!

    E o que falar do “homem-sorriso de 64 dentes”?

    No início, o pequeno Verstappen chegou abrindo a porta da geladeira da RedBull sem pedir licença, deixando a garrafa de água gelada vazia, pegando o bife maior na refeitório e Riccardo só de olho, parecendo aquele jacaré modorrento debaixo do sol, esperando a melhor hora para atacar…

    E num é que Riccardo tomou gosto de novo? Para muitos, nenhuma surpresa…

    Já Williams, que tristeza… Clima de fim de feira total, xepa pura…. Talvez Massa saiba porque anunciou de forma até precoce para alguns, sua despedida.

    Ao final, um único aviso:

    ACORDA HAMILTON!!!! JÁ COMEÇOU DE NOVO, MANO!!!

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