Q.E.D.


Dobradinha da Mercedes com vitória de Hamilton mantém o campeonato aberto, porém agora, Rosberg já pode sair do próximo GP já como campeão.

Vencendo a prévia

Estados Unidos, terra da oportunidade e da liberdade, palco da décima oitava etapa do mundial deste ano. Neste circuito, que entrou no calendário em 2012, Lewis Hamilton sabia que teria a oportunidade de diminuir a diferença para seu rival e companheiro Rosberg, mas que não teria nenhuma liberdade para isso por parte dele.

Mas Rosberg não era o único a tirar a liberdade de Hamilton e, consequentemente, Mercedes. Se os carros prateados dominaram os treinos de sexta-feira, alternando Hamilton e Rosberg na ponta em cada uma das práticas, o terceiro treino livre, no sábado, mostrou que os carros da Red Bull também deveriam ser considerados adversários de respeito para a etapa americana. Na ocasião, o TL3 teve dobradinha do time austríaco, com Verstappen a frente de Ricciardo.
E, por falar em Verstappen, a FIA decidiu tomar uma posição em relação as manobras que o menino andou fazendo ultimamente em cima de Raikkonen e de Hamilton. Entendendo que a forma de “fechar a porta” do adversário de maneira que possa colocar em perigo ou perturbar o oponente é ilegal, e tudo previsto nos artigos do Regulamento Esportivo, o diretor-executivo da FIA, Charlie Whiting, resolveu botar ordem no negócio e disse que isso não será mais permitido. Verstappen ironizou, dizendo que isso era algo “positivo”. Ô menino lascado, esse!

No treino oficial, Hamilton tratou logo de mostrar que a pole seria sua, fechando o Q1 na frente. A surpresa negativa para os yankees foi a eliminação da Haas de Romain Grosjean, degolada logo de cara. Jenson Button foi outro que não passou da primeira parte do treino, mas disse que foi atrapalhado na última curva com o tráfego dos carros para entrar nos boxes. Felipe Nasr, da Sauber, e Kevin Magnussen, da Renault, mais os dois carros da Manor, que “conquistaram” a última fila, foram os seis eliminados nesta etapa.

A beleza do Circuito das Américas (foto de Craig McEvoy)

A beleza do Circuito das Américas (foto de Craig McEvoy)

O final do Q2 mostrou a força da Red Bull mais uma vez. Daniel Ricciardo foi o mais veloz dos dezesseis restantes, e Rosberg foi mais veloz que Hamilton, ficando com o segundo lugar provisório. Até os carros da Williams resolveram andar um pouco melhor em Austin, e conseguiram superar meia equipe Force India. Meia equipe porque Hülkneberg se garantiu para a superpole, enquanto Sérgio Pérez ficou pelo caminho. Além dele, Ericsson e sua errática Sauber, Palmer e a Renault que não faz milagres, Gutiérrez com o carro da casa, Kvyat e Alonso.

Juninho, quer dizer, Carlos Sainz Jr., já havia conseguido um resultado e tanto no Q2, ficando com a oitava posição, justamente a frente dos dois carros da Williams. No Q3, porém, a situação se inverteu, e Massa ficou com a honra de dividir a quinta fila com o Toro Rosso de Sainz. E, colocando a ordem adequada nas coisas, Nico Hülkenberg ficou com o sétimo tempo, deixando as três grandes nas três primeiras filas.

Caprichosamente, como já ocorreu mais de uma vez este ano, Mercedes, Red Bulll e Ferrari são as equipes que vão ocupar as três primeiras filas no grid de largada de um GP. De novo, também, Raikkonen foi mais rápido que Vettel e deixou o alemão totalmente azedo na entrevista que os pilotos fazem no cercadinho. Ricciardo se impôs novamente sobre Verstappen e abriu a segunda fila. Mas, como acontece na hora em que a demonstração de força é pra valer, o australiano ficou um pouco mais distante dos carros da Mercedes.

Com o cronomêtro zerado, Rosberg foi lá colocou um décimo e meio sobre Hamilton. Só que a pole do alemão durou menos de dez segundos. Vindo em uma volta voadora, Hamilton foi o único piloto a baixar de um minuto e trinta e cinco segundos no tempo de volta e garantiu, assim a sua pole de número nove na temporada e a quinquagésima oitava na carreira.

Celular sem bateria

Sem bobear desta vez, Lewis Hamilton saiu a frente de todos e teve ainda a calma e a esperteza de se colocar do lado de dentro na primeira curva. Rosberg, por sua vez, também fez uma boa largada, só que tentou tomar a ponta pelo lado de fora ao invés de se colocar atrás de Hamilton. Como consequência, acabou perdendo também a posição para Ricciardo. Raikkonen também foi outro que ganhou posição na largada, a de Verstappen, no caso.

Hamilton, enfim, segura a pole na largada. Teria perdido o celular?

Hamilton, enfim, segura a pole na largada. Teria perdido o celular?

Ainda na primeira curva, gente importante acabou se envolvendo em um bate-roda arretado. Bottas, Vettel e Hülkenberg acabaram deixaram componentes aerodinâmicos de seus carros pela pista. Dos três, Vettel seguiu sem problemas enquanto que Williams e Force India tentavam arrumar o estrago no carro de seus pilotos. Bottas voltou, mas o caso de Hülkenberg foi mais grave e ele abandonou.

Na abertura da segunda volta, Sérgio Pérez foi tocado por Daniil Kvyat e acabou caindo para a décima quarta posição. O piloto da Toro Rosso acabou punido com dez segundos em seu tempo de prova, o que não afetou seu resultado de maneira significativa ao final da prova. No caso da Force India, aí é preciso encantar a serpente de maneira mais adequada rapaziada, senão…

Kimi Raikkonen foi para cima de Verstappen e lhe tomou o quarto lugar e, mais algumas voltas, chegou também em Rosberg. No entanto, quando parecia que haveria mais uma briga por posição, o finlandês resolveu entrar para sua primeira troca de pneus. Daniel Ricciardo, que era o segundo, também já tinha entrado para o mesmo serviço.

Na volta seguinte, os pilotos da Mercedes foram chamados, mas foi Rosberg quem entrou primeiro, voltando à pista com pneus médios. Hamilton, na volta seguinte, optou pelos macios. Coube então a Sebastian Vettel ficar com a ponta da corrida por algumas voltas, até que seus calçados estivessem mais no limite.

Verstappen mandava o pé no acelerador e chegava muito perto de Rosberg, mas este tirava também diferença para Ricciardo. Era a próxima briga que se aguardava.

Até quando abandona na metade da prova, Verstappen é eleito piloto do dia. Sei não...

Até quando abandona na metade da prova, Verstappen é eleito piloto do dia. Sei não…

Antes dela acontecer, porém, Raikkonen fez a sua parada, sem problemas. Aí então, Ricciardo fez a sua, pois era notório que os pneus não aguentariam uma eventual briga com o piloto da Mercedes. Tudo bem também na parada do australiano. Só que, parece, o pessoal da Red Bull foi acompanhar a rodada do Brasileirão na TV dos boxes e se esqueceu de preparar a segunda de Verstappen. Show de horror.

Quando o holandês entrou pelo pit, os mecânicos saíram correndo de dentro da garagem e foram livrando caminho para o carro entrar na posição de troca. É até engraçado de ver, mas é amador demais para uma equipe de Fórmula 1. O problema maior de Verstappen, porém, aconteceu pouco depois, quando o carro simplesmente apagou na saída de uma das curvas e o jovem holandês foi se arrastando pela pista, tentando ainda chegar aos boxes, porém, sem sucesso. Decepção geral para o “mar laranja” nas arquibancadas. Para a corrida, safety-car virtual.

Hammer time, mas com prudência

Nas duas voltas sob velocidade controlada, a Mercedes optou por fazer a parada de seus dois pilotos na mesma volta, o que era permitido pela distância na pista entre eles. Rosberg, aliás, saiu no lucro sobre Ricciardo e recuperou a segunda colocação neste momento.

Mais alguns giros e Raikkonen dá uma bela sambada na sequência de “esses” da pista americana e entra para mais uma parada. Porém, desastre total no pit-stop do time vermelho. Um problema em uma das rodas fez com que o finlandês parasse o carro ainda no aclive da saída dos boxes e, sem cerimônia, voltasse de ré para uma posição mais segura, abandonando definitivamente. Nas imagens do box da Ferrari, um festival de gesticulazziones e explicazziones.

Raikkonen no acostamento. Fim de mais uma boa prova do finlandês,

Raikkonen no acostamento. Fim de mais uma boa prova do finlandês,

Para o terço final da prova estava reservada uma briga entre Carlos Sainz Jr., Felipe Massa e Fernando Alonso. Esta briga valia o quinto lugar e tinha toda a pinta de que o brasileiro da Williams iria garfar esta quinta colocação até com facilidade. Tinha muito mais carro e chegou rápido no espanhol da Toro Rosso. Só que Massa demorou uma, duas, três, sei lá quantas voltas para passar Sainz. Olhando para o espanhol da frente, Massa se esqueceu que o espanhol que vinha atrás tinha muito mais experiência e é muito mais decidido que ele nas negociações de pista.

Depois de medir por algumas voltas, Alonso mergulhou na freada do retão sobre Massa, com direito a toque entre ambos e passeio fora da pista. Mas, no frigir da paella, espanhóis a frente. E ainda antes do término da corrida, Fernando Alonso ainda superou o compatriota, com direito a um grito de comemoração pelo rádio, e tudo mais.

Vettel, só para garantir, ainda fez uma última parada. Felipe Massa, com um furo no pneu atribuído ao duelo com Alonso, chegou apenas na sétima posição, à frente de Sérgio Pérez, que se recuperou daquele início de prova difícil. Jenson Button foi o nono e Romain Grosjean marcou o ponto da Haas, em casa.

Ricciardo foi mais uma vez ao pódio, e comprova uma temporada excelente, muito melhor que a de Vettel, seu ex-companheiro de equipe, por exemplo. Não fossem os abandonos de Raikkonen e Verstappen, Vettel seria no máximo o sexto colocado, mesma posição de largada.

Hamilton venceu, e a dobradinha da Mercedes acabou sendo boa para ambos os pilotos, mais ainda até para Rosberg, que pode ser campeão com uma vitória na próxima etapa, no México, desde que Hamilton não pontue. Para Hamilton, vencer apenas não basta. Para Rosberg, uma vitória pode ser suficiente.

Alonso x Massa. O espanhol aproveitou a chance que era do brasileiro.

Alonso x Massa. O espanhol aproveitou a chance que era do brasileiro.

Ao desligar dos motores…

– Nico Hülkenberg deixa a Force India e vai para a Renault ano que vem, confirmando os boatos das últimas semanas. É bom ter Hülkenberg na Fórmula 1, mas é preciso que ele tenha um lugar na frente do grid, senão, é mais um desperdício de talento;

– Felipe Nasr surge como nome muito forte para a Force India ano que vem. Eu apostava nele na Renault, ou até mesmo na Williams, em substituição ao xará brasileiro. Caso isso se concretize, pode ser que aquela conversa com o presidente Michel Temer há algumas semanas atrás, tenha rendido;

– Ah, ia me esquecendo, Valtteri Bottas renovou com a Williams;

– Bernnie Ecclestone não gosta mesmo de Nico Rosberg. Andou criticando o piloto e insinuando que sendo campeão, não “agregaria” para a categoria. A Mercedes tratou de elogiar Rosberg, dizendo que ele tem feito um grande trabalho, e tal. E pior que nenhum dos dois está errado;

– Hamilton chegou à sua 50ª vitória na carreira e está à uma conquista de se igualar a Alain Prost. Pode terminar o ano como sendo o segundo maior vencedor da categoria, atrás apenas de Michael Schumacher;

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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