“Tea with me”


Hamilton não deu chances para ninguém e sai da terra natal com um ponto de diferença para Vettel, que ficou apenas em sétimo depois de um pneu furado na penúltima volta. Bottas completou a dobradinha da Mercedes e Ricciardo fez uma tremenda corrida de recuperação.

O escudo

Treinos livres em Silverstone na sexta-feira e o carro de Sebastian Vettel surge com o tão esperado shield, a proteção que a FIA e a categoria dão como certa que será adotada em 2018. Apesar da expectativa, Vettel não gostou e andou muito pouco com o dispositivo. Disse que é mais difícil focar, que dá tontura, e entendeu que a curvatura é o problema. Esteticamente, é o que de melhor surgiu até agora, mas tem que ser funcional.

Bottas dominou a sexta-feira, mas as manguinhas de fora do finlandês foram cortadas pela Mercedes, que resolveu trocar o câmbio do carro dele assim como fizera com Hamilton na etapa anterior, aumentando, e muito, as chances de uma nova pole para Hamilton, em casa.

No sábado, Hamilton tratou de mostrar que não precisaria de nenhum infortúnio por parte de seus adversários para garantir a pole. Tratou logo de fazer o melhor tempo no último treino livre e seguiu como favorito para o treino oficial. O maior adversário, porém, estava por vir.

Antes do início do treino, choveu, e na hora em que os carros foram liberados para a pista, ainda existiam alguns trechos úmidos, fazendo com que a maioria optasse pelos pneus intermediários e alguns, corajosos, fossem para a pista de pneus slick.

Como a pista ia secando, os tempos ao final do Q1 iam melhorando e, por incrível que pareça, o melhor tempo ficou com Fernando Alonso. Claro que não era algo duradouro, mas mostrou que o espanhol só precisa de carro bom que o resto ele sabe. Iria largar em último do mesmo jeito pois tinha mais penalidades do que pecador tem penitência.

Protegendo, mas ainda distorcendo. Este é o shield.

Protegendo, mas ainda distorcendo. Este é o shield.

Ainda no Q1, Daniel Ricciardo teve problemas com o seu Red Bull e acabou abandonando a disputa, e largaria na última fila. Além dele, os dois carros da Sauber, Magnussen e Stroll.

Vida difícil também para Felipe Massa, que passou para o Q2 só porque Ricciardo quebrou. Sainz, Alonso, Kvyat e Palmer também não conseguiram nada melhor que as posições intermediárias.

Já com a pista totalmente seca, foi a vez de Hamilton voar e conseguir mais uma pole position, ficando a apenas uma de igualar o recorde de Michael Schumacher. Em segundo e terceiro, os dois carros da Ferrari, com Raikkonen largando a frente de Vettel. Bottas foi o quarto apenas, mas com a punição de cinco posições, largaria na quinta fila ao lado de Romain Grosjean. Com isso, Max Verstappen subiu para o quarto lugar, ao lado de Vettel. Nico Hülkenberg foi sensacional e colocou a Renault na sexta posição, ao lado de Sergio Pérez.

Adivinhe quem veio logo atrás de Sérgio Pérez. Esteban Ocon, claro. Os dois carros andam muito próximos o tempo todo, é impressionante! E seria assim na corrida também. Stoffel Vandoorne fez um ótimo treino e acabou com o oitavo melhor tempo.

Mesmo não tendo aparecido em um evento promovido pela Liberty Media, no centro de Londres durante a semana, Hamilton fez as pazes com a torcida no sábado e pintava como o grande favorito para domingo.

Kvyat, a Sibéria te espera

Hamilton queria manter a ponta e conseguiu, mas foi melhor ainda com a perda de posição de Vettel para Verstappen. Vettel parecia que ia ter problemas porque uma forte fumaça na roda traseira do seu carro foi percebida quando os carros se alinharam novamente depois da segunda volta de apresentação, já que a primeira havia sido abortada para tirarem o carro de Jolyon Palmer da área de escape. O piloto inglês da Renault nem largou.

Hamilton escapando na ponta para mais uma vitória.

Hamilton escapando na ponta para mais uma vitória.

Nada da chuva aparecer, mas olhando para o céu, parece que todo mundo no autódromo tinha o sobrenome Adams, pois a nuvem, quer dizer, as nuvens negras, que acompanham a família mais famosa do terror, estavam todas por lá. E o show de horror ficou (de novo) por conta de Daniil Kvyat, que conseguiu acertar o próprio companheiro Carlos Sainz, obrigando o espanhol a abandonar muito cedo. Kvyat continuou na prova e tomaria um drive thru mais tarde por causa de sua volta estabanada a pista.

Entra o safety-car para tirar o carro de Sainz, tirar os detritos e tal.

Na quinta volta, a relargada é dada e Bottas já está na sexta posição. Quem enfrentava problemas era Ricciardo, que caiu para último depois de brigar com os retardatários tentando galgar a frente o mais rápido possível. Iria demorar um pouco mais então.

Outra equipe que quase teve seus pilotos se tocando foi a Sauber, com Wehrlein e Ericsson brigando roda a roda, com direito a saída de pista e tudo mais.

Hülkenberg havia feito um ótimo treino, uma ótima largada também, mas ele tinha um problema enorme no retrovisor: Bottas. Não tardou muito e o finlandês da Mercedes já superava o piloto da Renault e ia decidido pra cima de Vettel. Já o líder do campeonato precisava acelerar e começou a tirar diferença para Verstappen. Surge aí a primeira grande disputa da prova.

Vettel se aproximou, colocou de lado, Verstappen veio junto, saiu da pista, saiu acelerando e segurou a posição com toda garra que podia. Deu certo, e a Ferrari decide então antecipar um pouco a parada de Vettel, que nesta altura já estava escorregando um pouco demais. Voltou em sexto lugar. Enquanto isso, Ricciardo superava Felipe Massa e chegava na zona de pontos.

Verstappen faz então a sua parada, que teve um pequeno um atraso na substituição da roda traseira esquerda. Ainda no pit-lane, voltando para a pista, o holandês já balançava a cabeça negativamente sabendo que perderia a posição para Vettel. E perdeu mesmo.

Ricciardo fez uma corrida impecável, da última para a quinta posição.

Ricciardo fez uma corrida impecável, da última para a quinta posição.

A Mercedes, então, rapidamente pede para que Bottas tire o máximo do equipamento com a pista livre. Muito a fim de um melhor resultado, Bottas voa na pista e faz a melhor volta e, embora Vettel também virasse muito rápido com os pneus novos, os dois carros da Mercedes estavam imbatíveis. Hamilton, por exemplo, mesmo com os pneus desgastados, também voava e os três, Hamilton, Bottas e Vettel alternavam as melhores voltas.

Ferraris mancas no final

Na volta 25, Raikkonen faz seu pit-stop e volta na terceira posição, justamente atrás dos dois Mercedes. Com folga e prudência, o rádio da equipe alemã chama Hamilton para não correrem risco desnecessário. E a parada do inglês foi um flash, muito rápida. Tanto que, mesmo com a parada, Hamilton ainda voltou a frente de Bottas, por muito pouco, é verdade, mas ainda na frente.

E o que teria acontecido com o Kimi? Pelo rádio, o piloto reclama que tem alguma coisa pulando em suas pernas. Mistério…

Na volta 35 foi a vez de Bottas fazer a sua parada, depois de andar forte. Apesar de todo o esforço, Bottas voltou atrás de Vettel, mas a distância menor e os pneus novos em relação a Vettel davam totais condições para que o finlandês sonhasse com o pódio, no mínimo.

Ainda teve a parada de Ricciardo, o último dos que estavam no primeiro pelotão. O australiano voltou imediatamente atrás de Magnussen, Ocon e Pérez, na décima posição. Com pneus mais novos e quase nenhuma diferença, Riccardo demorou poucas voltas para se colocar a frente de todos eles em sétimo. Corridaça do homem-sorriso.

Hülkenberg foi o melhor depois do top 5. Nem o problema de Vettel no final tirou o mérito do seu grande resultado.

Hülkenberg foi o melhor depois do top 5. Nem o problema de Vettel no final tirou o mérito do seu grande resultado.

Lá na frente, tranquilo, fazendo selfie e mandando torpedo para o amigo Justin Bieber, Hamilton não sofria nenhuma ameaça. Raikkonen, o mais próximo, não conseguia esboçar o mínimo de possibilidade de vencer a corrida. Em compensação, Raikkonen ficava um pouco ameaçado por Vettel e este muito ameaçado por Bottas. Eu imaginei que o Vettel fosse reduzir a diferença para Raikkonen para tentar colocar os dois finlandeses juntos para ver qual dos dois era melhor no jogo da cobrinha do Nokia. Só que não foi bem isso que aconteceu.

Com os pneus desgastados e muito pressionado por Bottas, Vettel deu uma pequena errada, levantou poeira e Bottas chegou de vez. Sem cerimônia, Bottas colocou por fora na curva Stowe e ia passando quando Vettel jogou duro e não deu espaço para o piloto da Mercedes, que saiu um pouco da pista mas voltou ainda forte, obrigando Vettel a uma bela fritada no pneu dianteiro esquerdo para defender sua posição. Durou uma volta a resistência de Vettel, pois na segunda tentativa, Bottas engoliu o alemão na mesma curva, mas com muito mais precisão e assumiu o terceiro lugar faltando oito voltas para o encerramento da prova.

Ficou no osso os compostos de Vettel no final da corrida. Um deles sucumbiu.

Ficou no osso os compostos de Vettel no final da corrida. Um deles sucumbiu.

Bottas ainda queria mais, e teve sua vida muito facilitada. Raikkonen acabou um pneu furado, o dianteiro esquerdo e, embora tivesse conseguido levar para os boxes e voltar para a corrida, estava fora do pódio naquele momento. De repente, faltando três voltas para o final, Vettel tem o mesmo problema de pneu furado, o mesmo dianteiro esquerdo que deu problema no carro de Raikkonen. Para agravar, o dano foi percebido juntamente com uma escapada de pista logo após a entrada dos boxes, obrigando Vettel a se dar uma volta completa arrastando-se, literalmente.

Enquanto Vettel fazia pit-stop não programado, Ricciardo ganhou mais uma posição, sobre Hülkenberg, e ambos terminariam justamente a frente de Vettel.

Hamilton venceu de ponta a ponta, sem sentir-se ameaçado em nenhum momento. Bottas, brilhante, conseguiu fechar mais uma dobradinha para a Mercedes. Raikkonen cruzou em terceiro, seguido de Verstappen (que conseguiu, enfim, terminar uma corrida depois de muito tempo). Ricciardo, com uma recuperação incrível, conseguiu a quinta colocação, com Hülkenberg em sexto, outra ótima corrida do piloto da Renault. Vettel teve que se contentar com o sétimo lugar, a frente de Ocon, Pérez e Massa, que completaram os pontuadores deste domingo.

A primeira metade do Mundial chega ao fim com Vettel liderando, mas agora apenas um ponto a frente de Hamilton. Bottas está vinte e três pontos atrás de Vettel, mas ainda pode ser considerado aspirante ao título. Ricciardo, Raikkonen vêm logo depois, pouco mais distante, e Verstappen é o sexto, formando as três grandes equipes no mundial. Será uma segunda metade de arrepiar!

Ao desligar dos motores…

– Há quem entenda que a estratégia da Ferrari de chamar Vettel muito cedo para os boxes foi decisiva para o problema na parte final da corrida. Há quem pense que foi a fritada de pneu na disputa com Bottas. E há quem pense que foi apenas mais um motivo para Vettel continuar se lamentando, sempre;

– Ainda que digam que a Ferrari tenha evoluído, a demonstração de força da Mercedes, hoje, deixa Hamilton em situação melhor que Vettel para o andamento do mundial;

– Carlos Sainz está arrumando problemas dentro da Toro Rosso. Ele quer sair, a equipe não quer liberar. Tem gente dizendo que ele deve correr pela Renault na Hungria no lugar de Jolyon Palmer. À ver;

– Por falar em Renaul, Robert Kubica segue fazendo testes pela equipe com carros de anos anteriores. Será que o polonês volta?;

– O que é pior para Kvyat, ter um chefe como Helmut Marko ou um sogro como Nelson Piquet?;

– Por questões financeiras, contratuais, ou sei lá o que, 2018 parece que será o último ano da Fórmula 1 em Silverstone. Há grande empenho em se fazer um GP nas ruas de Londres, tudo bem, mas Silverstone não pode sair do calendário. A pista é boa, é histórica, e o público comparece. God save Silverstone!

In the people arms.

In the people arms.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

1 Response

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Chegando a metade da temporada, creio eu que algumas verdades que pareciam absolutas no início da temporada tiveram a sua devida confirmação; outras, nem tanto.

    Verstappen: em um ano que se prometia a confirmação de seu inegável talento, o que se tem visto, na verdade, é a confirmação, sem maiores discussões, de um grande talento, se não o maior da nova geração da F1: o rei dos “shoey drink”, o “homem do sorriso de 128 dentes”, Riccardo.

    Dono de um talento ainda maior do que o de sua simpatia, ele é aquele cara que qualquer um sentaria e tomaria uma cerveja e depois de uns 20 minutos, provavelmente estaria rindo de suas estórias e piadas. Já Verstappen, este ano, não disse até agora a que veio. A continuar desta forma, talvez a possibilidade da repetição do que aconteceu com a troca de Kyvat não seja nada absurdo num futuro, ainda mais se sabendo da forma “carinhosa” com que Mr. Helmut Marko conduz com mãos de ferro os pilotos de RedBull e Toro Rosso.

    Já para os lado da Toro Rosso, o “toro” ainda mais bravo. Como se já não bastasse o rebaixamento na temporada anterior, cogita-se, depois de duas corridas em que suas largadas se assemelham em muito a jogadas de “Curling”, Kyvat poderá escolher dentre as seguintes opções: líder de equipe de Curling da Redbull; ser mandado para a Sibéria para uma temporada de “aprendizado” de como andar em linha reta com um carro (com a grande possibilidade de utilização de Trabant nas aulas…).

    Do jeito que a coisa vai, eu, no lugar dele, pediria umas “dicas” ao sogro ou algum dos cunhados, já que na família não tem nenhum braço duro. A continuar assim, sei não se não será mais um a passar pelo moedor de pilotos de “Marko and Mateschitz”, respectivamente, “gerente” e “dono” das latinhas.

    Bottas: pra quem desconfiava de que seria um reles piloto-tampão por um ano na Mercedes, ledo engano. A cada prova, vem mostrando o seu valor, velocidade, constância e não ter medo de dividir equipe com um casca grossa como Hamilton.

    Creio que nos próximos anos, veremos cada vez mais disputas entre Bottas, Riccardo, Verstappen, Ocon, Perez, Hulkenberg, Werlein e outros mais dessa nova geração.

    Já para os lados da Renault, nada dá certo para Palmer, definitivamente. Além de não ser detentor de grande talento e/ou velocidade, ainda tem como companheiro de equipe um cara como Hulkenberg, mais um alemão de grande talento.

    Por causa disso, cada vez mais os boatos do retorno de Kubica podem se tornar realidade. O talento inquestionável do polonês pode fazer diferença no final do campeonato, aonde a soma de pontos e a divisão do dinheiro pode fazer diferença entre uma equipe avançar e sonhar com maiores conquistas no grip e consequentemente no campeonato, ou ficar fazendo numero na disputa.

    Já a Sauber, que depois de assinar contrato de fornecimento de motores com a Honda e ter esse contrato cancelado, se vê envolvida em boatos de venda exatamente para a Honda, podendo se tornar equipe oficial de fábrica. Será? Japoneses fazendo mais uma “fogueira de ienes”? Difícil crer, não?

    Já para os lados de Maranello, a vantagem que a Ferrari apresentava em relação a Mercedes, logo no início da temporada, parece que vem diminuindo a mesma razão que os cada vez mais comuns destemperos de Vettel vem aumentando. Em um momento em que todos acreditavam que no quesito preparo mental Vettel sairia na frente de Hamilton, vemos que depois dos fatos de Baku que não é isto exatamente o que anda acontecendo.

    E agora, com somente em uma única prova Vettel perdendo a vantagem que tinha no campeonato, o que vemos é que a segunda metade promete ser ainda melhor e mais agitada do que a primeira. Talvez se tivéssemos uma posição invertida no campeonato, não seria absurdo pensar numa vitória de Vettel ao final do ano…

    Mas, neste momento, com Hamilton mais fortalecido do que Vettel, e com um fato novo como Bottas na disputa, que pode tanto agir como escudeiro de Hamilton ou como postulante ao título, Vettel pode ter que dividir suas atenções com dois postulantes as vitórias, coisa que não se pode falar de Raikkonen, a não ser em condições excepcionais de temperatura, pressão, disputa e concorrentes.

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