Bottas sai da sombra


Finlandês vence a corrida que tinha todo o jeito que seria da Ferrari. Hamilton foi ao pódio logo atrás de Vettel e não gostou da estratégia da equipe, mas assim mesmo a Mercedes garantiu o hexacampeonato de Construtores.

Tudo para o domingo

Um carro de Fórmula 1 a 180km/h não é grande coisa. Mas a mesma velocidade para ventos de um tufão é um pouco demais.

E foi por causa dele, o tufão Hagibis, que as atividades do sábado foram canceladas. O terceiro treino livre acabou sendo cancelado mesmo, e o treino classificatório foi postergado para o domingo, mas também havia a possibilidade de que o segundo treino livre valesse como oficial para a formação do grid.

Se assim o fosse, a Mercedes ficaria com a primeira fila, e com Verstappen na terceira colocação.

Mas, na manhã de domingo, com tempo bom, os carros foram para a pista e a Ferrari tomou a primeira fila da Mercedes, com Vettel ficando com a pole-position desta vez. Os carros da Mercedes fecharam a segunda fila, com Bottas a frente de Hamilton, ou seja, os dois segundos pilotos de cada equipe foram melhor que os primeiros (dorme com essa, Vettel).

Leclerc jogando a corrida fora logo na largada. E Verstappen ainda levou a pior. (Photo by STR / JIJI PRESS / AFP) / Japan OUT

E as duas filas seguintes também tiveram os companheiros lado a lado.

Na terceira fila, os carros da Red Bull, Verstappen e Albon. E na quarta fila, os dois McLaren, de Sainz e Norris, nesta ordem.

Ai, depois, bagunçaram tudo.

Gasly conseguiu uma colocação razoável, abrindo a quinta fila ao lado de Grosjean, que anda bem no circuito de Suzuka.

Logo atrás deles, Giovinazzi fez par com Stroll, tendo Raikkonen e Kvyat logo atrás.

Os dois carros da Renault conseguiram ficar lado a lado, mas em uma oitava fila um tanto indigesta para eles. E podia ser pior porque Pérez e Magnussen tiveram problema no treino e perderam posições no grid.

Russell foi a única Williams a largar do grid, isso porque Kubica bateu logo no inicio do Q1 e os mecânicos da equipe tiveram que largar o whatsapp para trocar o chassis do carro para a corrida. O polonês largou, então, dos boxes.

Poucas horas depois, todo mundo na pista de novo para a formação do grid. Tudo muito rápido como os ventos do Hagibis.

Dando pulos

Vettel estava tão confiante no carro que mal podia esperar o apagar das luzes vermelhas. E não esperou mesmo.

O carro do alemão deu um pequeno pulo para frente, o que o obrigou a segurar todo o procedimento justamente na hora em que as luzes se apagaram realmente. Quem se aproveitou muito bem desse “soluço” de Vettel foi o Bottas, que tirou para a esquerda e teve pista livre pela frente para assumir a ponta.

Também se aproveitando do espaço aberto a sua frente, Verstappen foi pra cima de Leclerc que, assim como Vettel, também não largou tão bem e teve que brigar com Hamilton ainda antes da chegada na primeira curva. Porém, enquanto Vettel se firmava na segunda colocação, Leclerc acabou por dar uma esparramada na curva 1, e já tinha ao seu lado o carro de Verstappen. Ambos tocaram e o prejuízo maior ficou com o holandês, que conseguiu voltar para a pista, mas nas últimas posições.

O carro de Leclerc também não ficou inteiro não depois do toque com Verstappen.

Momento exato em que um pedaço do carro de Leclerc arranca o retrovisor direito de Hamilton.

O bico do carro estava bem avariado em um dos lados e a parada nos boxes era certa. Porém, nas conversas pelo rádio, Leclerc dizia que não sentia o carro tão ruim assim, e que pensaria quando era melhor para ele parar. Só que, já no fechamento da segunda volta, mais pedaços do spoiler voaram e acabaram por arrancar um dos retrovisores de Hamilton, que vinha logo atrás do monegasco.

Atrás dos quatro primeiros colocados vinham Sainz e Norris, da McLaren, seguidos de Albon, Gasly, Stroll, Hülkenberg e Pérez. Estes dois últimos fizeram largadas excelentes e ganharam várias posições logo no início da prova.

Albon queria mais que um sétimo lugar e via em Norris um obstáculo bem a sua frente. Na freada da chicane antes da entrada da reta dos boxes, os dois também se tocaram, mas continaram com pequenas avarias nos carros.

E o Leclerc, dirigindo com uma mão só na curva a 300km/h, hein?!

Leclerc e Verstappen acabaram antecipando suas paradas em razão do toque na primeira curva. Ainda sob investigação, os dois travaram mais uma briga na pista, agora totalmente limpa, pela décima sexta posição. Era Leclerc fazendo uma corrida de recuperação, o que também se esperava de Verstappen, mas o holandês acabou por abandonar algumas voltas mais tarde, antes do primeiro terço da corrida.

Um detalhe chamou a atenção de quem assistia a transmissão pela TV. O retrovisor esquerdo de Leclerc perdeu a sustentação naquele toque com Verstappen e ficava levantando e abaixando conforme o downforce ao longo da pista. No trecho de grande aceleração em subida, que antecede a famosa curva 130R, o piloto da Ferrari bem que tentou segurar o que restava da peça com uma das mãos e fazer a temida curva apenas com a outra. Conseguiu fazer a curva, mas o retrovisor acabou voando na volta seguinte.

Bottas continuava na liderança, fazendo as melhores voltas e dando pinta de que não deixaria Hamilton se aproximar facilmente, lembrando que ainda tinha o Vettel entre eles.

Aliás, você não vai perguntar se a queimada de largada do Vettel o fez sofrer alguma penalidade? Pois a resposta é não! Os comissários entenderam que Vettel não se moveu o suficientemente a frente para ultrapassar a marca pintada no asfalto para o primeiro colocado, o que, no entender dos comissários, não era passível de penalidade. Ah, e o incidente entre Verstappen e Leclerc, que também estava sob investigação, acabou tendo sua decisão postergada para depois da corrida.

A equipe em primeiro lugar, não necessariamente em segundo também

Era claro que cada piloto da Mercedes teria um plano de corrida, o que definiria o número de paradas nos boxes.

Bottas tinha uma estratégia para duas paradas, e Hamilton apenas uma. Porém, com o andar da corrida e conversas pelo rádio, o time da Mercedes resolveu fazer a mesma estratégia para ambos, o que, naturalmente, ajudaria Bottas. Vettel, que não tinha nada com isso, se mantinha na segunda colocação, sem ameaçar Bottas, nas também sem ser ameaçado por Hamilton.

Renault e Racing Point brigaram na pista e fora dela, depois da corrida. E os franceses dançaram.

Mais atrás, a corrida estava bem divertida.

Além de Leclerc, pilotando muito e subindo na tabela com ultrapassagens de todas as maneiras, Albon vinha firme na quarta posição e tinha Ricciardo em sua caça (ainda sem parada) e Sainz logo atrás.
Na volta 35, das 53 previstas, Leclerc assumia a sexta posição sobre Gasly, e parecia ser o máximo que o piloto da Ferrari conseguiria, uma vez que os adversários tinham vantagem considerável.

Bottas seguia tranquilo e fez a segunda parada como previsto. Vettel também, e voltou para a pista marcando a melhor volta da prova. Mesmo contrariado, Hamilton também fez mais uma parada, e saiu queimando asfalto para tirar a diferença para Vettel.

Mais uma vez, Hamilton mostrou qualidades e foi minando o tempo da melhor volta nos giros seguintes, até encostar em Vettel faltando três voltas para o final. Só que o alemão não queria ver mais uma dobradinha da Mercedes e foi duro na defesa, conseguindo se manter em segundo até a bandeirada.

Por falar em bandeirada, a direção de prova errou e acabou encurtando a disputa em uma volta. Sorte de Sérgio Pérez, que bateu na volta final ao se enroscar com Pierre Gasly, quando lutavam pela oitava posição, na mesma curva 1 que também marcou as corridas de Leclerc e Verstappen. Mas cadê a sorte do mexicano, não é?

Eis que a corrida foi encerrada com uma volta a menos, o que garantiu a Pérez o nono lugar, com Húlkenberg em décimo. Aliás, a Renault também fez o sétimo lugar com Ricciardo, logo a frente de Gasly e atrás de Leclerc, que não conseguiu ir além da sexta colocação.

Aplausos para o quarto lugar de Albon, sua melhor colocação em corridas até aqui, e para Sainz que, em quinto, foi o melhor do resto.

Para Leclerc, a investigação sobre o acidente com Verstappen ainda lhe renderia a perda da sexta posição para Ricciardo, já que o piloto da Ferrari foi penalizado em 15 segundos em seu tempo total.

Vai emnbora nãoooooo, Pérez…

Com este resultado, a Mercedes conquistou o seu sexto título mundial consecutivo e também o sexto título de pilotos consecutivo, que embora ainda “indefinido”, ficará entre Hamilton e Bottas. Quer dizer, Bottas será vice-campeão de novo.

Ao desligar dos motores…

– A Mercedes igualou os seis campeonatos seguidos de construtores que a Ferrari também tem. No entanto, a Ferrari ainda tem dez a mais que a equipe alemã;

– E Hamilton pode ser campeão já na próxima corrida, no México;

– A Racing Point entrou com um protesto perante a FIA para investigação do sistema de freios dos carros da Renault. A reclamação era que a equipe francesa tinha um sistema de freio com ajuste automático ao desgaste do carro. E a FIA desclassificou a equipe francesa do GP do Japão e, com isso, o sexto lugar de Ricciardo e também o décimo lugar de Hülkenberg foram para as cucuias;

– O mais estranho é que os comissários consideraram o sistema legal do ponto de vista técnico, mas em desacordo com o artigo desportivo. Eu não entendi nada;

– Especula-se que a F1 pode adotar treinos aos domingos. Acho improvável. Os mecânicos já tem pouco tempo para consertar eventuais problemas nos carros entre o sábado e o domingo, portanto, acho que não rola. Mas, para quem pagou ingresso só para a corrida no Japão, no domigo, por exemplo, se deu bem demais.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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