Pilotea mucho


A vitória de Hamilton foi cheia de técnica e mostrou, de novo, que ele merece muito o título da temporada. Porém, o terceiro lugar de Bottas postergou a decisão para a próxima etapa. Vettel também saiu do México feliz com seu segundo lugar.

Verstappen foi muito rápido. Até demais.

O México tem uma pista bem legal, cravada no meio da capital deste país que tem uma rica, mas também sofrida, história.

O favoritismo para a pole position em terras mexicanas era da Ferrari. Tanto que, mesmo tendo feito um bom treino livre logo na primeira sessão, Hamilton disse que seria impossível bater os carros de Maranello. E realmente ele precia certo.

Nos treinos livres que se seguiram, o dominio foi da mesmo da Ferrari, e isso dava uma certa tranquilidade ao time. Tranqulidade esta bem maior do que os cento e cinquenta membros das equipes que foram afetados por um problema estomacal e tiveram o famoso “piriri”, aquele que quando decide ir para a pista, é pole. Um dos mais afetados foi o francês Pierre Gasly, da Toro Rosso, que foi sabiamente aconselhado por Helmut Marko, o conselheiro das equipes taurinas, a correr de fraudas. Não se tem confirmação disso, porém.

Bottas no muro ao final do Q3. Com todo respeito, não consigo vê-lo como sério candidato ao título nunca.

O Q1 veio sem nenhuma surpresa, ou seja, os pilotos da Williams não fizeram nenhum milagre e tomaram a última fila como de costume. Além deles, o desempenho pífio dos carros da Haas condenaram Grosjean e Magnussen a ficarem na penúltima fila. Além deles, Stroll também ficou poelo caminho logo no Q1.
Assim como no Q1, o Q2 também ceifou duas equipes e mais uma Racing Point. No caso, os dois carros da Alfa Romeo e os dois da Renault, além do piloto da casa, Sergio Pérez, por menos de um centésimo de segundo, perdeu a chance de ir para o Q3.

O grid fica interessante quando os companheiros de equipe ficam lado a lado. Artisiticamente falando, é legal. Já tinhamos a Williams na última fila e a Haas na penúltima. Por pouco não tivemos Alfa, Renault e Racing Point também. No entanto, o Q3 tratou de alinhar a Toro Rosso na quinta fila e a McLaren na quarta fila, mais precisamente Sainz, Norris, Kvyat e Gasly, sem fraldas até onde se sabe.
As três primeiras filas, ficaram com as grandes, mas com uma peculiaridade.

Saíram os carros da Mercedes, seguidos dos carros da Ferrari e depois dos da Red Bull. Na primeira tentativa, Hamilton marcou a pole provisória, logo tomada por Vettel e na sequência por Verstappen, misturando as cores na frente do grid.

Aí veio a segunda tentativa de ambos. Leclerc conseguiu tomar a frente de Vettel e ninguém mais melhorou o tempo, exceto Verstappen, que além disso bateu o recorde da pista em um milésimo de segundo, marca que pertencia ao seu ex-companheiro de Red Bull, Daniel Ricciardo.

Só que Verstappen acabou ficando sem a pole position porque Bottas, em sua última tentativa, bateu na entrada da reta dos boxes, o que provocou a bandeira amarela no local e obrigava, então, os pilotos a reduzirem as suas velocidades. Verstappen deu de ombros para a bandeira amarela e acabou sendo punido por isso em três posições no grid.

A pole, então, caiu no colo de Leclerc, e a primeira fila ficou toda por conta da Ferrari, com Vettel ao seu lado. Hamilton, com a terceira posição, parecia conformado pelas declarações anteriores de que não havia como bater os carros vermelhor. Verstappen, portanto, largou em quarto, e Albon em quinto, dois milésimos a frente de Bottas, que fechou a terceira fila. Bottas fez muito pouco para quem “ainda está lutando pelo título”, além de ter deixado o carro bem danificado para os mecânicos arrumarem.

Punido com a perda da pole e com um pneu furado logo no inicio, Verstappen fez uma boa corrida de recuperação.

E dizem que até Montezuma acordou para ver o que iria acontecer na largada.

Verstappen perdendo mais que a pole

Bom, já que deixaram a primeira fila para os carros da Ferrari, estes souberam aproveitar bastante a oportunidade. Charles Leclerc segurou a ponta com Sebastian Vettel em segundo depois do longo trecho que levava até a primeira curva. Atrás deles, porém, Hamilton e Verstappen vinham lado a lado, e nenhum deles parecia disposto a ceder. Resultado: toque entre os carros e ambos perderam posição para Albon e Sainz. Hamilton conseguiu se ajeitar ainda em quinto, mas Verstappen acabou perdendo posição também para Norris e Bottas.

Foi praticamente uma rearrumação do grid. Isso porque a direção de prova achou por bem recolher alguns detritos que sobraram da festa que foi a parte de trás do grid, com gente se empurrando e sujando a pista na volta ao traçado.

Bandeira verde de novo, e a situação do Verstappen se complicou de vez. Tentando uma recuperação rápida, o holandês resolveu arriscar ultrapassagem sobre Bottas na sequência de curvas de baixa do estádio, e acabou tocando no carro do finlandês e ganhando um pneu furado de presente. Aliás, que presente. Como passou da entrada dos boxes já com o pneu traseiro furado, mas ainda estável, Verstappen teve que dar uma volta completa muito lento até conseguir fazer seu pit e voltar, claro, em último, e bem distante dos demais.

Bottas, por sua vez, estava inteiro e foi pra cima dos carros da McLaren, passando pro Norris, e pouco depois por Sainz. Porém, naquele momento da prova, os dois carros da Ferrari seguiam liderando enquanto Albon se aproxima deles, mais especificamente de Vettel, o segundo. E olha que quem estava vindo buscar o piloto da Red Bull era ninguém menos que Hamilton.

Quarta força do campeonato, a McLaren vinha bem na prova, até o momento em que Norris foi para a sua parada. Trabalho rápido mas ineficiente, que fez Norris encostar na saída do pit-lane com uma das rodas soltas, obrigando os mecânicos a fazerem aquela correria típica de quem fez besteira. E o Norris despencou na classificação da prova.

Todo mundo se ajeitando na freada da primeira curva. Leclerc se manteve na frente.

Dos ponteiros, Albon e Leclerc pararam primeiro que os demais. Vettel, tentando uma nova estratégia, demorou bastante para fazer o seu pit-stop. O mesmo serviu para os carros da Mercedes, e assim, Vettel, Hamilton e Bottas ocupavam as primeiras posições.

Mais atrás, Sergio Pérez ocupava bem a torcida disputando posição com os carros da Toro Rosso e da Renault. Além dele, outro que vinha tirando faísca do asfalto era Verstappen, que nitidamente estava andando no limite do limite do carro.

Na ponta, Vettel seguia na pista, enquanto Lewis Hamilton decidiu por fazer sua parada na volta 23 das 71 previstas. Era praticamente certo que o inglês teria que fazer mais uma parada não fosse o fato de ele ter optado por trocar os médios pelos duros, deixando aquela impressão que, sem parada, ele teria que ser muito carinhoso com o Mercedes para evitar o desgaste excessivo dos pneus ao final da prova. Ao voltar para a pista, Hamilton conseguiu superar Albon.

Uma bela briga proporcionavam Sainz e Gasly, ainda que pela décima segunda posição. Porém, esta disputa acabou influenciando um pouco (e quase, muito) na vida de Vettel. Enquanto os dois pilotos de McLaren e Toro Rosso brigavam como gente grande assim que o espanhol voltou de sua parada, Vettel ficou preso atrás de ambos e, por pouco, não chegou a acertar o carro de Sainz. O tempo perdido ali foi precioso para o alemão.

Hamilton, elevado

Vendo o tráfego que viria pela frente, Bottas foi para a sua parada, e tinha chances de tomar a posição de Vettel quando este fizesse a sua. Porém, na volta seguinte a parada do finlandês da Mercedes, Vettel foi para os boxes também e fez a sua parada, devolvendo a liderança da prova para Leclerc. Aliás, Bottas acabou por não conseguir ultrapassar Vettel na briga dos boxes.

Tínhamos então Leclerc, Hamilton, Albon, Vettel e Bottas nas cinco primeiras posições. E aí foi a vez da segunda parada de Charles Leclerc, depois de muita reclamação do piloto ao desempenho de seus compostos. E a parada foi péssima, por sinal.

Repetindo a disputa do Japão, Ricciardo e Pérez brigaram muito pelo sétmo lugar, que ficou com o mexicano.

O trabalho da Ferrari na roda traseira direita do carro do monegasco não foi bom e devolveu o piloto com quase quatro segundos a mais para a pista do que em uma situação normal. Com o equilíbrio que se via, isto poderia custar caro para Leclerc, e acabou custando mesmo.

Na volta seguinte ao pit-stop de carro #16 da Ferrari, Albon também realizou a sua segunda parada e voltou atrás de Leclerc, em quinto.

O meio do pelotão é sempre divertido em qualquer corrida, principalmente quando o piloto da casa está nele. E Pérez fazia de tudo para segurar Ricciardo, que foi o último dos pilotos a fazer o pit-stop obrigatório, na volta cinquenta. Voltou perseguindo o mexicano e passou a ser considerado inimigo público número um. E bastou o australiando escapar no final da reta na tentativa de ultrapassar Pérez para a torcida deixar a famosa “ola” de lado e fazer um maremoto total.

Charles Leclerc fazia as voltas rápidas sucessivamente e tirava diferença de Bottas de maneira robusta. Só que o monegasco acabou errando e a diferença que já era visual ficou maior, além do fato de que Leclerc perdeu o ritmo depois do erro.

Hamilton se mantinha a frente de Vettel com pneus bem mais desgastados, mas seguro. Bottas não ameaçava Vettel e a sua terceira posição adiaria a decisão do mundial naquele momento. Leclerc estava fora de combate e os dois carros da Red Bull completavam os seis primeiros, com Albon em quinto e Verstappen em sexto, porém muito atrás do companheiro devido aquele começo de prova terrível dele.

Pérez segurou Ricciardo até o final da prova, e Hülkenberg trazia a outra Renault para pontuar com mais dois pontos, a frente de Kvyat. Porém, na última volta, o russo tocou em Hülk, que rodou e bateu com a traseira na proteção de pneus. Essa manobra acabou custando a Kvyat os pontos que ele conquistaria, já que os comissários resolveram puní-lo com quinze segundos em seu tempo de prova. Assim, Gasly foi declarado o nono colocado e Hülkenberg, o décimo.

A vitória de Hamilton foi daquelas em que talento, estratégia e muita pilotagem tiveram que somar as suas forças. O tradicional “zerinho” em frente ao estádio e o surgimento triunfal no pódio, sendo elevado em cima de seu próprio carro (primeira vez na história que um carro vai ao pódio), deixaram um gostinho de que o hexa poderia ter sido comemorado ali. Mas a festa mexicana do pódio foi, como sempre, animada. E é praticamente certo que Valteri Bottas venha a conquistar seu primeiro vice-campeonato nos Estados Unidos.

Hamilton cruzando em primeiro, cheio de méritos.

Ao desligar dos motores…

– Verstappen tem que se conter nas declarações e nas atitudes. Não restam dúvidas de seu talento e de sua velocidade, mas temperamento e generosidade também contam para formar um grande campeão;

– Vettel tem uma melhora de sua performance nas últimas corridas e quer terminar o campeonato a frente de Leclerc, em terceiro. A diferença entre ambos é de apenas seis pontos. Para quem falava em aposentadoria, até que o alemão tá bem;

– Pérez deu a exata dimensão de como um piloto do GP local faz diferença com a torcida. Por mais que ele, Pérez, não tivesse chances de vencer, o público não parou um minuto de gritar seu nome e o exaltar seu país. O Brasil precisa de alguém no grid;

– Decepcionante o rendimento dos carros da Alfa Romeo. Raikkonen nem sequer chegou a completar a prova, e Giovinazzi chegou apenas a frente dos carros da Haas e da Williams. A temporada chegou a prometer um desempenho melhor para o time italiano, que parece focar suas energias já em 2020, apenas, apesar de correr o risco de terminar o campeonato em penúltimo lugar;

– E a Haas… Bom, deixa a Haas pra lá.

Max e Carlos. O torcedor mexicano compareceu em massa e deu espetáculo.

E até Elvis apareceu.

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

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