Hamilton, a quarta vez


Verstappen venceu de novo no ano, Vettel fez uma boa corrida de recuperação, mas não passou de um quarto lugar. Mesmo com a nona posição, Hamilton se consagrou como novo tetracampeão da categoria.

Até o fim

Sim, a situação de Lewis Hamilton no campeonato dava praticamente como certa a sua conquista de título, quarto da carreira, no GP do México, circuito Hermanos Rodriguéz. Para isso, Vettel teria que vencer ou ser no máximo segundo, e ainda torcer para Hamilton praticamente não marcar nenhum ponto.

Tudo bem, era quase impossível, mas Vettel queria mostrar que não venderia barato esta derrota caso ela acontecesse.

Em uma volta sensacional, Vettel conquistou a sua 50ª pole position na carreira. No entanto, quem estava com a pole provisória era Verstappen, que vem demonstrando ascensão depois de uma série de resultados ruins ao longo do ano. E o menino queria dar uma resposta aos que o puniram pela ultrapassagem polêmica sobre Raikkonen uma semana antes, nos Estados Unidos.

Assim, a primeira fila prometia mais uma vez uma freada pra lá de arrepiante na largada da corrida.

Na segunda fila estavam Hamilton e Bottas, que andaram muito próximos o tempo todo no treino oficial. A pergunta que não queria calar era se Hamilton iria colocar pressão para vencer ou iria apenas administrar a imensa vantagem para a conquista do título.

Momento em que Verstappen se desgarra e deixa a confusão para Vettel e Hamilton.

Momento em que Verstappen se desgarra e deixa a confusão para Vettel e Hamilton.

Raikkonen conseguiu apenas o quinto tempo, já dando sinais de que não conseguiria contribuir muito com o plano de Vettel em adiar momentaneamente a decisão do mundial. Ao seu lado, o francês Esteban Ocon, muito competente e se colocando a frente Pérez, que corria em casa e não foi além do décimo lugar, mas largaria em nono. Isso porque Daniel Ricciardo, que não repetiu o bom desempenho dos treinos livres e ficou com o sétimo tempo, a frente da dupla da Renault, Hülkenberg e Sainz. Porém, uma decisão já no domingo o fez largar apenas na décima sexta posição.

Os demais coadjuvantes ficaram assim posicionados: Massa e Stroll em décimo e décimo primeiro, Marcus Ericsson e Pascal Wehrlein logo atrás… Pera aí, você deve estar se perguntando o que eles estavam fazendo mais para o meio do grid, certo? Fácil de explicar.

Alonso e Vandoorne, Hartley e Gasly (sim, o Pierre voltou para o cockpit da Toro Rosso no lugar de Daniil Kvyat, agora em definitivo), além de Ricciardo como dissemos, foram todos punidos com várias posições no grid por troca de componentes do motor.

Ah, faltaram os dois carros da Haas. Pois é, estes foram punidos pelo equipamento mesmo, ficando com a última fila do grid e sendo salvos pela saraivada de punições aos pilotos citados.

Quase um quilometro de reta até a primeira freada para ver quem tem mais garrada vazia pra vender. Assim se iniciaria a decisão do título de 2017.

Verstappen, o peralta

Dizem que uma corrida não se ganha na primeira curva, mas se perde. Acho que Verstappen não concorda com isso.

Vettel largou bem, foi fechando o lado de dentro da curva, mas Verstappen veio atrás e jogou para a esquerda, o que só poderia resultar em uma ultrapassagem por fora. Acontece que Hamilton veio ainda mais pela esquerda e parecia que os três iriam dividir a curva lado a lado juntos. Hamilton, prudente, recuou um pouco e assistiu de camarote ao toque de Vettel e Verstappen, que resultou em prejuízo para o bico da Ferrari do alemão e a perda da primeira posição para o menino da Red Bull. Hamilton, muito mais seguro, ia superando Vettel pela esquerda quando foi tocado (para mim, de maneira “semi-intencional”, se é que isso existe) e teve o pneu traseiro furado. Dava para Vettel ter evitado, em minha opinião, mas apesar disso, ninguém foi punido pelo imbróglio das primeiras curvas. Em pleno México, só faltou Vettel mandar um “foi sem querer querendo”, pelo rádio.

Não deu para Vettel, apesar de uma corridaça de recuperação, mas também de um toque polêmico em Hamilton.

Não deu para Vettel, apesar de uma corridaça de recuperação, mas também de um toque polêmico em Hamilton.

Assim, Verstappen e seu tanque de guerra continuaram firme na ponta, enquanto os protagonistas ao título foram para os boxes repararem seus equipamentos, voltando obviamente no final da fila.

A sensação da prova era Ricciardo, que em três voltas já estava em nono, atrás de Raikkonen, de Massa, de Pérez, Hülkenberg, Ocon e Bottas, além de Verstappen, é claro.

Ainda no começo da prova, além de Vettel e Hamilton, Sainz e Massa também foram para os boxes, O brasileiro teve um vazamento no pneu. Mas pena mesmo foi ver Ricciardo encostando nos boxes na volta seis sem motivo aparente e abandonado a prova.

A partir daí, a corrida era saber se Vettel conseguiria se recuperar na prova e o que faria Hamilton, se iria para o ataque ou iria se poupar deixando Vettel lutar sozinho.

A reação de Vettel foi grandiosa. Um a um ele foi passando seus adversários. Mas não foi muito tranquilo não. Por exemplo, Felipe Massa colocou bastante resistência ao alemão e chegou a jogar o piloto da Ferrari fora da pista, mas não conseguiu barrar a maior força da Ferrari.

Hamilton, por sua vez, ficou muito tempo na última posição e não conseguia superar Sainz nem Wehrlein. Parecia que o carro de Hamilton havia sofrido alguma avaria maior no Mercedes.

Começam as paradas de box normais, e ai vem um momento interessante. Verstappen chegou em Hamilton, ainda preso atrás do Sauber e do Renault, e os fiscais não tiveram como não mostrar bandeira azul para Hamilton, avisando que Verstappen estava chegando. A vida de piloto tem dessas coisas.

Hülkenberg fora. Era o segundo motor Renault deixando alguém na mão.

Nesta altura da prova, Vettel era o décimo e chegou na briga entre Ericsson e Alonso, oitavo e nono respectivamente. Não, eu não errei desta vez. Ericsson era oitavo.

E voltando a falar de motores Renault, agora foi a vez de Hartley soltar fumaça pela pista e provocar um safety car virtual. Era a chance perfeita para todos que não haviam parado fazerem suas trocas de pneus sem perder posições. Vettel fez mais uma parada e colocou pneus supermacios, o que era um risco sendo que ainda faltavam trinta voltas para o fim da prova. Hamilton também parou.

A partir deste momento, a corrida era franca, mas não entre ambos diretamente, e sim entre eles e seus adversários a serem vencidos.

Hamilton dando "zerinhos" ao final da prova. Nunca uma nona colocação foi tão comemorada.

Hamilton dando “zerinhos” ao final da prova. Nunca uma nona colocação foi tão comemorada.

E o fã supera o ídolo, de novo

Vettel voava na pista tentando a todo custo chegar em segundo, tarefa praticamente impossível. De esperança ele tinha a possibilidade de um problema entre os líderes, Verstappen e/ou Bottas, e uma ajudinha do companheiro Raikkonen que seguia em terceiro, mas sem ameaçar o compatriota do carro prateado.

Já Hamilton voltou com um desempenho bem melhor do que com o set de pneus anterior e foi ultrapassando os adversários. Era a volta número 38 de 71, com Vettel em sétimo e Hamilton em décimo quarto.

Vettel fazia as melhores voltas da prova e passou um a um Pérez, Stroll e Ocon e ocupou o quarto lugar, ainda andando muito rápido. Hamilton vinha com um pouco mais de parcimônia. Foi praticamente simultâneo o momento em que Vettel assumiu a quarta colocação e Hamilton chegou nos pontos ao passar por Felipe Massa. O brasileiro não facilitou também, mas Hamilton foi muito mais feliz na manobra e deixou o piloto da Williams falando sozinho.

Ainda teria uma batalha muito legal entre Hamilton e Alonso, lutando por um nono lugar apenas, mas o suficiente para mostrar o talento de ambos, principalmente do inglês, que foi limpo e preciso para deixar Alonso na poeira.
Mesmo sabendo que Vettel só conseguiria o segundo lugar por um milagre faltando poucas voltas para o final, Hamilton continuou tocando forte. Não era assim que ele gostaria de comemorar o quarto título mundial, mas mesmo assim, nada tirou a grandeza da conquista do inglês.

Verstappen venceu a prova de ponta a ponta praticamente, sem ser ameaçado depois da largada. Bottas ficou na dele, ali em segundo, admirando a paisagem e se identificando com a comemoração do Dia dos Mortos nas arquibancadas (agora fui maldoso, eu sei). Raikkonen, desta vez sabia que iria para o pódio em terceiro sem precisar da opinião dos fiscais. A Vettel coube apenas o quarto lugar, insuficiente para operar um milagre.

Ocon repetiu sua melhor posição no ano, um quinto lugar, seguido por Stroll, Pérez e Magnussen. Alonso marcou o ponto de honra do dia.

Bandeira do seu país em punho, como fazia Senna, seu maior ídolo. O ano de 2017 fez Hamilton superar o brasileiro em poles e títulos.

Bandeira do seu país em punho, como fazia Senna, seu maior ídolo. O ano de 2017 fez Hamilton superar o brasileiro em poles e títulos.

O campeonato de pilotos tem um novo tetracampeão do mundo. Um cara que logo em seu ano de estreia foi vice-campeão, ganhou seu primeiro título de maneira épica em Interlagos no ano seguinte, ficou sempre entre os cinco primeiros colocados do mundial e, depois de mudar para a equipe Mercedes, deixando o cordão umbilical da McLaren que sempre o patrocinou, conquistou mais um quarto lugar no mundial, um vice campeonato no ano passado e outro três títulos, que vieram acompanhados da quebra do número de pole positions, e de ser o atualmente o segundo maior vencedor da categoria.

Hamilton. Baladeiro, polêmico de vez em quando, fã declarado de Senna, tatuado, genioso e genial. Amadureceu muito nestes últimos anos e, com 32 de idade, sobe para o Olimpo do esporte a motor como um dos maiores de todos os tempos, superando lendas. Não que já não fosse considerado um dos grandes, mas sua performance neste ano, em especial no segundo semestre, acho que calaram a boca dos poucos críticos que ainda restavam. E isso valoriza ainda mais o título de… Rosberg, no ano passado, o que se não tivesse ocorrido, poderia ter dado a Hamilton o pentacampeonato hoje. Mas ainda dá tempo.

Não dá pra esquecer que Hamilton, no GP da Hungria, abdicou do pódio para devolver a posição para Bottas depois que o finlandês abriu para ele atacar os líderes e a estratégia não deu certo. Hamilton foi generoso, além de tudo, e autoconfiante em um momento do campeonato onde muitos se perguntavam se estes pontos que ele abrira mão não o faltariam no final. Acho que todos aprendemos com isso.

O esporte a motor e a Fórmula 1 reverenciam Lewis Hamiton!

Ao desligar dos motores…

– Fica a pergunta: Hamilton já é maior que Senna, nunca será ou está no caminho?;

– Lindo gesto do público mexicano que, no meio da prova, se levantou e ergueu um dos punhos, cerrado, em memória às vítimas do recente terremoto que abalou a cidade. De arrepiar;

– Alonso começa a coçar a cabeça. Os motores Honda pararam de quebrar e os Renault começaram a deixar seus pilotos na mão como nunca. A vitória de Verstappen é um consolo;

– Por falar em consolo, Ricciardo continua indignado com o tratamento dado a Verstappen, que está correndo com a versão mais atualizada do propulsor francês. Vamos ver como será no Brasil;

– Wehrlein entra na briga por uma vaga na Williams. A equipe precisa de dinheiro, claro, e Stroll está fazendo a sua parte neste quesito. No entanto, Massa começou a procurar patrocínio e defender sua permanência no time. Será que vai ter lágrimas no GP do Brasil em sua segunda despedida em casa este ano?;

– Lance Stroll, desculpe mais uma vez;

– Bernie Ecclestone disse que a FIA ajudou a Ferrari em várias oportunidades, e que isso era o certo a se fazer porque a Ferrari é a Fórmula 1 e vice-versa. Sabe, nestas horas eu me sinto um verdadeiro idiota por nunca ter notado isso, ahahahaha.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

2 Responses

  1. Glauco de F. Pereira says:

    Sem lógico tirar o total mérito de Hamilton, mas uma “pimenta”, ainda mais em se tratando de México, nunca é demais, não é mesmo?

    Hamilton ganhou por toda a sua habilidade, ou, na hora do vamos ver, a Ferrari deixou Vettel a beira do caminho, como uma boa e temperamental “macchina” italiana?

    A questão posta, que pode até soar como mimimi de mau perdedor ou torcedor, até soa, a uma primeira análise, como razoável, a partir do momento em quando da disputa entre pilotos com o mesmo equipamento, como se deu no ano passado entre Rosberg e Hamilton, encontra-se ainda na memória e na retina de muitos como foi o final da estória…

    Mas, como pedras que rolam não criam musgo, a derrota do ano passado parece que deu a Hamilton algo pelo qual não era muito conhecido, ou seja, literalmente “despirocava”, tanto no pessoal como no profissional (abraço, Faustão!), algo que este ano não vimos muito, ou não vimos, na verdade.

    A perda do título de 2016 nas condições que se deram, somada a um companheiro de equipe que não fede nem cheira, como Bottas, criou um horizonte ideal que teve fim na corrida de ontem.

    Quanto a comparação ou superação de Senna, não creio que seja cabível. Épocas diferentes, carros diferentes, disputa na época de Senna com muito mais pilotos em condições de lutar pelo título do que o cenário atual, fazem com que cada qual, dentro de sua época, seja colocado com todos os méritos, dentre os melhores.

    Mas, ao se fazer uma lista dos 10 maiores de todos os tempos, é justo que os dois, Hamilton e Senna, tenham um lugar.

    Falando de Massa, cabe uma reflexão: depois de tudo que fez e também do que não fez em sua carreira, é necessário passar ou se colocar na posição atual por um lugar em 2018? Afinal de contas, existe vida fora da F1. Encerrar a carreira no auge, como aconteceu no ano passado, parecia um fim mais justo e honroso…

    Agora, faltando duas etapas para o fim da temporada, começam a surgir os efeitos da crise de abstinência pela fim que se aproxima da temporada.

    Sobreviveremos a ela?

    Claro que sim. 2018 promete novas disputas, que tomara que não se resumam a somente dois pilotos, como tem sido há um tempo considerável.

    • Comentário sempre exuberante, Glauco.
      A diferença do Hamilton do ano passado para esse ano foi, para mim, a seguinte: ano passado ele foi como sempre, ou seja, achando que, com o melhor carro, venceria qualquer um. E Rosberg era um “qualquer um”. Como não deu, ele precisou mudar, e o fez bem.
      A Ferrari atrapalhou Vettel, mas ele não pode jogar a culpa na equipe.
      Já Felipe Massa é um assunto interessante. Eu, se tivesse chance de continuar fazendo o que gosto e sendo bem pago pra isso, acho que ficaria. No caso do Massa, ele parecia ter perdido o tesão ano passado, mas não demonstrou estar apenas tampando buraco esse ano, apesar de muitos resultados abaixo do esperado.
      E 2018 deverá ser bem legal.

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