Os bons de bico


Chegando a hora do início de mais um mundial, é a vez de darmos uma passada pelos testes da pré-temporada, pelas equipes e pilotos, regulamento, etc, mas a grande atração e ao mesmo tempo incógnita deste início de temporada vai, literalmente, levar a gente no bico. Vamos conferir?

Mas afinal, o que é aquele degrau?

O regulamento de 2012, aprovado pela FIA, pouco mudou em relação ao do ano passado. Isso, pelo menos, no papel, já que nos carros a coisa foi bem perceptível. Com a alegação de que o bico dos carros estava ficando alto demais, o que poderia ocasionar conseqüências mais sérias em casos de acidentes onde o choque se dá em 90 graus entre os carros (batida em “T”), resolveram limitar a altura do bico em 55 cm do solo apenas. Nasceu então a “era dos ornitorrincos”, como a maioria da imprensa mundial tem chamado os carros deste ano. Quer dizer, a maioria deles, já que McLaren e Marussia, por exemplo, baixaram o bico sem aderir ao degrau para isso, deixando seus carros mais harmônicos em relação a concorrência.

A McLaren optou pelo bico clássico e, ao menos esteticamente, sai na frente

Solução encontrada por 10 entre 12 projetistas das equipes, o degrau não agrada esteticamente, mas carro bonito é carro vencedor, como disse o Diretor Chefe da McLaren Martin Whitmarsh, justamente ele que possui um dos carros sem o deselegante degrau.

Os difusores aquecidos, que melhoravam a performance dos carros através do direcionamento aerodinâmico dos gases do motor também foi banido pela FIA. As equipes, obviamente, já trabalharam nos carros com esta configuração de escapamento para se evitar este efeito, mas já tem equipe de olho no concorrente para ver se dá pra copiar alguma coisa.

A parceria com a McLaren fez com que a Marussia também apresentasse um carro sem degrau no bico


As asas móveis continuam e ao que parece que vão ficar por muito tempo, assim como o KERS, embora este último não seja um recurso obrigatório para todas as equipes e, por isso, algumas delas vão sem o equipamento para a temporada, como aconteceu em 2011. Os pneus também devem se esfarelar menos, facilitando a vida do pessoal da limpeza depois da corrida, mas ainda assim não deve aliviar o ritmo de trabalho do pessoal dos pit-stops.

Quem dançou na dança dos cockpits

As chamadas equipes grandes mantiveram suas respectivas duplas de pilotos. Vettel e Webber na Red Bull, Button e Hamilton na McLaren, Rosberg e Schumacher na Mercedes e Alonso e Massa na Ferrari. Das outras oito equipes, apenas a Sauber também manteve a dupla do ano passado formada por Kamui Kobayashi e Sergio Perez. Daí para frente (ou para trás), o grid mudou muito.

Raikkonen vai tentar incomodar os times grandes guiando muito e falando pouco, como sempre.

A Renault foi quem mais ousou. Trouxe de volta o campeão de 2007, Kimi Raikkonen e optou por resgatar para a Fórmula 1 o francês Romain Grosjean, que passou pela categoria em 2009 com atuações apagadas, mas redirecionou a carreira voltando para a GP2 e foi campeão ano passado. E a volta de ambos pode ser em grande estilo, como comentarei mais a frente.

Situação idêntica fez a Toro Rosso, que demitiu Jaime Alguerssuari e Sebastian Buemi para promover Daniel Ricciardo, australiano que correu pela HRT ano passado, e Jean Eric Vergné, outro francês, que vem da Fórmula Renault Series. Buemi ficou como piloto reserva da equipe.

Dois pilotos velozes e um carro em ascensão é a aposta da Force India

A Force India manteve Paul Di Resta e promoveu Nico Hulkenberg, que já teve passagem pela Williams em 2010 com direito a pole no GP do Brasil, lembram? Por falar em Williams, a equipe de Grove manteve Pastor Maldonado “a pedido de Hugo Chaves” (leia-se PDVSA) e trocou Barrichello por Bruno Senna, que também trouxe patrocínios fortes, dentre eles o da OGX, de Eike Batista.

Nas equipes do fundo do grid, a Marussia manteve Timo Glock e fechou com outro francês, Charles Pic, que veio da GP2. A Caterham, antiga Lotus Racing, dispensou o italiano Jarno Trulli já durante os testes da pré-temporada e trouxe Vitaly Petrov da Lotus Renault para o seu lugar, mantendo o finlandês Heikki Kovalainen. E, finalmente, na HRT, Narain Karthikeyan volta ao posto de titular e agora ao lado de Pedro De La Rosa, eterno piloto de testes da McLaren, e que disputou a temporada de 2010 pela Sauber.

O carro da HRT tem um design menos agrassivo para o degrau, uma pintura interessante e..... só por enquanto

Eu diria que é um grid interessante, mas me parece tecnicamente inferior ao do ano passado. Apesar de contar com 14 títulos (sete se Schumacher, dois de Vettel e Alonso e mais os de Button, Hamilton e Raikkonen), a Fórmula 1 não contará com a experiência de Rubens Barrichello e Jarno Trulli, além dos bons desempenhos de Adrian Sutil, por exemplo. Sutil foi condenado pela justiça por agredir um dos sócios da Lotus ano passado. Trulli foi dispensado aos 48 do segundo tempo em nome da “visão mercadológica mundial” e Rubens Barrichello foi preterido pelo pouco patrocínio que conseguiu comparado ao de Bruno Senna, mas o suficiente para o fizer migrar para a Fórmula Indy. Vou sentir saudades do Rubinho, pra mim, melhor que mais da metade do grid, sem dúvida.

Outros como Vittantonio Liuzzi, Karun Chandhok e Jerome D’Ambrosio não farão tanta falta assim, para ser polido. Nick Heidfeld, talvez. E ainda falta Robert Kubica, que segue em recuperação do grave acidente no Rali da Itália do ano passado. Durante este período, já foi cogitado para a própria Lotus e agora aparece como nome forte para substituir Massa na Ferrari ano que vem. Só que sua recuperação é delicada, teve inclusive nova fratura na mesma perna há poucos meses e, se voltar, não se sabe ao certo em que condições será. Ou seja, quase tudo igual há um ano atrás para o polonês.

O que disseram os testes da pré-temporada

Se eu tivesse que apostar meu salário, hoje, no campeão do mundo para 2012, eu apostaria de novo em Sebastian Vettel. Apesar de não ter demonstrado nos testes a mesma superioridade dos treinos nas etapas de 2011. O clima da equipe e as declarações de que “não vai ser tão fácil”, ou “não tem mais bobo na Fórmula 1”, já dão pinta de que o carro é, mais uma vez, extremamente competitivo. Webber, a outra parte interessada, diz que sua motivação está maior que nunca. Em resumo: a Red Bull vem com força de novo.

Vettel, que a cada corrida vencida troca de capacete, provavelmente vai exercitar a criativiade ainda mais este ano

A McLaren e seu bico clássico parece estar bem preparada também. Button e Hamilton fizeram tempos razoáveis, o carro é confiável, o time tem dinheiro. Resta saber como será que Hamilton vai andar este ano, porque Button se sente cada vez mais em casa e a imprensa alemã já insinua Hamilton na Mercedes ano que vem. Mercedes, aliás, que também fez uma boa pré-temporada, usando o carro do ano passado e deste ano. Nico Rosberg parece querer incomodar mesmo Schumacher, mas talvez isto ainda não se traduza em vitória propriamente, pois o próprio chefe de equipe, Ross Brawn, disse que o carro ainda não é vencedor, mas o sinal é verde na equipe prateada.

Schumacher e Rosberg formam uma das duplas mais fortes da F1 atual mas a Mercedes ainda não fez um carro vencedor

Enquanto isso, na equipe vermelha, o alerta tem a mesma cor. A Ferrari parece não ter feito um carro para brigar por vitórias. Ao menos é isso que mostrou o cronômetro da pré-temporada. E, comparando o clima interno das escuderias, enquanto a equipe dos energéticos parece nas nuvens, a Ferrari trabalha bastante e de cara fechada. Mas o sinal de que as coisas estão ruins para o lado de Maranello é a Lei da Mordaça, proibindo seus pilotos de falarem sobre o carro ou sobre os testes nas entrevistas. Blefe? Há quem acredite que sim, como Jenson Button, mas o inglês parece meio sozinho nesta idéia. E é bom a Ferrari se cuidar.

Quem parece que vai aquecer o mundial é mesmo o “Homem de Gelo”. Econômico nas palavras mas esbanjando talento como se não tivesse se afastado da categoria, Kimi Raikkonen parece ser a (ótima) surpresa da temporada. O carro deve ajudar, pois seu companheiro Grosjean também fez bonito nos testes. A Renault nem chegou a fazer toda a pré-temporada por causa de um problema na suspensão do E20, como é chamado o carro deste ano, mas voltou afirmando ter resolvido o imprevisto e, como bônus, ainda fechou os testes com a melhor marca entre todas as equipes.

Por enquanto tudo é sorriso na Toro Rosso

No pelotão do meio devem permanecer a Force India, Toro Rosso e Sauber brigando por pontos preciosos. A experiência da temporada passada e da permanência de Perez e Kobayashi podem sim pesar a favor da Sauber, mas a Force India manteve o melhor estreante do ano passado, Di Resta, e confia muito na velocidade de Hülkenberg ao seu lado. Para a Toro Rosso, resta saber se a dupla está a altura do que a cúpula do time espera, já que a alegação para a demissão de Alguerssuari e Buemi foi o baixo nível de ambos comparado ao do carro. Não acho que os pilotos eram tão ruins assim, mas posso queimar a língua se a nova dupla mostrar melhores resultados.

E lá no fundo da classe, quer dizer, do grid, poderemos ter uma inversão de forças. Não estou falando de Marussia e HRT, que farão figuração novamente ao que tudo indica. Acredito sim que a Caterham possa tomar a frente da Williams. Ambas terão motor Renault, novo para a Williams e continuidade para a antiga Lotus Racing, só que os testes já mostraram que, do trio formado por Caterham (quando era Lotus), HRT e Marussia (que era Virgin), a primeira começa a se afastar das demais, deixando as duas últimas, literlamente, nas últimas posições. Resta saber como a Williams se sairá. Se irá juntar-se ao final do grid em definitivo, lembrando muito o que aconteceu com a Tyrrell no passado, ou se vai ressurgir e brigar, ao menos, no meio do pelotão. Isso acontece praticamente 20 anos depois do FW14B e sua suspensão ativa, para muitos, o Fórmula 1 mais perfeito de todos os tempos e que deu o único título de Nigel Mansell na categoria. Realmente o time de Grove, agora também sem um de seus fundadores, Patrick Head, vai precisar de muito mais que o dinheiro dos patrocinadores de seus dois pilotos.

Enfim, a temporada mais longa e com mais campeões de toda a história vai começar! Nós vamos acompanhar cada acelerada, cada curva, cada mudança de marcha ou de posição para ver, no final do campeonato, quem conseguiu fazer do degrau no bico do carro um trampolim para o degrau mais alto do pódium.

Fique conosco, e a gente se vê em Melbourne, Austrália, dia 17.
Até lá!

Lauro Vizentim

Lauro Vizentim é Engenheiro Mecânico, trabalha há mais de duas décadas na indústria de automóveis. Gosta de criação, design e de... carros. Quando estes três gostos se juntam em uma corrida, tudo se completa. Acompanha a Fórmula 1 desde criança e colabora com o No Trânsito desde 2009.

9 Responses

  1. lsussumu says:

    Carambaaa!!! Muitooo bomm o texto!!!! Mal posso esperar para chegar o dia 17 e ver oq realmente vai acontecer. Esse ano vai ter bolão!?

  2. Oi Sussumo! Claro, vamos ter mais uma edição do Bolão sim. Espero que muita gente participe, afinal, vamos para a terceira edição! Um abraço!

  3. Alexandre A. ctba Pr says:

    Eu não participarei do bolão até ver o prêmio do ultimo bolão.

    Greve já.

  4. Alexandre, meu amigo, você tem razão. A divulgação do prêmio do ano passado ainda não foi feita porque recebemos há poucos dias as fotos e resolvemos divulgar já na semana do GP, junto com a anúncio da 3a. edição do Bolão. Apesar de ser justa, a greve pode ser considerada abusiva (ahahaha) e tem data para acabar. Chefe, me ajuda aí!
    E a coluna em si, gostou?

  5. Alexandre A. ctba Pr says:

    Só irei ler após a greve terminar.

  6. Rafael P. says:

    Boa Lauro!!! Ótimo texto como sempre…

    Faço minhas as suas palavras sobre o Rubinho: “Vou sentir saudades do Rubinho, pra mim, melhor que mais da metade do grid, sem dúvida.”

    Eu curti mesmo o retorno de 2 ótimos pilotos: Raikonen e Hulkenberg… Ia ser lindo demais ver o Raikonen e o Kubica na Renault hein? Imagina a paulera durante o ano!!!

    Bruno Senna pra mim não vai longe, os carros do grande tiu Frank só pioram a cada ano… Uma pena…

    Pra mim o grid tá ruim demais. Na ponta ótimos pilotos, mais tem mais piloto ruim do que bons. Os bons, realmente são bons… Mais os ruins, são realmente ruins!!! Grosjean é uma porcaria que se duvidar não chega no final da temporada denovo. Karthikeyan é um café com leite (junto com HRT), estão lá só pra atrapalhar. Etc, etc, etc, etc, etc, etc…

    Mais já to com saudade da F1 e do bolão. Esse ano to mais ansioso que de costume… A volta de Raikonen (melhor piloto do grid na minha opinião), a estréia do Barrichello na Indy, a dúvida se esses degraus farão diferença, a reestréia do Hulkenberg, e a dúvida que não quer calar: O que vai acontecer em: Ferarri x Alonso x Massa…

    Acho que essa é a última temporada do Massa em uma equipe de ponta (ponta?)!!!

    Abraço Lauro e parabéns pelo texto!!!

  7. lsussumu says:

    AHAHHAAH….. Eu participo do bolao pq é dahora….o premio nem importa!!! Só a emoção do bolão ja é um premio!!! Poderia ter uma etapa bonus do bolao!!! F1 Indy SP

  8. Fábio Abade says:

    E aeeeeee rapaziada!!

    Esse ano vai ser “mutcho loko”

    Vamo que vamo!!

    Abçs!

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