Vettel volta a brilhar


Vettel volta a vencer na Fórmula 1 e Leclerc completa a dobradinha da Ferrari em Singapura. Hamilton nem ao pódio foi, mas ainda está com o burro na sombra em relação ao campeonato.

Leclerc voando

Tomando como base o panorama dos treinos classificatórios, estava mais difícil de prever quem faria a pole em Singapura.

Verstappen havia sido o melhor na sexta-feira na abertura dos trabalhos, mas Hamilton tratou de colocar ordem na casa no segundo treino livre. Já no sábado, no último ajuste antes da classificação, foi a vez de Leclerc voltar a colocar a Ferrari a frente. Além disso, Vettel era outro que se mostrava bastante forte, estando sempre entre os três primeiros.

Aí termina o Q1 e quem aparece a frente é o Bottas, mais discreto que camaleão camuflado na paisagem. Degolados nesta fase ficaram os dois carros da Williams, o Stroll, o Kvyat e o Grosjean (olha que trio legal para fazer uma confusãozinha no final do grid).

Vem o Q2 e foi a vez de Leclerc terminar a frente, com Vettel em segundo por uma diferença ínfima. Hamilton logo atrás. Pelo caminho ficaram o Magnussen, o Gasly, os dois carros da Alfa Romeo e também o Pérez, sendo que a situação do mexicano já era ruim porque ele seria penalizado por troca de componentes do motor.

No Q3, sem aquela palhaçada que aconteceu em Monza, todos fizeram suas primeiras tentativas e voltaram com tempo para marcar a famosa flying lap.

E quem se deu melhor foi… Charles Leclerc, de novo!

Em um final emocionante, o monegasco fez uma volta voadora e conseguiu tomar a pole que era provisoriamente de Vettel. Para o alemão, aliás, ficou ainda pior porque Hamilton conseguiu o segundo tempo e completar a primeira fila com Leclerc.

Verstappen foi o quarto, mais rápido que Bottas. Albon foi o sexto, Sainz foi o sétimo, seguido de ambos os carros da Renault, com Ricciardo e Hülkenberg respectivamente em oitavo e nono lugares. Norris foi o décimo.

Ia ficar um grid bonito nas dez primeiras posições com cinco equipes se os comissários não tivessem descoberto que o carro de Ricciardo estava com o limite da unidade de potência maior que o permitido. A equipe protestou, dizendo que a vantagem na volta foi de 0,000001 segundo, isso mesmo que você leu aí, mas os comissários não se apiedaram do australiano e mandaram ele para o fundo do grid.
Nova pole de Leclerc, quinta no ano e terceira seguida. Será que viria acompanhada de vitória?

Undercut hurts

Leclerc segurou bem na largada, ajudado pela grande preocupação de Hamilton em se defender de Vettel. Bottas ficou entre os dois carros da Red Bull, Verstappen e Albon, respectivamente, mantendo as três grandes equipes na liderança da corrida.

Você estava achando que em pista de rua, à noite, não iria acontecer nenhum toquezinho entre os carros? Claro que iria. O problema é que o Sainz precisa urgentemente de um despacho, porque foi dele o pneu furado na primeira volta, logo depois da largada, em um toque com Hülkneberg pela disputa da sexta posição. Complicou de vez para o espanhol logo de cara. Hülk também teve problemas e ambos foram aos pits fazerem os devidos reparos.

Poeira abaixada, dois pelotões se destacavam: os seis primeiros das grandes equipes e o resto, liderados por Norris na sétima posição.

Alfa Romeo na liderança de um GP. Aconteceu com Giovinazzi.

O traçado do circuito singapuriano várias larguras. Há uma ponte em que praticamente não cabem dois carros lado a lado, como há trechos em que os pilotos podem até escolher diferentes traçados de curva para melhorar seu ataque ou defesa. Isso ficou ainda mais claro na disputa entre Kvyat, Ricciardo, Stroll e Pérez, que divertiram bastante tentando se posicionar na zona de pontos, ainda no começo da prova.

E, se tem algo que influencia muito na corrida de Singapura, é a estratégia de pneus.
Com as posições inalteradas, a Ferrari chamou Vettel primeiro aos boxes, e o Verstappen entrou junto. Mesmo com uma troca um pouquinho mais rápida, Verstappen voltou atrás de Vettel.

O problema ficou com Leclerc, que parou na volta seguinte. Também com uma troca mais rápida que a do companheiro, Leclerc voltou atrás de Vettel. E isso não deixou o monegasco nada contente e, pelo rádio, ele chamou a atenção da equipe para isso, apenas como quem “quer deixar claro o que estava sentindo”.
As trocas se seguem e Hamilton acabou por perder a posição para Verstappen. Ele foi o último dos primeiros colocados a fazer a troca e voltou com pneus mais duros que os concorrentes.

E, um momento da prova foi nostálgico, com certeza. Desde os anos 1980 que a equipe não liderava uma prova. Foram apenas quatro voltas com Giovinazzi, e não Raikkonen, se sustentando na pista ainda sem fazer a troca de pneus, o que rendeu até camiseta na internet.

Rádio sem interferência

Após a parada dos primeiros colocados, Vettel se manteve a frente de Leclerc e buscava desesperadamente passar os retardatários que ainda não tinham feito suas trocas de pneus. Leclerc, o mesmo, tentando além de se aproximar de Vettel, não ser surpreendido por Verstappen. Pouco mais atrás, Albon ia pra cima de Bottas. Ricciardo, um dos últimos na pista sem troca de pneu, foi com tudo para cima de Giovinazzi, que nesta altura já era o sétimo colocado, e os dois chegaram a se tocar, mas sem muito prejuízo.

Olha o Grosjean provocando o primeiro abandono da Williams na temporada.

O mesmo não podemos dizer do toque de Grosjean em Russell. Era a briga pela décima sexta posição, e o Grosjean tocou na roda traseira do Williams de Russell, jogando o piloto contra o muro e obrigando-o a abandonar a prova. E isso rendeu ainda um safety-car, como é tradicional naquele circuito.

Assim que a corrida recomeçou, Lance Stroll teve um pneu furado na pisputa de posição com Hülkenberg e foi se arrastando para os boxes, “esmirilhando” a pista de tanta faísca que saía de seu carro. E a Racing Point ainda teria outro golpe menos de duas voltas depois. Foi a vez de Pérez encostar o carro, devidamente orientado pelo rádio para parar o mais rápido possível na pista. Assim, o piloto do safety-car postergou sua ida ao banheiro e voltou para a pista mais uma vez. Momento Racing “Disappoint”na corrida.

Durante as duas entradas do safety-car, Leclerc teve a chance de deixar ainda mais claro a sua insatisfação com o “undercut” de Vettel. Ao ser orientado pela equipe que eles deveriam “trazer os carros para casa”, Leclerc disse, em tom mais exaltado, que não faria nada de estúpido, mas que não considerava justa a situação.

Leclerc ainda teve mais uma oportunidade para reclamar na terceira entrada do safety-car, agora para tirar o carro de Raikkonen, que levou a pior na dividida com Kvyat ao final da reta dos boxes. Suspensão dianteira quebrada e nada mais restava para Raikkonen fazer naquela noite. E, desta vez, Leclerc não falou mais nada.

Vettel não pemitiu a aproximação de Leclerc e cruzou em primeiro depois de mais de um ano ausente do lugar mais alto do pódio. Leclerc e Verstappen completaram o pódio. Mais importante até do que a dobradinha da Ferrari foi o fato de a equipe ter voltado a vencer três corridas em sequência, o que não acontecia há onze anos.

A Mercedes admitiu que errou na estratégia de Hamilton, o que lhe tirou do pódio

Hamilton foi o quarto, Bottas em quinto e Albon o sexto, assim como estavam no começo. Norris foi o “melhor do resto” e chegou em sétimo, seguido de Gasly, Hülkenberg e Giovinazzi. Ah, e a melhor volta ficou com Magnussen, mas o coitado nem levou o ponto extra porque nem chegou a completar a corrida, e a regra diz que o ponto pela volta mais raápida só pode ser atribuído ao piloto que a fez se esse chegar entre os dez primeiros.

Hamilton segue com suas tranças rumo ao hexa. Bottas segue em tom opaco na vice-liderança. Agora, legal mesmo está a disputa pelo terceiro lugar no mundial, com Leclerc e Verstappen empatados em 200 pontos e Vettel com 194. É capaz de sobrar para o Bottas.

Ao desligar dos motores…

– Vettel disse que compreende Leclerc, mas deixou o recado que a Ferrari é maior que qualquer piloto. O monegasco, por sua vez, baixou o tom e disse que entende a estratégia. O dilema de latir e não poder morder, sempre;

– Aliás, a própria Ferrari admitiu que chegou a pensar em inverter as posições de Vettel e Leclerc no final da prova, mas acabou por não fazê-lo. Bom, acho que o “erro” foi ter chamado Vettel primeiro para a parada, e pedir a troca de posições seria apenas mais um lapso italiano (eu disse lapso);

– Hamilton interrompeu uma entrevista de Vettel para parabenizá-lo pela vitória, dizendo ter ficado feliz por ele. Um belo gesto, sempre;

– Robert Kubica disse que sai da Williams ao final do ano. Seu retorno não está sendo como o esperado, principalmente por causa do equipamento do time inglês, mas é inegável que o Kubica de hoje não é nem de longe aquele que precisou se afastar das competições quando se acidentou correndo de rally. Mas valeu, claro;

– A situação de Hülkenberg é periclitante (fui até no Google ver se escrevi certo). Isso porque a Haas renovou com seus dois pilotos para o ano que vem e fechou uma das possibilidades do alemão, apesar de a equipe afirmar nunca ter cogitado tê-lo em um de seus cockpits. As más línguas dizem que a Haas volta no que vem com patrocínio da Netflix, em razão do sucesso de suas lambanças mostradas na série de TV exibida pelo canal. E também tem gente defendendo com unhas e dentes a permanência de Hülkenberg no grid nos próximos anos depois que sua namorada apareceu na transmissão da corrida. Só tem gente ruim por aqui.

Dobradinha da Ferrari em Singapura. O time está forte para o último terço do mundial.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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