Bono no rádio


A primeira pole da carreira de Verstappen só não veio também com mais uma vitória porque Hamilton contou com a competência do seu staff para mudar a estratégia no terço final da prova e vencer de novo. Vettel completou o pódio, mas chegou na segunda-feira.

A primeira pole

Que belissima briga pela pole position tivemos na Hungria este final de semana.

Tudo bem que, todos sabemos, a pole ficaria entre os carros da Mercedes, ou da Ferrari, ou com Max Verstappen, da Red Bull. Ninguém colocava suas apostas em Pierre Gasly, companheiro de Verstappen, mas olha que o francês chegou a fazer o melhor tempo na sexta-feira, embora as condições da pista não estavam totalmente favoráveis por causa do tempo.

No qualifying, com o tempo firme, tivemos de cara a eliminação dos carros da Racing Point, da Williams, e da Renault de Daniel Ricciardo. E , como tudo na vida é uma questão de ponto de vista, a eliminação teve diferentes impactos para Ricciardo e Russell, por exemplo.

Bottas achando que ia se dar bem.

Enquanto o primeiro estava decepcionado demais com seu desempenho, ainda que tenha sido atrapalhado um pouco por Sergio Perez na abertura da sua volta rápida, Russell era só alegria. O inglês da Williams quase conseguiu sua primeira ida ao Q2, faltou apenas um décimo. Claro, sem falsa perspectiva sobre a equipe, já que Kubica, companheiro de Russell, não saiu da rabeira.

Na segunda parte do treino, sobrou para Kevin Magnussen, muito mal na décima quinta posição, e para Antonio Giovinazzi, em décimo quarto. Ambos viram seus companheiros irem para o Q3. Mas isso não aconteceu com a Toro Rosso, pois seus dois pilotos, Kvyat e Albon, ficaram “juntinhos” em décimo terceiro e décimo segundo lugares. O último eliminado no Q2 foi Hülkenberg.

E veio o Q3, com a expectativa de que a briga seria bem disputada, e foi.

Romain Grosjean e Kimi Raikkonen ficaram com as duas últimas posições no Q3, ambos com seus tempos na casa de 1’16”. Quinta fila formada, portanto.

Se repararam, sobraram duas McLaren, duas Red Bull, duas Mercedes e duas Ferrari para a formação das quatro primeiras filas. Seria lógico apontar os carros da McLaren para ficarem na quarta fila, e foi isso mesmo que aconteceu.

Lógico também seria o sexto lugar para Gasly, já que ele parece que não gosta de brincar de gêmeos no grid. E ele ficou mesmo atrás dos carros da Ferrari, com Leclerc largando na frente de Vettel mais uma vez. Na verdade, Leclerc deu muita sorte porque chegou a bater a traseira do carro na entrada dos boxes duranto o Q1, mas já havia se garantido na continuidade dos trabalhos com um bom tempo. Quem teve que correr foram os mecânicos, para aprontar o carro para o Q2, e deu certo.

Na primeira tentativa, já no Q3, a ordem havia ficado com Verstappen, Bottas, Hamilton, Vettel e Leclerc. E, como acontece em quase todo treino, sempre tem mais um jogo de pneus mágico para os pilotos tentarem baixar ainda mais o tempo. E foi assim nos segundos finais do treino.

Primeiro Leclerc fechou sua volta e foi alçado ao segundo lugar, mas Verstappen continuava com a pole provisória. Depois, o próprio holandês fechou a sua volta e conseguiu diminuir ainda mais o tempo de volta, com novo recorde. Em seguida, cruzou Bottas, que ficou a dezoito milésimos do tempo de Verstappen, não conseguindo a pole, mas ficando com a primeira fila. Isso, claro, se Hamilton e Vettel deixassem. Então, Hamilton fechou sua volta mas não conseguiu nada além de um terceiro lugar no grid. Atrás dele, o último dos favoritos, Vettel fechou a volta apenas na quinta colocação.

A Ferrari? Cruza amanhã.

Muita vibração de Verstappen, obtendo a sua primeira pole position na carreira. O mais jovem piloto a estrear na categoria e também o mais jovem a vencer, conseguiu sua primeira pole já em uma idade “avançada” para o recorde de mais jovem piloto a largar na posição de honra do grid. Apenas para constar, a sua frente estão Vettel, que detém o recorde, Leclerc é o segundo mais jovem, e Fernando Alonso é o terceiro entre os jovens que largaram com menos idade na Fórmula 1.

Toque-toque no Bottas

Vertappen largou muito bem desta vez e tomou a linha de dentro da curva um, enquanto Hamilton e Bottas emparelhavam com ele. Bottas chegou a ficar um pouco a frente, mas teve que recolher para fazer a primeira curva. Hamiton, por sua vez, esperou um pouco e colocou por fora na curva dois para poder ter a preferência na sequência, quando ficaria por dentro na curva três, e assim ele tomou a segunda posição de Bottas, com direito a um chega pra lá que rendeu até um pequeno toque entre ambos.

Charles Leclerc se aproveitou deste pequeno toque entre ambos e tratou de ultrapassar Bottas e ficar em terceiro, sem perder a chance de dar também um toque no finlandês, que com menos de meia volta já estava se sentindo o bobo da turma. Com problema no bico, ainda seria ultrapassado por Vettel e faria uma parada antecipada para reparar os danos de uma primeira volta cheia de desventuras, caindo lá para o final do grid.

Sabem como é a corrida na Hungria, né? Forma-se uma fila, os carros meio que se comportam, e tal. Mas dentro da Toro Rosso, o negócio não era bem assim. Albon e Kvyat protagonizaram uma briga linda, contornando lado a lado praticamente quatro curvas juntos, até que Albon teve que ceder, saindo da pista e voltando atrás do companheiro. Era uma disputa apenas pela décima segunda posição, mas foi linda.

Verstappen se segurava na frente, mas Hamilton vinha se aproximando, naquele velho esquema de fazer volta mais rápida em cima de volta mais rápida. Na volta vinte e cinco, Verstappen então decide parar e volta para a pista com pneus duros para ir até o final. Hamilton faz o mesmo, sete voltas depois, mas como andou mais com pneus desgastados, acabou voltando para a pista com uma diferença um pouco maior para Verstappen, apostando em ter pneus mais inteiros nas voltas finais.

Mas nem precisou esperar as voltas finais para Hamilton chegar em Verstappen.

Ainda faltavam trinta voltas para o término da prova quando Hamilton chegou de vez no holandês e ambos protagonizaram uma bela disputa. Hamilton chegou a tentar de todos os lados até conseguir colocar o carro a frente na tomada da curva quatro, mas Verstappen não deixou por menos e não deu espaço para o inglês, obrigando o pentacampeão a passear fora da faixa.

Apenas como panorama, os dois carros da Ferrari vinham em terceiro e quarto lugares, com Vettel atrás de Leclerc, se bem que o alemão tinha ficado a frente do monegasco por uma parte da prova. Sainz era o quinto, com Gasly em sexto, Raikkonnen em sétimo e Norris em oitavo. Pérez era o nono, com os dois carros da Toro Rosso colados em seu cangote, e um discreto Bottas apenas na décima segunda colocação.

A voz que vem do rádio

A Mercedes então chamou Hamilton para mais um pit-stop. Ele não queria, mas acabou acatando. Era uma estratégia para voltar com os pneus macios e tentar descontar toda a diferença que ficaria para Verstappen. Faltavam 21 voltas para o final.

Pelo rádio, Hamilton ainda não estava convencido, mas a diferença só fazia diminuir para Verstappen, que também enfrentava o desgaste natural dos pneus a cada volta que passava.

Sainz, apenas atrás das grandes. Bela tamporada do espanhol.

Faltando ainda três voltas para o final, Hamilton entrou colado em Verstappen na reta dos boxes. O piloto deu o lado de fora para Hamilton, mas a superioridade era tanta que, por fora mesmo (mas sem drift como Piquet) o inglês tomou o primeiro lugar com sobras e foi embora.

Com os dois primeiros lugares definidos, faltava saber qual dois dois carros da Ferrari iria subir ao pódio para tomar um champanhe. E foi Vettel quem conseguiu isso, fazendo uma ultrapassagem apertaaaaada em Leclerc a duas voltas da bandeirada. A questão, no entanto, foi a distância de mais de um minuto que ambos os carros da Ferrari chegaram depois da bandeirada ao vencedor. Dava para passar um café expresso e tomar.

Carlos Sainz, apesar de cruzar a linha de chegada uma volta atrás, ainda se manteve na quinta posição a frente de Gasly. Raikkonen foi o sétimo, seguido de Bottas, que teve uma corrida complicada desde o começo como dissemos. Em nono ficou Norris, e fechando os pontuadores da Hungria, Alex Albon marcou um pontinho com a Toro Rosso.

A hora do bote de Hamilton.

Hamilton chegou a sua votória de número 81, ou seja, mais dez e ele se iguala a Schumacher. Mais onze, ele se isola neste recorde cada vez mais inimaginável de ser batido.

O que muda depois da férias? Fique aqui para ver.

Ao desligar dos motores…

– A bomba da vez é a troca de Gasly por Albon na Red Bull, já a partir do próximo GP da Bélgica. Gasly não mostrou estar nem próximo de Verstappen, e a Red Bull entende que é preciso reforçar a dupla. Albon é mais consistente do que Kvyat, e o russo já foi para a “série B” uma vez. Albon pode se dar muito bem, mas se não aproveitar a chance, pode ter portas fechadas precocemente;

– A Renault fora dos pontos de novo não é novidade. Só que a Hungria poderia representar mais para o time francês;

– Red Bull disse que fechou as portas para Fernando Alonso para substituir Gasly;

– Sobe os boatos de que Ocon volta para o grid, e agora não é apenas a Mercedes o único caminho. Dizem que o francês vai se acertar na… Renault;

– Pete Bonnington é o engenheiro de pista de Hamilton que deu a vitória para o inglês. No melhor estilo “tea with me”, Bono, como é conhecido, fez a estratégia perfeita e mostrou o peso de uma equipe que trabalha sempre para a vitória.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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