Cardápio sem opções


A Mercedes chega ao recorde de quatro dobradinhas seguidas no início de um mundial, e Bottas lidera o certame com um ponto a mais que Hamilton. Para a Ferrari, resta assistir o domínio da rival e pensar em trocar a equipe de planejamento estratégico.

Quase derrubaram um castelo

Baku é um circuito novo para o circo da F1, foram apenas três corridas com a deste domingo. E, curiosamente, é neste circuito de rua que está a maior distância de aceleração do calendário, com os carros chegando a mais de 330km/h. Mas como é um circuito de rua, existe boa parte do seu trecho em que um erro não lhe dá uma segunda de continuar.

E, este ano, não bastasse os pilotos terem que se preocupar com o traçado, bem estreito em muitos pontos, havia também uma tampa de bueiro no meio do caminho. Sim, uma tampa de bueiro se soltou durante o treino livre e o estreante George Russel foi quem mais sofreu com o atropelamento da mesma. A referida peça passa bem, mas o chassis do Williams rachou e teve que ser trocado. Há suspeita de que as Tartarugas Ninjas estão por trás deste problema.

Para a Williams, um prejuízo tremendo, que foi agravado quando o caminhão que carregava o carro de Russell bateu em uma passarela, estourando a parte hidráulica do guincho e deixando o carro da equipe inglesa mais… “azeitado”.
E o drama da Williams foi ainda maior durante a tomada de tempo, desta vez com Kubika. No trecho mais estreito que é a subida do castelo de Shirvanshahs (obrigado Google), o polonês perdeu o controle do carro e acertou a barreira de proteção. Claro que isso aconteceu no Q1, mesmo que você veja este meu comentário com uma certa maldade.

Por falar em Q1, o companheiro de Kubica, Russell, já estava com um novo chassis, também não foi muito além. “Naufragaram” também Lance Stroll, Hülkenberg e Romain Grosjean. Na etapa seguinte, o Q2, Gasly, Magnussen, Albon, Ricciardo e Sainz foram mais cedo para a entrevista.

E a pole position em Baku tinha um grande favorito: Charles Leclerc. O piloto da Ferrari dominou os treinos livres, foi o mais rápido no Q1, estava com o enredo pronto para repetir a pole no Bahrein, mas havia um castelo em seu caminho. Aliás, o mesmo lugar em que Kubica batera um pouco antes. Leclerc errou sozinho quando ainda faltava metade do Q2 e acabou ficando sem tempo. Mesmo assim, ficou provisoriamente com a décima posição na largada.

A tampa de bueiro que aumentou o défict da Williams

Vocês notaram que alguns nomes já começam a fazer parte constante do Q3. Um deles é Lando Norris, que leva seu talento para a McLaren e vem fazendo um ótimo campeonato. Também os dois carros da Alfa Romeo (apesar de Giovinazzi estar punido por troca de componentes do carro) passaram para o Q3, além de Kvyat e Sergio Pérez, este último sempre pilotando bem nesta pista.

Lá na frente, a briga ficou entre Verstappen, Vettel e os dois carros da Mercedes. E a briga se deu até que Vettel, Hamilton e Bottas, nesta ordem, cruzaram a linha de chegada, quando o finlandês conseguiu baixar em cinquenta e nove milésimos a marca do companheiro Hamilton, ganhando assim a pole position na quarta etapa do mundial.

Quase Hamilton assumiu a ponta

Bottas não fez uma boa largada não, mas a insistência em dividir as duas primeiras curvas com Hamilton lhe garantiram a possibilidade de se recuperar e assumir a liderança da prova. Pouco mais atrás, Pérez superou Verstappen e já era o quarto colocado. Leclerc, que havia herdado duas posições devido a punições de seus concorrentes, caiu para o décimo lugar. Ele, diferente dos outros favoritos, tinha pneus médios na primeira parte da corrida, enquanto quase todos os demais calçavam os pneus macios.

Largada apertada, mas de muito respeito.

Mesmo assim, Leclerc começou a se recuperar e foi escalando o pelotão até ficar atrás de de Verstappen, Vettel, Hamilton e do líder Bottas, quando começaram as paradas de box dos líderes. Assim, Leclerc acabou ficando com a liderança da prova e tinha mais de vinte e seis segundos para Vertappen, que era o quinto colocado então.
E vamos começar aqui a sessão “descendo a lenha em Maranello”.

Era óbvio que Leclerc não conseguria fazer uma parada apenas caso fosse para os boxes mais ou menos no mesmo tempo que os líderes, entre as voltas 10 e 15. Mas, seria inteligente manter Leclerc na pista sabendo que os pneus se degradariam e ele teria poucas volatas e ele perderia terreno na pista? Adivinhe o que a Ferrari fez…

Pois é. Depois de ser ultrapassado por todos os que haviam parado, Leclerc foi para os boxes na volta 34 das 51 previstas, caindo para a sexta posição, mas logo se recuperando e assumindo o quinto lugar.

E o lado “sarcástico” é que Leclerc pararia mais uma vez na volta 47, com o único objetivo de conseguir para si o ponto pela volta mais rápida da prova. Pelo menos isso deu certo.

Quase que Ricciardo volta para a auto-escola

Em Baku, sempre é esperada a entrada do safety-car, e se isso acontecesse, claro que muita coisa poderia ter sido diferente. Só que parece que os pilotos estavam com receio de repetir o que alguns aprontaram nos treinos e estavam comportados até demais. As disputas na pista mostraram isso.

Até quando houve batida, não houve batida. Deixe eu explicar.

Momento em que Ricciardo acerta Kvyat, de ré.

Kvyat e Ricciardo disputavam posição intermediária quando o australiano, por dentro, passou do ponto da freada e foi para a área de escape. Já Kvyat, que também atravessou a curva, ainda tentou fazê-la e parou atravessado atrás de Ricciardo. Aí veio o bizarro, o inesperado, o surreal. Ricciardo acionou a ré e deu no meio do carro de Kvyat! Que falta que faz uma câmera de ré para quem bebe champanhe na bota! Ambos acabaram abandonando e, mais tarde, Ricciardo ainda foi punido com a perda de três posições no grid do próximo GP, na Espanha.

No final da prova, Hamilton tentou dar um calorzinho em Bottas, mas o finlandês segurou bem a ponta e ainda contou com um pequeno erro do companheiro para vencer pela segunda vez no ano e, de quebra, assumir a liderança do campeonato por um ponto, daquela volta mais rápida lá na Austrália.

Vettel completou o pódio, seguido de Verstappen e Leclerc. Mesmo sem ter passado Vettel ou ido ao pódio, Leclerc continua mostrando seu grande talento.

Em sexto, quem diria, Sérgio Pérez! E, para alegria da Racing Point, Lance Stroll, outro que parece gostar desta pista encravada no meio da cidade, chegou em nono e também marcou pontos. Outra equipe que trouxe seus dois carros para a zona de pontos foi a McLaren. Sainz chegou na frente de Norris, em sétimo, com o companheiro inglês em oitavo. Para fechar os pontuadores, Kimi Raikkonenn, que teve que largar dos boxes.

Racing Point, nos pontos.

Ao desligar dos motores…

– Charles Whiting não permitiria tanto amadorismo com uma tampa de bueiro e um caminhão guincho;
– A Renault equipe assiste a McLaren fazer bem mais que ela com seus motores;
– A Honda está em curva ascendente na Red Bull. É pena que Gasly não esteja conseguindo resultados melhores. Hoje, parecia até que faria uma excelente prova, depois de também ter largado dos boxes, mas acabou abandonando. Cuidado que o Marko vem aí;
– A Mercedes sobra, mas não tanto pelo equipamento, mas pela competência. O recorde de 4 dobradinhas nas quatro primeiras provas do mundial, supera a Williams, que na temporada de 1992 com Mansell e Patrese, fez três vezes a dobradinha;
– Binotto, é bom começar a ficar esperto. Seu macarrão tá amolecendo.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *