Manda chuva


A pista molhada foi determinante, e na festa de seus 125 anos de competições, a Mercedes viu Verstappen colocar água no chopp da equipe, Vettel fazer uma grande corrida de recuperação, e Kvyat trazer a Toro Rosso de volta ao para o pódio.

Vintage

A Mercedes comemorou durante todo o final de semana seus 125 anos de competições automobilísticas, com direito a visual retrô no bico dos carros e de todo o staff, inclusive mecânicos. Mas a festa toda tinha um ar de água no chopp com o domínio dos carros da Ferrari nos treinos livres. Chance de Vettel se redimir do papelão do ano passado. Chance de Leclerc conquistar mais uma pole e até mesmo a primeira vitória.

Tudo caminhava para isso, mas a parte mecânica nem sempre corresponde.

Mercedes, vintage. 125 de competições automobilísticas. É muito.

Com problemas logo no Q3, Vettel não conseguiu sequer marcar tempo, ficando com a última colocação. Clima de frustração geral no autódromo, até porque Leclerc tinha o melhor tempo. Além de Vettel, os pilotos da Williams, Albon e Norris ficaram pelo caminho.

Norris, aliás, foi quem atrapalhou Albon em sua volta rápida.
Curiosamente, as duas equipes completas no Q3 eram a Mercedes e a Red Bull. Ferrari só tinha Leclerc, a Haas, Magnussen, a Racing Point, Stroll. Além deles, Hülkenberg representava a Renault, Raikkonen a Alfa Romeo, e Sainz, a McLaren. Tudo colorido.

Mas o tempo fechou na Ferrari quando Leclerc teve problemas e não conseguiu marcar tempo. Olhares incrédulos nas arquibancadas por parte dos torcedores da equipe italiana.

Pista livre para os carros da Mercedes fazerem a dobradinha em casa, mas tinha alguém que não queria deixar: Verstappen. E o holandês colocou o motor Honda na primeira fila, intercalando os carros prateados. Hamilton acabou ficando com a pole, e o outro carro da Red Bull completou a segunda fila.

E dá-lhe spray

Na posição de melhor do resto, coube a Raikkonen ficar com as honras da casa, largando na teceira fila ao lado de Grosjean. Sainz, Perez e Hülkenberg, além, claro, de Leclerc.

Um começo de final de semana sombrio para a Ferrari, que só não foi mais escuro que o céu chuvoso que antecedeu a largada. Portanto, promessa de emoções.

Cinco entradas do safety-car

De acordo com os novos procedimentos, a largada foi feita com os carros parados depois de algumas voltas de alinhamento atrás do safety-car, voltas estas contadas como válidas mesmo antes do apagar das luzes.

É muito legal uma largada com piso molhado. O controle, a sensibilidade, o desafio de sair perdendo o menos possível de atrito com o solo, realmente, mostram o talento dos pilotos. Mas o Verstappen deve ter opinião um pouco diferente.

Hamilton, quase seguindo a trilha de Leclerc.

Hamilton pulou rápido na ponta e trouxe com ele Bottas, enquanto Raikkonen ocupava a terceira posição. O holandês ficou em quarto, brigando com Grosjean. Era tudo que a Mercedes queria, correr com pista aberta, sem spray de água (pelo menos para Hamilton), enquanto os dois Ferrari brigavam bem mais atrás. Só que o primeiro stint durou apenas duas voltas.

Claro que com a pista molhada, alguém iria encontrar o muro, e Pérez resolveu mostrar o caminho, rodando e dando em cheio o Racing Point que estava na décima primeira posição naquele momento.

Primeiro momento em que os mecânicos tiveram que recolher o chopp e ir para o pit-lane atender a freguesia toda.

Leclerc, que fez boa largada, aparecia na quarta posição, e Vettel já integrava a zona de pontos, em meio as mais diversas disputas pela pista, com gente escorregando e se segurando como dava. Já havia um trilho seco, e os pneus intermediários começavam a apresentar desgaste. Ricciardo nem precisou se preocupar com isso, porque o motor Renault explodiu e colocou fumaça e óleo na pista já escorregadia de Hockenheim.

Apesar dos radares meteorológicos das equipes apontarem mais chuva, alguns pilotos começaram a colocar pneus de pista seca. Verstappen, não seguindo a maioria que optou por pneus supermacios, colocou os macios, de faixa amarela, e deu uma bela rodada, mas continuou firme. Não dava para vacilar em nada.

Choveu? Use galochas.

Norris, com problemas de motor, foi outro que pode assistir de camarote o que ainda tinha pela frente.

Eis que o protagonismo começou a atender pelo nome de curva 16, antes da entrada da reta. Sainz já tinha dado uma bela escapada por lá, mas conseguiu voltar. Já Leclerc…

Forçando o ritmo para chegar nos carros da Mercedes e de Verstappen, o monegasco tinha a melhor volta da prova, mas achou o muro e não conseguiu mais voltar para a pista, com direito a muita lamentação como sempre acontece quando ele erra. A torcida viu mais uma vez uma Ferrari ficar pelo caminho, no GP da Alemanha, por erro de pilotagem de seus contratados.

E a corrida que parecia tranquila para a Mercedes, começou a virar pesadelo quando Hamilton, na mesma curva 16, também escapou e avariou todo o bico do carro. Por sorte, e um pouco de malandragem, o inglês cortou caminho pela grama e entrou no pit lane. Os mecânicos tiveram que suspender a rodada de chopp e o que se viu foi uma verdadeira cena de pastelão, com gente correndo para todo lado para devolver o inglês para a pista o mais rápido possível. Hamilton foi punido pela manobra de entrada nos boxes em cinco segundos. Barato perto do que seria ter dado uma volta inteira com o carro capenga.

Com mais uma redução de velocidade para tirar o carro de Leclerc, nova rodada de pits e Verstappen assumiu a ponta, com Hülkenberg em segundo, Bottas em terceiro, Albon (!) em quarto e Hamilton em quinto.

E já se começava as especulações de quem era bom de chuva, quem se dava melhor em condições adversas, e tal. O nome de Hülkenberg sempre é lembrado como o cara que fez uma pole com a Williams no GP do Brasil de 2010, em condições climáticas parecidas. E ele estava perto de ir para o pódio, algo inédito para ele. Mas tinha a curva 16 pelo caminho, e o alemão da Renault foi mais uma vítima, abandonando a prova também.

Kvyat e Stroll deram trabalho

A pista secava mais e mais, e foi neste momento que Lance Stroll e Danyil Kvyat colocaram pneus para pista seca. Stroll na volta 41 e Kvyat na volta 45. E o que eles ganharam com isso? Foram alçados para a liderança da prova quando os demais fizeram mais uma parada para, assim como eles, colocarem pneus slick. Os tempos de volta de ambos com pneus de pista seca eram muito mais rápidos que os concorrentes.

Verstappen era o único que conseguia se manter na ponta com certa constância. Bottas, por exemplo, ainda estava brigando com os dois intrusos, Stroll e Kvyat, tentando se recuperar para poder brigar com Verstappen. Ainda mais atrás, em oitavo, Vettel tinha batalhas com Albon, Sainz e Magnussen para, então, chegar em Bottas.

Kvyat e Stroll fizeram suas paradas para pneu de seco na hora certa, no final da prova. Kvyat foi ao pódio e Stroll ficou em quarto lugar.

Mas Bottas, que não estava usando galochas (péssima esta também), não aguentou o ritmo atrás de Stroll, rodou e destruiu o carro da Mercedes, estragando de vez as comemorações da equipe. Só não foi na curva 16, foi na 1, mas o estrago foi bem maior.

Após mais um serviço básico de guincho, as últimas voltas foram alucinantes e mostraram o valor de Sebastian Vettel. Com uma recuperação sensacional e um sprint final digno de redenção com o que aconteceu no ano passado. Nas últimas duas voltas, Vettel passou Stroll e Kvyat, e a segunda posição estava garantida.

Ainda teve tempo de Gasly e Albon se tocarem, sobrando para o francês um bico quebrado e uma área de escape bem longa, onde ele pode abandonar a corrida sem maiores problemas, e aumentar a temperatura da sua batata, sendo assada há algum tempo.

Vertappen venceu com muita autoridade, se aproveitando das circunstâncias da pista e das dificuldades de seus adversários, deixando o desastre da largada no esquecimento. Vettel, como disse antes, foi fantástico, largando em último e chegando em segundo. E o Kvyat, hein?! Terceiro colocado com a Toro Rosso!

Mas não dá para não reconhecer os excelentes desempenhos de Stroll, Sainz e Albon, quarto, quinto e sexto colocados. Raikkonen também fez boa corrida, mas foi apenas o sétimo colocado, a grente do companheiro Giovinazzi. Pouco para quem chegou a andar em terceiro lugar. E, para piorar, os dois carros da Alfa Romeo foram punidos por irregularidades na regulagem da embreagem. Os trinta segundos de punição de ambos os tiraram da zona de pontos, promovendo Grosjean e Magnussen, da Haas, Hamiton, que conseguiu marcar dois pontos com a nona posição. Mas ninguém deve ter saído mais feliz da Alemanha do que Robert Kubica, que levou a Williams ao décimo lugar, marcando um ponto. Na atual fase da equipe, é um ato heróico.

Sem saber explicar como aconteceu, Vettel ficou ao menos aliviado com sua performance. Não errou.

Ao desligar dos motores…

– Grosjean e Magnussen. Brigaram na pista, se tocaram, se xingaram pelo rádio. Acho que a vida deles na equipe americana começa a ficar complicada. Mais complicada;

– Kvyat foi papai no sábado. Vai ter muita coisa para contar para contar para a filha, neta de Nelson Piquet. Mas, apesar do terceiro lugar, acho que o maior feito da carreira de Kvyat é fazer parte do clã Piquet (não podia deixar passar essa);

– A situação de Bottas não é confortável na Mercedes. Ameaçado na vice liderança do campeonato por Verstappen, o finlandês tem a sombra de Esteban Ocon sempre rondando;

– Albon é muito bom piloto. Se já falei, repito, Se não falei, registro. Deve ficar com a vaga de Gasly ano que vem;

– O número de abandonos e, consequente resultado da corrida, poderiam ser bem diferentes se a área de escape da curva 16 tivesse melhor drenagem ou outro tipo de pavimento. Leclerc e Hülkenberg, por exemplo, poderiam ter concluído a prova;

– E, o que fazer com 1.88 segundos? A Red Bull já troca pneus com este tempo, novo recorde.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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