E o morro é do alemão


Hamilton vence o mais lentamente possível, e Rosberg chega ao título da temporada completando a dobradinha da Mercedes. Vettel vai ao pódio e Massa e Button se despedem da categoria.

Conhece o regulamento?

Foi fácil para Lewis Hamilton garantir mais uma pole na carreira. Mas, em Abu Dahbi, mais fácil ainda foi para Nico Rosberg ficar com o segundo lugar no grid. Ao que já estamos acostumados em chamar de “Fórmula Mercedes” o mais óbvio era a pole de Hamilton, já que ninguém esperava que Rosberg fosse ser tão incisivo sobre o companheiro sem nenhuma necessidade.

Ah, mas o Vettel fez o melhor tempo no TL3, seguido por Verstappen e Raikkonen, não é?

É, mas aquilo foi apenas uma demonstração de que a Mercedes, mesmo andando devagar, não ficava a menos de três ou quatro décimos de segundo atrás do melhor tempo da sessão. Isso andando bem menos que o que poderia.

Enquanto a Mercedes fez a primeira fila tranquila, os demais se esguelavam por um lugar na segunda fila, já considerada como como “primeira B”. E era para ser de Raikkonen o terceiro lugar, ele que já ganhara em Yas Marina no ano de 2012. Porém, um erro do próprio Raikkonen deu para Daniel Ricciardo a oportunidade de ver o pole logo à sua frente. Praticamente nada de diferença entre os eles.

Na terceira fila, mais um carro da Red Bull e outro da Ferrari, mas invertidos em relação a segunda fila. Vettel foi o quinto melhor classificado, enquanto Verstappen foi apenas o sexto.

Quem havia conseguido uma vaga no Q3 também foram Fernando Alonso e Felipe Massa que, nesta ordem, largaram na quinta fila e imediatamente a frente de seus companheiros, Valtteri Bottas e Jenson Button, respectivamente. Por pouco que a sexta fila não fica com os aposentados do dia.

Largada como esperada, exceto para Verstappen, que nem apareceu na foto.

Largada como esperada, exceto para Verstappen, que nem apareceu na foto.

Depois vieram os dois carros da Haas. Só que na oitava fila, onde normalmente apareceriam os carros da Toro Rosso, Jolyon Palmer foi o décimo quinto e, de Manor, Pascal Wehrlein foi o décimo sexto, ambos à frente de Kvyat e Magnussen. Esteban Ocon provou que a Manor estava bem e se classificou em vigésimo, logo atrás de Felipe Nasr.
A última fila ficou com Carlos Sainz e Marcus Ericsson.

Hamilton na pole e muita gente pensando o que ele deveria fazer para levar o título, já que para isso, Rosberg precisaria chegar em quarto. Quarto lugar de Rosberg com Hamilton vencendo significava colocar dois carros entre eles. Duas Red Bull? Duas Ferrari? Um carro de cada equipe ou algum de outra?

Podia até ser, mas era difícil. Conhecida como “Tática Villeneuve”, o procedimento seria possível de ser aplicado se Hamilton pulasse na frente de Rosberg e, ao invés de tentar abrir distância, se mantivesse como em uma largada de safety-car, controlando a distância para Rosberg e os demais e deixando o alemão na mira dos dois adversários que, se o passassem, poderiam dar o título a Hamilton.

Com cuidado se vai longe

A largada foi com tanto cuidado por parte dos primeiros no grid que parecia que eles estavam partindo para a segunda volta de apresentação. Só deu para perceber que era pra valer porque alguns andaram travando pneus e o Max Verstappen rodou na disputa da primeira curva com o Nico, mas o Hülkenberg. Acabou caindo para a última colocação em um circuito que é, sabidamente, difícil de ultrapassar. Menos para Max.

Valeu Button!

Valeu Button!

Logo de início, uma briga feroz entre Pérez e Hülkenberg, um toque no bico de Magnussen e uma troca de posições entre Bottas e Massa. Só que a corrida foi curta, muito curta para Magnussen e Bottas, que recolheram muito cedo.
Antes de abrir a oitava volta, Hamilton foi para a troca de pneus e trouxe com ele, dos líderes, Raikkonen. Na volta seguinte, seus companheiros Rosberg e Vettel também pararam. A coincidência entre as duas paradas é que, como o box da Mercedes era o primeiro e o da Ferrari mais a frente, ambos os pilotos da equipe alemã precisaram esperar a passagem dos carros vermelhos pelo pit-lane para voltarem a pista. Um pequeno acréscimo no tempo total de parada, mas que nada mudaria mais tarde.

Com um início de prova muito forte e se aproveitando das paradas dos demais, Verstappen apareceu entre Hamilton e Rosberg, ainda não na segunda colocação porque nem todos tinham feito suas paradas, inclusive o próprio Verstappen, mas era o primeiro passo para um possível e improvável tetracampeonato de Hamilton.

E Verstappen dava mostras que segurava mesmo Rosberg, mas o que não fazia com que Hamilton abrisse. Estava clara que a tentativa de Hamilton era mesmo de aproximar o pelotão.

Mais dois abandonos na corrida. O primeiro, de Daniil Kvyat, que enconstou seu Toro Rosso e, ao descer, preferiu pegar uma bicicleta normal a sentar da garupa da scooter do fiscal de pista que o levaria de volta aos boxes. Tava disposto o garoto. Já o outro abandono foi de Jenson Button. O inglês, que fez sua última corrida usando um capacete com o mesmo grafismo e cores de quando foi campeão em 2009, teve sua ponta de eixo da roda dianteira direita quebrada ao passar com um pouco menos de cuidado por uma das zebras do circuito. Conseguiu levar o carro aos boxes, “zaroinho” de tudo, para poder ser aplaudido de pé pelos presentes. Sua família o esperava para abraços emocionados. Faltou o abraço do pai, John, falecido há quase três anos.

Vettel no pódio desde a Itália. E ainda reclamou.

Vettel no pódio desde a Itália. E ainda reclamou.

Fernando Alonso, com a outra McLaren, se divertia passando Grosjean para tentar um pontinho a mais para a McLaren. Na verdade, só citei a ultrapassagem aqui porque foi bonita, por fora, com o talento de um cara que precisa de um carro de ponta logo. Ah, e Ricciardo tentou ultrapassar o Raikkonen, porém, tomou um “x” legal e acabou ficando na alça de mira de Vettel, que vinha colado nos dois.

Freio de mão puxado

Se por um lado era evidente a operação tartaruga de Hamilton, o que esperar de Rosberg? Ir para cima de Verstappen e tentar inclusive a vitória sobre o companheiro de equipe, ou ficar apenas cuidando de garantir um lugar no pódio e sair com o título inédito? É que o holandês ainda não tinha feito a sua parada e os pneus dele já estavam meia vida, comprometendo a performance da Red Bull. Pelo sim, pelo não, Rosberg foi corajosamente para cima de Verstappen e ganhou o segundo lugar. Imediatamente após isso, Verstappen foi para aquele que seria seu único pit-stop.

Bastou abrir caminho que Rosberg começou a fazer as melhores voltas da prova, enquanto Ricciardo, Raikkonen fizeram suas segundas paradas. Hamilton e Rosberg também foram chamados e, pelo menos no que diz respeito a tempo de parada, a equipe não comprometeu nenhum dos dois pilotos.

Acontece que Verstappen, que havia voltado em oitavo, vinha tirando um segundo de para os carros da Mercedes. Será que daria ainda? E ainda tinha Vettel, calçado com os supermacios, voando também. Neste momento, Ericsson, depois de 40 voltas, lembrou que tinha que fazer ao menos um pit-stop e foi lá cumprir o regulamento.

Nas voltas finais, Hamilton e Rosberg na frente, Ricciardo chegou de vez em Verstappen e Vettel era o quinto colocado, andando muito. Pois bem. Eis que os líderes encontram alguns retardatários. Era para embolar mais. Palmer e Sainz brigando por uma posição que não iria mudar em nada suas posições no campeonato, mas que podia tirar alguém da pista e decidir um título. Quando os dois carros da Red Bull passaram por eles, ambos se “estapiaram” e foram deixando pedaços de carenagem pela pista. Sainz até abandonou.

Faltando pouco mais de cinco voltas, o rádio de Hamilton era só de pedidos para o inglês acelerar mais porque sua vitória poderia estar sob risco. Em uma das respostas, Hamilton disse que não adiantava nada vencer a prova se estava perdendo o campeonato. E nesse momento, Hamilton parecia um caminhão de carga subindo a serra. Até o Kvyat, de bicicleta, parecia mais rápido que ele.

Muito próximos os cinco primeiros, e Vettel ainda teve tempo de ganhar as posições de Ricciardo e Verstappen, garantindo um lugar no pódio. Hamilton, por mais que segurasse, não conseguiu lograr êxito na sua estratégia e acabou vencendo a corrida, mas o título ficou mesmo nas mãos de Rosberg, que comemorou muito e merecidamente. Raikkonen, Hülkenberg, Pérez, Massa e Alonso completaram os dez primeiros colocados.

Chegando juntos

Chegando juntos

Depois de dois anos levando poeira de Hamilton, Rosberg fez um campeonato mais consistente e, mesmo tendo perdido a liderança do Mundial por algumas etapas, provou que está mais forte mentalmente, está mais amadurecido como piloto e tem números que justificam seu reinado iniciado hoje. Dez anos após entrar para a categoria, cinco temporadas após vencer sua primeira corrida e com pouco mais de 200 GPs, Rosberg se torna o segundo filho de campeão do mundo a repetir o feito do pai.

Para a Fórmula 1, um novo campeão sempre é bem vindo. Só que Rosberg não é unanimidade, nem com o título. É sim, talentoso, mas em minha opinião, e de muita gente, é inferior a muitos pilotos do grid, principalmente à Hamilton. Mas isso é para conversa entre apaixonados pela velocidade que vão ter em Rosberg, talvez, o primeiro segundo piloto campeão do mundo.

Ao desligar dos motores…

– Mesmo com um campeão alemão, em uma equipe alemã, o GP da Alemanha de 2017 não será realizado. Problemas de contrato;

– O GP do Brasil ainda não está garantido também para o ano que vem, assim como a presença de um piloto brasileiro, já que Felipe Nasr não deve renovar com a Sauber;

– Por falar em brasileiro, Felipe Massa ganhou da Williams o carro utilizado por ele no GP do Brasil. As más línguas disseram, Claire Williams disse para ele não reparar, que o dinheiro só deu para uma lembrancinha;

– Hamilton ouviu muito sobre sua conduta na pista, mas se defendeu dizendo que não fez nada de perigoso ou ilegal. Vettel disse que ele foi sujo. Bom, eu não vi nada demais e, convenhamos, Vettel reclamando foi o que mais aconteceu neste ano;

– Teorias da conspiração à parte, não fosse o motor de Hamilton estourado na Malásia…;

– Button admitiu que decidiu parar cedo demais, mas não irá abandonar o esporte a motor. Reconhecido por sua tocada suave, foi exatamente um erro que o tirou da corrida hoje. Se pudesse pegar um túnel do tempo, acho que ele o faria;

– Como será lembrado 2016? Ainda não sei. Só sei que espero muito mais de 2017, ano em que os brasileiros, provavelmente, ou cometerão novo êxodo como aconteceu após a morte de Senna, ou acharão um piloto de outra nacionalidade para torcer. Alguém tem um preferido?

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

7 Responses

  1. Eduardo Dantas says:

    Como Sempre, ótimo texto com o resumo da corrida e os highlights da temporada que passou ! Parabéns Lauro pelo Texto.
    Ao meu ver 2017 será uma temporada longa e espero que a mudança de regulamento ( uma delas – pneus ) possa trazer mais competitividade as corridas.. Está fazendo falta a Ferrari, Red Bull e Mclaren estarem com carros competitivos para, pelo menos, termos resultados indefinidos a cada corrida e não a certeza de que uma Mercedes irá ganhar.
    Se puderes comentar e um post futuro o que irá mudar entre 2016 e 2017 será interessante para nós torcedores!
    Um abraço

    • Obrigado pelas palavras Edu.
      Eu vou sim, comentar sobre as mudanças no regulamento, que não serão poucas.
      Antes ainda, quero escrever o resumo da temporada e mais algumas coisas, mas prometo para antes do início da próxima temporada todos os detalhes.
      Grande abraço!

  2. lsussumu says:

    Os textos são sempre muito bons Lauro!! Não comento, mas leio sempre eles e os comentários do Glauco.

    Para mim o Hamilton fez o que deveria ser feito. Não foi sujo da parte dele. Isso que está matando a F1, muitas regras, não pode fazer nada que o piloto é punido.

    O Vettel esse ano foi muito chorão, reclamando de tudo e de todos.

    Vai fazer falta um brasileiro no Grid.

    Com relação em como será lembrada a F1 2016/F1 V6 Turbo
    https://www.youtube.com/watch?v=e5yoldSte64

  3. Glauco de F. Pereira says:

    A elegância de Button fará falta a F1. Pilotagem clássica, limpa, sem colocar o carro de lado, sem dar show para o público sempre fazem a diferença numa F1 que se tornou uma disputa entre aquele que mais economiza, não o mais rápido, como sempre foi no automobilismo de competição.

    Agora, o que falar do novo campeão. É o melhor piloto? Não. Teve o melhor carro? Somente ele, não. Mas certas perguntas, algumas ainda sem respostas, acredito eu, merecem uma reflexão sobre o que levaram ao título e principalmente porque ele foi campeão.

    “Dona” Mercedes, porque logo no início do campeonato, a equipe de mecânicos formada por Hamilton e que lhe ajudou a conquistar seus campeonatos fora trocada pela equipe daqueles que atendiam anteriormente a Rosberg? Medo ou certeza de que veríamos mais uma vez um massacre de Hamilton sobre Rosberg? Ou aquela estória de que ambos tem o mesmo carro e equipamento é pura retórica?

    O título está em boas mãos? Talvez… Ou alguém acha que Rosberg é mais rápido e melhor que Hamilton em velocidade pura, o que desde sempre, com algumas exceções, faz com que um piloto seja campeão, ou seja, melhor do que os demais. Não tivemos isto este ano…

    E como será a F1 sem um brasileiro? Para mim, normal, afinal, o que importa, sem pachequismos, é ver a disputa entre os melhores. Se tiver um brasileiro, ótimo. Senão, tudo bem. Vamos pensar pelo lado bom, estamos livre da torcida, das acusações de que o brasileiro estava sendo “boicotado” pela equipe (valha-me Deus!), do tema da vitória (ironic mode ON). Só não vale ter na narração o Luiz Roberto!!!!!!! Isso sim é demais para o cristão. Não vai ter “gorpi”, como diria uma Senadora…

    E o Vettel, hein??? Assumiu seu lado italiano total. Parece a “nonna”, que reclama do ponto da pasta, do ponto do molho, do filho, da nora, do genro, da vida, enfim, de tudo. Olhando por este lado, nada melhor do que Raikkonen. Dê a ele um carro de médio pra bom e o deixe sozinho. Garanto que ele não reclamará, pelo menos…

    Enfim, agora começa o período de abstinência. Sobreviveremos, espero… Até 2017!

    • Glauco,

      Seus comentários ao longo desta temporada só enriqueceram estas páginas de resumo. Sempre cirúrgicos, sempre bem pautados e com um toque de humor que alinha com a nossa proposta. Agradeço por tornar este espaço melhor. Abraço!

      • Glauco de F. Pereira says:

        Gentileza sua, Lauro. Só assim para justificar suas palavras. Impossível não ler seu texto após cada corrida, o qual quase sempre se mostra melhor do que as mesmas, e não se inspirar. Quando escrevo, logo após seus textos, tento chegar a pelo menos 10% do que você escreve. E tá cada vez mais difícil…

        Ano que vem não cochilarei (assim espero…) e serei concorrente de Sussumu, Fabio Abade et caterva!!!!

        Grande abraço a toda equipe do “No Trânsito” e que 2017 seja melhor para a F1. Com isto, não faltará material para assuntarmos e dar uns pitacos…

        Imaginem só um 2017 com disputas reais entre Hamilton, Alonso, Vettel, Verstappen, Raikkonen, Rosberg??? Tomara…

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