Longe das confusões, no topo do pódio


Verstappen venceu na última corrida da Malásia, enquanto Hamilton saiu com mais diferença para Vettel, mesmo com o alemão mostrando grande recuperação na prova.

Vettel com problemas

Na situação em que se encontrava a vida de Vettel, era preciso mais que um bom resultado na Malásia. 28 pontos atrás de Hamilton na classificação do mundial e em uma pista que não era de grande expectativa para um resultado favorável, a perspectiva era de que o final de semana seria muito difícil para a escuderia vermelha, em especial para Vettel.

Mas os dois carros da Ferrari resolveram andar um bocado nos treinos livres e, sem motivo muito aparente, os carros da Mercedes não. E para trazer um pouco de otimismo ao time de Maranello, os dois carros da Red Bull estavam com desempenhos excelentes.

Só que a Malásia tinha um final de semana um pouco diferente dos outros anos. Seria o último GP na pista malaia depois de quase vinte anos no calendário do mundial. E a outra mudança estava na Toro Rosso. Não há mais o carro 26 no grid, que pertencia a Daniil Kvyat. O piloto russo foi convidado a se retirar da equipe para ceder seu lugar ao jovem francês Pierre Gasly, de 21 anos, piloto reserva da Red Bull. É mais um da escola dos energéticos que, se não for bem, será retirado de cena sem cerimônia.

E na Malásia sempre chove, mas o que manda mesmo é calor úmido que faz os pilotos derreterem ao longo do final de semana. E foi assim, com pista molhada e seca que os carros se prepararam para a classificação. Mas, no final da última sessão de treinos livres, um problema no motor do carro de Vettel fez a Ferrari decidir pela troca do motor. Mas, logo no Q1, as coisas azedaram para os lados de Maranello.

Esse é Pierre Gasly, que substitui Daniil Kvyat na Toro Rosso. É o camisa 10 do grid.

Esse é Pierre Gasly, que substitui Daniil Kvyat na Toro Rosso. É o camisa 10 do grid.

Vettel chegou a sair dos boxes, deu uma volta e retornou alegando que o carro ainda apresentava problemas. Recolheu e não saiu mais, se vendo obrigado a largar na última posição do grid. Um drama para quem sabia que tinha carro para vencer, uma vez que os carros da Mercedes não tinham encontrado o melhor acerto ainda. “Solidários”, os carros da Sauber e da Haas fizeram companhia a Vettel lá no fundo do grid.

Quem estava andando bem era a McLaren, sempre colocando os dois carros entre os dez primeiros. E eles passaram pelo Q2, jogando os carros da Williams mais atrás, com Felipe Massa ficando com a décima primeira posição e Lance Stroll em décimo terceiro. Entre eles, Jolyon Palmer (que já fez inscrição no Pronatec), e em décimo quarto e quinto lugares ficaram os dois carros da Toro Rosso, com Sainz pouco mais de um décimo e meio melhor que o estreante Gasly.

Sem uma Ferrari no Q3, Húlkenberg era o outro piloto sem companheiro na fase final do treino além de Raikkonen, e ficou em na oitava posição, curiosamente atrás e na frente de um carro da McLaren e outro da Force India. A sua frente estavam Esteban Ocon, que fez um excelente sexto tempo, e Vandoorne, em sétimo. Atrás, Sergio Pérez e Fernando Alonso.

Valtteri Bottas não foi além da quinta posição, sendo superado pelos dois carros da Red Bull, com Max Verstappen, aniversariante do dia, cravando o terceiro tempo logo a frente de seu companheiro Ricciardo.

A pole tinha toda a pinta de ficar com a Ferrari de Raikkonen, embora o finlandês tenha ficado com o segundo tempo no Q1, atrás justamente de Hamilton. Embora melhor no Q2, por meio décimo apenas, Raikkonen não conseguiu repetir o feito na hora da pole e viu Hamilton chegar a sua 70ª pole na carreira por também pouco menos de meio décimo de segundo.

Assim, os postulantes ao título largariam nos extremos do grid. Hamilton com vinte e oito pontos de diferença e mais 18 carros entre ele e Vettel. Era a chance de colocar a mão na taça.

Raikkonen com problemas

A pista estava seca na hora da largada, mas São Pedro tratou de mandar lavar o asfalto com uma pancada daquelas horas antes do início da prova, que é no final da tarde local. A chuva parou para todas, mas a Ferrari vivia nova tormenta.

Raikkonen foi o segundo no treino, mas o primeiro a abandonar a prova, antes mesmo do apagar das luzes vermelhas.

Raikkonen foi o segundo no treino, mas o primeiro a abandonar a prova, antes mesmo do apagar das luzes vermelhas.

Raikkonen foi para o grid reclamando de falta de potência e nem conseguiu largar. O time recolheu o carro na prancha para os boxes e de lá o finlandês foi para o vestiário mais cedo.

Luzes apagadas e Hamilton largou bem, segurando a ponta. Bottas colocou toda pressão sobre Verstappen após se livrar de Ricciardo, mas o holandês segurou o ímperto do companheiro de Hamilton com muita garra. Quase que a Mercedes conseguiu uma dobradinha na primeira curva. Pérez também subiu de posição na largada e pulou para sexto lugar, enquanto Vettel fez o primeiro giro na décima terceira posição.

Stroll foi outro que largou bem demais e foi para oitavo, superando inclusive Massa, que acabou tocando com Ocon. Talvez por isso o francês da Force India surpreendeu e foi para os boxes na abertura da terceira volta. Vandoorne assumiu a quinta posição.

Verstppen não quis nem saber se o pato é macho e deixou Hamilton para trás para assumir a ponta da corrida, enquanto Ricciardo lutava pra valer com Bottas tentando recuperar, sem sucesso, a posição que perdera na largada.
E que manobra do Verstappen! Tudo bem que ficou claro que Hamilton recolheu para evitar um toque, mas a vontade do menino e a decisão que ele mostrou ao tentar a ultrapassagem não deixou que Hamilton fizesse outra coisa.

Vettel era o décimo primeiro, mas já chegara em carros que não seriam fáceis de serem ultrapassados, dentre eles o seu imediato a frente, Fernando Alonso, que atacava Magnussen muito fortemente. O mesmo ainda acontecia com Ricciardo, indo pra cima de Bottas. Os quatro primeiros já se distanciavam um pouco do quinto colocado, que neste momento era Sérgio Pérez, depois deste ter superado Vandoorne.

Mas Ricciardo não estava morto atrás de Bottas e depois de várias curvas lado a lado com o finlandês, ganhou a posição com autoridade de quem está fazendo uma baita temporada.

Na décima volta, Vettel chegou a nona posição, após ultrapassar Alonso e Magnussen.

Hülkenberg foi para os boxes e Magnussen também. Depois daquela entrevista após a corrida da Hungria, toda hora que os dois aparecem juntos não dá pra não lembrar daquela conversa “amistosa”. Mais uma volta e Massa facilita a vida de Vettel indo para os boxes, colocando o alemão na oitava posição. Depois foi a vez de Stroll fazer o mesmo, e Vettel já figurava em sétimo.

Na volta de Stroll para a pista, uma bela briga com seu companheiro Massa, mas foi melhor para o brasileiro desta vez. Logo na sequência, foi a vez de Vandoorne fazer a sua parada, e quando voltou para a pista, continuou na briga que rolava entre Stroll e Massa. Os três carros fazem a curva 1 lado a lado, e Stroll ganha a posição do brasileiro.

Verstappen vai embora. Hamilton não quis confusão.

Verstappen vai embora. Hamilton não quis confusão.

Verstappen, surpreendente, abre sete segundos para Hamilton, e ia liderando a corrida como há muito prometia. Parecia que a má fase iria passar.

Gasly, o estreante, fazia o papel de Kvyat, lutando pela décima sétima posição, enquanto Sainz era o oitavo. A corrida ainda tinha muitas voltas, mas a participação do francês era bem discreta.

Verstappen, sem problemas

Voltando para os postulantes ao título, Vettel continuava seu show, pulava para a quinta posição na volta 21 ultrapassando Pérez e se aproximava de Bottas. Neste momento, o prejuízo já estava minimizado, pelo menos. Mas o piloto do carro número #5 queria mais e fazia a melhor volta da prova, chegando ainda mais no finlandês da Mercedes, Bottas. Parecia que o tetracampeão estava andando em ritmo de treino o tempo todo.

Ocon vinha forte na perseguição a Sainz mas, ao tentar a ultrapassagem por fora, foi tocado pelo espanhol e rodou no final da reta, ficando em posição perigosa mas conseguindo voltar sozinho, sem ajuda dos comissários.

Hamilton então decide parar nos boxes para fazer a troca de pneus e voltou imediatamente a frente da briga entre Bottas e Vettel. Na volta seguinte, exatamente metade da prova, foi a vez de Verstappen parar e Vettel também decidiu por fazer o mesmo, voltando na sexta posição e refrescando a vida de Bottas.

Hamilton saiu mais fortalecido da Malásia, mas reconhece que teve sorte.

Hamilton saiu mais fortalecido da Malásia, mas reconhece que teve sorte.

Com a parada, a distância de Vettel para Hamilton era agora real novamente, em aproximadamente 30 segundos. Para aliviar a barra do piloto da Ferrari, único na prova, Bottas fez a sua parada e perdeu a posição para Vettel. Ricciardo também cumpriu seu pit-stop obrigatório, só que na volta a pista, parecia ter algo rapando embaixo do carro.

Magnussen e Alonso vinham se pegando, até que o espanhol resolveu mostrar quem manda e passou na marra, com toque de roda. Pelo rádio, mandou um “Hülkenberg estava certo”, referindo-se ao piloto da Haas como um idiota, bem ao seu estilo. Deixou Magnussen na alça de mira do jovem Pierre Gasly, que fez uma prova honesta.

Faltavam vinte voltas e Vettel seguia em flying laps, agora próximo dos vinte segundos de diferença para Hamilton e tendo Ricciardo ainda entre eles. Verstappen continuava na ponta, apenas administrando. Vale dizer que Vettel estava com os supermacios.

Verstappen encontra uma briga entre Palmer e Magnussen, passa pelos dois na reta, mas passa também um aperto danado porque ambos se tocaram atrás dele e quase colocam tudo a perder para o holandês. Tudo começou porque Palmer havia errado sozinho pouco antes. Magnussen deve ter mandado Palmer chupar algo também, e reclamou pelo rádio acusando que o carro estava com alguma avaria. A resposta do box foi negativa, portanto, pisa no da direita e segue o jogo.

Melhor volta? Vettel, uma atrás da outra. Neste momento faltavam 15 voltas e a diferença para Hamilton estava na casa de treze segundos. A velocidade de Vettel era impressionante e ele tomou, nesta nova marca, o recorde da pista. O desempenho do piloto da Ferrari era de encher os olhos, tanto que a Red Bull já tinha avisado Ricciardo que o alemão estava voando e que iria chegar, mas que era para ele continuar acelerando. Interessante estas observações dos engenheiros de box, pedir para o piloto continuar acelerando, vai entender…

Vettel chegou definitivamente em Ricciardo faltando nove voltas para o final, mas a ultrapassagem não foi tão simples assim. Aliás, não teve. Alonso chegou a atrapalhar um pouco e Vettel, para não perder o hábito, deu uma choradinha, mas desta vez eu dei razão para ele.

De asa aberta, Vettel tentou mais uma vez a ultrapassagem na reta principal, mas Ricciado segurou firme. Pelo rádio, o time empurrou ainda mais o alemão e disse para atacar naquela hora, mas neste momento já se fora o plano de Vettel ameaçar o segundo lugar de Hamilton. O máximo agora seria brigar por um pódio. Vettel, no entanto, pela primeira vez na prova sentiu o golpe e a diferença para Ricciardo aumentou.

Finalzinho de corrida e uma boa briga entre Gasly e Grosjean, com vantagem para o piloto da Haas. Pena que era apenas pela décima terceira posição.

Verstappen fez uma corrida segura e cruzou a linha de chegada em primeiro, comemorando seu aniversário do sábado com um belo presente, a sua segunda vitória na categoria. Hamilton foi o segundo e Ricciardo o terceiro.

Vettel pegando carona com Wehrlein, e ao fundo, o triciclo no qual se transformou a Ferrari depois do acidente com Stroll na volta de recolhimento aos boxes.

Vettel pegando carona com Wehrlein, e ao fundo, o triciclo no qual se transformou a Ferrari depois do acidente com Stroll na volta de recolhimento aos boxes.

Vettel, mesmo voando o tempo todo até encontrar Ricciardo, chegou na quarta posição e minimizou os impactos de um sábado terrível. Só não contava que o Stroll, na volta de recolhimento aos boxes, acertasse o alemão em cheio, deixando a Ferrari com aparência dos carros que tem um pneu reserva na tampa traseira. Pascal Wehrlein trouxe o alemão de volta na carenagem do seu Sauber.

Valtteri Bottas foi apenas o quinto, muito pouco. Sergio Pérez foi o sexto, Vandoorne o sétimo e a dupla da Williams veio logo atrás, Stroll e Massa. Esteban Ocon foi o décimo.

Se por um lado a diferença entre Hamilton e Vettel aumentou (de 28 para 34), a tragédia não foi total. Seis pontos a mais, uma corrida a menos. É muito difícil, mas ainda pode haver um revés para Hamilton. A corrida de ontem mostrou que Hamilton pode até ter tido mais juízo que Vettel ao lidar com Verstappen, mas a pilotagem de Vettel mostrou que o talento do alemão está lá, apenas esperando uma oportunidade.

Ao desligar dos motores …

– Massa, Kubica e Di Resta continuam disputando a vaga na Williams. Toto Wolff diz que Wehrlein também é candidato. Kubica é carta quase fora do baralho e Massa diz que só a Williams pode fazê-lo permanecer na categoria;

– As más línguas perguntam se a apólice de seguro do carro de Raikkonen tem Vettel como segundo condutor;

– Houve quem dissesse que Vettel foi culpado no acidente com Stroll. Eu não entendi assim, achei que foi apenas distração do canadense;

– Eu vou sentir falta do GP da Malásia. Gostava do traçado, das pancadas de chuva, das duas retas com aquele quiosque futurista no vértice (desculpem, eu não entendo nada de arquitetura). Uma pena, mas é assim que tem que ser.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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