Don’t stop me now!


Corrida sensacional na Inglaterra, que coroou mais uma vez Lewis Hamilton em mais uma dobradinha da Mercedes, e que também reafirmou a nova rivalidade da categoria entre Leclerc e Verstappen. E nós agradecemos.

007 não, 006

Quem seria capaz de tirar a pole position de Lewis Hamilton em sua casa? Se o primeiro treino livre valesse, acho que as tradicionais casas de aposta de Londres pagariam muito bem para quem tivesse apostado em Gasly. O piloto da Red Bull, pressionado por bons resultados, tratou de andar bem na sexta-feira ao abrirem os trabalhos na terra da Rainha Elizabeth. Explicação? Sim, o mesmo set-up de Verstappen.

Já no segundo treino livre, o Bottas tratou de colocar ordem no negócio e fez dobradinha com Hamilton, mas deixou o dono da casa como coadjuvante por apenas sete centésimos de segundo, com as duas Ferraris logo atrás. E foram elas, os carros vermelhos, que marcaram o melhor tempo na terceira sessão de treinos, deixando os Mercedes logo atrás. Promessa de boa disputa na sessão oficial.

Dos três ingleses no grid deste ano, dois conseguiram ficar a frente de seus companheiros de equipe. Um deles foi Russel, que largou em penúltimo, mas a frente de Kubica, mantendo a tradição na ordem da Williams em largadas. Não superou, porém, Magnussen, Kvyat e Stroll, todos abatidos no Q1.

No Q2, foi a vez de Lando Norris deixar seu companheiro Carlos Sainz no meio do segundo grupo, entre a dupla da Alfa Romeu, Giovinazzi e Raikkonen, e de Grosjean e Perez. Era de se esperar um desempenho bem melhor de Sainz, pelo menos a passagem para o Q3.

O começo do show

A última parte do treino começou e os pilotos foram logo para a pista, isto porque o céu de Silverstone mostrava que poderia vir água a qualquer momento. Hamilton foi o primeiro a registrar o tempo, mas errou em uma das curvas e foi superado imediatamente após por Bottas. Em seguida vinham Verstappen, Vettel e Leclerc, tentando ao menos um lugar na primeira fila.

Veio então a segunda tentativa, sem chuva, e Hamilton fez uma volta muito boa, porém, seis milésimos de segundo mais lento que Bottas, frustrando os milhares de torcedores que esperavam mais uma pole do inglês.

Leclerc acabou superando Verstappen e perfilando a segunda fila com o “amigo”. E o Gasly, hein? Com o mesmo acerto do Verstappen, conseguiu ficar a frente de Vettel na terceira fila. Ricciardo foi o sétimo, Albon ficou em oitavo e Hülkenberg, com a outra Renault, foi o décimo colocado. O Norris, com a única McLaren no Q3, ficou com um ótimo sétimo lugar, ou seja, a pole atrás das três grandes do momento.

Eita corrida boa

E não é que o Bottas não queria largar o osso, rapaz?!

Largando melhor que o companheiro, Bottas sofreu pressão desde a primeira curva para segurar Hamilton. O inglês parecia em melhores condições, colocando o carro lado a lado com Bottas o tempo todo. Quando veio a abertura de asa, na volta 3, Hamilton foi ainda mais decidido, e até conseguiu passar Bottas na volta 4, mas o finlandês tava com o capeta no corpo e devolveu a ultrapassagem na antiga reta dos boxes, retornando a liderança e segurando o ímpeto do piloto da casa.

Mas faltavam câmeras para registrar todas as disputas na pista.

Lando Norris, que foi as lágrimas com as piadas de Ricciardo na entrevista coletiva da quinta-feira, viu o australiano querendo tomar sua posição a todo custo, e trazendo Hülkenberg junto.

E o que dizer da briga entre Leclerc e Verstappen, tendo como coadjuvantes Vettel e Gasly?
Assim como a briga pela lidernaça era ferrenha, Leclerc segurava Verstappen de maneira bastante agressiva, mas sempre limpa. Um sem número de movimentos de ambos os pilotos, tentando achar o espaço para atacar ou defender, deixava o público presente e os que acompanhavam pela televisão sem tempo para piscar. E quando Verstappen tentava e não conseguia, era Vettel quem se aproximava e trazia junto Gasly colado com ele.

Linda disputa entre Leclerc e Verstappen. A rivalidade do momento.

Até que veio a parada de box e, só para aumentar a diversão, Leclerc e Verstappen pararam juntos, separados por meio metro de distância. E a Red Bull devolveu Verstappen na frente de Leclerc, com ambos saindo lado a lado no pit lane, mas o holandês levando a melhor. Porém, duas curvas a frente, Verstappen deu uma escorregadinha, o suficiente para Leclerc retomar a posição, sempre com as rodas de seus carros separadas por poucos milimetros. Era tudo que o torcedor queria.

Verstappen, sem dar sossego para Leclerc, tenta uma ultrapassagem apertada no final da reta do Hangar, na curva Stowe, aquela que Schumacher fraturou as duas pernas em 1999, lembra? Mesmo apertado por Leclerc, Vertappen mergulha no único espaço restante e, quando pensa que já tinha concluido com êxito sua manobra, Leclerc deixou para frear depois do fim do mundo e se manteve a frente.

A única maneira de sossegar a rapaziada era com a entrada de um safety-car, o que aconteceu na volta 20, depois que Giovinazzi saiu escorregando no molho de tomate e indo parar na brita. Para a direção de prova, ponto perigoso e resolveram não optar pelo safety car virtual, o que, na minha opinião, seria suficiente para aquela situação.

E aí a gente lembra daquela máxima de que, para ser campeão, é preciso muito talento, mas também uma boa pitada de sorte. Adivinha quem ainda não tinha feito sua parada para troca de pneu no momento do safety car? Sim, Lewis Hamilton. E adivinha o que aconteceu? Hamilton ganhou a liderança.

Não apenas ajudado com a entrada do safety car, mas também porque o inglês já vinha fazendo melhor volta atrás de melhor volta depois que Bottas parou quatro voltas antes, na dezesseis.

Vettel também foi alçado ao terceiro lugar, a frente de Gasly, enquanto Verstappen era o quinto e Leclerc, o sexto na relargada. Vale comentar até aqui a excelente prova que fazia Carlos Sainz, que havia largado em décimo terceiro e aparecia na sétima posição. Albon era outro que se mantinha entre os dez primeiros, lutando com os McLaren e com os Renault. Aliás, o Pérez, que vinha disputando posição com o Húlkneberg, deu um toque no alemão, mas ambos continuaram.

Vettel dá um “empurrãozinho” em Verstappen

Ainda na volta da relargada, Leclerc força a ultrapassagem em cima de Verstappen que, mesmo saindo totalmente da pista, traciona melhor e retoma a posição. Já era o segundo lance mais polêmico entre os dois (o outro foi a saída de box lado a lado), o que me levou a conclusão que a sessão de fofocas do The Sun estava imperdível e eles não estavam prestando atenção na corrida. Ainda bem.

Em uma corrida tão disputada, alguém tinha que dar uma encostada. Sobrou pro Verstappen na briga com Vettel pelo terceiro lugar.

A Red Bull sentia que Verstappen tinha carro para atacar Vettel, e Gasly então “cedeu” a posição para Verstappen e começou a segurar o amigo Leclerc. A Ferrari, pra variar, errou ao chamar Leclerc para os boxes com uma volta de atraso durante a parada do safety car, e o monegasco se via apenas na sexta posição, longe do pódio. A monobra sobre Gasly, porém, foi linda. Por fora na curva Village para ficar com a preferência na segunda curva, a Loop. Talentoso demais o menino do principado.

Eis que o Verstappen chega em Vettel a 337 km/h e engole Vettel na curva Stowe, sem dar tempo de reação para o alemão. Vettel, porém, não se deu por vencido e tentou o troco imediatamente depois, na freada forte da curva que leva a reta dos boxes. Mas aí, veio o momento “barbeiro de Brandenburgo” e Vettel acertou em cheio a traseira de Verstappen, jogando o holandês longe. Apesar de ambos terem saído da pista, conseguiram voltar ao traçado. Pior para Vettel, que teve que trocar o bico do Ferrari e ainda tomou dez segundos de punição dos comissários (que neste hora já tinham lido o The Sun).

Final da corrida se aproximando, céu carregadíssimo em Silverstone, e a Mercedes joga um blefe chamando Hamilton para os boxes. O que realmente aconteceu foi a parada de Bottas, que precisava de mais uma troca de pneus para cumprir o regulamento de correr com dois tipos de compostos. Sem perder o segundo lugar, Bottas voltou para a pista para garantir o ponto extra da volta mais rápida voando com os pneus macios. Só que ele esqueceu de combinar isso com Hamilton, e o inglês fez, na última passagem, a volta mais rápida da corrida e recorde do circuito, mesmo com os pneus desgastados.

Leclerc foi merecidamente para o pódio, e Gasly conseguiu um bom quarto lugar a frente de Verstappen, mas por causa do acidente com Vettel, claro. Sainz fez uma excelente corrida, como eu já havia chamado atenção no início, e fechou em sexto, a frente de Ricciardo. Raikkonen e Kvyat foram os “intrusos” entre os dez primeiros, favorecidos pelos pit stops de Norris e pela queda de rendimento de Albon, ambos que andaram entre os dez primeiros desde o início. Hülkenberg fechou os dez primeiros.

Já virou tradição.

Uma corrida de tirar o fôlego de pilotos e espectadores, como a gente gosta. E saber que o final de semana começou com o Grosjean batendo sozinho dentro do pit-lane no primeiro treino livre…

Ao desligar dos motores…

– Hamilton chegou a sua 80ª vitória em 239 corridas na carreira. Média menor que 3 GPs por vitória. É impressionante;

– Bottas, com o desempenho deste final de semana, parece encaminhar uma renovação de contrato com a Mercedes, apesar de toda a pressão de Estaban Ocon para voltar como titular em 2020, agora pela equipe prateada. Eu acho que o Ocon merecia voltar. Onde? Não sei;

– Charlie Whiting, morto em março antes do início da temporada na Austrália, foi homenageado mais uma vez. Um tocante texto lido por Sebastian Vettel, representando os pilotos, e a presença de seu filho, Justin, de 12 anos, para acionar a largada, foram algumas das homenagens sempre justas;

– Sexta vitória de Hamilton em Silverstone, novo recorde. Vencer em Silverstone já é especial, um templo do automobilismo, sendo local, mais especial ainda;

– Vettel foi até Verstappen, antes deste sair do cockpit, para se desculpar pelo abalroamento causado. O alemão assumiu o erro sem maiores problemas. Nas redes, começou a campanha #aposentavettel;

– Leclerc levou o Prêmio de Piloto do Dia com 20,6% dos votos, contra 18,8% de Verstappen. E Vettel levou 8%…

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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